Boa leitura!
Capitulo 5 - Meu pai
Alice
Desde que consigo me lembrar, minha mãe, Amanda Silva sempre foi ausente em nossas vidas. Sei que ela sempre tentou fazer o possível pra se manter ali com a gente, mas nunca foi o suficiente. Foram incontáveis as noites em que dormir sem seu beijo de boa noite, que almocei e jantei sem ela estar presente e até mesmo quando ela estava comigo, sentia que estava sozinha. Ela sempre foi 100% trabalho, parecia que vivia única e exclusivamente pra isso.
Eram poucas as oportunidades que tínhamos com ela pra conversar amenidades do dia a dia. Nunca fomos amigas, e essa é uma mágoa que carrego até hoje. Nunca me senti importante pra ela, nunca senti que fui desejada. Não sei como Pedro lida com tudo isso, ele também não é muito próximo a mim, ou talvez eu não seja muito próxima a ele, não sei bem. Ele nunca está em casa, vive em festas, viagens, por isso acabou repetindo um ano.
Ás poucas vezes em que minha mãe fala comigo, é pra dar uma sermão interminável. Sempre dizendo que não sabe mais o que fazer com minha rebeldia, que sou arisca, respondona, que não dou valor as coisas que tenho. Odeio a parte em que ela nos compara, dizendo que na minha idade daria tudo pra ter todas as facilidades que ela luta pra me dar, de certa forma me sinto ingrata e acabo ficando pior.
Meu pai então nem se fala, nunca vi um homem casado viajar tanto quanto ele. Se minha mãe é ausente, meu pai é ainda pior. Nunca está em casa e pra ser sincera, pra mim isso é um grande alívio. Ele não parece se importar com nossa família e desconfio que minha mãe tenha mergulhado de cabeça no trabalho por culpa dele. Ele é seco, impaciente, parece não se importar com nada além de grana e poder. Pra ele não existe problema que não se resolva com dinheiro, hipócrita!
Quando entrei na adolescência coisas começaram a mudar, algumas pra pior. Ao mesmo tempo em que meu corpo foi se desenvolvendo, percebi que nas raras vezes que meu pai estava em casa, me olhava diferente. Diferente de um jeito estranho, ruim e que me incomodava. Ás vezes, enquanto eu assistia TV, o pegava me olhando vidrado, mordendo a ponta da caneta, ou girando sua aliança, como se estivesse hipnotizado.
Me sentia suja, passei a mudar minha maneira de me vestir quando ele estava presente. Me desfiz de todas as roupas que pudessem atrair seus olhares, não usava nada mais alegre, nem curto. De certo modo eu sabia que tinha algo errado nesse jeito dele, mas não sabia o que fazer ou pra quem dizer. Até pensei em falar com a minha mãe, mas ela parecia estar tão mal nesse casamento, que não queria levar mais esse fardo pra ela. Talvez, pudesse ser coisa da minha cabeça, por isso resolvi tentar esquecer.
Porém, quando ele retornava das viagens e ficava em casa, aos poucos ia se aproximando de mim, ás vezes tocava meu cabelo, passava a mão no meu braço, era tudo tão sutil que talvez quem visse não achasse estranho, afinal éramos pai e filha. Mas eu não gostava, me sentia acuada e ameaçada por ele, um homem poderoso que costumava colocar medo em qualquer pessoa.
Por isso passei a ser cada vez mais arisca com ele, e passei a enfrentá-lo.
" Por quê me olha assim?"
"Não me toque!"
"Fique longe de mim seu babaca!"
Mas parece que quanto mais eu me afastava, quanto mais o atacava com palavras, mas ele gostava. Tudo parecia um jogo pra ele, um jogo que ele amava.
Fui ficando cada vez mais sem paciência pra tudo isso, e sem perceber aderi esse jeito agressivo na minha personalidade. Levei esse jeito grosseiro para além das paredes da minha casa. Não aceitava ninguém me olhar torto, chamar minha atenção ou algo do tipo. Não demorou muito pra que eu começasse a arrumar confusão no colégio, e por consequência com minha mãe.
Peguei fama de marrenta, encrenqueira, e as pessoas passaram a ter medo de mim, e mesmo sem querer eu passei a exercer poder sobre elas. Bastava um olhar meu pra engolirem em seco, e eu gostava disso, gostava da sensação de poder que eu tinha ali.
Estava sem saco nenhum pra aula de italiano, por isso, assim que tive uma oportunidade, peguei minhas coisas e me escondi na sala onde o zelador costumava deixar vazia. Estava imersa na voz da Demi Lovato, que nem percebi quando meu pai chegou. Abri os olhos sentindo a presença de alguém.
- O quê faz aqui?
Perguntei.
- Cheguei de viagem agora e já recebi reclamações sua. Magda, a diretora, me ligou pra dizer que novamente você havia matado aula e decidi vir aqui pessoalmente.
- Nossa, quanta honra. Desde quando você se importa assim?
- Desde quando sua malcriação começa a afetar minha vida. Sabe que sou ocupado, não tenho tempo de ficar atrás de você o tempo todo limpando sua bagunça.
- Eu não pedi pra você vir. Aliás, ficaria bem feliz se você fosse embora.
Sorrindo, ele se apeixmou de mim, colocou meus cabelos para o lado e inalou meu cheiro. Aquilo me assustou, e eu fiquei sem reação. Ás vezes ele me deixava com medo, parecia um maluco, um maníaco.
Rapidamente me afastei, mas ele insistia em tocar meu rosto e como um milagre, a professora Helena chegou, fazendo esse verme finalmente ir.
Embora me sentisse grata por ela ter me ajudado mesmo sem saber, odiava o fato de me sentir em dívida com alguém. Mas o que me incomoda de verdade, é sentir que de algum modo ela tenta me decifrar, enxergar minha alma. Precisei ser grossa com ela para que ela se afastasse, eu era sempre assim, afastava de mim as pessoas boas e eu sentia que ela era bem melhor do que eu, não merecia se envolver nos meus problemas.
Fim do capítulo
Devagar, começamos a conhecer melhor um pouquinho da vida Alice. O que acharam? Me digam aqui nos comentários.
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 11/08/2020
Pelo visto o pai é mesmo um crápula, além de ausente e claro. Fora que a mãe também não tem percepção das coisas, enfim uma família problema e os filhos tentando chamar a atenção, algo bem parecido com os dias de hoje em muitos lares infelizmente.
Beijos
Rosa 🌹
Manuella Gomes
Em: 05/08/2020
Bom saber os motivos dela ser como é.
Sobre o pai...nojo.
Tá bem interessante a história.
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