Recomeço – Capítulo 74

Já se passava do meio-dia, Raquel quando chegou ao restaurante que havia combinado com seu pai.

Ao passar pela entrada, o seu olhar percorreu todas as mesas, mas o senhor de cabelos com fios grisalhos não se encontrava ali.

Sentou-se a uma mesa e olhou para o relógio em seu pulso.

— Ele disse que poderia atrasar – Pensou e começou a mover os dedos sobre a mesa. Queria ignorar o fato de que seu coração estava inquieto em seu peito.

Estava nervosa e ansiosa. Naquele dia poderia esclarecer com seu pai tudo que houve entre Sófia e ela.

Rogério surgiu na entrada e o olhar de Raquel percorreu sua fisionomia demonstrando toda ansiedade.

— Boa tarde, minha filha – O senhor falou ao aproximar e sorriu com intuito de quebrar aquele clima de tensão.

— Boa tarde, pai – Raquel sentiu o coração quase sair do peito. Batia muito forte.

— Bom... Não mereço nenhum abraço? – o senhor que estava de pé ao lado da mesa, indagou.

Com a pergunta, Raquel analisou o seu pai por alguns instantes. Mantinha-se sentada, havia se esquecido totalmente da forma carinhosa como o pai a recebia.

— Claro — levantou-se e ao abraçar aquele homem, uma paz começou a tomar conta de si.

— Não precisa ficar tensa. Só iremos esclarecer tudo que houve... eu disse que iríamos conversar sobre – disse mantendo a sua caçula em seus braços.

— Eu sei, mas é que aconteceu tantas coisas – Raquel se referiu a sua mãe.

— Entendo!

Afastaram-se.

— Como está a mamãe? – Raquel indagou após se sentar. Mesmo depois de tudo, ela se preocupava com sua genitora.

— Bem – Rogério disse após se lembrar da forma como sua esposa estava agindo nos últimos dias. Parecia muito pensativa depois da última  discussão que tiveram. Talvez estivesse se dando conta de que estava agindo errado com a filha – E você? — sentou-se.

— Estou normal. Conformada com toda a situação – tentou não olhar para seu pai, pois sabia que ele estava a analisando.

— Filha, perdoe-me por tudo que houve. Desde o começo, eu não te dei uma chance de se redimir... de falar o que aconteceu... de se explicar.

— Pai, isso é passado – balançou a cabeça negativamente.

— Eu sei... mas acho que tem que ser falado nesse momento. Você foi deixada de lado por 5 anos...

— Eu tive culpa pelo que houve, não fui inocente... assumo minha culpa, mas agora, o que houve entre Sófia e eu foi diferente – resolveu falar tudo de uma vez.

Rogério escutou tudo atentamente.

— Vocês realmente se amam – pegou o cardápio e começou a folheá-lo – Como se conheceram? – pousou o seu olhar no da filha.

Raquel respirou fundo.

— Eu estava passeando com Nino e Norma... ele se soltou e me levou até ela. Nos conhecemos esse dia e começamos a nos aproximar.

— Você não sabia quem era ela?

— Não, pai – deu uma pausa – Ela não me falou que tinha alguém e eu nunca falei quem era minha família. Começamos a nos envolver sem saber desses detalhes.

Rogério passou a olhar para a filha surpreso. Então queria dizer que o destino havia pego uma peça nas duas, mas Sófia era comprometida. Uma dúvida começou a surgir.

— Sófia se envolveu com você comprometida e nunca falou isso para você?

— Quase isso – Passou a ficar incomodada por lembrar de como havia descoberto toda a verdade – De acordo com Sófia, ela se envolveu com Ricardo por gratidão... por ele ter ajudado no tratamento de Geraldo.

— Acho que Sófia se sentiu no dever de retribuir a ajuda que recebeu de Ricardo com seu pai, então aceitou entrar nesse relacionamento – deu uma pausa – Imagino que ela tenha sido infeliz. Relacionamento com amor já é difícil, imagina sem — lembrou-se de Rita.

