10 - O café dos meus sonhos (Imagem escolhida por Letícia Andreoli)
Letícia bebe mais um pouco do líquido quente e maravilhoso na sua xícara. Como sempre se deliciando com aquilo, com aquele sabor, com aquela sensação de... Paz, sim, de paz. Ele é diferente de todos que já provou, não apenas na aparência, mas o que lhe traz ao tocar na boca, aquela bebida que a deixa completamente relaxada.
— Cara, é tão bom, por favor, Sandy, me diz onde compra esse café.
Letícia diz ao olhar para sua melhor amiga e sorrir, ainda bebendo cada gole do café. A loira ao seu lado nega. Letícia tem vinte e três anos, é ruiva, cabelo liso, mas quase sempre está amarrado em um rab* de cavalo, o que a deixa extremamente sexy. As duas são jogadoras de futebol. Atualmente jogam fora do país, mas estão de férias na casa de campo. Elas gostam de voltar para casa, Brasil, Curitiba, é e sempre será seu lar.
— Eles são bons, né?
— Onde você conseguiu essa maravilha?
— Na lanchonete da cidade, Tícia, você só quer saber de ficar nessa casa.
— Eu vim para descansar, Sandy, claro que quero ficar o tempo todo aqui. Já olhou essa floresta, essas árvores, frutos apanhados e comidos na hora? Ah, com certeza estar na cidade não é uma opção.
— Eu te entendo. _ A loira revira os olhos. — Sendo assim nunca vai saber onde eu consigo essa maravilha.
Sandy se tornou melhor amiga da ruiva desde o ensino médio, ambas conseguiram chamar atenção de olheiros e agora são atletas do Real Madrid. Como em todos os anos desde que foram embora, há três anos, voltam naquele mês de julho, pois diferente do Brasil, o calendário da temporada é de agosto a junho do ano seguinte, sendo assim suas férias são no meio do ano.
— Vai, sua traíra.
— Eu também te amo.
A mulher mais velha dois anos vai para seu quarto. Letícia sempre foi viciada em café, não do tipo uma ou duas vezes por dia, era do tipo mesmo que troca água por café, sua mãe sempre a repreendeu, mas nada adiantava, ela só diminuiu mais com ajuda de psicólogo, pois isso poderia atrapalhar seu desempenho como atleta, sem contar os exames antidopings.
Letícia fecha os olhos ao deixar o líquido preto descer por sua garganta, não sabe explicar o que aquilo significa, mas nunca em toda a sua vida tinha experimentado um café tão gostoso. Segundo Sandy é de uma lanchonete nova da cidade, ainda não foi até o lugar, pois sempre fica isolada em sua casa, mas agora está mesmo cogitando ir conhecer e também essa pessoa que faz esse café maravilhoso.
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— Só café mesmo para te tirar dessa casa. _ Sandy diz ao dirigir o carro em direção à cidade, especificamente para a lanchonete.
— Você é uma chata, mas eu preciso mesmo saber quem faz esse café.
— Eu soube que eles têm a plantação no quintal de casa, apenas para suprir a necessidade da lanchonete. _ Leticia abre a boca surpresa.
— Então qualquer pessoa pode fazer.
— Não, não pode. _ Sandy a encara assim que para no sinal vermelho. — Eu já perguntei isso. As outras meninas disseram que nunca é o mesmo, apenas essa mulher faz desse jeito tão bom. _ Sandy a olha e sorri. — Mas eu não sei quem é.
— Como assim?
— A lanchonete é dessa garota mais o irmão dela.
— Então...
— Ela pode ser qualquer uma das meninas que trabalha lá.
— Espera, espera... _ Letícia passa a mão no rosto. — Você está me dizendo que está indo há uma semana nessa lanchonete, sabe tudo isso, mas nunca viu o rosto dessa mulher?
— Não, eu estou dizendo que já posso ter visto e não sei quem é ela.
As duas se encaram rapidamente antes da loira começar a dirigir novamente. A cabeça da ruiva dava uma volta por tudo que escutou. Claro que seu interesse está no café, em como e quem o faz, mas aquele mistério a deixou mais animada. Sorri para si mesma, pois agora mais que antes ela quer estar nessa lanchonete.
As duas começaram a conversar sobre o jogo de futebol que assistiram na noite anterior. Da casa de campo para a lanchonete era cerca de vinte minutos sem trânsito, até menos, Letícia pensa, se fosse ela dirigindo. Assim que param no lugar ela observa cada detalhe. Não era grande, nas laterais havia dois prédios comerciais enormes, assim que entra ela pode ver pessoas de paletó, provavelmente funcionários dos prédios citados.
— É aconchegante.
— Sim, vem. Vamos pedir, quem sabe você tem mais sorte que eu.
Inevitavelmente os olhares vão para as duas, não apenas por suas belezas, por seu jeito atlético, algumas tatuagens nos braços, roupas mais largas, mas também porque na cidade todos conhecem suas estrelas, as camisas dez e nove do Real Madrid. Leticia foi artilheira na temporada passada e Sandy eleita a melhor jogadora da liga. Com certeza uma dupla e tanto.
