CAPÍTULO 25 - Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

          O corpo de Bruna foi encontrado por Letícia dois dias depois, no laudo pode-se ler "ataque agudo no miocárdio, seguido por falência múltiplas dos órgãos", Irina cumpriu sua palavra e para a surpresa da própria Bruna que acompanhou seu velório com Noah muitos foram se despedir, os parentes relembravam dela criança, das primeiras brincadeiras, de quando dizia que ainda ia ser muito rica e famosa, alguns amigos verdadeiros e outros falsos também estavam por lá, mas a maior parte das visitas que estavam para a sua despedida era constituída por ficantes e ex namoradas que se apertavam no espaço, umas com boas lembranças e outras nem tanto, Alice e Janine estavam ladeadas por Zefa e Sâmia, e escolheram ficar em cadeiras mais afastadas, deixando o protagonismo para Letícia que recepcionava a todos, fazendo o papel de viúva.

          Bruna afastou-se de todos para observar uma mulher sentada no canto da sala, pela sua energia dava para perceber que realmente estava profundamente triste, era Laura, a secretária do escritório que muitas vezes Bruna envolvia em suas brincadeiras sexuais, se aproximou esforçando-se o máximo que podia para ler seus pensamentos e percebeu comovida que era realmente sincero o amor que sentia. Noah se aproximou, deu um passe energético em Laura e abraçou Bruna, "minha querida, você não tinha como saber, quem sabe um dia, em uma outra vida?, aqui é somente uma passagem".

          Janine olhou para Alice sorrindo, "amor, vou buscar mais daqueles dadinhos de tapioca", Janine estava encantada em poder comer, apesar do susto inicial quando sua barriga roncou de fome pela primeira vez, seguia provando muitos alimentos novos. Alice riu baixinho "Meu bem, você comeu toda a primeira travessa com os dadinhos, é a segunda vez que estão servindo", "e daí Lila?, essas magrelas não querem comer", e seguiu trazendo consigo um guardanapo cheio com os petiscos.

          Gostaria de dizer que tudo na vida das duas seguiu como um verdadeiro mar de rosas e que tudo se encaixava de modo perfeito, sim, era muito felizes, mas, Alice se assustou com a primeira crise de TPM da mulher, Janine oscilava muito nesse período, as vezes estava irritada e ciumenta, outras chorava por tudo e ficava extremamente sensível a qualquer comentário, e por vezes misturava todas essas reações.

- Você não me entende Alice, você não tem coração, olha como essa novela é triste. - E chorava como se o mundo estivesse acabando.

- Você não me ama mais Lila, eu sei....

- Janine, meu amor, te amo com todo meu coração, vem aqui, você ainda não se acostumou com a TPM, mas, é normal essa reação, é natural que oscile nessa época.

- Você está me chamando de desequilibrada, Alice?, eu não estou de TPM, quem disse que estou de TPM? - Falou irritada.

- Janine, meu bem, e se a Alice for buscar na cozinha aquele sorvete de caramelo com flocos que você adora e colocar bastante chantili por cima e uns biscoitos, que tal?.

- Acho ótimo, tem que me compensar por ser tão ogra, e por favor, põe umas castanhas também...

          Da cozinha Zefa e Sâmia riam bastante, Alice todo mês tinha que se desdobrar de cuidados com Janine.

          Era comecinho na noite quando Chocolate ia da cozinha para o jardim, latindo e puxando Zefa pela barra do vestido.

- O que foi Chocolate, que alvoroço é esse?, bom, vamos lá, o que está querendo me mostrar?.

          Quando Zefa acompanhou Chocolate até garagem, olhou sorridente quando viu Charlote escondidinha entre os carros, estava dentro da enorme caixa de guardar as estopas e produtos de limpeza de carro que estavam todos espalhados pelo chão. Chocolate latiu mais forte, e muito orgulhoso se afastou para Zefa pode ver melhor três lindos filhotinhos, um tinha a cor de Chocolate e os outros dois eram caramelo como Charlote. Zefa olhou as três bolinhas peludas encantada com o que via.

-Chocolate, você é papai, parabéns, que lindos!!, olha, vou chegar pertinho Charlote, não precisa se assustar. - Zefa pegou um por um dos filhotinhos, viu que eram saudáveis, dizendo em seguida, "ora, você é pai de um menino e duas meninas, que gracinhas". Os filhotes ganharam o nome de Thor, Pipoca e Bentinha.

          Alice e Janine resolveram mudar para Ipanema, compraram um apartamento, pertinho da academia de Janine e do escritório de Alice, a vida seguia da melhor forma possível, resolveram deixar Chocolate no sítio lá ele viveria uma vida mais livre e com bastante espaço para cuidar dos três filhotes que cresciam a cada dia, mas, visitavam a todos com bastante frequência.

          Janine não quis adotar o pomposo sobrenome da antiga família, queria ter a sensação de recomeço, Alice conseguiu novos documentos, inclusive certidão de nascimento onde constavam nomes de pais que na verdade nunca existiram, e Janine adotou os sobrenomes de dois esgrimistas que admirava, Pablo Cordeiro e João Arenari.

