Boa leitura!
Capitulo 4 - Rebelde?
Helena
Os dias foram passando e eu me adaptando cada vez mais ao meu novo ambiente de trabalho. Passava praticamente o dia todo ali e confesso que estava gostando bastante de como as coisas estavam se encaminhando. No período da manhã eu dava aulas e a tarde estava liberada. Porém, se quiséssemos, nós professores poderíamos permanecer ali e organizar nosso plano de aula para o dia seguinte.
Alí, depois das aulas, os alunos almoçavam no refeitório e na parte da tarde tinham a opção de praticar diferentes modalidades de esportes ou aprender novas línguas, e acreditem, a lista de opções era bastante longa. Embora meu antigo trabalho também fosse lecionar em uma escola privada, sem dúvidas essa era bem mais requintada. As mensalidades eram exageradamente salgadas, talvez por ser um colégio de período integral, e as opções de aulas extras eram maravilhosas.
Fiquei encantada com a estrutura do lugar. As salas eram amplas e iluminadas, e cada uma possuía um ar condicionado. Tinha também um refeitório onde os alunos tinham a opção de escolher o que comeria, como se estivessem em um restaurante. Também possuía uma espécie de mercadinho, onde poderiam comprar algumas outras coisas, um imenso jardim com uma espécie de lago, uma quadra de tênis, futebol e basquete, uma biblioteca gigante e um laboratório de primeira linha. Possuía também um salão de dança, ginástica rítmica, balé e três piscinas enormes para natação.
Além das opções de aprender italiano, inglês, espanhol, mandarim, alemão, francês e português, pra quem tivesse algum tipo de dificuldade. Caso algum aluno também preferisse, poderia solicitar aulas extras das matérias incluídas na grade obrigatória, como uma espécie de reforço. Tudo isso a parte do preço que já era cobrado nas mensalidades.
Nunca tinha visto algo tão incrível quanto isso, realmente ali o ensino era de um país de primeiro mundo, o que não é comum de se ver no nosso país. Embora estivesse decidida a manter meu casamento, confesso que passava o máximo de tempo possível longe de casa. Adorava preparar minhas aulas do dia seguinte na sala destinadas aos professores, que assim como o restante da escola, era maravilhoso. Ela era composta com um gabinete privado atrás, caso algum professor precisasse de mais silêncio pra trabalhar. Não tinha do que reclamar ali, por isso passei a me dedicar ainda mais tempo aquele lugar.
Com o passar dos dias fui conhecendo um pouco mais os alunos e meus colegas de trabalho, e não demorou muito, já tinha feito uma amizade que gostava bastante. Rebeca era professora de português do ensino médio, e com o passar dos dias ficamos cada vez mais próximas. Trocávamos experiências, conselhos e ela me ajudou a me entumar com os demais funcionários.
Em certo dia, estávamos almoçando na cozinha destinada aos funcionários, quando alguns professores começaram a reclamar de alguns alunos, foi quando ouvi o nome de uma em especial, Alice Silva Montenegro.
Fiquei impressionada quando soube que ela era um tanto quanto rebelde. Embora ela usasse na maioria das vezes roupas escuras, que lhe davam um certo ar de rebeldia, jamais poderia imaginar que ela de fato fosse assim.
Descobri que ela era conhecida justamente por não abaixar a cabeça pra ninguém, sempre discutindo com algum professor ou aluno. Sempre se mostrava desinteressada nas matérias, embora conseguisse tirar boas notas. Por isso vivia na sala de detenção, ou cumprindo algum castigo, lhe dado justamente por sua falta de modos.
- Impressionante - disse quando acabei de escutar o que falavam.
- Imagino que ela seja assim na sua sala também - Marco Aurélio, um outro professor perguntou enquanto bebericava seu café.
- Não, por incrível que pareça ela não é assim. Na verdade estou de fato impressionada com esses relatos.
- Como assim ela não é assim na sua aula Helena? - perguntou Rebeca surpresa.
- Ela não me dá trabalho algum. Muito pelo contrário, sempre está atenta as minhas explicações e até agora não bateu de frente comigo.
- Meu Deus, isso é mesmo um milagre - continuou Marco Aurélio - porque a Joice, a antiga professora de matemática, vivia a colocando na detenção justamente pela falta de interesse e educação dela.
- Com certeza ela está entre os alunos que mais dão problema nesse colégio - disse Rebeca- Só não foi expulsa por causa da influência dos seus pais. Eles costumam ser bastante generosos com a instituição.
Ainda tentava digerir essas informações. Porém, seria impossível não me alegrar de ter umas das alunas problemas do colégio, se comportando nas minhas aulas. Conforme os dias se passavam, passei a prestar mais atenção nos alunos considerados rebeldes por ali. Todos se pareciam em muitas coisas. Eram populares, ricos e temidos pelos demais alunos. Mas Alice, ela não se encaixava exatamente nesses padrões.
Embora certamente fosse de uma família bastante rica, ela não era popular. Vivia sempre na companhia de duas amigas, sempre as mesmas, e carregava consigo um olhar triste, sem brilho. Isso chamou minha atenção, ela não parecia ser o tipo de garota que gostava de enfrentar professores pra ganhar popularidade. Era como se tudo fosse uma espécie de auto defesa dela.