— Oi, linda, olha eu de novo. _ A garota negra se vira e encara o sorriso da loira. Letícia revira os olhos, conhece bem aquelas cantadas baratas. — Consegui tirar essa chata da toca. Tícia, essa aqui é a Rebeca, a linda e maravilhosa Rebeca.
— Uma a menos. _ A ruiva diz, fazendo a mulata franzir o cenho. — Não liga para mim. Prazer em conhecê-la, Rebeca.
— Todos conhecem vocês aqui. Sandy sempre fala que leva café para você, pois és viciada.
— Sim, demais. Tive que vir aqui para saber quem faz essa maravilha. _ As duas se encaminham para uma mesa que a negra indicou.
— Ah, então boa sorte.
— Ah, qual é linda, já sei que não é você, pois...
— Sabe? _ Rebeca sorri de lado.
— Não, você não vai fazer esse jogo mental comigo. Sim, eu sei. Então, vamos lá, diga quem é a mulher que faz esses maravilhosos cafés...
— Eu já disse, ela é a dona do local. _ Letícia e Sandy olham para o ambiente, um total de cinco meninas, contanto com Rebeca, e dois rapazes atendem as mesas, limpam, mexem na máquina, entre outros afazeres.
— Nossa, você ajudou bastante. _ Sandy revira os olhos. — Tudo bem, então traga o de sempre e junto disso seu telefone. Vamos sair hoje para jantar.
— Vamos?
— Vamos, linda, porque você disse ontem que iríamos. _ Rebeca sorri, só queria provocar mesmo.
— Certo, me pega aqui as oito.
— Perfeito.
Rebeca assente e então sai, deixando as duas sozinhas. Letícia continua encarando as pessoas, tanto clientes quanto os atendentes, sem contar as pessoas do lado oposto do balcão. Ela estava mesmo muito curiosa, tanto pelo café delicioso, quanto pela mulher em si.
— Esse lugar é incrível.
— Não é? Eu disse que era legal, você que é uma chata.
— Você sabe que prefiro ficar no meu canto, relaxar, a vida de atleta é estressante, Sandy, ainda mais em Madrid, mas... _ A ruiva olha para os lados de novo. —Você desconfia de alguma delas?
— Realmente não, nenhuma. _ Rebeca não demora a chegar com os cafés, rosquinhas e bolo de chocolate. — Obrigada, linda. _ A mulata pisca e sai.
— Elas são belas moças. _ Letícia diz ainda encarando as mulheres ali.
— Nossa, você é tão... Antiquada.
— Me deixa, sua chata.
Sandy sorri, então começam a comer. Assim que o café toca na boca da ruiva, ela gem*, a loira sorri da sua reação, mas entende, pois conhece bem o vício da amiga, tem que concordar, aquele café é o melhor que já tomou em toda a sua vida.
Elas ficam comendo e bebendo o café da manhã com satisfação, mas então acontece o olhar, assim que Letícia abre os olhos encara aquela mulher de costas. Ela usa a mesma camisa rosa dos funcionários do local, seu cabelo preso na toca, mas eram evidentes os cachos. O coração da jogadora já estava disparado, porém se multiplicou ainda mais quando a mulher em questão se virou e mostrou seu sorriso.
Não seria exagero da ruiva em dizer que nunca viu uma mulher tão encantadora, tão... Linda. Não apenas a beleza física, mas em cada detalhe simples, cada reação ao olhar, perceber o lugar, nesse momento ela entendeu, era ela, Letícia tem certeza, essa era a pessoa do seu café dos sonhos.
— É ela.
— O que? _ Sandy olha para onde a amiga olhava, compreendeu todo o seu fascínio, a mulher além de linda sorria com facilidade e parece que inundava todo o ambiente com seu carisma e alegria. — Sim, meu Deus, ela é...
— Maravilhosa. _ A loira encara a amiga ao ouvi-la, era evidente a admiração em que a ruiva olhava para a mulher, porém, antes que ela tenha qualquer reação a morena entra de novo, deixando o corpo de Letícia ansioso.
— Acha que é ela?
— Tenho certeza que sim. _ A ruiva não perde tempo e vai para perto do balcão, onde Rebeca está. – Oi, linda.
— Já vou sair com sua amiga, não faço essas coisas a três. _ A mulata diz ao sorrir.
— Ah, não, não é isso. _ Letícia fica sem graça. — Então... Quem era ela?
— Ela quem? _ Rebeca franze o cenho.
— Por que protegem tanto ela?
— Você poderia ser mais específica?
— Ah, vamos lá, linda, sabe de quem estou falando.
Rebeca pensa um pouco. Encara a ruiva na sua frente, ela é famosa na cidade, mas a verdade é que ninguém a conhece bem. Letícia está há três anos na Espanha, pode ter se transformado em outra pessoa, pelo menos ela acabou de pensar isso, não poderia arriscar.
— Você vai pedir mais alguma coisa?
— Vocês a protegem mesmo. Não vou insistir agora, respeito isso, mas não vou desistir.
— Você que sabe, mas acredite, não será tão fácil.
Sem dar mais atenção para a ruiva, a negra sai de perto, não por arrogância, falta de educação ou empatia, mas porque algo lhe diz que se continuasse ali com certeza falaria demais, se isso acontecesse, Renato a mataria.
