Ice Quinn por Carol Barra
Capitulo 52 - O sino da liberdade
No dia seguinte a cidade voltou a funcionar normalmente e as duas passaram o dia inteiro pelo centro. Foram até o Philadelphia Museum of Art e Quinn fez questão de ver todas as exposições, o que tomou praticamente a tarde inteira. Na saída não podiam deixar de tirar a típica foto imitando Rocky nas escadarias e as duas tiveram uma crise de riso encenando algumas partes do filme.
Depois ficaram no Love Park até à noite para aproveitarem um pouco do centro. Naquela época do ano tinha uma roda gigante ali perto e Quinn animou-se para ir, pois nunca tinha visto uma tão grande.
– Essa vista é maravilhosa! – ela falou quando estavam bem no topo.
Sophie olhava para ela novamente com aquele olhar feito sob medida.
– Eu não consigo lembrar da última vez que me senti tão feliz quanto agora – ela falou fazendo Quinn se arrepiar.
As duas se beijaram apaixonadamente e esqueceram momentaneamente a cidade abaixo delas. Nada mais importava do que aquilo que viviam. Entretanto, mesmo tentando impedir o pensamento de surgir, Quinn lembrou-se da mãe em casa, sozinha e provavelmente muito bêbada. Ela voltou a olhar a cidade, mas a sombra daquela lembrança ficou estampada em seu rosto.
– O que foi? – Sophie perguntou reparando a mudança.
– É que eu estou tão feliz – Quinn falou sem saber como explicaria o que sentia.
– E isso é ruim? – brincou Sophie.
– É só que... acho que estou me sentindo um pouco culpada.
– Por que? Por que você está feliz?
– É... minha mãe acabou de me expulsar de casa, falou que eu morri para ela. Era para eu estar triste, né? E eu fico pensando que ela deve estar sozinha e muito mal e enquanto isso eu estou aqui tendo os melhores dias da minha vida!
– Ei – Sophie falou gentilmente virando o rosto de Quinn para que a encarasse – Você não tem que se cobrar para sentir algo que não está sentindo!
– Eu sei – sorriu – Mas é difícil não me sentir culpada ao pensar nela tendo que viver completamente sozinha.
– Amor, isso foi uma escolha dela! Não sua!
Sophie tentou segurar a raiva que sentia. Eleanor merecia viver sozinha e ter sempre tudo de pior, mas sabia que a namorada amava a mãe independente de toda a dor que ela causara.
– Você merece ser feliz! – Sophie continuou e encostou sua testa na de Quinn – Você merece tudo de bom que acontece na sua vida. Você é uma pessoa maravilhosa que está aqui preocupada com uma mulher que te fez muito mal!
Quinn sentiu algumas lágrimas escorrem, mas elas logo foram secas pela namorada.
– Eu te amo tanto!
– Eu também, meu amor! E eu quero ver você feliz sem nenhuma culpa, tudo bem? – Sophie completou antes de lhe dar um beijo carinhoso.
Quinn respirou fundo e começou a se repetir mentalmente “Eu não tenho culpa”, “Eu mereço ser feliz”. Descansou a cabeça nos ombros de Sophie e aproveitou o restante daquele momento acalmando seu coração.
Na sexta-feira passaram o dia fazendo passeios históricos. Sophie sabia que Quinn adorava isso e a levou para conhecer o Independence Hall e o Liberty Bell. Ficaram horas por lá e Sophie contou algumas curiosidades históricas sobre a cidade.
– Passar esses dias aqui com você está sendo um sonho – Quinn admitiu – Queria que nunca acabasse.
– Não precisa acabar tão cedo! O que acha que ficarmos aqui para o Ano Novo? – ofereceu Sophie.
– É uma ótima ideia! Acha que seu pai vai se importar?
– Com certeza não! E minha mãe também vai ficar super feliz de me ter por mais alguns dias.
– Que ótimo! – comemorou como uma criança – Podíamos ir para New York! A melhor cidade do mundo! Eu nunca fui, mas sei que o Ano Novo lá é super animado! Não é longe, né?
– Ah não – Sophie fez uma careta – Isso é muito ofensivo para a galera de Philly, tá? New York não é a melhor cidade do mundo! – falou levemente irritada fazendo Quinn rir.
– Deixa eu adivinhar: rivalidade esportiva.
– Sim! – falou Sophie como se fosse óbvio – Isso é coisa séria! Você não pode falar que New York é a melhor cidade aqui! Foda-se New York! – falou brava fazendo Quinn rir mais uma vez.
– Vamos lá! Você sabe como é a cidade... E eu sempre quis ir! – insistiu.
– Eu já passei o Ano Novo lá uma vez e é uma porcaria, posso te garantir! Parece muito legal nos filmes, mas na vida real é um programa terrível! A cidade fica lotada, imunda, a gente mal consegue andar um quarteirão e não dá para a aproveitar nada! Já aqui em Philly temos vários eventos muito melhores!
Vendo a feição triste de Quinn Sophie não resistiu.
– O que você acha que irmos passar um outro dia lá? Minha mãe tem uns contatos e posso conseguir algum ingresso da Broadway, o que acha?
O rosto de Quinn iluminou de uma hora para o outro. Seria muito melhor!
– Se ela conseguir para Hamilton, temos um acordo!
– Nossa, você joga pesado – brincou – Não é fácil, mas acho que minha mãe consegue!
Depois do passeio as duas ainda andaram de mãos dadas pelo parque um pouco mais antes de retornarem para casa e saírem para jantar em família.
No sábado Brian decidiu voltar para Greatdale e as duas o levaram ao aeroporto. Depois passaram o dia com Helen que queria matar as saudades da filha. Quinn tentou ao máximo não ficar tão próxima de Sophie para não incomodar a sogrinha, mas Sophie nem reparava no incômodo da mãe e toda hora a beijava e fazia muitas demonstrações de afeto.
Como tempo, Quinn reparou que Helen parecia estar mais à vontade com as duas e sabia que era uma grande vitória.
Quando domingo chegou, Quinn nunca vira Sophie tão animada. Tinha jogo do Eagles e desde que acordara ela não parava de falar como a atmosfera da cidade ficava diferente e o quanto a namorada iria amar assistir ao vivo.
– Agora vamos nos arrumar! – Sophie falou logo depois do almoço.
– Já? Mas o jogo não é só as quatro da tarde?
– Sim, mas a gente vai antes para ficar no estacionamento! Tailgate é a melhor parte! O James e o pai já estão lá!
Quinn estranhou, mas concordou. Sophie emprestou uma de suas jerseys do time para ela e as duas foram de metrô. A estação estava cheia de outros torcedores e todo mundo cantava o hino do time e se cumprimentava.
– Os Giants vão ser destruídos! – ela ouviu vários falarem.
– O jogo de hoje ainda é melhor porque é contra um rival de divisão. E se ganharmos, vamos para os playoffs!
Quinn fingiu entender tudo que Sophie explicava e em pouco tempo chegaram em frente ao Lincoln Financial Field. Era gigante! Foram andando até o estacionamento e várias pessoas foram cumprimentando Sophie.
– Quando eu morava em Philly, assistia praticamente todos os jogos aqui! – ela explicou.
Encontraram com James, sua família e um grupo grande de amigos no estacionamento fazendo um churrasco e bebendo cerveja. Sophie estava se sentindo mais em casa do que nunca. Ela amava aqueles momentos e estar dividindo-os com a mulher que amava era a melhor coisa do mundo.
Quinn estava adorando ver aquele lado fanático da Sophie que só aumentou quando a hora do jogo chegou e as duas despediram-se para irem para as arquibancadas. Mesmo sem ser fã de esportes, Quinn não conseguiu não se maravilhar com a atmosfera do lugar. Era tudo lindo e animado! E o mais divertido era que todos os torcedores, mesmo sem se conhecerem, comemoravam, gritavam e xingavam todos juntos como se fossem um só. Por vezes quando acontecia alguma jogada boa, Sophie levantava e abraçava pessoas que nunca havia visto na vida.
Toda vez que o time marcava um touchdown o estádio inteiro cantava o hino e Quinn estava tão feliz e animada que até ela acompanhava.
– Fly Eagles Fly on the road to victory!
Para a sorte de todos, o jogo foi vencido pelos Eagles com facilidade e Quinn nunca vira Sophie tão feliz na vida.
Os próximos dias passaram rápido e Quinn aproveitou o ano novo como nunca antes. As duas foram em uma parada de máscaras e se divertiram no centro da cidade com James e Kat. Quando chegou o dia de finalmente retornarem para Greatdale, Quinn estava triste e feliz ao mesmo tempo.
Estava tão acostumada com a atmosfera de Philly que sentiu um aperto saudoso no momento que o avião decolou, mas ao mesmo tempo, ela se sentiu incrivelmente alegre de estar voltando para casa.
Brian as recepcionou no aeroporto e no caminho até em casa as duas contaram com detalhes sobre o restante da viagem.
– E aí antes da gente voltar a mamãe conseguiu ingressos para o Hamilton! – contou Sophie – Para um fim de semana no final de fevereiro, então já combinamos de ir para lá!
– Fico feliz que tenham se divertido tanto! – ele falou quando chegaram, ajudando a retirar as malas do carro.
Assim que entraram, ele anunciou.
– Quinn, preciso conversar uma coisa com você.
– Claro! – ela falou já sentindo o coração bater de antecipação, o que poderia ser?
– É melhor você sentar – ele pediu e ela prontamente acatou.
Sophie sentou-se ao seu lado, enquanto Brian ia até o escritório buscar algo.
– Eu tenho um presente – ele falou sério sentando-se à sua frente e lhe entregando um envelope.
Quinn abriu rapidamente e não conseguiu acreditar no que via.
– São papéis de emancipação – deu um grande sorriso – Isso quer dizer que eu não preciso mais me preocupar em entrar no sistema?
– Exatamente! Só precisa da sua assinatura para meus advogados darem entrada e eles me garantiram que não demora nada para ser oficial.
– Eu não acredito – ela sorriu feliz, mas então veio a dúvida – Como você conseguiu isso? Eu já pesquisei antes sobre o assunto e precisa de uma grande análise do serviço social, além do mais eu preciso provar que tenho renda para me sustentar...
– Bom... não precisa de nada disso se tiver a autorização do seu responsável – ele explicou calmamente.
Quinn rapidamente folheou o documento e achou a assinatura de sua mãe.
– Como você conseguiu convencer minha mãe de assinar?
Brian escolheu as palavras com cuidado, mas ele sabia que não seria agradável.
– Ela precisou de um incentivo.
O sorriso da Quinn rapidamente se desfez e ela olhou para baixo, sentindo o coração partir-se novamente.
– Quanto?
– Quinn... – Brian tentou falar, mas foi interrompido.
– Quanto ela pediu para se livrar de mim? – falou claramente magoada, deixando a primeira lágrima rolar.
Sophie segurou sua mão em cima da mesa, fazendo um carinho, tentando passar força.
– Não pense dessa forma! – Brian começou a falar – Isso é só um pedaço de papel!
– Quanto? – ela perguntou em um sussurro, antes do choro tomar conta.
Sophie a puxou para si rapidamente, envolvendo-a em um abraço forte.
– Amor, isso é uma coisa boa! Você estando emancipada pode ficar tranquila e sem medo do serviço social. Pode continuar sua vida e ir atrás dos seus sonhos!
Quinn sabia que aquilo era uma boa notícia, mas aquele documento fazia tudo ser mais real. Sua expulsão de casa era mais que oficial e os caminhos para um possível retorno pareciam mais fechados do que nunca.
– Querida, eu sei que é difícil! Você acha que eu me senti bem depois de ter excluído o meu pai da minha vida? Sinceramente, uma parte de mim torceu para que ele rejeitasse o acordo e o dinheiro e eu senti uma dor absurda ao ver que ele preferiu dinheiro a mim.
– Eu só quero saber a quantia que minha mãe pediu para me tirar inteiro da vida dela – ela falou tentando controlar o choro e saindo do abraço de Sophie para olhar nos olhos de Brian – Por favor!
– Eu não vou te dizer – ele falou calmamente – Saber o valor não vai te ajudar em absolutamente nada!
– Amor, eu não quero ser insensível, mas ela já tinha te expulsado de casa. Ela ter assinado esse documento não muda isso – Sophie falou com cuidado.
– Eu sei! Mas isso faz com que tudo seja muito real, entende? Como se todas as portas se fechassem!
– Quinn, as portas precisam estar fechadas! – Brian falou com carinho, mas firme – Eu sei que você ama a sua mãe, mas aquele relacionamento não era saudável! E a melhor coisa que aconteceu para você foi ter saído dele! Eu sei que é difícil, eu sei que dói, mas acredite em mim: você vai ser mais feliz.
Quinn respirou fundo e enxugou as últimas lágrimas.
– Eu sei disso também, mas não torna nada mais fácil... – ela balançou a cabeça tentando afastar os pensamentos ruins – Eu não quero saber o valor, eu não ligo!
Então levantando-se anunciou que tomaria um banho. Debaixo do chuveiro, ela deixou a água escorrer junto com mais algumas lágrimas. Depois de alguns minutos percebeu que não havia mais pelo que chorar. Sua mãe não merecia nada daquilo. Ela já havia chorado demais por Eleanor e aquilo tudo ficaria para trás.
“Eu mereço ser feliz!”, repetiu para si mesma mais uma vez e então percebeu que ela estava feliz! Ela podia não mais ter a mãe em sua vida, mas aquilo significava que também não mais tinha que dormir com medo do que aconteceria no dia seguinte. Não mais precisaria fazer todas as tarefas da casa e cuidar de uma adulta como se fosse criança. Não mais precisaria ser quem não era e apanhar por nenhum motivo. Não mais precisaria esconder de todos sua dor e seus machucados. Não mais seria infeliz.
Agora ela estava segura em uma casa, com um adulto que cuidava dela e dos seus melhores interesses, que se importava com o que sentia e com quem ela realmente era. Um adulto que a amava incondicionalmente.
E além dele, ela tinha uma namorada maravilhosa, a qual ela amava como nunca pensara amar ninguém. Tinha um melhor amigo incrível que sempre estava ao seu lado e uma nova amiga divertida que a fazia rir e esquecer os problemas.
E a melhor parte de tudo é que podia finalmente ser ela mesma. Nunca mais precisaria esconder seus sentimentos, seus desejos e seus interesses. Quinn finalmente estava livre!
Voltou do banho como se fosse outra pessoa, como se a água tivesse levado embora as dúvidas.
Brian e Sophie a esperavam para irem almoçar, mas antes ela precisava fazer uma coisa: assinar o documento.
– Estou finalmente livre – ela sorriu!
Os três passaram o restante do dia juntos. Almoçaram no Great Cook e depois voltaram para casa, onde passaram o restante do dia jogando, vendo filmes e aproveitando a companhia um do outro.
Tarde da noite, desligaram a televisão e foram dormir. Quando Quinn deitou a cabeça no travesseiro, deu uma olhada em seu quarto, repleto de coisas novas e levantou rapidamente para ir até a sua mochila da escola. De lá retirou seu unicórnio violeta e colocou-o em cima da mesa de cabeceira.
Quando deitou novamente e fechou os olhos para dormir, sentiu uma profunda paz e felicidade, como nunca havia sentido antes. Por mais que tivesse amado Philadelphia, era muito bom estar de volta em sua casa. E então ela entendeu: finalmente havia encontrado um lar!
Fim do capítulo
Meninas, me desculpem pela demora na postagem. Eu estou há mais de uma semana com uma crise horrível de enchaqueca e por isso estava com dificuldades de escrever, mas finalmente saiu!
A má notícia é que amanhã é último capítulo =(
Tem sido uma jornada maravilhosa escrever essa história e compartilhar com vocês! OBRIGADA!
bjs
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Marinavlana
Em: 03/09/2020
Hamilton ♥♥ eu surtei quando o musical foi citado. EU AMO Hamilton!
Resposta do autor:
Ahhhhhh que bom encontrar outra fã de Hamilton!!!! Eu sou completamente apaixonada por Hamilton!!!! Não consigo parar de escutar as musicas desde que assisti ao musical!
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Anny Grazielly
Em: 12/08/2020
Eh muito bom ler histórias tão lindas...
Resposta do autor:
É muito bom ler tantos ótimos comentários =)
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Yara sousa
Em: 07/08/2020
Nossa nem acretido que já vai acabar passou tão rápido.....amei o capÃtulo maravilhoso....
Sei como é enxaqueca e péssimo desejo melhoradas...
Resposta do autor:
Obrigada! Já estou um pouquinho melhor...
Passou rápido mesmo, acho que a postagem (praticamente) todo dia foi um erro pq poderíamos ter alongado mais rsrs
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sonhadora
Em: 06/08/2020
Enxaqueca é minha pedra também...desejo que você melhore de verdade!!! A Quinn merece mesmo ser feliz!!! É lamentável ver o que uma mãe é capaz de fazer para se livrar de num filho...jamais faria algo parecido com meus filhos!! Já estou sentindo saudades ....
Beijos!
Resposta do autor:
Só quem tem sabe como é terrível! Meus pêsames...
Realmente é lamentavel e revoltante! Mas que bom que no caso da Quinn ela conseguiu ser feliz apesar de tudo!
bjs
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Suzana
Em: 06/08/2020
Carol, melhoras! E que capítulo maravilhoso, Quinn merece ser livre. E como Brian é maravilhoso.
E uma pena está acabando, como já disse, poderia ter mais unas 200 capítulos rs mas foi maravilhoso acompanhar essas duas.
Bjs
Resposta do autor:
Obrigada, Suzana!
Eu também estou triste que está chegando ao fim, mas já estou pensando aqui nos capitulos especiais para matarmos as saudades delas logo!!
bjs
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lay colombo
Em: 06/08/2020
Realmente é muito difícil essa situação, mas q bom q ela tá conseguindo ver o lado bom das coisas tbm. A Quin merece muito ser feliz e agora o caminho tá livre pra ela buscar essa felicidade.
Espero q vc melhore meu anjo, uma pena q já vai acabar, amo muito a história.
Resposta do autor:
Obrigada!
Eu tb estou triste com o fim da história, mas teremos mais dessas duas!
A Quinn merece muito mesmo ser feliz e agora ela é =)
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Marta Andrade dos Santos
Em: 06/08/2020
melhoras e se cuida.
Resposta do autor:
Obrigada, Marta! =)
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