          Era domingo, dia 22 de dezembro de 2019 quando Sâmia ligou dizendo que Maitê havia aparecido do nada no jardim, trazia uma caixinha prateada e depois de matar a saudade pediu que chamassem Janine e Maitê. As namoradas seguiram até o sítio, o coração aos pulos, estavam com muitas saudades da menina.

          Maitê estava fisicamente com oito anos, mas, seguia com muita maturidade, tinha cerca de 24h para conversar assim, mas, logo retornaria a sua idade real.

- Janine e Alice, Aldebaran está totalmente diferente, abrimos as portas para que outros povos pudessem nos ensinar sobre suas experiências, em troca ensinamos as nossas novas tecnologias, fizemos acordo de paz com todos os inimigos e a reprodução ocorre de forma natural, dessa forma, os kripturianos passaram a se reproduzir, assistimos filmes e ouvimos músicas da Terra, despertando em todos uma sensibilidade, criei uma biblioteca com livros que reproduzi do nosso planeta, e ensinei o português e o inglês. Meu pai teve muita dificuldade a princípio, mas, segundo ele só poderia mesmo entender o que é o verdadeiro amor através do processo da reencarnação. Nessa caixinha prata está a sua alma, eu preciso encontrar alguém que o aceite como filho.

          Alice e Janine se olharam sem saber o que dizer, Sâmia se antecipou.

- Filha, eu aceito, você com certeza vai me ajudar a criar seu irmãozinho, não vai?.

          Maitê olhou sorridente para os olhos de sua mãe.

- Mãe, eu sei que está namorando o Tiago, o médico veterinário da clínica que trabalha, li no seu campo energético e vi que são felizes juntos, eu ia te dizer depois que terminasse essa parte, você não sabe, mas, já está grávida, é um menino, posso duplicar o DNA dele e dessa forma irá carregar gêmeos, só queria mesmo saber se Janine ou Alice não sentiam essa vontade de ser mãe e de gerar Irina.

          Alice balançou a cabeça, dizendo que nos seus planos não estava a maternidade, Janine foi mais franca ao falar "eu mãe de Irina?, nem pensar". Maitê sorriu e continuou, "ela mudou Janine, juro". Sâmia abraçou Maitê e recebe a caixinha prateada das mãos da filha, ao abrir viu uma série de filamentos luminosos, como se fosse um novelo todo de luz branca, parecendo "luz de fadas".

- O que eu faço Maitê?.

          A menina pediu que a mãe deitasse no sofá, com a mão direita tornou a sua barriga transparente, e todos puderam ver os órgãos internos e um pequeno embrião, tão pequeno como um grânulo que com certeza não seria detectado em um exame de gravidez humano, com a mão esquerda replicou o embrião, assim criou gêmeos idênticos, e introduziu a alma de Irina pelo umbigo da mãe.

- Obrigada mãe.

          O ano novo foi comemorado no sítio e Maitê voltou a ser a criança doce e feliz que era, quando Tiago a conheceu ficou encantado com a menina e em breve a adotaria, combinado com Sâmia preferiram não comentar do ano que ficou "desaparecida", se seu cérebro tinha criado novas lembranças, seria muito mais saudável deixar que continuasse com elas.

          Era tarde da noite quando Alice e Janine voltaram para o apartamento, estavam felizes e animadas, com a sensação de dever cumprido, entraram no elevador e reconheceram os vizinhos que haviam mudado recentemente, na ocasião estavam apenas o pai e a filha. Desceram no mesmo andar e pararam para conversar um pouco antes de seguirem para o apartamento.

- Feliz Ano Novo, sou Jairo, essa é a minha filha Camilla, está mal humorada porque mudamos de apartamento e ela deixou o namoradinho Dante para trás.

          A menina virou o corpo sem querer cumprimentar as novas vizinhas, Janine passou a mão de leve em seus cabelos lisos e disse apenas um oi, Camilla se encolheu toda, mas, logo virou sorrindo, e respondeu:

 - Oi, meu nome é Camilla e o seu?.

- Sou Janine e essa é Alice, olha eu tenho uma academia, o que você acha de aprender ballet, hein?.

          Camilla olhou para o pai animada, "posso pai?". Jairo sorriu e concordou

- A sua academia é aquela da esquina, não?, quando reabrir passo para matricular Camilla...

- Pai?.

- Oi Camilla?

- Também posso entrar na lutinha igual o Juninho?.

- Depois, tá filha?.

          Camila abriu a porta e logo duas cachorrinhas seguiram ao seu encontro balançando os pequenos rabos e latindo.

- Vizinhas, venham conhecer, essas são Clotilde e Irene...

           Alice riu achando os nomes bem diferentes, depois de acarinharem as duas seguiram para casa.

- Engraçado Alice, tive uma sensação de conhecer essa criança de algum lugar...

- Sabe que eu também?.

...

Fim do capítulo