Com a fala do pai, Raquel ficou um pouco pensativo. Será que ele queria dizer o quê com essas palavras?

— Ela não o amava pai. Queria terminar com ele quando chegasse de viagem, mas tudo ocorreu de uma forma diferente.

— Aquele noivado inesperado...

— Sim, naquele mesmo dia, eu a pedi em namoro, mas ela não aceitou, pois disse que tinha que resolver algo antes – Raquel falou e Rogério passou a ficar surpreso. Isso queria dizer que as duas descobriram toda a verdade naquele dia.

— Aquele desmaio...

— Sim, foi porque ela me viu. Não fazíamos ideia de que pudéssemos ser tão próximas – sentiu os seus lábios começando a ficar trêmulos – Pai, eu lutei, lutei muito contra esse sentimento. Me afastei de Sófia, fiz de tudo para não me meter novamente no relacionamento de meu irmão, mas eu a amo – seus olhos passaram a ficar vermelhos.

Rogério ficou sem saber o que dizer. Nunca passara por sua cabeça que tudo havia ocorrido daquela forma.

— Eu me afastei dela. Sofri muito com isso, mas o amor que sinto por ela é muito forte. E é recíproco. Nos amamos, estamos juntas pai e não vou desistir desse amor por ninguém — Raquel completou.

— Nem quero que desista, minha filha. Mesmo não sendo um relacionamento que começou bem, vocês se amam. Ricardo não seria feliz com Sófia se caso se casasse, e ele já está em outra — Com a fala do pai, Raquel ficou surpresa.

— Como assim?

— Bom... – Rogério ficou pensando se poderia dizer isso a filha, sobre Paola. Mas achou melhor não comentar – Ele está refazendo sua vida e está se tornando uma pessoa melhor. Após ter apanhado um pouco, ele resolveu que tem que mudar suas atitudes. Estou fazendo o possível para aconselhá-lo. Errei muito na criação de vocês. Achei que tinha que ser a responsabilidade da mãe e agora tenho que lidar com meus erros também. Eu tinha que ter ajudado Rita nessa tarefa.

— Pai, você é um homem maravilhoso – Tocou uma das mãos de Rogério que estava sobre a mesa.

— Mas não soube te dar o que você precisava, minha filha, apoio e amor – Acariciou a mão que estava sobre a sua e olhou nos olhos de Raquel.

_*_

Sófia estava em sua sala, não conseguia pensar em sua amada e em como havia sido a conversa entre ela e Rogério.

Olhou para a planilha em seu computador e respirou profundamente. Estava sem cabeça para aquilo.

O celular tocou sobre a mesa, era uma mensagem. Sófia não pensou duas vezes para visualizar, era Raquel.

“Oi, amor

Imagino que você esteja trabalhando e se perguntando sobre como foi o almoço com meu pai. Mas foi tudo bem, pode ficar tranquila. Ela me escutou e entendeu como tudo aconteceu. Trouxe ele aqui no meu trabalho e ele gostou muito de tudo. Em casa conversamos melhor. Beijos! Amo-te!”

Após ler essa mensagem, um sorriso se formou nos lábios da loira e ela passou a respirar mais aliviada.

“Olá, amor

Fico muito feliz por ter dado tudo certo. Estava ansiosa, pois estava sem notícias. Não fazia ideia de como poderia desenrolar essa conversa, por isso fiquei angustiada. Em casa, nós conversamos. Beijos!”

Enviou e ficou encarando a tela do computador, precisava voltar ao trabalho, mas algo chamou sua atenção.

Escutou leves batidas na porta...

— Entre – disse enquanto ajeitava sua roupa.

Era Ricardo e isso deixou a loira muito surpresa. O que ele queria?

— Boa tarde, Sófia, será que podemos conversar? – Ricardo disse tentando não manter o seu olhar por muito tempo na loira.