Letícia observa a mulher se afastar e volta para perto da amiga, que sorri pela cara emburrada da ruiva.
— Nada?
— Não, tem algo errado aqui.
— E claro que você vai descobrir.
— Sim, vou.
A mais nova estava decidida, volta a comer seu bolo de chocolate, mas seu olhar não saía da porta que dava para o cômodo atrás, provavelmente a cozinha. Ela não sabe como, mas precisa falar com aquela mulher.
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Paciência era uma virtude que Letícia nunca teve. Aprendeu a esperar pelo futebol, a buscar e aproveitar as oportunidades, usar experiências ao seu favor, mas paciência? Ah, não, isso nunca. A prova disso era seu pé balançando contra o chão.
A mulher estava encostada ao carro, usando calça jeans, uma camiseta, blusa e mais uma jaqueta jeans azul escuro, onde suas mãos estão dentro dos bolsos da mesma. O cabelo amarrado em um rab* de cavalo, marca registrada da sua aparência. O clima estava tão frio que ao respirar era possível ver a fumacinha sair da boca. Além de estar no auge do inverno curitibano, há o horário, tarde para seus padrões de férias.
Já passava das dez da noite e Letícia se recusava a sair dali antes de ver sua... A mulher. Respira fundo mais uma vez. Sandy saiu com Rebeca, como elas combinaram, a ruiva não sabia bem o que fazer, mas esperava ansiosa. E então lá estava ela.
A morena, agora com seus cachos soltos, usando roupas parecidas com as de Letícia, acenava para alguém dentro do local, um homem, pelo que a ruiva pode notar pela vidraça, então sai, ajeitando sua bolsa e buscando algo dentro, logo ela percebe ser uma chave. A jogadora não perde tempo e vai atrás.
— Ei... _ Porém a mulher não se virou. – Espera. _ Leticia sabia que estava parecendo uma maluca, mas não tinha outro jeito. — Ei, espera, eu quero falar com você.
Porém a mulher continua andando, logo chega perto do carro, desativa o alarme, mas antes que abra a porta, sente uma mão em seu ombro, o que a faz virar de uma vez. Foi então que os olhos das duas se conectaram. Exagero? Talvez, mas a partir dali Letícia passou a acreditar em amor à primeira vista.
— Desc... Desculpa se te assustei, eu estava te chamando, mas você não respondeu. Eu sou Letícia, fui à sua lanchonete pela manhã e te vi lá. _ A mulher morena continua encarando-a como se fosse uma louca, de certa forma ela tinha razão. — É... Oi, eu... Eu sei que parece loucura, mas... Gostaria de saber se quer sair comigo qualquer dia desses. Eu amo os seus cafés, são tão gostosos. Eu sou viciada em café. Não sou uma maluca, eu juro, pode perguntar para Rebeca, ela me conhece, ou quase. E eu estou falando demais. E... _ A mulher franze o cenho e continua lhe encarando, inquieta e preocupada, tanto que olha pra trás, onde observa seu salvador se aproximando. — Você pode falar alguma coisa?
— Ei, o que está fazendo com minha irmã? _ Leticia se assusta ao virar e ver aquele homem enorme. — Quem é você? _ A ruiva se afasta da mulher.
— Desculpa, de verdade, eu juro que não estou fazendo nada. _ Letícia ergue o braço, indicando sua inocência. — Olha, desculpa se te assustei. _ Agora ela olha para a morena. — Eu só... Só queria te conhecer.
— Quem é você? _ O homem pergunta, já perto da mulher que se mantinha calada. — Espera... _ Ele a analisa de perto. — Você é a jogadora, não é? Eu assisto a seus jogos.
— Sim, sou eu. _ Ela sorri sem graça, não queria ser reconhecida. — Ela... Qual o seu nome? _ A ruiva espera uma reação, mas a única coisa que a morena faz é olhar para o irmão que assente.
— Você pode ir embora. Minha irmã não quer falar com você.
— Mas...
— Vai, eu cuido disso. _ A morena assente e então entra no carro. Letícia ameaçou se aproximar, mas foi impedida pelo homem. Logo o carro sai em disparada. Renato então encara a ruiva seriamente. — Fique longe dela.
— O que diabos foi isso? Por que ela simplesmente não falou comigo? Por que ela apenas não disse, foi mal, mas não estou interessada?
— Só fique longe.
— Não vai rolar.
— O que?
— Não vai rolar. Eu não... Eu não estava dando em cima dela, não ainda. Só queria conversar. Saber seu nome. Principalmente falar sobre o café maravilhoso que vocês fazem. Isso foi... Estranho. Não vai rolar, eu vou voltar e tentar falar com ela de novo. _ Renato rosna e avança. — Vai me bater? Vai em frente, mas não vai adiantar. Eu vou voltar.
— Você é...
— Insistente? Sim. Já me falaram isso. Não sei o que está acontecendo aqui, mas estou disposta a saber, então me dê um bom motivo para eu ir embora agora e deixar essa história para lá, mas seja convincente.
Eles se encaravam. Renato queria falar a verdade, mas não poderia trair sua irmã daquela forma, então abaixa a cabeça e respira fundo.
— Ótimo, então nos vemos amanhã de novo.
Leticia não sabe o que acabou de acontecer ali, mas em breve vai descobrir e só então decidir o que fazer.
