Final
“O que você achou que eu vim fazer aqui hoje?”, Isolda quis saber, próxima demais da boca de Júlia. “Conversar e comer bolo?”, questionou Júlia, demorando mais tempo na piscada do que gostaria. “Ai, Júlia...”, rebateu a mulher, em tom de crítica e deboche. Tinha um sorriso nos olhos, mas a boca permanecia séria. “Você agiria diferente se eu dissesse, simplesmente, que sou lésbica?”.
Aquela pergunta provocou a contração involuntária, ela até mexeu sem querer um pouco as pernas, a pélvis, na direção de Isolda, meio que se oferecendo. Amava essa palavra: “lésbica”. Soava como trombetas que anunciam a entrada das portas dos céus. Isolda quase lambeu o lábio superior para pronunciar a primeira sílaba, e deu uma mordidinha no lábio inferior, ao proferi-la. Muito sexy.
Júlia sentiu vontade de lamber a sua boca, de sentir a sua língua. Repetia a palavra, bem baixinho, “lés-bi-ca”, quando Isolda pareceu concluir a leitura dos seus pensamentos, e passou de levinho a ponta da língua na abertura da boca de Júlia, que parecia convidá-la para entrar, encostando a sua própria língua, bem de leve, bem molhadinha.
Sentia a maciez e a umidade da sua língua, a lambendo. Sentia também a respiração de Isolda, que saía entrecortada pelo nariz e por entre os dentes. Da sua expiração vinha o seu cheiro, o verdadeiro, lá do âmago. Esse perfume também atiçava e lhe dava comichões entre as pernas.
Isolda tinha pressa. E mesmo com vontade parecia apenas repetir um padrão de beijo praticado com outra pessoa. Isso deixou Júlia impaciente, um pouquinho irritada. Quis dar um tapa nela, aqueles de levinho, que algumas mulheres gostam (quase precisam), para se acalmar. Para voltar a si. O pensamento a fez rir, e se afastar. Mas Isolda já estava se despindo, ela sim se oferecendo, de joelhos ali na sala, só de calcinha e sutiã.
Uma delícia, muito gostosa. Padrãozinho, bem hétero, mas muito sensual, toda trabalhada na volúpia, na luxúria e na lingerie rendada. Praticamente de quatro ali perto do sofá, se oferecendo para ela. Aquele era o melhor reencontro, ever.
Quis ficar nua – ela mesma se despiu, oferecida. Era evidente que há muito tempo não recebia “um trato”; a atenção que merecia. Era exibida, mas Júlia via ali um que de desespero. Só por isso deixou que ela ficasse à vontade, e fizesse o que quisesse.
Isolda quis sentar em seu colo, despida, aberta, molhada. Quis segurar em sua nuca enquanto a beijava, a lambia, interrompendo o beijo para percorrer com a língua toda a lateral de seu rosto. Lambeu até o olho, o lóbulo da orelha, mordiscou o pescoço.
Roçou os seios contra a camiseta de Júlia, os mamilos endurecidos, quase doendo. E rebol*va, se esfregando, tentando algum toque, algum contato. Queria mostrar que já estava molhada. Queria que Júlia visse como ela a queria. Que já estava pronta para ela – ou ao menos imaginava que estava. Isolda é daquelas que repete padrão sem pensar. Estava com tesão por uma mulher, mas se comportava como se estivesse diante de um macho.
Júlia percebeu isso. Sabia ler as pessoas, era boa em linguagem corporal. E por isso quis punir Isolda. Mostrar que ela estava diante de uma mulher; não de uma pessoa qualquer. Não era o seu marido, seu amante ou quem quer que ela tivesse estado. Não era nem mesmo uma mulher qualquer; era uma lésbica. Ela disse essa palavra novamente, em sua mente, mas seu sorriso foi externo.
Levantou-se meio de repente, inclinando Isolda contra o sofá, empinada. Deu um tapa na sua bunda, deixando quatro dedos bem marcados na nádega direita. A mulher nem gem*u, só se contraiu um pouquinho, surpresa, um pouco em choque, e logo se empinou novamente, oferecida. Sabia que merecia aquele tapa – e o que veio na sequência, agora entre as pernas, molhando os dedos de Júlia no contato da palmada. Nesse ela gem*u (mais de prazer do que de dor). Porque demonstrou querer outro, ganhou mais um, um pouco mais forte.
Ela se contraiu e se reergueu, em fração de segundos. Parecia uma mola, só que molhada.
