Raíra
Raíra
* * *
As vozes sumiram antes de eu entrar em uma 'tipo' cozinha no final do longo corredor. Estanquei na porta, estática. Lá estava ela encostada na parede oposta. Aquela miragem do rio; descalça, tornozeleira com pedrinhas e duas pequenas penas azuis, aquelas pernas torneadas de fora (aiai), usando apenas uma saia formada por algo que parecia palha meio avermelhada, não sei. Seu seios médios (caberiam certinho nas minhas mãos) cobertos por um top e o mesmo colar de antes. E finalmente o rosto; uma leve covinha no queixo, lábios carnudos.. perfeitos, as bochechas e parte do nariz afilado estavam pintados com listras vermelhas e pretas. Ficou lindo nela. Ela é linda. Maravilhosa.ç
A olhei nos olhos; (foi minha perdição) aposto que ruborizei, pois ela me olhava intensamente. E que olhos! Verdes com os cílios longos e grossos, parecia até que ela estava com delineador e rímel. Ficamos nos olhando não sei por quanto tempo. Eu totalmente perdida. (Pelo que parece eu sou meio bi, né? O que importa? Eu sou casada com neandertal! Mas, ela é tão... E que corpo..) Por que ela não fala nada? Por que EU não falo nada?
Nem tinha percebido que haviam mais pessoas ali, até que uma menininha loirinha abraçou minhas pernas. Me tirando do transe.
--Bom dia, Tia. - Disse a dona da voz infantil que estava no quarto ontem. Tinha uma índia sorridente com vestido floral sentada a mesa próxima.
--Bom dia! - Falei pegando a loirinha no colo. Será que eu era tia dela mesmo? O cabelo era quase o mesmo tom pelo menos. Henry não deixaria de dizer que minha sobrinha estava no acidente. Ou deixaria?
--Tia, cê tá dodói ainda? Di onde cê veio, Tia? Vai morar aqui com minha Dinda agora? Ou veio visita ela, igual eu? Trança meu cabelo também, Tia? - A pequena disparou nas perguntas. O pior é que eu não sabia o que responder. Minha cabeça deu um nó.
--Hum.. Eu.. É.. não..
--Não precisa responder, moça. A Mari faz muitas perguntas! - Interrompeu a índia de vestido floral. --Vem filha, deixa a moça respirar! - Olhou pra mim enquanto eu pensava (Como assim filha?) e sorriu pegando Mari.
--Bom dia, senhorita ... - Fez um gesto pra mim dizer meu nome (o sorriso, nariz e olhos delas são iguais, olhando bem).
--Sou.. Micaella. Eu acho..
--Ué? Não sabe seu nome?
--Não me lembro de muitas coisas, senhorita ...
--Só Nina. Chega de formalidades, né. Você deve ter perdido a memória temporáriamente.. ou não. - Sorriu gesticulando de forma engraçada.
--Eu realmente espero que volte logo. - Sorri do jeito meio doido dela.
--Eu também! Ah, essa tagarela é minha filha Mariane. --Apertou as bochechas da Pequena. -- E esse bicho do mato é a Raíra, sua salvadora e dona do cafofo. - Apontou para Linda índia (Raíra+Linda+Índia=Raílindia. Que Horror!Parei.).
--Bom dia, Raíra. Não sei como lhe agradecer por ter me salvado! - Falei meio tímida. Ela me intimidava.
--Bom dia, Avatí! - Falou séria vindo em minha direção. Meu coração acelerou como se fosse um carro de fórmula 1. A dona da voz apaixonante! E senti aquele delicioso cheiro também. Tudo isso em uma pessoa só e não era para me apaixonar? Quê?Apaixonar?
--Senta pra comer, deve tá com de fome. --Falou estendendo a mão e a toquei.
Uma sensação como se uma onda de energia percorresse todo meu corpo. Se eu não me conhecesse diria que é o ''choque do amor'' (Espera aí.. Eu não me conheço!). Raíra recuou rapidamente, como se fosse um absurdo eu ter tocado nela. Aparentemente ela só ia pegar algo na mesa, não me cumprimentar. (Achei seu jeito meio grosseiro, mas deixei pra lá!)
Me sentei a mesa repleta de frutas, sucos, café e um bolo. Não era hora, porém, me lembrei do Henry.
--Hum.. Onde está o Henry? -- Perguntei me servindo de café.
. . .
Fim do capítulo
Continua..
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]