— Claro – Apontou para uma cadeira em frente a sua mesa – Sobre o que quer falar.

— Sobre nós – Ricardo disse ao sentar.

Sófia fez menção de dizer algo, mas foi interrompida.

— Mas não da forma como está pensando. Raquel já deve ter te falado sobre a conversa que tive com ela... bom... foi difícil, mas estou começando a ver tudo que tivemos como algo do passado e que não faz mas parte de minha vida. Estou afim de recomeçar, Sófia, e eu sei que cometi muitos erros. Queria me desculpar por ter sido egoísta contigo. Por ter acreditado em um amor que não existia a ponto de prejudicar sua vida.

— Ricardo, você não precisa se desculpar. Está tudo bem!

— Não está — Tocou os seus cabelos demonstrando nervosismo – Porque tentei fazer mal a vocês.

— Ricardo, está tudo bem... Pedir perdão não vai consertar seus erros, mas demonstra que você está disposto a ser diferente.

— Sim, eu estou... eu tive que aprender com as consequências de meus atos – ficou desviando o olhar a todo momento, parecia que algo o afligia.

— Ricardo, está acontecendo algo contigo? – Sófia indagou preocupada. Não era normal o engenheiro agir daquela forma.

Ricardo balançou a cabeça algumas vezes. Não queria falar sobre esse assunto com Sófia.

— Nada, Sófia – Levantou de onde estava sentado – Preciso ir... tenho um projeto para finalizar.

— Ricardo – Sófia chamou quando viu o engenheiro caminhar até a porta.

— O quê? – Olhou para a loira.

— Você não precisa lidar com isso sozinho – Avisou.

— Eu sei – o engenheiro falou e saiu.

Após ficar sozinha, Sófia ficou pensativa. Algo se passava com Ricardo e não era algo que havia acontecido recentemente. Desde o acidente com Rita que estava agindo daquela forma estranha.

— O que será que aconteceu? – Sófia passou a se perguntar.

_*_

Já passando das dezesseis horas, Rogério chegou em casa. Sentia-se aliviado após a conversa que tivera com a filha. Pelo que ouvira, Raquel não tinha culpa pelo que acontecera. Não tivera a intenção de magoar o irmão e nem destruir a família como Rita sempre falava.

A passos moderados, Rogério começou a caminhar para o seu quarto. Ao aproximar, escutou gritos eufóricos de Rita. Parecia estar muito animada.

— Estou interrompendo alguma coisa? – Indagou ao abrir a porta e se deparar com Rita e a enfermeira conversando.

Quando observou melhor aquela cena melhor, reparou que Rita estava com o álbum de fotos no colo.

— Estava mostrando algumas fotos para Sheila – Rita disse ao olhar para Rogério com um sorriso na face.

— Ohh... Também quero ver – Rogério se sentou ao lado de Rita e se deparou com uma foto de Ricardo e Raquel juntos, sentados no chão de terra, pareciam muito felizes.

— Essa foto foi tirada na casa dos pais de Rogério, Sheila— Rita mostrou a moça que observava tudo com atenção.

— Seus filhos são lindos – Sheila comentou e Rita parou os seus movimentos, parecia se lembrar de algo.

Rogério imaginou o que poderia estar acontecendo.

— Sheila, será que pode me deixar a sós com minha esposa? – indagou.

— Claro – A moça saiu.

Após ficarem sozinhos, Rita ficou por um tempo olhando para aquela foto.

— Você sabe o que deve ser feito – Tocou um dos braços de sua esposa.

— Eu não sei – balançou a cabeça negativamente.

— Hoje, eu conversei com ela. Imagino que você precise também – deu uma pausa – erramos Rita.

Rita apertou com força o álbum e o fechou.

— Bom... você, eu não – Rita parecia não querer voltar tão fácil em suas decisões. Sabia que havia errado muito, mas admitir seus erros não era uma tarefa nada fácil.

Fim do capítulo