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Assim como previsto, Letícia estava sentada na mesma mesa do dia anterior. Sandy na sua frente usava óculos escuros, tentando esconder sua ressaca e olheiras, mas só ela sabe como está com raiva da amiga por ter a feito acordar tão cedo sem nem dizer o motivo.
— Ai, minha cabeça. _ Sandy reclama pela milésima vez, o que faz a ruiva revirar os olhos. — Essa mulher me levou do céu ao inferno em algumas horas.
— Isso foi a cachaça que você bebeu, não a Rebeca.
— Cachaça essa que ela me deu.
— Bom dia, o que vão querer hoje? _ Rebeca fala seriamente.
— Ok, você está chateada? Não te fiz goz*r o suficiente? _ Sandy estranha o jeito da mulata.
— O problema não é você, sou eu. _ A ruiva diz e a negra a encara. – Ele está me vigiando?
— Sim, está de olho em você. Acho bom se manter longe.
— Não vai rolar.
— Ok, o que eu perdi? _ Sandy agora tira os óculos, estava mesmo horrível.
— Traga o de sempre, Rebeca, não vou discutir esse assunto com você, até porque sinto que vão me deixar no escuro.
— Você que sabe, depois não diga que não avisei. _ Então ela sai, deixando as duas amigas, ambas curiosas. O olhar da ruiva não desviava da porta da cozinha.
— Agora me fala, que merd* foi essa?
Letícia suspira, então começa a relatar tudo o que aconteceu na noite anterior. Enquanto sua melhor amiga bebia, dançava e trans*va, ela estava indo atrás de uma mulher que parece viver em uma redoma super protetora.
— Nossa, coisa de filme.
— Sim, mas não vou desistir, esse irmão só me fez ter mais motivação.
Letícia estava mesmo decidida a fazer isso. Ela queria estar perto da morena, que até agora nem sabia o nome, descobrir esse mistério ao redor dela, sem contar o café, que seja como for, ainda é o melhor que já provou em toda a sua vida.
Rebeca aparece com os pedidos, Sandy segura sua mão e a beija, só então a mulata dá um sorriso naquela manhã. Ela sai e deixa as duas sozinhas de novo. O café desce maravilhoso pela garganta da outra, como no dia anterior, a ruiva gem* ao sentir o paladar se aproveitar da sensação. Então, mais uma vez seus olhos se abrem e lá está ela, vestida da mesma forma, sorrindo para uma das meninas. Porém dessa vez Letícia ver mais, dessa vez a jogadora entende o círculo de proteção, pois antes que Renato a faça entrar, sabendo que ela estava ali, a morena se move, não apenas seu corpo, mas suas mãos, tão rapidamente quanto movimenta seus lábios sem sair som algum, lá estava a resposta que a atleta procurava.
— Oh, droga, ela é surda.
Bem ali estava a morena que faz o café dos seus sonhos conversando com uma loira em Libras.
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Solange sempre foi uma mulher com os pés no chão. Nos seus vinte e oito anos de vida sempre soube que seria deficiente auditiva, nunca se envergonhou, apesar dos pais, irmão e amigos tentarem lhe proteger de tudo e todos. Não pode negar, gosta da proteção, mesmo que em grande parte seja exagerada.
O primeiro passo para sua independência foi sair da casa dos pais, isso aconteceu há um ano, mesmo período em que abriram a lanchonete que é um sucesso. Consegue viver bem sozinha. Mora perto do trabalho, tem amigos maravilhosos, além do irmão que ainda exerce essa proteção exagerada.
Estava tudo indo muito bem, pelo menos até aquele dia. Quando saiu da cozinha e viu aquela mulher ruiva sentada, seu corpo reagiu, não apenas por sua beleza, mas porque ela a reconheceu, é uma grande fã de futebol, Letícia é a estrela da cidade, desde quando foi morar em Curitiba sempre ouviu falar da mulher, agora lá está ela, no seu estabelecimento.
Conseguiu ver a forma que a ruiva lhe encarou, tanto que ficou sem graça e voltou rapidamente. Talvez fosse uma crise de fã, mas estava nervosa mesmo. Conseguiu prosseguir seu dia normalmente. Mas aí veio a noite e lá estava ela de novo na sua frente falando tantas coisas, Solange conseguiu entender pouco, mas pôde vê-la perguntando seu nome e dizendo o próprio.
Não conseguiu se movimentar, além de ficar nervosa, amedrontada com a possível reação da jogadora ao descobrir a verdade sobre sua incapacidade. Nunca tinha se preocupado com isso, com o julgamento ou preconceito, mas de alguma forma ficou receosa com Letícia. Agradeceu quando Renato apareceu, mais ainda quando chegou até a segurança da sua casa e foi recebida por Eros, seu gatinho de estimação.
Sorri para o animal. Depois de tomar banho, comer algo e deitar, se pôs a pensar na ruiva. Era evidente que ela só queria a conhecer, mas a verdade é que Solange travou, estava completamente paralisada na presença da jogadora. Quem sabe da próxima, mas algo lhe diz que seu irmão a fez se afastar, assim como ele sempre faz. Com esses pensamentos acaba pegando no sono.
