Quando o recesso de inverno terminou, um novo semestre em King High se iniciou. Tudo na escola estava diferente. Leslie havia oficialmente roubado o título de Rainha e ela e Cathy haviam arranjado uma nova seguidora para compor o trio do poder: Joana, que era a nova namorada de Matt. Ele nunca iria ter de volta a popularidade dos tempos passados, mas conseguia se manter firme perto do topo da pirâmide.

Já Quinn passou para o fundo dela, andando oficialmente com os considerados perdedores da escola. Ela nunca conseguiria ser considerada invisível naquela escola, mas não mais causava medo em todos e aos poucos a aura de poder que a envolvia foi sumindo até que ela virou uma pessoa comum para todos.

Leslie e o novo trio do poder implicavam com ela e Sophie sempre que podiam, afinal, precisavam se distanciar das duas lésbicas. O que Leslie não sabia é que as implicâncias eram uma grande fonte de divertimento do casal. Se antes as duas implicavam uma com a outra e se divertiam, achavam ainda mais legal quando faziam juntas contra os outros.

Quinn decidiu continuar na equipe de líderes de torcida pois seria bom para sua aplicação para as faculdades, mas além disso decidiu se dedicar a sua real paixão: xadrez! Entrou para o clube que Lisa já fazia parte e em pouco tempo começou a se destacar.

Enquanto isso Sophie passou a dedicar todo tempo que podia no atletismo tendo uma excelente performance durante toda a temporada. Mesmo assim ela não deixou o flag de lado e os Mostly Nobodies conseguiram dinheiro para poderem oficialmente competirem.

Quinn nunca teve um semestre tão feliz quanto aquele, sentindo-se finalmente livre para ser ela mesma. De vez em quando ainda sentia-se triste e com saudades da mãe, mas conseguia lidar bem com o assunto, principalmente por ter sido convencida por Brian a fazer terapia. Ele estava certo e realmente a ajudou muito durante todo o processo de mudança.

Quinn só viu a mãe duas vezes depois de ter saído de casa e em nenhuma das duas vezes Eleanor havia ido falar com ela. Como a cidade era pequena, não tinha como desaparecerem da vida uma da outra completamente. A primeira vez foi no mercado e a segunda na parada do Homecoming do ano letivo seguinte. Ela sabia que a mãe continuava a beber só a vendo de longe. Sabia que tinha arranjado um outro emprego e assim seguia sua vida um dia após o outro, completamente sozinha.

Quinn sentia-se muito bem em seu novo lar e por mais que se sentisse um pouco mal de não conseguir contribuir financeiramente, ajudava nas tarefas como lavar roupa e, principalmente, cozinhar.

Os três tornaram-se uma família em pouco tempo e Helen cada vez mais fazia-se presente aceitando as duas sem restrições. Demorou um pouco até que deixasse Sophie sair do armário para o restante da família, mas quando isso aconteceu, acabou não sendo nada demais e todos respeitaram logo de inicio. No Thanksgiving seguinte até convidaram Quinn e ela conheceu a família inteira e foi recebida com muito respeito.

Quando o próximo ano letivo iniciou, Quinn estava mais que nunca focada nos estudos, tanto nos seus, quanto nos de Sophie. As duas passaram a ter uma rotina de estudarem juntas todo dia e depois de ter sofrido com a falta de atenção da namorada, Quinn finalmente entendeu que ela funcionava melhor se movimentando e as duas passaram a estudar enquanto corriam juntas ou até malhavam.

Estavam determinadas a estudarem em faculdades pelo menos em cidades vizinhas, para que pudessem se ver com frequência. E logo no inicio do ano letivo, sentaram para conversar sobre as possibilidades.

– Eu não vou para nenhuma faculdade no Texas, já aviso logo! – falou Sophie já cortando algumas opções da lista de Quinn – Essa é praticamente minha única exigência.

– Suas prioridades são incríveis – riu.

– Eu odeio o Texas! Eu nunca seria capaz de morar lá!

Então as duas começaram a ver cidade por cidade.

– Los Angeles tem boas opções para nós duas – falou Quinn – UCLA, USC.

– E e Stanford não é tão longe! – Sophie lembrou.

– California no geral tem ótimas opções! – concordou.

E era verdade, mas o que Quinn queria mesmo era uma Universidade Ivy League. Por mais que ela soubesse que as chances de ser aceita em alguma delas era pequena, não conseguia deixar de sonhar.

– Por mais que eu odeie New York, lá tem muitas opções também! Columbia para você, por exemplo – falou Sophie apontando outra opção na lista, uma Ivy.

