5 - Personagem principal (Imagem escolhida por Cristiany Lima)
Cristiany olha mais uma vez para a mulher na sua frente usando aquela calça de lycra colada ao corpo, deixando suas curvas a disposição para qualquer pessoa com visão usufruir, fazendo sua própria imaginação ser sua pior inimiga. Ela deveria odiar Ana Paula, era evidente, mas mesmo pensando dessa forma, não podia negar o quanto a mulher lhe atraía, afetava, principalmente sua calcinha, oh, sim, sua calcinha.
— Perfeito, Ana, você foi magnífica. _ O diretor bate palmas ao ver que o ensaio da cena acabou. A mulher morena que desce da escada, sorri satisfeita com seu desempenho.
O fato é, em menos de duas semanas para a peça estrear, Cristiany se machucou. Caiu da escada que fazia parte do cenário e torceu o pé, agora ao invés de ela estar lá, sendo a atriz principal, estava sentada nas poltronas confortáveis, observando seus amigos, ou quase todos, sendo ótimos em seus papéis, e o pior, ou melhor, ela ainda não sabe definir, Ana Paula também é ótima. Decorou o texto em dois dias e agora tomou seu lugar.
A mulher de vinte e dois anos não tem culpa do seu acidente, mas para Cristiany, de trinta anos, era péssimo perder aquela chance, seria um grande show, enredo de um escritor britânico, amigo do diretor. Tudo estava caminhando para o sucesso, até aquele fatídico dia. Suspira, pega sua muleta e se levanta, pronta para ir para sua casa. Não consegue mais ver que estaria de fora daquele sucesso, apesar do diretor sempre dizer que seu nome será citado, mas não é a mesma coisa, todos sentem por ela, porém o show não poderia parar, nem ser adiado.
A loira caminha com dificuldade com a ajuda da muleta, logo o táxi para em frente ao teatro, já era noite, nem percebeu o tempo passar. Com dificuldade entra no carro, mas antes que o motorista dê partida, ela escuta batidas leves na janela, ao ver quem era seu maxilar trava, é inevitável, ela sente raiva por Ana Paula ter pegado o seu lugar e mais raiva ainda por sentir-se atraída pela mulher.
— Vamos dividir? Não consegui um táxi, a gente mora perto, por favor.
A morena diz, fazendo bico. Ela não é cega e nem burra, sabe que a loira não gosta dela, mas também já viu seus olhares para seu corpo, ainda mais quando usa as roupas mais coladas. Não sabe o que fazer com aquelas duas informações, mas de uma coisa ela tem certeza, não vai deixar ninguém apagar o seu brilho, não teve culpa de nada que aconteceu com Cristiany, então vai segurar com força a oportunidade que teve.
— Não sei se...
— Ah, por favor, juro que fico caladinha, só não quero ficar aqui sozinha esperando pela sorte de um táxi passar. Não consegui um Uber também.
A mais velha suspira e então assente, não pode deixar a outra sozinha naquela rua escura e deserta, pode estar com raiva, mas ainda tem bom senso e um coração. A morena agradece e entra no carro, sentando na outra extremidade, porém ainda muito perto para a loira, que respira fundo.
Até metade do caminho que se resumia a meia hora, as duas ficaram em silêncio. Cristiany estava ansiosa para aquela tortura terminar, assim como ela pensava, mas estava só começando, pois logo escuta a voz da outra, aquilo causou certo arrepio, porque lhe faz imaginar tantas coisas que Ana Paula pode fazer com a boca.
— Então, quando vai tirar o gesso?
— Três dias depois da estreia.
— Ah, legal.
— Não se preocupe, você não corre o risco de eu me curar milagrosamente e voltar, o papel principal é todo seu.
— Eu não...
— Chegamos. _ Cristiany diz assim que o carro para em frente ao prédio da morena, que suspira ao pegar o dinheiro. — Não precisa, eu pago.
— Pelo menos isso prova que você não é a insensível que aparenta.
Antes que a loira responda, Ana Paula sai do carro, deixando a outra sem reação. Já foi chamada de muita coisa, mas insensível? Ah, essa é nova. Resolve deixar para lá, não faria diferença, afinal, aquela tortura vai acabar em cinco dias, sendo que seu contrato com a peça acaba e toda a responsabilidade passa oficialmente para a morena.
Engano o seu, pois assim que chega a sua casa não consegue parar de pensar no que a mulher falou. Ela estaria sendo tão desagradável assim? Não sabe, nem quer saber. Ela estava com o pé engessado, sem poder dirigir, subir uma escada, estar em festas que tanto gosta, sem ter o seu papel principal, do qual tanto lutou, não se importa com a opinião de Ana Paula, não depois de ser ela a lhe substituir.