No dia seguinte lá estava de novo, preparando o maravilhoso café dos seus clientes. Sempre sonhou em ter um lugar como aquele. Com ajuda dos pais ela e o irmão conseguiram realizar o sonho, o ambiente ajudava muito no sucesso. Os funcionários dos grandes prédios próximos do estabelecimento faziam a casa estar sempre cheia, o que chama atenção.
É aconchegante, simples, mas ao mesmo tempo a decoração traz uma modernidade bonita, admirável. Não pode reclamar da sua vida, a não ser em um aspecto, o amor. Já amou, ah, sim, e esse foi o problema, ela amou demais e sozinha. Teve dois relacionamentos mais duradouros, um de dois anos e outro de três, mas em ambos as companheiras não souberam lidar com sua especialidade.
Namorar uma pessoa surda em teoria era fácil, mas na prática não era esse mar de rosas. Primeiro que a sua primeira namorada aos vinte e um anos não se esforçava para aprender Libras, resultou em um término por mensagem de telefone por parte de Solange, até porque se ela sinalizasse a outra não entenderia mesmo.
No segundo, o mais duradouro, sua ex até se esforçou, elas conversavam bastante, mas a mulher não soube lidar com o fato de Solange estar crescendo. Elas ficaram juntas por quase três anos, mas a morena sempre deixava claro seus planos. Sua namorada era secretária, quando percebeu o quanto ela ia longe, começaram as brigas. No final das contas Solange entendeu que a ex queria controlá-la.
Em ambos os relacionamentos as ex’s queriam comandar sua vida, acreditando estar protegendo. Solange viveu muito tempo sob os cuidados rigorosos dos familiares, não ia deixar que namoradas fizessem o mesmo. Resumindo, ela está há quase dois anos solteira, conseguiu realizar seu sonho nos negócios, trabalha arduamente com o que mais gosta, mas na vida amorosa é uma negação. E pela primeira vez em tanto tempo alguém conseguiu lhe despertar desejo, não apenas o físico, mas inexplicavelmente o sentimental também.
Ao sair da cozinha naquele dia esperou para falar com Rebeca, acena para a mulata que responde rapidamente. Estava de costas, porém ao encarar a amiga, percebe um olhar diferente, quando olha para o lado observa a ruiva sentada, lhe encarando de forma estranha. Aquele era o pior olhar que poderia receber, pensou que não pioraria, mas aconteceu, pois a jogadora sai correndo do café. Solange suspira. “Mais uma”, foi seu pensamento. Vida que segue com pessoas correndo dela por sua deficiência.
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Como no dia anterior, Solange se despede do irmão e vai para o carro, pronta para finalizar mais um dia de trabalho. Foi diferente, da mesma forma que a jogadora lhe trouxe sensações boas, também fez com que seus amigos e irmão a tratassem como antes, como um cristal prestes a quebrar, ela odiou.
O que lhe resta é esquecer aquele dia, fingir que seu corpo não reagiu e se concentrar no trabalho, na vida que busca, sua independência, mas não pode negar, aquela mulher lhe causou efeitos há tempos esquecidos. Assim que abre a porta do carro ela sente mais uma vez a mão em seu ombro, parecia déjà-vu da noite anterior, mais uma vez seu corpo a traindo.
— Por favor, desculpa. _ Leticia diz assim que a morena se vira e elas se encaram. —Podemos conversar? _ Mais uma vez a mais velha fica parada, com cara de idiota na frente da sua ídola. — Droga, você não deve entender, mas...
Solange então se afasta um pouco, o suficiente para se encurralar contra o carro, não que pensasse que a outra a atacaria, mas estava nervosa com a situação. Os olhos mais claros da ruiva a deixava inquieta, sem contar seu jeito tão...
— Você consegue me entender? _ A menor não sabe por que, mas acenou. — Vou falar mais devagar. Certo, eu sou Letícia, você me conhece? _ Mais uma vez a morena assente. — Ok, então, eu... Eu queria te conhecer. _ A ruiva fica sem graça ao passar a mão na nuca, o que a outra acha fofo. — Eu sei que fui... Inconveniente ontem, e... Talvez horrível hoje na lanchonete, mas... Fui pega de surpresa, mas eu juro, isso não muda o fato de eu gostar de você, de querer te conhecer.
Solange continua parada, encarando a outra, sabe que precisa reagir, mas estava difícil com a ruiva tão perto. Letícia que agora se sente mal por parecer tão invasiva se afasta mais e suspira. Talvez suas últimas ações não ajudaram em nada.
— Certo, então... Peço perdão se fui uma idiota, mesmo, eu... Eu vou indo. Foi um prazer te conhecer, e... Seu café é maravilhoso, o melhor que já provei em toda a minha vida.
A ruiva diz e se vira para ir embora, conformada de que não terá aquela conversa, essa que ela nem sabe como faria, sendo que não entenderia nada que a morena falasse, porém dessa vez é ela que sente uma mão em seu ombro, ao se virar tem o sorriso meigo da outra lhe encarando.
— Certo, temos um começo. Qual o seu nome?
Solange pensa um pouco em como fazer isso, com certeza a outra não entenderá se ela sinalizar, então a solução veio ao olhar para dentro do carro e ver papel e caneta. Ela os pega e escreve.
