Capítulo 6 - Dúvidas

Eu estava dividida agora. Ela tinha razão. Poucas horas atrás eu estava chorando por ter apenas a beijado e agora estava pronta pra fazer sex* com ela. Isso não podia estar certo. Se eu me senti tão à vontade com ela agora por que eu havia chorado mais cedo? Por que eu havia saído correndo? Nada daquilo fazia sentido. Comecei a pensar se o que tinha acontecido era só carência, afinal eu não saía com nenhum garoto já havia algum tempo. Eu pensava tudo isso enquanto dirigia de volta para casa. Quando cheguei fui direto para a cama sem falar com ninguém.

No dia seguinte meu celular não despertou e acordei dez e meia da manhã, e como minha aula terminava às 11:40 decidi nem ir para faculdade. Meu humor não estava dos melhores, então fiquei lendo na cama mesmo. Outra vez meu pai não ia almoçar em casa então decidi nem comer, só tomei um café da manhã reforçado. Tentei estudar, mas não conseguia me concentrar. Acabei desistindo e fui para a casa da Camila, uma amiga da escola, na verdade minha melhor amiga, mas tanto eu quanto ela andávamos muito ocupadas com o início da faculdade.

-Mari, fala logo o que está acontecendo, vai. -Ela havia desistido de ter uma conversa normal depois que eu me perdi três vezes enquanto ela tentava me contar o que tinha acontecido na aula de introdução ao direito constitucional.

-Oi? Como assim? Não está acontecendo nada. -Eu tentei esquivar da pergunta, não sabia como ela reagiria se eu contasse sobre a Ana.

-Me poupe, vai, eu te conheço muito bem para saber que tem alguma coisa acontecendo com você.

-Não tem nada, Cá...

-Tudo bem, se não quiser me contar então não conte, mas você está com cara de apaixonada. Quem é o bofe sortudo, heim? -Quando ela disse isso eu surtei. Comecei a chorar e não parava mais. Ela ficou desesperada. Não sabia o que fazer. -Calma, Mari, o que foi? Conversa comigo. Você tá me assustando.

Por fim eu consegui me controlar e contei tudo que havia acontecido desde o segundo dia de aula, mas dessa vez com uma perspectiva diferente, percebendo os detalhes que eu ignorara por não caberem no contexto antigo, mas que agora pareciam se encaixar. Ela ouviu tudo sem dizer uma palavra. Seu rosto não demonstrava nada. Eu estava com muito medo da sua reação, mas eu precisava contar para alguém ou iria explodir.

-E desde ontem que eu não a vejo e nem falo com ela. Ela nem ao menos mandou uma mensagem pra saber por que eu não fui à aula. -concluí olhando para Camila.

-Uau. Por essa eu não esperava. -Pronto, agora além de perder minha sanidade eu tinha perdido minha melhor amiga também. Eu estava a ponto de me levantar para ir embora quando ela continuou a frase. -Nunca imaginei que VOCÊ fosse se apaixonar tão rápido. Você se fecha tanto quando o assunto é relacionamento que achei que para alguém chegar até você levaria ao menos meses de insistência.

-É isso que você tem a dizer sobre tudo o que eu te contei? Nada de "você é louca?", "está ficando com uma garota?" ou "sai da minha casa que eu nunca mais quero te ver"? -eu estava passada demais para perceber a besteira que estava falando.

-Mari, para mim não importa com quem você fica, o que importa é que enquanto me contava a história toda seus olhos brilhavam e quando falava em beijos você sorria e quando terminou de falar estava quase chorando. Amiga, o que importa é que você está apaixonada. E essa Ana conseguiu esse milagre em uma semana, coisa que o Léo não conseguiu em três meses.

-Será que estou mesmo, Cá? E se eu não estiver? E se for só carência?

-Aí você logo vai se cansar de ficar com ela, Mari. E ficar com ela não é como se você estivesse se definindo e não pudesse ficar com garotos depois. Não é nada permanente.

-Mas eu tenho medo, Cá...

-Medo de quê?

-Não sei... E se eu gostar mesmo dela? Como fica tudo? Como eu conto isso pros meus pais? E o que todos vão pensar de mim?

-Calma, Mari. Um passo de cada vez. Vê onde isso vai dar e depois a gente se preocupa com o resto. Que tal?

-Acho que assim eu consigo... -Ela tinha conseguido me acalmar com essa conversa.

-E que tal você mandar uma mensagem pra ela agora? Porque pelo que eu entendi você meio que deu um fora nela ontem, e ela deve estar te dando espaço, por isso não te mandou mensagem nem nada.

-Você tem razão, como sempre. Não sei o que faria sem você, Cá! -disse isso lhe dando um grande abraço e pegando meu telefone.

                --Oi... --

Logo veio a resposta:

                --Oi, Mari! Está tudo bem? Não te vi na faculdade hoje :(--

                --Sim, eu perdi a hora... Meu cel não despertou. :/--

                --Ah sim, fiquei preocupada... Não faz mais isso não, por favor--

                --Fazer o quê?--

                --Sumir e não dar notícias. Me deixa angustiada :( --

                --Desculpa... --

                --Só se vier me pedir pessoalmente ^^ --

-Vai, Mari! É a sua deixa.

-É, acho que não vai fazer mal algum eu ir vê-la, né? O que você acha, Cá? -eu não sabia se devia ir lá.

-É o que eu te disse. Você não precisa se decidir sobre o que é. Se preocupa em ser feliz, depois você pensa no resto.

-Então eu vou? -minha falta de confiança era visível.

-Vai! Seja feliz! -ela sabia que tudo que eu precisava era apenas mais um empurrão.

-Eu vou! Mas antes preciso de um banho! -ri e saí correndo da casa dela para tomar um banho. Mais tarde percebi que não tinha agradecido a ajuda da Camila.

Depois de tomar banho passei um creme no corpo e um perfume discreto. Acabei colocando um vestido daqueles de praia já que estava muito calor. Quando olhei no espelho me surpreendi. Não era muito comum eu usar vestido, mas naquele momento fiquei me perguntando o porquê de eu não o usar mais vezes.

Eu estava nervosa, por isso apesar da pressa decidi ir mais devagar. Chegando lá toquei o interfone.

-Mari? -era a voz da Ana. Minha voz ficou presa na garganta.

-Oi...Oi! -a primeira tentativa de falar não deu muito certo, então limpei a garganta e tentei de novo. -Ana? -Agora sim minha voz saiu, mas ainda instável. Ela não disse mais nada. Apenas abriu o portão.

Entrei e subi sem pensar muito, pois acho que se pensasse não seguiria. Quando levei a mão à campainha a Ana abriu a porta. Ela estava linda. Seus cabelos estavam molhados do banho assim como os meus. Ela estava com uma regata amarela colada no corpo, o que realçava seus seios avantajados e um short curto que deixava suas coxas bem à mostra. Prendi a respiração e quase não volto mais. Acho que ela não notou, porque quando me recuperei ela ainda segurava a própria respiração. Eu imaginei que o vestido poderia causar alguma reação, mas não como aquela.

Fim do capítulo