– Eu não quero ficar com altas expectativas... – ela falou depois que consideraram algumas outras Ivys pela costa leste.

– Eu sempre tenho a chance grande de entrar em Temple – Sophie lembrou – E tem outras faculdades boas em Philly, tipo UPenn – lembrou – E além do mais New York também não é longe então se você for aceita em alguma por lá e eu for para Temple, a gente vai estar há um pouco mais de uma hora de distância.

– Tem muitas faculdades boas por ali – Quinn concordou.

O primeiro semestre passou voando e os Yellow Jackets venceram o segundo título consecutivo. O segundo semestre chegou rápido e as duas ficaram completamente focadas em seus planos, mesmo assim conseguindo aproveitar muito bem o ano senior. Quinn nunca se sentiu tão feliz e ao mesmo tempo tão atarefada. Ganhou a eleição para o grêmio estudantil e tudo estava indo perfeitamente bem em seus planos.

Sophie teve mais uma excelente temporada de atletismo, recebendo atenção de faculdades de todo o país, tudo o que precisava era tirar uma nota razoável nos SATs para assegurar as bolsas.

Quando finalmente chegou a época de receberem seus e-mails de aceitação, Quinn estava uma pilha de nervos.

– Entrei em UCLA – falou sem muita animação.

– Isso é ótimo! – falou Sophie alegre – Eu recebi uma oferta em USC então podemos ficar na mesma cidade!

– Eu sei, só que UCLA é minha faculdade segura. Já era esperado eu ser aceita lá.

Ela estava realmente interessada em uma aceitação em Stanford. Não era uma Ivy League, mas era, com certeza, uma das faculdades mais privilegiadas do país e entrar lá abriria muitas portas para posteriormente fazer sua graduação em direito.

Ela passou os próximos dias tensa, esperando o e-mail, mas antes que Stanford entrasse em contato, ela recebeu uma surpresa.

Os três estavam jantando juntos quando ela viu a notificação em seu celular. Ficou alguns segundos olhando para a tela sem acreditar.

– O que foi? – Brian perguntou preocupado.

– Eu fui aceita na University of Pennsylvania! – falou sorrindo quando a ficha realmente caiu.

Uma das melhores universidades do país havia aceitado ela! Uma Ivy League, como ela sempre sonhara e nunca pensou que fosse possível.

– Eles me ofereceram uma bolsa! – anunciou sem acreditar.

Os três então levantaram e começaram a pular juntos pela sala.

– Eu estou tão orgulhoso de você! – falou Brian chorando de emoção – Você merece!

– Você vai aceitar? É essa a escolhida? – perguntou Sophie parecendo ser a mais feliz da sala – É em Philadelphia! A melhor cidade do mundo! Podemos morar juntas em Philly!

– Eu não tenho certeza, ainda nem recebi a confirmação de Stanford – ela falou, mas isso mudou no dia seguinte, quando recebeu um e-mail de lá muito parecido.

Passou então a analisar os prós e contras de cada um dos lugares. Conversou muito com Lisa, Kevin e Claire. Por fim, Quinn decidiu que por mais que Stanford tivesse um excelente nome, nada poderia se comparar ao prestígio de frequentar uma Ivy League.

Sophie então decidiu dizer não a um dos melhores programas de atletismo do país na USC e se tornar a terceira geração em Temple a fim de ficar com a mulher de sua vida em sua cidade preferida. Ela não podia estar mais feliz!

As duas aproveitaram como nunca os últimos meses em King High e a companhia de todos os amigos, visto que cada um iria para uma faculdade diferente. Claire iria para Caltech na California e Kevin iria para New York estudar em Fordham. Todos iriam seguir seus próprios caminhos e sonhos!

Quando chegou a semana da formatura, Quinn estava ao mesmo tempo feliz e triste. Ela estava ansiosa para iniciar o restante de sua vida, mas se antes ela tinha pressa de sair de Greatdale, agora ela queria alongar aqueles momentos o máximo que podia.

– Ansiosa para o discurso? – perguntou Brian entrando no quarto de Quinn, vendo-a com a feição tensa.

Como ela estava se formando como a melhor aluna da turma, daria o discurso da formatura. Mas ele já estava finalizado há dias.

– Não é isso... Acho que só estou um pouco melancólica em me mudar – falou enquanto ele se sentava ao seu lado na cama.

– E por que?

– Eu demorei tanto para encontrar um lar e agora estou um pouco triste de abandoná-lo – admitiu olhando o seu quarto com carinho.

– Seu lar sempre será seu lar! E sempre estará aqui!

– Eu vou sentir sua falta – ela falou abraçando-o.