“Oi, meu nome é Solange, sou sua fã, desculpa se não falei com você ontem”.
Sua caligrafia era linda, pelo menos aos olhos da ruiva que sorri ao ler. Letícia volta a encarar a morena que sorria da mesma forma que foi quando a viu pela primeira vez. Sim, aquilo era a definição de amor à primeira vista.
— Seu nome é lindo, Solange, então, você... Você aceita sair qualquer dia desses comigo? _ Mais uma vez a ruiva estava sem graça. Provavelmente receberá um não, mas tinha que arriscar, ainda mais porque a outra respondeu.
A vontade de Solange seria dizer sim sem hesitar, era sua ídola ali, uma mulher maravilhosa que se mostrava ser mais especial do que entre as quatro linhas, porém negar que sua limitação atrapalharia na comunicação, sendo que Letícia não fazia ideia de nenhum sinal de Libras, era impossível. A morena respira fundo, pega o papel e escreve novamente.
“Você parece ser legal, mas não vai dar certo, não posso ficar escrevendo tudo para conversarmos”.
Solange entrega e a ruiva ler. Assim que termina olha para a morena que tinha o olhar indescritível. Aquilo era angustiante para Letícia, entende seu medo, mas não queria perder essa oportunidade.
— Eu sei e não tiro sua razão, mas que tal... Hum... Você poderia me dar uma chance, pode me ensinar. _ Os olhos das duas brilham em expectativa, de alguma forma a ruiva fazia a morena se deixar levar. — Ah, vamos lá. Vai ser legal. _ Era evidente a expectativa da ruiva, o que foi fofo aos olhos da mais velha, por isso Solange se deixou vencer.
“Ok, mas vamos com calma. Tenho muitos seguranças. O que você tem em mente?”
Letícia ler e então sorri, era um bom começo.
— Almoço, vamos almoçar juntas amanhã? _ Solange pensa um pouco e então assente. — Perfeito, posso te buscar aqui? _ Mais uma vez a morena pensa, então escreve mais uma vez, enchendo novamente a outra de esperança.
“Eu vou cozinhar para nós, esse é meu endereço, esteja lá ao meio dia”
— Ah, isso é errado, eu convidei. _ Letícia faz um bico. Solange sorri, se aproxima e rapidamente beija a bochecha da ruiva, que mais uma vez sente seu coração acelerar. — Boa... Boa noite, linda. _ Acostumar-se a falar tão devagar seria o de menos perto de tudo que sentiu apenas com aquele toque.
Solange apenas assente, sorrindo e depois entra no carro. Letícia se afasta e ver a outra saindo ao acelerar. Não sabe o que é aquilo, mas algo lhe diz que enfim possa ter encontrado a sua pessoa. De alguma forma aquela mulher lhe desperta os melhores sentimentos.
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Letícia mexe no casaco mais uma vez antes de descer do carro. Olha para o prédio e então entra na portaria, lá diz seu nome e sua entrada é permitida. Sobe a escada lentamente, não para chegar mais devagar, mas por estar mesmo nervosa.
Só se lembrar do sorriso da morena lhe faz ter certeza do que estava fazendo. Assim que para no apartamento indicado, dá duas batidas na porta, quando Solange abre, as duas sorriem. A morena então olha para as mãos da outra.
— São para você. _ A ruiva diz sem graça, levantando o buquê de rosas vermelhas. Solange sinaliza “obrigada”, então pega as flores, indicando que a ruiva entre. — Você disse obrigada, não foi? _ A menor assente. — Certo, aprendi. _ Letícia faz igual e então se encaminha para o sofá. A morena vai para perto dela e mostra os cinco dedos. — Cinco minutos? _ Solange sorri e assente. — Certo, espero aqui quietinha.
A mais velha sai e vai para a cozinha, tanto para colocar as flores no jarro, quanto para terminar de arrumar a mesa. Foram dez minutos para estar tudo pronto, ela volta para a sala e encontra a outra balançando a perna rapidamente, olhando para todo o lugar. Aquilo foi irritantemente fofo para a morena.
— Ei, oi, desculpa, estou nervosa. _ Solange franze o cenho. — Droga, falei rápido demais. Deixa para lá.
A morena deixou mesmo para lá. Então chamou a outra com um sinal e se encaminham para a cozinha. Lá, a pequena mesa está arrumada. Solange olha para Letícia e sinaliza para ela sentar, o que a ruiva faz. A morena então pega a travessa no fogão, coloca no centro da mesa e as serve. A ruiva tentou ajudar, mas a outra não deixou. Assim que termina, senta na sua frente e sorri.
“Espero que goste” _ Solange sinaliza e de alguma forma inexplicável a ruiva deduz o que ela disse, aquilo foi natural.
— Espera que eu goste? _ A menor assente, então sorriem e começam a comer. — Meu Deus, isso está maravilhoso. _ A jogadora se deliciava com o peixe com camarão, farofa, salada de legumes e purê de batatas.
“Obrigada”.
A morena sinaliza mais uma vez, logo voltam a comer. Tudo aquilo durou mais de meia hora. Letícia aproveitava para perguntar algumas coisas para Solange, como sinalizava objetos que estavam a sua volta, ela não se lembraria de tudo, mas iria se recordar do básico, como bom dia, boa noite, boa tarde, obrigada, por favor, cumprimentos diários.
