Uma semana se passou e não tive noticias nem de fraudes de hospitais e muito menos de Rafa. Até de foguinho eu sentia falta mas minha solidão voltou ao meu apartamento de forma impiedosa e agora desempregada logo não seria mais meu lar. Daqui alguns dias eu estaria morando novamente com meus pais e claro ouvir suas reclamações seriam um saco mas eu perdi o emprego que tanto queria por simplesmente preferir por meu caráter acima daquela matéria. Seria demais ver todos eles pagando pelos seus crimes porem levar a gravação a policia me fez ver que um “vamos verificar” era mais vazio ainda de confiança do que tudo que tínhamos.eu tentei ser honesta, eu tentei.

De repente a campainha tocou e larguei o jornal na mesa da cozinha e fui atender a porta e quando a abri a bela mulher na minha frente que sorriu e me olhou de forma tão saudosa foi capaz de me paralisar.

--Oi Amanda.—ela me cumprimentou e tentei despertar daquele transe que ela havia me imposto.

--Oi Rafa.

Acho que levou segundos para mim tomar uma atitude. Ela estava tão linda com seu cabelo mais claro, a maquiagem que realçava seus olhos e sua boca vermelha. As roupas nem se falava, eram sua cara o estilo despojado, e a jaqueta jeans foi um toque especial sobre o vestido e o coturno plataforma preto em seus pés. Ela tinha voltado a ser a princesa que era e isso era muito bom comparado a mim que estava ali de shortinho e blusinha toda acabada com tantos problemas.

--Entra.

--Desculpa aparecer assim..

--Tudo bem,eu não to fazendo nada.

--Sério?

--Sim..deveria estar de mascara.

--Ah sim eu,vim de carro. Devo ter deixado no banco de trás..meu pai me deu um motorista particular para vir ate aqui.(rs) ganhei outra sombra. Estava tão nervosa quando..cheguei na porta.

--Por que veio?

--Você me largou lá ou já se esqueceu?

--Com sua família. Onde estava segura.

--(rs) eu estava segura com você.

--Eu me fudi com isso..mas não nego, tentar me tirou um peso das costas.—me dirigi a cozinha novamente enquanto ela depositava a bolsa cara no meu sofá e era impressionante o que uma semana de volta ao lar fazia com uma pessoa, ela estava cheia de cuidados e bons modos e quando ofereci um café a ela me sentei ao seu lado no sofá.—sabe que não precisa disso tudo comigo.

--Pensei que não ia falar.(rs)—ela cruzou as pernas e tomou um gole de café que me arrepiou todo o corpo. Tentei ser discreta mas meu olhar foi pego por ela.

--Por que desistiu? Pensei que levaria a gravação ao canal de tv.

--Eu levei mas..não iria dar certo. Pelo menos não como queriamos.eu não ia abrir mão de deixar qualquer um deles impune. Por isso levei a policia mas acho que o caso nunca saiu da mesa do cara que entreguei a gravação..e você? Cumpriu com sua parte?

--Eu depositei um bom valor na conta da Micaela. Quanto aos outros,Wesley,Aranha..a porr* toda..meu pai cuidou.—ela tomou mais um gole de café e eu tomei mais um de nervosismo. Ela parecia tão séria quando tocou nesse assunto que eu sabia bem o que o ex mafioso Miguel tinha feito a essas pobres almas.—tudo esta bem calmo por lá se quer saber..e não paramos por ai.—lhe dei toda minha atenção já que ela me olhava fundo nos meus olhos.—meu pai conseguiu por seus homens nas ruas para impedir que qualquer dos caminhões dos lotes desviassem de suas rotas.eles chegaram intactos aos hospitais.

--Posso perguntar sobre..Murilo e Esther?

--Eles foram aconselhados pelo meu pai a deixar suas candidaturas.

--(rs)...assim tão fácil?

--Era isso ou perder a cabeça.eu não sei como mas meu pai fez uma copia da sua gravação e a divulgou sem deixar rastros de ip. Eles não têm mais a proteção da policia já que uma adição as provas foram vazadas. Hoje descobri que eles compraram duas passagens para fora do pais e serão presos assim que se identificarem.

--Sério mesmo?(rs)

--Sim. Já esta tudo pronto para pega-los.

Eu estava tão feliz que quase pulei sobre ela mas no ultimo segundo, esse maldito segundo me fez hesitar diante seu olhar.se o problema fosse esse mas agora eu estava ali sentada bem mais próxima a ela tendo toda sua atenção, todo seu olhar gentil sobre mim.

--Eu senti sua falta.—ela falou e foi impossível não sorrir.

--(rs)..dos poucos dias que ficamos juntas? Depois do que fiz pensei que jamais me procuraria.

--Eu precisava de ajuda..e ainda preciso. Foguinho me procurou no outro dia ao que você foi embora.(rs)...ela queria que eu roubasse o cofre do meu pai acredita? Dizendo que poderíamos viver juntas por ai, que aquela vida rica não combinava comigo. Não nego, gosto de boas emoções.

Eu tive que me levantar e recolher sua xicara e levar junto a minha ate a pia. Aquele nome ainda me dava gastura somente em ouvir principalmente quando saia da boca dela. Tudo me doía quando ela tocava no nome desta mulher que tanto estragou sua vida.

--E o que aconteceu depois?—perguntei tentando manter minha sanidade mesmo odiando foguinho.

--Eu estou aqui não estou? E ela esta bem longe de mim.

De repente no barulho da agua que corria na pia senti sua mão envolver minha cintura e seu corpo esquentar minhas costas e sentir sua boca na minha nuca me enlouquecia.