Foi inevitável não ser consumida por um desejo de saber o que de fato acontecia com ela. Sempre acreditei que o professor também tem um importante papel na vida de um aluno e muitas vezes pode ser um grande aliado dos pais pra solucionar algum tipo de problema.
Certo dia, estava caminhando pelos corredores na parte da tarde depois de ter terminado de concluir meu plano de aula daquela semana, quando escutei umas vozes um pouco alteradas. Diminui meus passos tentando descobrir de onde vinham. Foi quando vi que dentro de uma sala, estavam Alice e um homem que eu ainda não conhecia.
Ele parecia bastante nervoso e embora tentasse falar baixo, não estava conseguindo. Alice parecia nervosa, se afastava a todo momento que o tal homem se aproximava. Foi então que vi ele segurar o braço dela e colocar seus longos cabelos escuros para o lado no exato momento que aproximou seu rosto do dela. Vi quando a menina se encolheu e tentou novamente se afastar.
- O que está acontecendo aqui ?
Perguntei abrindo a porta e entrando.
O homem a soltou no mesmo instante que me viu e ajeitando o terno que usava, abriu um sorriso.
- Nada, só estamos conversando.
- Não parecia - cruzei meus braços - Sua voz estava bem alterada.
- Desculpa, você é quem mesmo? - perguntou.
- Sou Helena, professora de matemática.
Ele passou as mãos pelos cabelos meticulosamente arrumados e se aproximou:
- Ah sim, fiquei sabendo que tinha uma professora nova por aqui. Muito prazer - esticou as mãos pra mim - Sou Roberto Montenegro Silva, pai dessa mocinha aqui - apontou pra Alice que encarava o chão.
- Pai?
- Sim, como deve saber ela é meio agressiva. Tento manter um diálogo civilizado com ela, mas ás vezes fica impossível - olhou pra ela sorrindo - Bom, de qualquer modo já disse o que precisava, então já vou indo, tenho muito trabalho ainda. Tchau marrentinha - ele beijou sua testa e saiu.
Olhei pra menina que me encarava séria e rapidamente passou por mim indo embora. Aproveitando que todos os alunos do colégio estavam em algum tipo de atividade, decidi ir atrás dela e tentar entender o que tinha acontecido ali.
- Alice espera - nesse momento ela diminui seus passos, mas ainda se manteve de costas pra mim. - Você está bem?
Perguntei
Quando ela se virou, um sorriso sinico estampava seu rosto e pela primeira vez pude ver a Alice debochada e rebelde que tanto falavam.
- Como você vê - abriu os braços sorrindo irônica - Estou ótima. Agora vê se me erra!
Antes que ela se afastasse outra vez, segurei em seu braço a impedindo de sair.
- Desculpa, eu não queria parecer intrometida.
- Não é o que parece. Me solta!
- Só se prometer que não vai fugir de mim.
- Fugir? Eu não fujo de nada. Agora me solta - respondeu ríspida, então a soltei.
- Eu só queria conversar com você um pouco. Podemos?
Ela parecia pensar se aceitaria ou não.
- Por favor - insisti.
E pra minha surpresa, ela concordou com a cabeça.
Voltamos pra mesma sala vazia a qual ela conversava com o homem que dizia ser seu pai.
- O que você quer? - ela parecia irritada.
- Já tinha ouvido dizer que você era rebelde, mas nunca consegui acreditar.
-Me chamou aqui só pra dizer isso?
- Não precisa ficar na defensiva comigo Alice.
- Olha aqui professora Helena, o fato de até agora eu não ter tido nenhuma briga com você, não significa nada. Deixa eu te explicar uma coisa, se você não se meter comigo eu não me meto com você. Entendeu?
Fingindo que não ouvi o que ela disse, continuei:
- Esse homem - percebi a mudança em seu semblante - Era mesmo seu pai?
- Pois é, nem todo mundo tem sorte em tudo nessa vida - o deboche em sua voz era estampando em cada letra.
- Ele te machucou?
Ela pareceu surpresa com a pergunta.
- Do que estava falando? - mexia no cabelo inquieta.
- Ele parecia bastante nervoso. Desculpa Alice mas, não sei explicar, você parecia assustada e ele...
Ela se aproximou de mim o suficiente para que pudesse sentir seu hálito quente em meu rosto e toda sua raiva também.
- Fica longe dessa história. Nada sobre mim te diz respeito. Ouviu bem?
Depois de me apontar o dedo na cara, ela saiu feito um furacão, me deixando sozinha e com várias perguntas na cabeça.
Fim do capítulo
E aí meninas, o que acharam do pai da Alice? Deixe sua opinião aí nos comentários
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 11/08/2020
Que estrutura incrível é essa dessa escola... invejável com certeza.
Será que é mesmo o que pareceu o pai de Alice, ser algo mais que ausente? A professora Helena mais uma vez está reconhecendo a pessoa por trás dessa couraça rebelde.
Beijos
Rosa 🌹
Manuella Gomes
Em: 02/08/2020
Gostei bastante da introdução das personagens. A história está sendo bem contada e gosto da maneira como você escreve: é leve e flui bem.
Continuarei acompanhando
Resposta do autor:
Seja muito bem vinda. Fico muito feliz que esteja gostando, muito obrigada pelo carinho
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