Capítulo 4 - Ciúmes?

No dia seguinte a Ana não foi à aula novamente, já que o médico pediu que ela ficasse descansando e se reidratando. Senti bastante sua falta, mas precisava prestar atenção na aula e acabei esquecendo-a por algumas horas.

Aproveitei que não tinha aula a tarde e fiquei estudando. Resolvi ir à academia mais tarde. Precisava espairecer, e nada melhor que trabalhar o corpo para descansar a mente. Cheguei e fui direto para a esteira correr um pouco. Menos de cinco minutos em cima da esteira e chegou um rapaz para falar comigo. Demorei para reconhecer o médico que tinha atendido a Ana.

-Mari?

-Oi, Marcos, tudo bem?

-Melhor agora. -disse isso com um sorriso lindo no rosto.

-Nunca te vi aqui antes, faz muito tempo que malha aqui?

-Na verdade estou começando hoje. Tem cerca de um mês que me mudei pra cá, precisava arrumar muitas coisas antes de voltar para a academia. E você, tem muito tempo que malha aqui?

-Então, desde sempre. -Respondi rindo. -Aprendi a nadar aqui por volta dos seis anos e sempre paro e volto. Depende do meu humor. Como comecei a faculdade agora resolvi voltar e ver se me mantenho mais que seis meses.

-Legal. Então você é daqui da cidade mesmo?

-Sim, nascida e criada. Infelizmente, ou felizmente. Não sei se isso é bom ou não. -disse meio confusa.

-Bom, eu queria ter tido a oportunidade de fazer faculdade morando na casa dos meus pais, mas ter morado sozinho foi muito bom para mim, cresci, aprendi muito e me conheci também, afinal fazemos nossas escolhas sem a influência dos pais quando moramos sozinhos.

Nessa altura da conversa eu já tinha parado a esteira para conversarmos melhor.

-Desculpa, não percebi que estava atrapalhando. -disse Marcos quando parei a esteira.

-De forma alguma, parei para ficar melhor de conversar. -Respondi sinceramente.

-Vamos fazer o seguinte, eu preciso me exercitar um pouco porque estou a ponto de explodir. Então você faz o seu exercício e eu faço o meu e quando terminarmos vamos tomar um suco e conversar, que tal?

-Boa ideia, eu também estou precisando muito me exercitar. Até mais.

Ele seguiu para a área de musculação e eu religuei a esteira. Às vezes trocávamos olhares e ríamos um para o outro. Acabei ficando na esteira uma hora. Não estava a fim de fazer musculação. Como se tivéssemos combinado, quando desliguei a esteira ele chegou à área de alongamento.

-Você por acaso está me seguindo? -Perguntei brincando para ele.

-Isso depende. Vou conseguir alguma coisa assim? -Ele respondeu com um certo brilho no olhar.

-Talvez. Que tal alongarmos um pouco? -Respondi com charme.

Alongamos e saímos da academia em direção a uma lanchonete que ficava logo na esquina. Chegando lá pedi um suco de laranja com acerola e ele um de maracujá.

-Nossa, deve estar bem estressado mesmo, para malhar daquele jeito e depois ainda tomar um suco de maracujá.

-Estou muito. Não é fácil a especialização. Tem muitas horas no hospital e ainda tenho que estudar. Por isso me matriculei na academia. Só assim para manter a sanidade.

-Mas tem outras academias lá perto do hospital, por que aqui?

-Essa tem um bom horário. Abre cedo, fecha tarde e abre no domingo. Meu horário no hospital é inconstante. Trabalho em regime de plantão. -respondeu Marcos parecendo bem cansado.

-Nossa, como você consegue sobreviver?

-Na verdade é exatamente essa a palavra. Nós sobrevivemos nessa época da carreira. Nada de viver.

-Mas depois a recompensa é boa, certo?

-Sim, acho que vale à pena. -disse dando um sorriso. -Mas chega de falar de mim. Agora é sua vez. Você estuda na federal?

-Sim, entrei agora.

-Legal. Ah, e como a Ana está? Esqueci de te perguntar.

-Acho que ela está bem. Ao menos foi o que as meninas disseram. Não a vejo desde que ela teve alta.

-Estranho, achei que vocês fossem bem próximas.