A loira toma banho e depois deita em sua cama. Já havia jantado no teatro, sempre fazem isso, pedem comida e lá mesmo se alimentam. Pega o celular e começa a vasculhar suas redes sociais, então faz algo que ainda não tinha feito, olha o Instagram de Ana Paula, a atriz em ascensão, isso segundo sites de fofoca.
Analisa as fotos, os vídeos, os trabalhos, tudo naquela mulher era perfeição. O que deixa a loira ainda mais nervosa e carrancuda. Então vai para o Twitter, onde lá também vasculha nas postagens da morena, porém a última lhe chama atenção.
“É tão ruim quando você se enche de expectativa por uma pessoa, mas ela não passa de uma ogra carrancuda. Bem feito para minha cara”.
Foi há quinze minutos, seria muita coincidência que aquilo não fosse uma indireta? Agora está com mais raiva, porém também confusa. Sua maior dúvida é: O que diabos Ana Paula quis dizer com “expectativa”?
Cristiany não sabia a resposta, mas uma coisa ela tinha certeza, ia tirar aquela história a limpo logo, logo. Não vai ser chamada de insensível e não revidar, aquilo não faz o seu estilo e nunca vai fazer. Pensando nisso ela acaba pegando no sono.
....................**********....................
No dia seguinte Ana Paula chega ao teatro às quinze horas, o ensaio começa as dezesseis, mas gosta de chegar cedo, relaxar um pouco, afinar a voz, às vezes até dançar, se alongar, assim consegue soltar a musculatura e estar pronta para dar tudo de si, nem que seja em um ensaio.
Ela entra e deixa sua bolsa na mesa ao lado, então amarra o cabelo liso castanho em um coque e começa a se alongar, depois pega a caixinha de som e liga, seus movimentos logo começam, prontos para lhe preparar para o dia de trabalho. Seu corpo obedecia a todos os seus comandos, se deixava levar pelo toque suave, os anos de balé lhe traz perfeição nos movimentos, sem contar os de canto lírico, o que lhe trouxe para o teatro e musicais.
Jogou-se mais uma vez ao chão interpretando o cisne negro, clássico que a fez gostar da atuação junto da dança, não conseguia conter o sorriso ao acertar os passos, o jogo de corpo. Porém, no instante em que a música acaba ela escuta aplausos, ao olhar para frente encontra Cristiany de pé.
— Agora entendo porque escolheram você.
— O que está fazendo aqui?
— Olhando você. És boa.
— Olha só, ela sabe elogiar. _ Era evidente o sarcasmo na voz da morena, mas isso não afetou a loira, estava ali por um motivo e ia fazer isso, apesar de estar evidentemente excitada pelo modo que a outra se apresentou.
— O que você quis dizer com aquela postagem ontem?
A mais velha se move com a ajuda da muleta e fica abaixo do palco, olhando para cima enquanto Ana Paula paralisa o que fazia, que era arrumar suas coisas.
— Acho que não me importo com a sua opinião, não mais.
— Então já se importou?
A menor suspira, fecha sua mochila e então desce, ficando em frente à outra, que lhe encara com intensidade, não é uma boa ideia para ambas estarem tão perto, mas agora chegou a hora de deixarem as coisas claras, principalmente para Ana Paula, que cansou de ser tratada daquela forma pela pessoa que já admirou.
— Sim, eu cheguei, eu queria te impressionar, você é a melhor atriz de teatro ultimamente, eu estava me sentindo nas nuvens por saber que iria te substituir, apesar de me sentir mal pelo que aconteceu com você.
— Claro que se sentiu. _ A maior sorri irônica.
— E é por isso que não ligo mais para você. _ A mais velha fica séria quando ver a morena apontando para o seu sorriso. — Você é chata, mandona, arrogante, hipócrita, mal-educada, mal humorada, estranha, diziam que você era alguém legal, mas eu não consigo entender o que veem em você, além do talento.
— Para de falar essas coisas.
— Eu não me importo mais, não tenho medo de você. Eu sei que sou boa, sei que tenho valor, estou começando, sim, você já está no mercado há mais tempo, mas como você mesma disse, estou aqui porque acreditaram no meu potencial, mas além de me trazer muita felicidade, esse trabalho me trouxe também a realidade de que você não é essa pessoa maravilhosa que a mídia pinta.
— Para! _ A mais velha se aproxima com dificuldade.