Quando terminaram, Letícia fez questão de ajudar com a louça. Elas sorriem o tempo todo, apesar do silêncio de suas vozes, não era incômodo, na verdade elas estavam se reconhecendo.
Assim que findam o trabalho vão para a sala, onde a morena serve as duas com taças de vinho. Letícia agora estava sem graça, não sabia o que fazer ou falar. Solange percebendo isso, coloca sua mão na perna que continuava se balançando inquietamente. A ruiva a encara e sorri, sabendo o que aquilo significava.
— Desculpa, fiquei nervosa de repente.
Solange assente e ver a outra beber todo o líquido de uma vez, depois disso pega a taça e junto da sua coloca na mesa. A morena não sabe como, quando ou porque, mas ela queria beijar Letícia, que se dane, ela ficou dois anos esperando para outra pessoa mexer com ela daquela forma, não vai se privar agora.
Letícia sente a respiração da morena ficar mais próxima, sente o aperto em sua perna, tendo a menor cada vez mais próxima.
— Você quer mesmo isso? _ Solange olha com atenção para o movimentar dos lábios da outra, sorri e assente.
A jogadora não espera mais. Segura nas laterais do rosto da outra e se aproxima, tocando seus lábios com carinho, pelo menos inicialmente, pois assim que sente o aperto em sua pele se intensificar entende o que a morena quer.
Talvez esse tenha sido seu erro desde o começo, estava tratando Solange como algo intocável, raro, puro, mas a mulher não é assim, ela sente, deseja, se excita, como agora, se deixando deitar no sofá e a maior ficar em cima do seu corpo.
As línguas se tocam com maestria. A perna direita da ruiva se move entre as da outra, que solta um pequeno som, indicando seu desejo. Assim que Letícia escuta, se afasta e encara a morena que sorri, mas o que a jogadora queria mesmo era uma autorização. Ela veio da melhor forma possível, Solange leva suas mãos para o rab* de cavalo dela e o desata, deixando claro que ela queria.
— Ah, linda.
Letícia diz antes de voltar a beijar a morena, que segura firme nos fios do cabelo da maior. Solange não pensou que aquele encontro terminaria daquela forma, mas não se arrepende, pois aquele beijo é o melhor que já provou, nem consegue pensar no que será quando tiver mais de Solange.
Ambas estão excitadas, entregues, completamente atraídas uma pela outra. Surdez? Ah, aquilo era o de menos perto das sensações maravilhosas que estão tendo só com aqueles toques. Seja como for, elas vão aproveitar aquele momento e depois pensar em como lidar com aquilo, até porque não se deve esquecer, Letícia é uma jogadora profissional do Real Madrid, time esse que fica na Espanha.
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Duas semanas depois elas estavam conseguindo se dar melhor do que imaginavam. Letícia fazia questão de ir tomar seu café na lanchonete, até porque ela acha que não consegue mais ficar sem ele, sem contar que pode ver sua garota, sim, ela é sua mulher.
Assim que a Solange sai da cozinha para servir sua... Letícia e Sandy, ambas sorriem, junto de Rebeca, que também vinha se dando muito bem com a loira.
“Obrigada, linda”. _ A ruiva sinaliza, já mais experiente com Libras devido as aulas particulares com a “quase” namorada.
“De nada, ruiva”.
Solange diz e ganha um sorriso meigo, então volta para a cozinha. Renato não gostou muito da ideia no início, mas foi só observar como a ruiva tratava sua irmã para entender o motivo de tanto carinho entre elas, porém ele parece ser o único a se lembrar de que aquele mês de julho está acabando.
— Você está tão boba por ela. _ Sandy diz assim que encara Letícia que nem disfarça.
— Olha quem fala. Rebeca te colocou na palma da mão.
— Não posso negar, essa mulher me domou de um jeito tão... Rápido. _ Sandy suspira ao olhar para a negra que servia mesa. — Estou pensando em convidá-la para ir para a Espanha, quem sabe ela arranja um trabalho e fica por lá? _ Nesse momento o sorriso da ruiva some, pois a realidade voltou.
— É... Isso seria bem legal. _ A loira entende o jeito da outra.
— Por que não convida a Solange?
— Porque eu não seria egoísta a esse ponto. É diferente, Sandy, Rebeca não tem nada que a prende aqui, mas a Sol, cara, ela realizou o sonho dela com o irmão, tem os pais, amigos, não posso fazer isso. Uma coisa é ela ir e ficar um tempo comigo, mas para morar? Não, eu nunca faria isso.
— Eu entendo, mas uma hora ou outra terão que falar sobre isso.
— Eu sei, droga, eu sei. Uma coisa eu te garanto... _ Nesse momento a morena sai da cozinha e conversa com Rebeca, o jeito meigo da mais velha faz a ruiva sorrir tão largamente que não seria mistério para Sandy saber o que ela ia dizer. — Eu amo o futebol, mas eu acho que amo mais essa mulher.
— Oh, meu Deus, perdi minha número nove.
— Não agora, amiga, não agora, mas acho que minhas temporadas no Real Madrid estão contadas, acho que chegou a hora de analisar melhor aquelas propostas do Flamengo.