-Na verdade eu a conheci semana passada, quando começaram as aulas. Nós nos aproximamos muito rápido.

-Caramba. A forma como você estava cuidando dela quando cheguei lá, achei que fossem amigas de infância. Parece que vocês realmente se identificam uma com a outra.

O que ele disse me fez pensar tudo o que tinha acontecido nesses dias. Tudo tinha sido tão rápido e tão fácil com a Ana. Nunca havia feito uma amizade tão fácil antes.

-Mari? Você está aqui?

-Oi? Ah, me desculpa, viajei aqui agora. -Respondi rindo e ele acabou rindo junto.

-Bom, a conversa está muito boa, mas tenho que ir embora. Entro de plantão em duas horas. A gente se vê. Ah, e qualquer coisa você tem meu telefone, certo?

-Claro. A gente se vê. -Nos despedimos com um beijo no rosto e foi cada um para um lado.

Chegando em casa vi que tinha uma mensagem no meu celular. Era da Ana. Tinha cerca de uma hora que ela havia mandado.

                --Oi, tudo bem?--

Respondi prontamente:

                --Tudo ótimo, e você? Melhorou?--

A resposta veio em menos de um minuto:

                --Estou melhor sim, mas não estou bem. :/ --

                --Ainda está passando mal?--

Já estava preocupada e ia mandar uma mensagem para a Júlia ou para a Nanda quando chegou a resposta.

                --Não. Fisicamente estou bem. Mas estou chateada comigo.--

                --O que aconteceu?--

                --Acho que fui ingrata com você ontem. Estou quase morrendo de remorso.--

                --Bom, percebi mesmo que você mudou muito quando teve alta, mas imaginei que ainda estivesse cansada, por isso ignorei.--

                --Não quer vir aqui em casa um pouco não?--

                --Vou tomar um banho antes. Estava na academia. Você não vai acreditar quem faz academia lá também. Quando chegar aí te conto.--

Tomei banho, peguei o carro e fui pra casa dela. Chegando lá ela me recebeu e disse que as meninas estavam procurando uma academia boa e barata lá por perto. Na verdade, a Nanda estava procurando, a Júlia estava só fazendo companhia, afinal exercício físico não era com ela.

Fomos para o quarto dela e nos deitamos na cama encarando o teto. Ela estava ouvindo música. Eram aquelas músicas mais tocadas da rádio.

-Me diz, como você está agora? -perguntei realmente interessada em saber se ela estava bem de verdade.

-Estou bem. Comi normalmente hoje e estou bem mais disposta. Amanhã vou à aula sem falta.

-Que bom! Você fez falta hoje.

Com essa frase minha ela corou e deu um sorriso sem graça.

-De verdade? Não está falando isso só para me agradar não?

-Claro que não. Fez falta de verdade! -Respondi com sinceridade.

Fizemos silêncio por cerca de um minuto e ela então disse:

-Desculpa por ontem à tarde, eu não sei o que me deu para te tratar daquela forma. Você se preocupou comigo, veio me ver, me encontrou desmaiada, ligou para a ambulância e ainda foi para o hospital comigo. Não sei como te agradecer.

Ao dizer isso ela tinha se virado para mim e eu para ela. Parecia que a cada palavra que dizia ela se aproximava. Não sei o motivo, mas eu me sentia hipnotizada pela sua boca e não tirava os olhos dela enquanto ela dizia tudo aquilo. Quando terminou de falar seu rosto estava muito próximo do meu. Ela diminuiu essa distância e encostou seus lábios nos meus. Por um momento fiquei paralisada, mas quando sua língua pediu passagem eu dei e correspondi ao beijo. Ela me abraçou e me puxou para perto de si. Nossas pernas se entrelaçaram e o beijo foi ficando cada vez mais urgente, nos abraçávamos como se pudéssemos nos fundir em uma só.

Foi então que um barulho me despertou. Eram as meninas chegando da rua. Com esse despertar me soltei dela e me levantei da cama assustada, sem saber o que tinha feito. Estava confusa. Peguei minha bolsa e saí correndo passando pelas meninas sem falar nada. Cheguei ao carro e saí em disparada antes que a Ana pudesse me alcançar. Não sei o que as meninas ficaram pensando, não sei que desculpa a Ana deu, só sei que estava perturbada.

Fim do capítulo