— Ou o que?
— Ou... _ Ela olha diretamente para os lábios da mais nova. — Eu...
— Você... _ Ana Paula estava do mesmo jeito, afetada pela proximidade da maior, não sabe o que deu nela, mas não para de olhar para a boca da mais velha.
— Que se foda.
Cristiany avança contra os lábios da outra, segura firme em sua cintura, deixando as muletas caírem, sentido seu suspiro e o corpo menor se aconchegar perfeitamente ao seu. Ana Paula repousa as mãos nos ombros da loira, se deixando levar pelo que teve vontade de fazer há dias.
Sempre achou que o desejo de beijar Cristiany fosse coisa de fã, mas o interesse não acabou quando a conheceu, ela era mais linda pessoalmente, mais atraente, tinha um sorriso lindo, pelo menos quando sorria, seu encanto morreu quando ela abriu a boca para falar e saiu apenas mau humor, mas a beleza continuava, aquilo não poderia mudar.
Cristiany estava viciada, apenas aquele toque de bocas a estava deixando louca, excitada. Acreditava que seria bom, mas aquilo...? Inexplicável! Nunca havia beijado uma mulher para lhe desenvolver esse interesse repentino. Ser tratado mal não era um privilégio da morena, a atriz mais velha estava tratando todo mundo dessa forma, a verdade é que estava amargurada por ter saído da peça.
As duas estavam entregues ao momento, as bocas não queriam desgrudar, porque esse era o desejo de suas donas. Elas estavam adorando o toque, aproveitando, porém assim que escutam vozes se afastam, ofegantes e mais confusas que antes. Cristiany pega suas muletas rapidamente. Elas se encaram e não dizem nada, afetadas e excitadas pelo momento.
— Olha aí as minhas estrelas! _ O diretor entra e cumprimenta as duas, só assim elas desviam o olhar. — Vamos aos trabalhos, Ana?
— É... Claro, sim, vamos.
Cristiany entendendo, se retira e vai para o assento. Observava o ensaio com admiração, agora mais que nunca. Continuava séria, pensando no que acabou de acontecer. Ana Paula vez ou outra desviava o olhar para ela, mas continuam sérias, confusas. Todo o tempo a loira ficou quieta, nem suas opiniões foram dadas para o show, o que o diretor estranhou, mais ainda quando a mulher, antes mesmo do jantar, se levantou e saiu do teatro sem dar satisfação.
Todos ficaram olhando sem entender, mas ligaram seu comportamento ao de ultimamente, amargurado e penoso. Ana Paula suspira, mas resolve deixar para lá, entende que se ela está confusa, a outra mulher pode estar do mesmo jeito, apesar das situações serem bem diferentes para as duas. O melhor é se concentrar em sua profissão, em sua vida.
....................**********....................
No dia seguinte Cristiany não apareceu no ensaio, mandou uma mensagem para o diretor dizendo que estava se sentindo mal, mas estava bem no geral. Ele reportou a todos, garantindo a presença da mulher no dia da estreia que era dali a três dias.
No dia seguinte mais uma vez ela estava em casa, assistindo TV, deixando o que aconteceu no passado, não queria pensar naquilo, poderia atrapalhar sua vida, assim como o início da profissão de Ana Paula e nunca se perdoaria se fosse responsável por algo assim. Sabe como a comunidade LGBT é tratada no meio artístico, apesar de passarem uma imagem de apoio, o melhor é esquecer.
Dali a dois dias será a estreia da peça, fica feliz por isso, apesar de não estar mais no elenco, se sente satisfeita por o trabalho está finalizando, se for um sucesso como espera que seja, entrarão em turnê, é sempre assim. Se ela for pensar bem, sair da peça foi bom, pois isso iria contra seus planos para o futuro. A chuva do lado de fora lhe dava um clima gostoso para dormir. Estava concentrada na novela quando escuta sua campainha. Respira fundo, pega sua muleta para ir atender, porém ela nunca imaginaria que daria de cara com quem vem tentando evitar nesses dias.
— O que está fazendo aqui?
— Você não acha mesmo que vai me beijar e sumir, não é?
— Ana Paula, por favor, esquece isso. _ Porém a morena faz o contrário, ela entra e tira a jaqueta que usava, pois estava toda molhada. — E ainda é surda. Garota, vai embora.
— Garota é a sua... Ah, Cristiany, sério, eu não sou uma adolescente.
— Mas está agindo como uma, foi só um beijo.
— O meu primeiro beijo com uma mulher! _ A menor grita, fazendo a outra estremecer.
— Você nunca...