– Até parece que você vai ter tempo de sentir minha falta! Para começar vocês duas vão morar no meu apartamento em Philly! Acham que eu não vou visitar o tempo todo?

– Eu realmente espero que sim! – falou sorrindo.

– E além do mais eu te conheço muito bem! Você vai passar a maior parte do tempo estudando loucamente para se tornar a melhor advogada desse país! – falou feliz quando Quinn saiu do abraço.

Ela respirou fundo e sentiu uma lágrima descer.

– Eu nem sei como te agradecer por tudo que fez por mim.

– Você não tem que agradecer nem um pouquinho! – ele falou emocionado – Pais fazem tudo pelos filhos!

Quinn não conseguiu segurar o choro de felicidade. Por mais que eles nunca tivessem falado abertamente, haviam ficado tão próximos ao longo do último ano e meio que não restava dúvidas: ele era seu pai.

Os dois se abraçaram novamente muito forte e apenas se separaram quando Sophie entrou no quarto.

– Vocês estão tendo uma festa do pijama e não me chamaram? – brincou sentando-se ao lado da namorada.

– Alguém está com ciúmes – Quinn entrou na brincadeira – Fica tranquila, teremos outra festinha!

– Vai ser nessa cama? – Sophie falou de forma sedutora.

– Sei bem a festa que você quer!

– Vocês duas gostam de me torturar – Brian brincou saindo do quarto.

As duas deitaram na cama ficando de frente uma para outra e depois de trocarem um beijo, Sophie perguntou:

– Ansiosa para a formatura?

– Sim! Estou um pouco melancólica em deixar tudo isso para trás, mas estou muito ansiosa para a nossa nova vida!

– Eu, você, Philly, um apartamento novo para fazermos sex* em todos os cômodos – falou fazendo Quinn rir – É o sonho!

– Não, amor – disse aproximando-se para um beijo – É realidade!

O dia da formatura finalmente havia chegado e não apenas Helen estava lá, como também os avós de Sophie. Quinn estava um pouco esperançosa de sua mãe aparecer, mas isso não aconteceu. Como já estava trabalhando essa possibilidade com sua terapeuta a semana inteira, não se abalou. Sabia que haviam pessoas na plateia que estavam lá por ela também. Além de Brian, Lisa estava lá lhe apoiando e a mãe de Kevin sempre seria sua família também.

Sentada perto do amor de sua vida, ela não conseguia lembrar a última vez que se sentira tão realizada. Sophie, sentindo seu olhar, virou-se em sua direção. Ao longo de mais de um ano de namoro, as duas passaram a ter uma conexão cada vez maior, um imã que parecia juntá-las e um fio invisível que as ligava. Conheciam-se como se fossem a extensão uma da outra e através de um rápido olhar podiam trocar conversas infinitas.

E foi isso que aconteceu naquele momento, quando Sophie passou toda a coragem e inspiração necessária para Quinn levantar e fazer seu discurso. Aquele era um momento de muito orgulho seu, ser valedictorium era uma honra imensa e ela mal conseguia acreditar que há pouco tempo tentava esconder sua nerdice do restante da escola.

Caminhou-se até o meio do palanque e, virada de frente para todos da plateia, respirou fundo buscando o rosto de todas as pessoas que estavam ali por ela antes de começar a falar:

– Queridos formandos, familiares, amigos e funcionários da escola, estamos hoje reunidos para celebrar o final de nossa jornada em King High. Apesar de estarmos livres de todas as provas eu tenho uma última pergunta para vocês: quanto tempo durou essa nossa caminhada? Quatro anos parece ser a resposta mais apropriada e definitivamente é o que eu responderia se fosse uma prova – brincou e ouviu algumas risadas da plateia – Mas esse número não representa de verdade a duração do High School para nós. Para muitos esses anos pareceram infinitos – brincou novamente – Já para outros parece que passaram voando. Isso é porque o tempo é muito mais relativo do que a gente pensa. Ele é muito mais do que apenas um acúmulo de segundos, minutos, horas, dias e anos. O tempo é uma medida completamente individual que tentamos relativizar com nomes que não conseguem simbolizar com perfeição como o sentimos – respirou fundo antes de continuar – E sabemos que nosso tempo em King High foi completamente diferente para cada um de nós aqui reunidos – apontou os outros formandos atrás de si – Alguns queriam que esse tempo passasse definitivamente mais rápido, enquanto outros queriam alongar o máximo possível. Entretanto, mesmo que as vivências de todos tenham sido completamente diferentes, têm algumas coisas que foram iguais para todos. Para começar, todos nós conseguimos! – falou com orgulho e ouviu pequenas comemorações – Todos nós estamos aqui hoje porque conseguimos! Traçamos diferentes caminhos que nos trouxeram a esse mesmo lugar! Um pedacinho de familiaridade dentro de um grupo tão diverso! E vamos lembrar desse momento para sempre! Esse pequeno momento especial, no qual todos estamos vestindo a mesma roupa, estamos sentindo a mesma alegria e estamos compartilhando do mesmo sentimento de esperança pelo que virá – mais uma vez ouviu comemorações – Mas essa não é a única coisa que nos une. Tem mais uma coisa que foi a mesma para todos! Nenhum de nós ficou apenas quatro anos em King High, ficamos o tempo de uma vida inteira e para quem teve sorte, mais de uma vida! Cada um de nós compartilhou experiências próprias e únicas que tiveram a duração de uma vida inteira! E hoje, juntos, celebramos essas nossas vidas, preparados, ansiosos e esperançosos de vivermos muitas mais vidas ao longo de nossas próprias jornadas! – finalizou ouvindo os aplausos de todos – Obrigada! – agradeceu e voltou ao seu lugar.