Me segurei na borda da pia desejando que isso fosse um sonho e que na realidade ela ainda estivesse no sofá mas não, ela me virou e me beijou.eu não me controlei e retribui provando daquela boa macia, unindo minha língua a dela e a cada toque saudoso minha vontade de chorar aumentava. Eu estava feliz pra caralh*.

--Deveríamos ter nos conhecido muito antes..e isso ta ferrando com a minha cabeça.—ela retirou a jaqueta revelando seus ombros enquanto mordiscava a boca a me desejar.

Não esperei por mais e me rendi de vez a ela. Minha cama foi nossa próxima parada e sentir seu corpo abaixo do meu em meio a beijos intermináveis e braços e pernas que me acolhiam não tinha preço. Seu calor, seu cheiro, seu sabor, seu toque, eu estava em paz novamente.

No fim com nossos corpos já aliviados do cansaço e com ela deitada sobre meu peito vimos a chuva cair pela janela.

--Não é estranho isso?—perguntou ela brincando com uma mecha do meu cabelo entre seus dedos.—sempre chove quando estamos juntas.—e era verdade, a chuva caia forte la fora mas nosso mundinho ali quentinho entre os lençóis estava perfeito.—algo realmente me quer com você.

Ela me olhou sorridente e me beijou. Estava radiante com seus olhos a brilhar.

--Eu pensei muito em uma coisa..meu pai ate..me garantiu que seria uma boa alternativa para mim.

--o que seria?

--vou me mudar daqui uns dias para uma vila no interior, meu pai tem um sitio lá e é tranquilo ate onde sei com uma vizinhança bacana..eu queria saber se quer ir comigo.

Eu paralisei naquela ideia. Rafa estava tão ansiosa pela minha resposta que provavelmente já considerava um sim meu e como eu queria ser mais impulsiva e minha seriedade logo a afetou.vi seu sorriso diminuir voltando a realidade.

--Só tenho alguns dias aqui, tempo para retirar minhas coisas..

--Melhor ainda! Meu pai pode ajudar com o carregamento..

--Sério que seu pai vai estar envolvido em tudo daqui pra frente?—vi bem sua surpresa com minhas palavras. Ela olhou para mim desacreditada. —desculpa..tem coisas que eu..não consigo esquecer.

--Ele esta tentando Amanda. Toda sua influência esta sendo usada para algo maior.

--Então o que ele fez com Wesley e aquela tropa toda do aranha?

--Sério mesmo que quer saber?!

--Por que não?!já que quer me enfiar nessa aventura.eu quero saber.

--...só que eu não sou ele sou Amanda?—ela afastou os lençóis, pronta para me largar sozinha naquela cama quando eu a segurei pela mão e ela olhou bem para mim. Ela estava tão irritada e mesmo assim linda.

--É isso que quer? Porque não quero ser um peso para você.

--Jamais seria. Você me tirou do poço mais profundo da minha vida e fez minha mente escolher pensar apenas em você mas tudo bem se não quiser.eu entendo que envolve de tudo um pouco.—sua mão deslizou da minha e da minha cama ela se levantou e procurou suas peças de roupa pela casa.

Parecia que o mundo estava acabando para mim. aquela estranha necessidade dela me cortava por dentro, fazia meus ouvidos apitarem e tudo que eu mais queria no momento era tirar de mim esse louco sentimento.

O que eu diria para meus pais? A vi achando sua calcinha e sutiã e os vestindo. Como eles reagiriam se eu dissesse que estava apaixonada por uma mulher e estaria indo morar com ela fora da cidade? Seu vestido entrou em seu corpo fácil demais depois que o encontrou jogado no sofá. Por que eu temia tanto que ela achasse sua jaqueta e partisse??

Pulei da cama vesti meu short e uma camisa e caminhei ate a sala quando a vi se dirigir ate a cozinha e achar enfim sua jaqueta.

--Não vai.

--Não tenho mais nada que me prenda aqui Amanda.

--Tem a mim!

--E mesmo assim você acha uma desculpa para não se apegar demais. Minha família, seu emprego, nossas diferenças..espero que consiga um emprego a sua altura.

--Esta chovendo Rafaela.

Ela saiu sem mais nem menos.eu tinha que aceitar que eu realmente tinha esse problema.eu não assumia meus relacionamentos e fugia achando desculpas e obstáculos para não me entregar mas de todas que passaram por aquela porta a cada respiração minha a cada trovão ouvido no céu e a cada bufada que eu dava eu sentia forte no peito a merd* que eu estava fazendo parada ali.

Corri daquele apartamento ate o elevador e coitado do Raul que ouviu meus berros para abrir o portão do prédio para me ver sair no meio da chuva e me atirar na frente do carro dela o impedindo de partir.

Bastou segundos para ficar encharcada naquela forte chuva mas o desespero que eu sentia era pior do que o medo pelo corona, pelo fim do mundo pelos olhares de Raul e de qualquer outro. O carro parou e me dirigi ao vidro do banco de trás do carro. A porta foi destrancada e entrei tomando folego.

--Eu espero que não mande seu pai cortar minha cabeça por isso mas..quer namorar comigo?

Ela olhou pra mim surpreendida e seu sorriso foi se abrindo timidamente e eu sabia bem que ela queria explodir de vez ao invés de se controlar diante o olhar do motorista.eu a beijei e ela riu feliz pelo nosso caso da quarentena terminar como queríamos. É, seria bom tentar.

Fim do capítulo