Sandy apenas suspira, poderia questionar, porém ao olhar para Rebeca que sorri para ela, entende completamente o que a ruiva quis dizer.
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Três dias, mais três dias e ela teria que voltar para a Espanha. O futuro estava bem decidido para a ruiva, não seria uma perda, seria um desafio. Ligou para seu agente e o preparou para a decisão. Chegou a hora de voltar para casa, porém ainda não falou para Solange, essa que estava em sua casa.
Sandy e Rebeca já tinham viajado no dia anterior. O que resultou em muitas lágrimas por sua garota e todas as pessoas da lanchonete, mas sabiam que era o melhor para a mulata, que via um futuro melhor para ela e sua família que estava no Rio de Janeiro.
Nesse momento a ruiva encara a “namorada” que preparava seu maravilhoso café, o líquido preto que a fez conhecer a mulher da sua vida, era bem isso, era dessa forma que Letícia se sentia, Solange era sua pessoa. A morena estava sorrindo ao preparar o café natural, é o que mais gosta de fazer na vida, ou melhor, era, pois agora o que lhe traz aqueles sorrisos bobos é estar junto da jogadora.
Solange pega a xícara e coloca o que preparou, então vai para perto da ruiva que está perto da janela, encarando a paisagem ao redor. Um dos seus melhores investimentos foi aquele lugar, nunca se arrependerá, ainda mais agora tendo a morena com ela.
“Obrigada” _ A jogadora sinaliza, Solange sorri e então beija os lábios da outra, ficando de costas para ela e sentindo o corpo da maior contra o seu.
As duas ficam naquela posição, a xícara azul de Solange se destaca na visão do lado de fora da janela, onde o frio toma conta das folhagens, o vento gostoso contra seus corpos cobertos com calça moletom e camisa larga é maravilhoso. Letícia quer fazer daqueles três dias os mais lindos e perfeitos da vida das duas, apesar de já saber o seu futuro, não será logo.
Solange suspira e então coloca a xícara em cima da mesinha perto da janela, depois pega a da namorara e se vira, encarando Letícia com toda intensidade do mundo.
“Você vai me esperar?” _ A ruiva sinaliza.
O que a morena poderia responder? Sim, com certeza, sem nenhuma dúvida? Poderia, porém ela fez mais, ela fez o que Letícia precisava para ter mais certeza ainda da sua decisão.
“Eu te amo”. _ As duas sorriem.
“Eu também te amo”.
Então se abraçam e logo se beijam. Pode até ser mais demorado do que esperavam que fosse por um tempo, mas nem essa distância e esse tempo seriam suficientes para matar aquele amor que sentem uma pela outra.
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OITO MESES DEPOIS
Solange estava sentada no sofá em frente à TV, assistindo a um jogo de futebol. Era vinte horas e ela falou com sua garota naquela manhã, estranhou que Letícia não deu mais notícias. Em alguns momentos daquele tempo longe pensou que elas não dariam certo. Ambas não eram egoístas para pedirem que permanecessem e largarem tudo para ficarem juntas, elas tinham sonhos que estavam se realizando.
Sim, ela pensou que não teriam futuro, mas era só falar com a ruiva que tudo mudava. O jeito carinhoso, amoroso e apaixonado que Letícia a tratava lhe renovava as esperanças, como naquele dia. Estava em seu período e seus hormônios a faziam ficar mais sensível.
Estava com o pote de sorvete na perna quando escuta batidas em sua porta. Revira os olhos, pois acredita ser Renato, por ter tido a entrada liberada. Tira o cobertor de cima das pernas, deixando à mostra sua pele descoberta pelo baby-doll curto que ela usa.
Então a porta se abre, para sua surpresa e desespero não era o irmão, ah, não, longe de ser seu barrigudo e barbudo irmão, distante disso, aquele corpo esbelto, atlético, aquele sorriso meigo, mas ao mesmo tempo sedutor, que deixa seu corpo quente, era “ela”.
“Oi, meu amor”.
“Tícia!”
A morena pula contra o corpo da maior que a segura com firmeza. O beijo veio com rapidez. O clima em Curitiba continuava frio, mas elas não se importaram com isso, elas só queriam estar juntas. A ruiva carrega o corpo da outra para o sofá e a deita, ficando em cima, porém a menor se afasta.
“Não posso” _ A maior faz um bico e então lhe dá um beijo, logo sentam para poderem conversar melhor. – “Por que não disse que viria?”.
“Surpresa!”
“Eu adorei, mas sem brincadeiras”. _ A maior entende o receio da outra.
“Agora vim para ficar, linda, dessa vez estou de volta de verdade. Assinei com o Flamengo, vou ficar um tempo no Rio, mas estou mais perto. O Rio de Janeiro é bem aí, apenas algumas horas”.
“Oh, meu Deus. Eu te amo!”.
“Eu também te amo, querida, para sempre”.
Elas voltam a se beijar. Dessa vez mais forte e com amor. Será uma caminhada lenta e ainda difícil, mas com certeza duas horas é mais perto do que dez. Solange tem certeza que encontrou sua pessoa, sua mulher, assim como Letícia, que por conta do café dos seus sonhos encontrou o amor da sua vida.
Fim do capítulo
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