Sophie e ela trocaram um rápido olhar que falava muito. Naqueles últimos dois anos, elas haviam vivido pelo menos duas vidas inteiras e queriam viver muitas mais!

Continuando a cerimônia, cada uma esperou pacientemente ser chamada e durante esse tempo, elas reviveram suas vivências.

Sophie pensou em como foram seus primeiros dois anos de High School em uma escola particular, na qual se sentia totalmente deslocada, mas não sabia ao certo o quanto, até sair de lá. Lembrou de seu primeiro dia em King High, quando rapidamente fez amigos mais verdadeiros do que nunca. Lembrou-se da primeira interação com a namorada e riu internamente pensando em como era sortuda por ter encontrado o amor de sua vida tão cedo.

– Sophie Allen – foi uma das primeiras a ser chamada e caminhou com um sorriso do tamanho do mundo para pegar seu diploma.

Olhou para a plateia e ver seus familiares a deixou emocionada. Ela não podia estar mais feliz, mas ao mesmo tempo um pouco melancólica com todas as mudanças. Tivera os melhores anos de sua vida ali, na pequena Greatdale.

– Kevin Benson – ele foi chamado e não conseguia esconder a emoção.

Ao ver sua mãe torcendo por ele, Kevin caminhou confiante até o centro do palco. Iria se mudar para a melhor cidade do mundo e não estaria distante de suas melhores amigas. Não havia nada melhor do que aquilo!

– Claire Carson – ela caminhou com o rosto já inchado de tanto chorar.

Iria para a universidade de seus sonhos na California, mas ao mesmo tempo, estava ansiosa para se despedir de Fred, que iria continuar em Ohio para a faculdade. Estaria longe de todos que conhecia pela primeira vez e, apesar da alegria, sentia borboletas no estômago de nervoso.

– Leslie Cox – a Rainha caminhou sendo aplaudida por aquele público uma última vez.

Ela olhou para Spencer na plateia e sorriu com orgulho. Os dois haviam terminado e voltado algumas vezes naquele ano que ficaram separados, mas ela iria se mudar para Los Angeles para ficar com ele, que estava jogando futebol pela UCLA.

– Cathy Lynn – ela caminhou sendo aplaudida pela sua família na plateia.

Cathy também não iria para nenhuma universidade, continuaria em Greatdale e assumiria o salão de belezas junto com sua mãe.

Enquanto observava seus companheiros de turma, Quinn pensou em sua jornada em King High. Em seu primeiro ano ela estava absurdamente triste. Havia tentado acabar com tudo naquele verão e sentia-se solitária sem Kevin. Passou os primeiros dois anos à sombra dos desejos de sua mãe, apenas sobrevivendo. Então conheceu Sophie que mudou sua vida completamente. Ganhou Kevin de volta e o melhor de tudo: ganhou um pai e um lar.

– Quinn Morgan – ela respirou fundo e caminhou até o meio do palanque sem esconder as emoções.

Ela sentia-se tão livre e tão feliz que não conseguia controlar as lágrimas de emoção. Quando olhou para a plateia, viu Brian comemorar como um louco e naquele momento ela nem pensou em Eleanor. Ela já tinha absolutamente tudo o que precisava para ser feliz.

Depois de todos serem chamados, os alunos, juntos, jogaram seus chapéus para cima e a mão de Sophie buscou a de Quinn. Juntas, olharam-se profundamente e, naquele olhar, estava não apenas estampado o amor incondicional que sentiam uma pela outra, como também uma enorme felicidade e ansiedade para viverem, juntas, o restante de suas vidas.

Fim do capítulo