Júlia tirou a bermuda, a cueca, e deitou-se cruzando as pernas em Isolda, que estava ofegante, quase visível debaixo daquela maquiagem carregada, deitada meio de lado no sofá azul. Encostou sua bucet* bem aberta em Isolda, bem molhada, e demoraram só alguns segundos para se encaixarem, no ritmo, na intensidade. Júlia viu quando ela virou os olhos, por puro prazer e deleite.
Se mantinha com as pernas bem abertas, quase doíam as virilhas. Júlia tinha a perna em cima dela, atravessando seu corpo, com o joelho entre os seios. Se segurava na perna de Isolda, dobrada, e ficava molhada só de sentir o quão molhada a mulher também estava. Ela escorria. Eventualmente o movimento as afastava e era perceptível toda a troca de fluidos.
Isolda já tinha visto aquela cena em filmes pornôs, mas só agora entendia como aquelas coisas eram projetadas muito mais para satisfazer o desejo masculino do que para ofertar prazer a mulheres (lésbicas ou não). O que via (e, principalmente, o que sentia) era muito diferente. Muito mais real, palpável, e infinitamente mais excitante.
Sentiu o corpo de Júlia se contrair, e apertou um pouco mais forte a sua perna, segurou bem firme na sua bunda, que se movimentava para frente e para trás, agora um pouco mais rápido. Sorria, e quase não conseguia manter os olhos abertos.
Corpos suados, ritmados, num movimento constante, prazeroso. As respirações eram audíveis, alguns gemidos escapavam sem querer, e Júlia gozou primeiro, porque estava muito gostosa aquela fricção toda. Se sentiu contraindo, pulsando em cima do sex* de Isolda, que apertava sua perna contra o peito, e deu a entender que goz*ria também, mas seu celular tocou, e se desconcentrou.
O marido estava lá embaixo. Era desconfiado, tinha ido atrás dela.
Júlia viu a mulher recolher as roupas com pressa, o cabelo todo despenteado, teve dificuldade em abotoar o sutiã. Ficou tremendo, parecia bem nervosa. Ela não ajudou. Se ajeitou no sofá e acendeu uma ponta que estava no cinzeiro, em cima da mesinha. Ainda estava latejando, pernas entreabertas, quando a outra deixou seu apartamento, deixando-a em companhia daquele perfume que ainda a excitava.
Levou quase uma semana para acabar de comer aquele bolo. Só não demorou mais tempo para encontrar a calcinha de Isolda, debaixo do sofá. A mulher tentou contato depois, mandou algumas mensagens. Mas com tanta xoxota nesse mundo, por que Júlia insistiria em uma complicada?
Até hoje, quando questionada, Júlia se faz de louca. Diz que naquela tarde não rolou nada entre Isolda e ela; apenas comeram bolo e falaram sobre a vida.
Fim do capítulo
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Manuella Gomes
Em: 25/08/2020
Gostei muito da intensidade e profundidade da Júlia.
Já a outra pareceu uma adolescente perdida. Acho que Júlia preferia ter ficado só com as lembranças boas do passado distante com Isolda.
Resposta do autor:
Gostei bastante de criá-la!
E, sim, com certezaela teria preferido se tivesse ficado só na lembrança rsrs
Essa história foi baseada em fatos reais e o seu comentário foi de ouro!rsrs
rhina
Em: 17/08/2020
Saiu
A transa rolou.
Conturbada mas foi.
Bem Padraozinho hetero
Linguagem corporal., taí algo que eu queria ser craque.
Lindo e divertido Conto.
Playlist
Sabia que eu não tenho uma?
E ammmmo música....vivo pesquisando novidade mas não tenho uma Playlist.
Nem sei como acionar uma no celular.
Rhina
Resposta do autor:
Spotify, amiga! Super recomendo!rs
Tenho várioas playlist. As do "rolê", as de meditar, os mantras, os folk rs
Criei uma no fds chamada "repeteco", pq só ouço as mesmas há algumas semanas rs
Tá rolando agora, inclusive rsrs
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 17/08/2020
Olá! Tudo bem?
Parabéns pelo seu conto 'erótico, profundo e poético'... Se você tiver mais, manda... Ma-ra-vi-lho-so!
É isso!
Post Scriptum:
''De tudo que existe, nada é tão estranho como as relações humanas, com suas mudanças, sua extraordinária irracionalidade.''
Virginia Woolf
Resposta do autor:
Que delícia de comentário! Grata pelo feedback! â¤
Postarei, sempre que tiver! Prometo!
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