— Não, sua idiota. Eu nunca tinha beijado uma mulher antes, e que se foda, eu gostei.
Cristiany estava digerindo a informação, Ana Paula pareceu muito experiente para nunca ter beijando uma mulher, mas se bem que beijar é beijar, seja homem ou mulher. A cabeça da loira estava dando uma volta, olhava para a morena, mas ao mesmo tempo desviava para encarar sua camiseta molhada colada ao seu corpo, estava tirando sua concentração.
— Vou pegar uma blusa seca.
A mais velha pega sua muleta e caminha para o quarto, lá, pega uma camisa larga e uma toalha, logo volta para a sala, Ana Paula estava sem a camiseta, agora apenas de sutiã.
— Ah, meu Deus.
A loira entrega a camisa e toalha, essa que Ana Paula aceita de bom grado, pois estava com frio e molhada. Cristiany senta no sofá e espera a outra se secar, assim que se satisfaz, a menor senta ao seu lado.
— Desculpa ter sumido esses dias.
— Eu acho que entendi. É bom você pedindo desculpas.
— Olha, se veio aqui me insultar, eu...
— Não, desculpa, eu quero mesmo conversar com você. Entender o que estou sentindo.
— O que está sentindo?
— Eu não parei de pensar em ti depois do beijo. _ Ana Paula confessa. — Eu gostei... _ A morena fica sem graça. — Mas eu quero entender.
— Você tem algum problema em beijar uma mulher?
— Acho que ficou claro que não. _ As duas sorriem. — Mas é estranho, eu nunca senti vontade de beijar uma, aí você me beija e eu correspondo com tanta facilidade. Tente entender o meu lado.
— Eu entendo. _ A voz da mais velha sai fraca. — Eu... Eu vou te contar uma coisa e você vai prometer que não vai contar para ninguém.
— Claro.
— Eu vou sair.
— Como assim? _ A morena quase grita.
— Eu recebi uma proposta para produzir um filme, e sabe, gostei da coisa, acho que chegou a hora de tentar outras experiências.
— Nossa, uau, de atriz de teatro para produtora, nossa. Eu sempre soube que você ia longe, nunca duvidei disso.
— Não, você me odiou. _ A maior diz ao sorrir.
— Eu não te odiei, você que me odiou.
— Olha, desculpa por isso. _ Elas ficam sérias de novo. — Eu não te odeio, nem poderia, te admiro, és muito boa, mas eu... Seria minha última peça antes de encarar esse novo desafio, desculpa se fui uma insensível, como você mesma disse, eu só estava triste e não soube lidar com isso. Estava chateada por perder a chance de me afastar com chave de ouro, mas agora percebo que foi bem melhor, pois eu não poderia sair em turnê. Estava pensando só no agora, e isso iria me trazer um grande problema no futuro.
— Então isso já é certo? _ Elas se encaram.
— Sim, isso já é certo.
— Fico... Fico feliz por você. E mais feliz ainda que não é essa pessoa que mostrou ser esses dias, estava um porre e me decepcionou bastante, eu sou mesmo uma fã sua, me apaixonei pelo teatro quando tinha doze anos e vi uma peça sua.
— Nossa, obrigada por me lembrar de que sou mais velha que você.
— Não foi isso que eu quis dizer, sua boba. _ Ana Paula diz de forma meiga, ao mesmo tempo em que repousa sua mão na coxa da mais velha, o que não passou despercebido por nenhuma delas, deixando ambas sem graça. — Eu só... Sou mesmo uma fã sua.
— Eu não... Não quero que seja uma fã minha.
— Não? _ Então a morena olha para cima e ver a outra lhe encarando de forma séria, ao mesmo tempo em que se aproxima.
— Não, seria estranho.
— Es... Estranho?
— Sim, seria estranho eu te ver como fã e querer te beijar o tempo todo.
— Então temos um problema. _ As respirações já estavam próximas, misturadas.
— É? E qual seria?
— Eu sou sua fã e também quero te beijar o tempo todo.
Cristiany sorri e então avança, deixando o desejo tomar conta das duas novamente. Ele era evidente, aquela raiva que sentiam, decepção, medo, aquilo tinha um motivo, era desejo, ambição, tentação. As línguas brincam uma com a outra, os gemidos fracos se misturam, queriam ir além, mas não hoje, não agora, porém nada as impedia de terem um momento gostoso com mãos bobas.
Ana Paula empurra o corpo da outra com cuidado para o sofá, Cristiany se deita e puxa a outra para cima dela com muita cautela para não machucar seu pé. A mais velha gem* quando sente a perna da morena entre as suas, nesse momento elas se afastam.
