Capítulo 9 - Marcos

Eu e Marcos nos afastamos um pouco de Nanda e logo me bateu uma dúvida.

-Marcos, como sabia que era eu no telefone? Não te passei meu número.

-Você notou, é? -ele disse sem graça -Achei que fosse passar despercebido pelo susto. É que ninguém com o código de área daqui me liga, e como tinha acabado de sair do hospital, sabia que não era do trabalho. Estava ao menos torcendo para que fosse você.

-E era. -Respondi sem graça.

-Era. Mas não como eu esperava.

-O que você esperava, Marcos? -Precisava acabar logo com suas esperanças. Se eu ia tentar algo com a Ana tinha que estar focada nela, e não perdida em meio à "contatinhos".

-Achei que quisesse me encontrar, sair. -Ele respondeu sem graça.

-Desculpa, Marcos, mas estou conhecendo alguém e não sou o tipo de pessoa que consegue "equilibrar os pratinhos", se é que me entende. -Ri pela besteira que tinha dito e Marcos riu junto.

-Tudo bem, Mari, mas você não facilitou minha vida com essa honestidade. Só te admiro mais depois disso. -Após uma breve pausa, ele continuou -É a Ana, não é?

-Oi? -arregalei os olhos assustada - Não, não -Frente à sua cara de incredulidade tive que falar a verdade. -É, é ela sim. -Respondi cabisbaixa e sem graça.

-Ei, por que desse olhar sem graça? Eu acho que vocês formam um casal lindo.

-É mesmo? -respondi animada, corando.

-É sim. A sua dedicação com ela é invejável. Pudera eu ter alguém que se dedicasse assim a mim. -Nesse momento seu rosto se tomou de uma tristeza, mas ele logo tratou de espantá-la. -Bom, a conversa está muito boa, mas preciso ir. Já tem tantas horas que estou aqui que perdi as contas. Não se esqueça, Mari, sempre que precisar, pode me ligar. Estarei aqui. Você ganhou um amigo hoje.

Após dizer isso ele me deu um beijo na bochecha e saiu antes que eu pudesse agradecer uma outra vez.

-O que ele queria, Mari? -perguntou Nanda que esperava por Júlia para poder entrar e ver a Ana.

-Basicamente queria saber se eu gostaria de sair com ele. -Respondi ainda perdida naquela tristeza que Marcos tinha demonstrado.

-E o que você respondeu pra ele? -ela perguntou como quem não queria nada.

-Que eu estava conhecendo uma pessoa, portanto não estava disponível nesse sentido.

-A é? E quem é essa pessoa? -Nanda perguntou com um sorriso.

-Para com isso, vai, sua boba. Você e a Júlia sabem muito bem de mim e da Ana.

-Então vocês estão juntas?

-Na verdade estamos nos conhecendo. Me diz uma coisa. Antes daquele dia que saí correndo, estava parecendo que eu queria ficar com ela? -Para mim não estava nada óbvio, tanto é que só notei quando a Ana me beijou.

-Estava sim, mas como eu e a Júlia estávamos observando bem, deu pra notar que você não estava percebendo que pra Ana as coisas eram um pouco diferentes. Mas o importante é que vocês estão se acertando.

-Sim, sim. Falando em Júlia, cadê essa menina que não volta? Precisamos deixar a Ana descansar.

Foi como se eu tivesse invocado ela ao falar seu nome, pois ela logo apareceu.

-A Ana disse que tá bem cansada e que amanhã vê vocês.

-Mas ela não quer me ver nem um pouquinho? -perguntei já sentida.

-Ela tava bem cansada mesmo, Mari, deixa ela descansar. Amanhã a gente vem visitá-la. -Respondeu Júlia com uma cara de quem pede desculpas.

-Está certo. Ela deve estar fraca. Vamos embora então. Deixo vocês em casa. -Disse já me encaminhando para o carro. Me pareceu que Júlia e Nanda discutiam baixo, mas estava tão distraída pensando que queria ter dado ao menos tchau para Ana que não peguei nenhuma palavra do que diziam.

No dia seguinte, ao chegar à faculdade, fui ao encontro das meninas para saber se tinham notícias da Ana.

-Nós ligamos no hospital logo cedo e nos disseram que ela ainda vai ficar internada ao menos até o fim do dia, Mari. -Disse Júlia com um ar preocupado.

-E essa cara aí, Nanda, o que foi? Tem alguma notícia do estado de saúde dela? -Estava preocupada já.

-Na verdade é que ela disse que não quer que você...

-Que ninguém vá ao hospital visitá-la, Mari. -Interveio Júlia.

-Sério? -Perguntei bem desanimada. -Mas ela disse o motivo disso?

-Não falamos com ela. Foi a enfermeira que nos avisou pelo telefone. -Respondeu Nanda.

-A sim, tudo bem então, né? Não podemos forçar nossa presença lá. -Respondi bem cabisbaixa.

-A professora chegou, meninas. -Disse Júlia me tirando do meu devaneio.

O dia passou lento, com aulas intermináveis. Almoçamos juntas e ao fim da tarde, quando estávamos indo embora ofereci carona para as meninas.

-Não querem uma carona?

-Na verdade precisamos passar no hos... -começou Júlia

-No supermercado, Mari, precisamos de sabão em pó, acredita que até hoje não lavamos nossas roupas? -cortou Nanda.

-Tudo bem. Até amanhã então, meninas. Qualquer coisa que souberem da Ana me avisem, por favor. -Eu estava tão distraída que não havia percebido o fora da Júlia.

Fui para casa e resolvi que precisava estudar, afinal as matérias já começavam a se acumular. Em poucas semanas teríamos as primeiras provas. Não consegui me concentrar muito, pois estava preocupada com a Ana, mas me esforcei mesmo assim. Por volta de 20 horas decidi mandar uma mensagem para Ana, pois imaginei que ela já estivesse em casa. Estava deitada na cama e acabei adormecendo esperando por uma resposta.

Fim do capítulo