Estava ansiosa por esse dia, o dia em que finalmente eu seria uma aluna do 3°ano do ensino médio. Não que eu não gostasse de estudar, eu até gostava, o problema era sempre o mesmo, a carga horária.
Eu costumava passar nove horas por dia naquele colégio, nove longas e torturantes horas.

Tudo isso porque minha mãe decidiu sozinha que um ensino integral seria capaz de trabalhar melhor os alunos pra uma faculdade de renome, que era o que ela queria pra mim e meu irmão. Ainda não tinha certeza se ela estava certa, a única coisa que eu sabia, era que isso vinha me tirando o sono durante os últimos dois anos da minha vida, e eu sabia que esse não seria diferente.

No dia 3 Fevereiro, primeiro dia de aula, acordei atrasada como sempre. Ainda estava sonhando quando senti puxarem com rispidez meu cobertor. Abri os olhos pronta pra matar quem quer fosse o infeliz que estava me enchendo o saco a essa hora e dei de cara com meu irmão.

- Foi mal mas, foram ordens da mamãe. - falou dando de ombros antes de virar as costas e sair do meu quarto, me deixando estressada antes mesmo de me levantar.

Meu irmão Pedro era apenas um ano e meio mais velho que eu, mas por possuir uma enorme falta de interesse nos estudos, iria fazer pela segunda vez a mesma série, e pra piorar, esse ano estaríamos na mesma sala. Sinceramente não sabia mais o que de errado poderia acontecer comigo. Como se já não bastasse odiar aquele colégio, ainda teria meu irmão na mesma turma que eu, me vigiando como os irmãos gostam de fazer.

Talvez se minha mãe trabalhasse menos, se tentasse olhar pra mim, se colocar no meu lugar, saberia o que estou sentindo. Mas pra ela tudo que sinto ou penso não passa de um drama adolescente, e esso é o tipo de coisa que ela não perde tempo sequer em escutar. Sabia que não adiantava contestar, eu precisava levantar e me arrumar pro colégio. Ainda penteava meus cabelos quando a ouço invadir o banheiro do meu quarto.

- Atrasada no primeiro dia Alice? Pensei que pelo menos esse ano não me daria trabalho. - falou autoritária - Você tem menos de cinco minutos pra terminar de se arrumar e entrar naquele carro. Desse jeito vou chegar atrasada na minha reunião.

Nem perdi tempo em responder, pois tão rápido quanto entrou, ela também saiu. Apenas revirei os olhos antes de me concentrar no rímel preto a minha frente. Como já disse algumas vezes, não sentia muito prazer em estudar no colégio Dom Alfredo justamente pelo seu rigoroso horário, mas não podia negar que estava ansiosa pra reencontrar minhas duas melhores amigas, Fernanda e Marcela.
Peguei minha mochila e corri até o carro, que buzinava escandalosamente na rua de casa.

No caminho até a escola, minha mãe falava por chamada de voz com sua secretaria, acho que era algo relacionado a uma nova campanha que a empresa a qual minha mãe é dona estava prestes a fechar. Era sempre assim, dona Marta Silva respirava, comia e vivia pelo trabalho. Pedro estava no banco da frente mexendo no celular, provavelmente conversando com alguma menina, e aproveitei pra pegar meus fones de ouvido e viajar através da música.

Não demorou muito pra minha mãe estacionar o carro, e com um sinal nas mãos pedir pra que decessemos depressa. Ela ainda se mantinha concentrada na ligação e acho que nem percebeu quando me aproximei para um beijo, mas vendo que não seria correspondida, desci e bati a porta com força. Pedro já havia encontrado alguns amigos e os cumprimentava, quando adentrei os portões da prisão que tanto odiava.

Concentrada na voz da Mylei Cyrus, nem percebi quando minhas amigas se aproximaram de mim. Marcela puxou um fone da minha orelha e em seguida me beijou forte no rosto, me puxando para um abraço apertado. Nossa, como senti falta delas.

- Alicinhaaaaa - dizia eufórica - Que saudade de você

Correspondi ao abraço sorrindo com seu jeito espontâneo de ser. Fernanda também me abraçou com a mesma intensidade. Não sei explicar direito, mas somente ao lado delas eu conseguia me sentir bem, me sentir eu mesma sabe... é como se elas fossem meu lar. Elas me ouviam, se preocupavam comigo, coisa que minha família não seria capaz de fazer nunca.

- Nossa meninas, que saudade de vocês - falei segurando a mão delas - Só isso pra me fazer vir pra essa escola viu.

- Nem me fale Alice, só de imaginar que vou passar mais tempo aqui do quem em casa já me dá arrepios - Marcela odiava o colégio tanto quanto eu.

- Ah gente, eu até gosto. Tem coisas interessantes aqui. - Fernanda dizia isso porque mais uma vez sua grande paixão estaria na mesma sala que a gente. Desde o dia em que a conheci, sei que ela nutre uma espécie de amor platônico pelo Vitor, um playboy galinha e sem noção. Na minha opinião ele não tinha nem mesmo um coração, já que vivia brincando com o sentimento das garotas que ficava. Não sei como uma pessoa tão inteligente quanto minha amiga foi se encantar por um cara desse.

- Desencana Nanda, você merece coisa melhor do que esse babaca. - falei revirando os olhos, uma coisa que eu fazia com bastante frequência.

- Eu sei, mas não consigo controlar meu coração.

Eu e Marcela não resistimos e caímos na risada.

- Suas chatas - fingiu estar brava com a gente e foi entrando na sala de aula.

Pelo menos eu tinha as duas pra me fazer companhia ali, caso contrário, com certeza eu já teria surtado.     

Fim do capítulo