— Para quem nunca tinha beijado uma garota...
— Eu sou uma pessoa que gosta de pesquisar sobre tudo.
— Curiosidade é um perigo.
Elas sorriem e voltam a se beijar. Mãos bobas, gemidos, um amasso e tanto no sofá. Após algum tempo, elas se sentam novamente.
— O que isso tudo significa, Cris?
— Não sei, mas que tal levarmos com calma?
— Acho isso muito bom. _ Ana Paula lhe dá um selinho. — Vou indo, está tarde.
— Eu... Certo. Tudo bem.
Elas trocam mais um beijo e a morena vai embora. Ambas estavam sorrindo satisfeita pelo que acabou de acontecer. Ana Paula não pensou que poderia ser mesmo real e um dia estar dessa forma com sua ídola, e muito menos Cristiany pensou que poderia se envolver com alguém mais nova, não que seja algo impossível, mas ela sempre preferiu as mais velhas. As coisas pareciam estar dando certo para elas.
....................**********....................
O grande dia da estreia chegou e Cristiany não conseguia desviar o olhar da mulher no topo da escada, ela usava um vestido vermelho que deixava suas costas nuas, o cabelo amarrado em um coque e uma franja bem alinhada tomava conta da sua testa. A cortina atrás da mesma cor da sua vestimenta dava perfeição ao cenário. Ana segurava um lampião, abaixo dela havia um tapete que fazia menção ao mar em movimento, na verdade ele estava agressivo. A cena era a personagem principal sendo salva, finalizando toda a peça dramática contando a história de “Eloá, a viajante do tempo”.
Assim que as cortinas se fecham todos aplaudem. Inclusive Cristiany que estava emocionada com os olhos lacrimejados, contemplando a beleza da mulher na sua frente. Todos da equipe estavam aplaudindo, alguns até assobiavam. Antes das cortinas se abrirem novamente, Ana Paula olha para o lado e manda um beijo para Cris, que retribui.
O sucesso era inevitável. Depois daquela noite que ficaram juntas elas passaram a se dar muito bem. Trocaram beijos, tiveram momentos mais quentes, hoje era a estreia da peça e teriam uma festa em comemoração na casa do diretor.
Após todos os agradecimentos, estavam a caminho da casa do homem. A menor dirige o carro da outra, logo estaciona em frente a moradia do condomínio fechado, mas antes que saíssem do automóvel, Cristiany puxa a morena para um beijo, que foi retribuído com perfeição, pois estavam com saudades.
— Tenho uma pergunta. _ A mais velha fala, enquanto acaricia a lateral do rosto da mais nova, que faz carinhos em seu braço.
— Diga.
— Essa será a primeira vez que estaremos em público depois de... Disso começar. Então, como vamos agir? Ainda não conversamos, é tudo muito bom quando estamos em meu apartamento, mas agora é diferente.
— Você quer expor o que temos?
— Não se trata de expor, se trata de que eu não sou sua amiga, não consigo agir como tal. Quero ser mais, porém eu...
— Eu aceito.
— O que?
— Você acabou de me pedir em namoro.
— Eu não... _ Mas Cris se cala e sorri. — Espertinha. Então tudo bem, namorada, como agiremos?
— Como namoradas.
— Ana...
— Eu não me importo, Cris, sério, gosto de você. Espero que o preconceito não cubra meu talento. O diretor é bom, ele não se importa, o Hugo é gay, ninguém se importa, e você está saindo. Estamos bem, vamos ficar bem.
O sorriso da loira era largo. Das duas na verdade. Elas se aproximam e trocam mais um beijo, dessa vez com mais cumplicidade que antes, agora como namoradas. Elas descem do carro e Ana Paula ajuda a jornalista a entrar na casa, ela já estava usando apenas a bota, porém ainda era desconfortável. Assim que entram na casa, Cris encara a outra e segura sua mão. Parecia cena de filme, todos pararam e olharam as duas, mas como imaginado, não ligaram, voltaram para seus amigos e bebidas. Elas se encaram e sorriem. É, talvez não fosse tão difícil.
Cristiany estava cansada, mas ficou até o fim para acompanhar sua namorada, que estava se divertindo, bebendo bastante com seus amigos. Ela ficou observando sua mulher, sua garota, sua atriz principal, pois Ana Paula ganhou o protagonismo não só na peça, mas em sua vida. Agora ela não se importa em ser a segunda, desde que sua morena esteja em primeiro lugar. No topo do pódio.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: