Capitulo 58. A semana mais longa - Parte 5
-- Só pode ser brincadeira! – Soltou assim que seus olhos se encontraram com o semblante já conhecido.
O timbre arrogante e agressivo daquela mulher fez com a ruiva recuasse, e uma linha apareceu entre suas sobrancelhas.
-- Como é que é? – Repetiu para si mesma em baixo tom. – Olha aqui, se você não quer ajuda, tudo bem, não está mais aqui quem ofereceu! – Levantou as mãos em rendição.
A ruiva balançava a cabeça em represália a aquela atitude, mas antes que pudesse se afastar as palavras da loira lhe chamaram a atenção.
-- E desde quando você me ajuda, Emily? – Semicerrou os olhos.
Ouvir seu nome sair da boca de uma mulher que até então julgava não conhecer moldou seus lábios em uma linha dura. A ruiva permaneceu em silêncio, examinando minuciosamente as palavras e semblante da loira a sua frente.
-- O que foi? O gato comeu a sua língua agora? – Deu um meio sorriso duro demais para que parecesse satisfeito.
A rispidez com a qual aquela mulher se dirigia a ela deixou claro que certamente ela não era bem vinda ali, e os possíveis porquês disso despertou a curiosidade de Emily.
A ruiva estava tão acostumada e de certo modo, tão mesmo cansada de todos a tratarem com tanta atenção e cautela que estar em uma situação tão inusitada quanto essa lhe deixou estranhamente entusiasmada. Embora ela ainda não soubesse o porquê de tanta raiva, de uma coisa ela tinha certeza: independente de quem quer que fosse aquela mulher a sua frente, nenhum acidente foi capaz de tirar a sinceridade das suas ações.
-- Foi o que eu pensei. – Encarou o mar azul que eram os olhos da ruiva com certo desgosto. – Você só veio aqui para testemunhar e desgraça alheia mesmo.
Os lábios da ruiva travaram uma batalha entre a seriedade e a vontade que estava de gargalhar depois de ouvir aquelas palavras. Tal batalha que foi facilmente perdida quando um som escapou de sua boca, dando lugar para uma risada alta e divertida.
O par de olhos castanhos que fitavam a ruiva durante todo o tempo quase saltaram do seu rosto, e não demorou muito para que o rosto da loira tomasse uma forma dura e irritada.
-- Você está... RINDO? – Exaltou a voz.
Emily foi incapaz de respondê-la ou de parar o riso, e essa reação era inédita até mesmo para ela, que estava tão acostumada a todo o drama de ter que explicar para as pessoas sobre seu pequeno problema com a memória.
-- Desculpa... – Pressionou os lábios enquanto falhava novamente em conter o riso. – Eu...
Antes que conseguisse se recuperar para explicar-se para a outra, a loira avançou sobre ela, apertando seus dedos contra o antebraço da ruiva.
-- Qual é o seu problema Emily? – O arredor dos olhos da loira estava avermelhado, e uma veia saltou de seu pescoço quando as palavras rangeram-se entre seus dentes.
Embora houvesse sentido dor no aperto em seu braço, Emily foi incapaz de tirar o sorriso do rosto ou de revidar. A nova investida que a loira deu a fez recuar alguns passos, e só então a ruiva atentou-se a beleza que aquela mulher irritadiça possuía. Os cabelos claros caíam próximos à altura da cintura, ficando mais claros na ponta, os lábios eram finos e bem demarcados pelo gloss que ela usava. A sobrancelha acentuada combinava perfeitamente com os cílios longos.
-- Desculpa, sério. – Emily prendeu a respiração para cessar o riso.
A loira deu uma sutil recuada ao ouvi-la, e seus olhos rapidamente estreitaram-se, deixando um ar de completa desconfiança entre elas.
-- É que a forma que você falou foi tão engraçada e você se irritou tão fácil comigo... – A ruiva por fim encarou aquele par de olhos castanhos, e em um movimento sutil, interrompeu o contato com a loira ao puxar o braço. -- Digamos que eu não estou acostumada com isso.
A loira retribuiu o olhar, mas seus olhos carregavam uma amargura que transbordava em toda rigidez do seu rosto.
-- Eu espero que você não me entenda mal, mas eu não faço ideia de quem é você. – A mulher a sua frente retraiu-se, e não demorou muito para que linhas tomassem forma em seu cenho. – Tipo, de verdade. – A ruiva reafirmou mover a cabeça.
-- Como não? – Bateu o pé. – Ninguém esquece de mim!
Emily precisou pressionar os lábios para não rir novamente. Além de irritadiça, a mulher era completamente presunçosa. – Ai está o porquê de provavelmente não termos nos dado bem no passado. – Pensou.
-- Lívia. – Falou firme.
-- Muito prazer Lívia! – Um sorriso gentil tomou os lábios de Emily.
-- Você realmente não se lembra de mim? – Seus olhos percorreram o semblante da ruiva em busca da confirmação. – Eu sei que eu estou um caco, mas eu continuo linda e... – Emily interrompeu.
-- Culpe o acidente, gostosona. – Abusou da ironia.
A loira travou no instante em que as palavras de Emily trouxeram-lhe as lembranças de quando soube do acidente.
– Caralh*... – Lívia passou a palma das mãos pelo rosto, esfregando os olhos algumas vezes antes de encará-la novamente. – O acidente... Espera ai. Você... – O pouco de empatia que a loira tinha em seu coração fez com que um nó se instalasse em sua garganta quando cogitou a possibilidade de Emily ter voltado com sequelas.
-- Eu voltei. Minha memória não. – Interrompeu o silêncio desconfortável que Lívia havia deixado no ar.
A loira não estava acostumada a sentir-se mal por falar de forma grosseira com alguém, e perceber os sinais disso em seu corpo lhe deixou desconfortável.
-- Eu não sabia disso. – Lívia caminhou para um dos bancos da praça.
-- Claramente. – Acompanhou-a com o olhar. – Você não vai se desculpar? – Cruzou os braços.
-- Eu? Me desculpar? Por favor né! – A ironia da qual Lívia abusava tentava omitir a mágoa que estava lhe afligindo, mas a tristeza dos seus olhos não passou despercebida pela ruiva. – Eu não me desculpo.
Emily se aproximou dela em passos cautelosos sem ousar desprender seus olhos daquele semblante que tanto lhe intrigava. De todas as coisas que Lívia já tinha se mostrado ser nesse pouco tempo de conversa, havia algo misterioso que prendia a atenção da ruiva de uma forma que ela não entendia. Era como se ela soubesse que por trás de toda aquela força e arrogância estava uma mulher machucada e orgulhosa demais para pedir qualquer ajuda. Antes de sentar-se ao seu lado, Emily se encarregou de deixar todo o seu temperamento explosivo e impaciente de lado.
-- Ah... Bom, melhor assim, eu acho. – Umedeceu os lábios antes de prosseguir. – Se você se desculpasse depois daquela cena toda só por causa do meu acidente... – Olhou-a de soslaio. – Seria pura falsidade. – Um sorriso porco esboçava a brincadeira daquelas palavras.
Lívia revirou os olhos e pressionou o maxilar, tentando disfarçar o incomodo que aquelas últimas palavras haviam lhe causado.
-- Olha... Nós não éramos amigas, então você não precisa fazer isso. – A loira observava os carros que passavam na rua.
-- E o que exatamente eu estou fazendo? – A ruiva recostou no banco para que pudesse olhá-la de forma mais discreta.
Observou que em um dos braços da loira havia uma mancha roxa enorme na região do pulso, e a marca mais clara no anelar de sua mão esquerda deu indícios de uma aliança que ficou lá por muito tempo. Seus olhos percorreram o corpo tenso da loira até a altura do seu rosto, pairando por lá.
-- Tentado me consolar?! – Curvou seu rosto em direção à ruiva.
A troca de olhares foi inevitável, e por um breve momento, Lívia permitiu-se observá-la de uma forma nunca feita antes. Seus olhos transcorreram o rosto claramente mais pálido de Emily, começando pela boca fina e desenhada, passando pelas bochechas levemente avermelhadas e cessando ao alcance daquele par de olhos azuis tão profundos. Era como se a alma da ruiva quisesse enxergar além do que ela tentava mostrar agora.
-- Eu não estou tentando te consolar. – Não foi difícil perder-se dentro do olhar de Emily, e isso incomodou a loira assim que ela caiu em si quando ouviu a voz rouca soar em sua resposta. – Na verdade, eu só estou achando agradável isso aqui. – Prosseguiu ao ver o rosto da Lívia transmutar-se em um semblante completamente confuso. – As pessoas... Elas têm sido tão cuidadosas e atenciosas o tempo todo que fica difícil saber quando estão sendo elas mesmas ou quando estão apenas com pena. – Desabafou, livrando-se da tensão em seus ombros. – É bom estar com alguém que não...
-- Liga? – Interrompeu de forma rude.
-- De certa forma... Sim. – Deu de ombros.
Lívia sentiu-se estranhamente leve quando sua sinceridade dura não incomodou a ruiva.
Por alguns minutos, ambas as mulheres ficaram em completo silêncio, e vez ou outra seus olhares se cruzavam durante tentativas falhas de observarem-se discretamente. Aos poucos, a presença de Emily ao seu lado tornou-se confortável, fazendo com que seus diversos pensamentos em relação a ela lhe distraíssem do real motivo pelo qual estava tão perdida naquela praça. Seu corpo relaxou de forma sutil, e antes que percebesse, ela também estava recostada no banco, olhando para as estrelas.
-- Então... Você é sempre tão dramática assim? – Emily soltou de forma inocente enquanto permanecia olhando o céu.
Lívia ameaçou confrontá-la novamente, mas antes de erguer seu corpo completamente, seus olhos moveram-se abruptamente para o alcance da ruiva. Ao vê-la, o sorriso porco nos lábios dava indícios de uma nova brincadeira, e isso cessou qualquer palavra rude que a loira quisesse falar.
-- Normalmente, com você sim. – A loira recostou-se novamente, sem desprender seus olhos dos lábios da ruiva.
Era estranho vê-la de tão bom humor na sua presença, e Lívia pôde jurar que nunca a havia visto sorrir por tanto tempo.
Emily sentiu o peso do olhar da loira sobre ela, fazendo-a retribuir o olhar por poucos segundos ao fita-la de rabo de olho.
-- Eu gosto da sua sinceridade. – Aquelas palavras fizeram o tronco da loira saltar do banco.
-- É isso mesmo? Emily Harley está me elogiando? – Pensou alto, fazendo a ruiva soltar uma risada.
-- A nova Emily Harley está. – Seus olhos rapidamente foram de encontro ao sorriso que tomou os lábios de Lívia. – Olha só... Ela sorri!
-- Ha-há-há. – Moveu os lábios, emitindo um tom irônico. – É óbvio que eu sorrio. Eu só não saio por ai distribuindo sorrisos, não sou obrigada.
Emily pressionou os lábios em um sorriso divertido, mas as palavras que vieram a seguir tiraram toda a descontração do momento.
-- Você está bem? – A ruiva não escondeu a preocupação em suas palavras, e isso desestabilizou a Lívia.
-- Eu sempre estou bem. – Mentiu, assumindo uma postura rígida novamente. Seus olhos esgueiraram-se pelos carros na rua da frente, impedindo que a ruiva analisasse-os.
Emily semicerrou os olhos em sua direção.
-- Não é preciso te conhecer para saber que isso não é verdade. – Passou uma das mãos sobre a perna enquanto tentava buscar pelos olhos da outra. – Mas tudo bem, se você não quer falar, eu não v... – As palavras duras da loira lhe surpreenderam.
-- Meu noivo terminou comigo... Ex noivo agora. – Um amargor invadiu sua boca. Era estranho sentir-se machucada por alguém que até então acreditava não ter tanta importância na sua vida, mas era ainda mais estranho sentir-se confortável para falar sobre isso justamente com Emily. “– Eu devo estar ficando louca, só pode.” – Pensou.
-- Posso perguntar o porquê antes de dizer que eu sinto muito? – Seus olhos buscaram pelos da loira, mas foi em vão. – Quero manter a mesma sinceridade que você.
Um longo silêncio instalou-se entre elas novamente. E enquanto Emily aguardava pacientemente por uma reposta, Lívia se perdeu em seus pensamentos sobre como havia ido parar ali. Lembrou-se do real motivo pelo qual seu noivado com o primo de Alice havia acontecido, e aquilo lhe doeu. As lembranças dos momentos que havia passado ao lado do rapaz lhe trouxeram uma mistura de alegria e angústia, a segunda em sua maioridade.
Rafael, seu ex-noivo, não era um homem ruim, mas Lívia jamais seria capaz de retribuir os sentimentos que ele supria por ela. Afinal, ela era lésbica e sabia disso. Estar com ele ou com qualquer outro homem deixava-a enojada.
-- Ahr, que se foda... – Falou pra si mesma após um longo silêncio. – Eu o traí, por isso ele me deixou. – Lívia tomou coragem para encarar os olhos atentos e surpresos da ruiva.
Embora fosse estranho desabafar sobre isso com Emily, aquelas palavras trouxeram certo alívio ao seu coração.
-- Eu sinto muito então... Mas por ele. – Pressionou os lábios em uma linha dura. – Eu não entendo vocês, de verdade...
-- Vocês? – Questionou durante um olhar e outro.
-- Vocês pessoas, no geral mesmo... Vocês selam um relacionamento, namoram, casam e sei lá mais o quê para depois jogar a merd* toda no ventilador. – O timbre rouco e desgostoso de Emily soou como uma afronta, e ao perceber isso, ela tentou se redimir. – Desculpa por falar desse jeito, é só que... – Lívia interrompeu.
-- Que você deveria parar de julgar o que você não sabe! – Falou entre os dentes, levantando do banco em um rompante.
Em passos pesados, Lívia andou de um lado para o outro em frente ao banco onde a ruiva permanecia sentada, começando a se arrepender por ter desabafado.
-- Eu não estou julgando, era isso que eu queria dizer antes de você me interromper. – Controlou o tom da voz para que não soasse de forma rude. – Eu só não entendo.
-- É claro que você não entende! Sua vida é perfeitinha demais para você precisar entender uma coisa dessas! – A conhecida agressividade das palavras da loira retornava.
-- Você não sabe do que está falando... – Falou em um tom baixo demais para que Lívia pudesse ouvir, enquanto balançava a cabeça em negação.
-- Quê? – A loira parou de frente para a ruiva ao vê-la balbuciar alguma coisa. Seus olhos estreitos ardiam.
-- Minha vida não é perfeita, mas isso não vem ao caso. Eu realmente não entendo. – Estava difícil manter-se calma diante de toda a arrogância da loira, mas foi a predestinação de Emily em querer ajuda-la que a manteve firme. Afinal, para ela não existia outra possibilidade senão uma dor muito grande para que uma pessoa ficasse na defensiva agressiva da forma como Lívia estava. – Porque você não me explicar o porquê de ter feito isso para que eu possa entender você? – Seu olhar receoso teimou em encarar a fúria da mulher a sua frente.
-- Pra quê? – Falou entre os dentes. – Para você sair contando da minha vida para todo mundo?
-- Lívia... – Falou firme. – Eu sequer sei o que você foi ou deixou de ser no meu passado, quem você conheceu ou deixou de conhecer... Porque diabos eu contaria da sua vida para os outros? – Levantou-se em direção a loira, forçando o cruzamento dos seus olhares. – E outra, para quem eu contaria?
O sentido daquelas palavras tomou forma quando a loira se permitiu pensar sobre. E por pior que parecesse, Emily estava certa. A partir do momento que ela não contasse sobre seu passado com a ruiva, ela não saberia de nada.
-- Como eu vou saber que você não vai perguntar de mim para as pessoas que já conheceu? – Sua voz soou um pouco mais calma.
-- Você não vai. Precisará confiar em mim. – Afirmou, adentrando na imensidão daqueles olhos castanhos.
-- Confiar não é o meu forte. – Lívia sentiu um frio na barriga quando a ruiva deu um passo em sua direção.
Os olhos da ruiva alternaram entre os lábios e olhos de Lívia, buscando por qualquer sinal de incerteza durante aquelas palavras.
-- Eu nunca te dei motivos para não confiar em mim. – Emily apostou na sua intuição, provocando-a.
-- Você acabou de me “conhecer”, como poderia saber disso?! – Gesticulou as aspas.
Emily deu de ombros.
-- Mas você tem razão. – Pressionou o maxilar, trazendo a tensão de volta ao seu rosto. – Você precisa me prometer que não irá falar disso com ninguém.
-- Vou fazer melhor, eu prometo que ninguém saberá que nos conhecemos. – Esticou o dedo mindinho em direção à loira.
-- Esse vai ser o nosso segredo então? – Analisou a outra, deixando um sorriso de lado escapar dos seus lábios.
-- Se você quiser... – Emily ergueu a mão um pouco mais, movendo o dedo mindinho para conseguir a atenção de Lívia.
A loira encarou o par de olhos azuis por alguns segundos antes de unir o seu dedo mindinho ao de Emily.
-- Tudo bem, eu vou falar... Mas preciso tomar alguma coisa. – Seu olhar sugestivo passou despercebido pela ruiva, fazendo-a prosseguir. – O que eu estou querendo dizer é...
Lívia convenceu-a a acompanha-la até um dos bares da cidade, e durante o percurso que fizeram de Uber, a loira atualizou-se sobre tudo que achava importante para garantir e confirmar que era anônima ao passado de Emily, e de fato ela era. O nome Lívia não havia surgido em nenhum momento desde quando havia acordado, e agora ela sabia disso.
Ao chegarem no bar, Lívia direcionou-as para uma mesa no segundo andar, próximo a uma das janelas.
-- Duas doses de tequila e dois chopes puro malte. – Sinalizou ao garçom que foi atender a mesa.
-- Espero que você esteja com sede, porque eu não bebo. – Emily deu um meio sorriso.
-- Ainda... Não bebe ainda. – Os olhos da loira percorreram todo o estabelecimento antes de encontrar-se com aqueles olhos azuis que já ansiavam por ela.
Emily deu de ombros. Ela ainda não havia experimentado nada alcoólico, principalmente por recomendações médicas e proibições de sua mãe, mas isso não importava agora. A ruiva sentia-se bem em estar com alguém que não se importava, e por um instante ela acreditou que esse era o impulso que faltava para que ela realmente começasse a viver a vida por si só, seguindo seus próprios passos e vontades, sem precisar se preocupar em proteger o sentimento das pessoas.
Desde que havia acordado, o decorrer de seus dias era como trilhar um caminho feito em cascas de ovos, e a liberdade que Lívia havia mostrado para ela foi como colocar asas em seus pés, deixando-a leve.
Quando o pedido chegou, Lívia fez a ruiva mergulhar o copo com a dose de tequila dentro do chope, tomando-o logo depois.
Emily fez uma careta quando tomou a primeira vez, e o sorriso divertido que tomou os lábios da loira atraiu toda a atenção de seus olhos.
-- Agora sim, estou pronta para falar. – Sinalizou mais um pedido para o garçom ao levantar o copo.
Emily teimou em levantar seu olhar, mas assim o fez quando sentiu a loira encará-la.
-- Eu não estava com meu ex-noivo por vontade própria, por isso eu o traí. – Desabafou. – É isso.
-- Não... Você não me fez vir até aqui para falar uma frase! – Estava indignada. – Eu quero detalhes! Não estar com alguém por vontade própria abre uma gama de possibilidades...
A língua de Lívia percorreu todo o interior de sua boca antes de recuperar o fôlego para continuar.
-- Os meus pais... – Deixou uma respiração pesada escapar. – Eles são muito conservadores... E ricos. – Pontou. – São conservadores ao ponto de achar que a mulher ainda deve viver em função do seu marido e essas coisas. Bom, quando eles souberam do meu relacionamento com uma mulher, eles não ficaram felizes. – As sobrancelhas da ruiva acentuaram-se. – Óbvio. – Lívia tocou a madeira de mesa com suas unhas, uma a uma, fazendo o som de batidas recorrentes. – Eles ameaçaram me deserdar se eu continuasse com essa vida, então a espertinha aqui disse que tinha acabado com tudo... – Emily interrompeu.
-- E acabou? – Lívia balançou a cabeça, respondendo-a com uma negação.
-- Só que isso não foi suficiente para o meu pai. – Engoliu seco. – Ele me obrigou a sair com o filho de um amigo dele e eu saí.
Emily pressionou os lábios uma linha dura enquanto fugia dos olhos da outra em uma tentativa falha de omitir seu pré-julgamento.
-- Não adianta me olhar com essa cara, Emily. Eu saí mesmo. – Estudou o semblante da ruiva. – O que mais eu poderia fazer? Eu dependo do dinheiro deles para me manter até hoje! Então sim, eu fiz o que eles queriam, mas eu simplesmente não consigo deixar de ser o que eu sou.
-- E o que aconteceu com a mulher que você se relacionava? – Questionou ao tomar mais um gole da bebida que o garçom havia colocado sobre a mesa delas.
-- Ela descobriu tudo e acabou. – Respondeu seca. – Eu não pude explicar o que aconteceu para ela, e mesmo se eu tivesse explicado, ela não entenderia. Então eu fiquei com ele durante anos, mas eu nunca consegui ficar só com ele. Sempre tinha alguma outra mulher na minha vida, porque eu precisava me sentir feliz, me sentir eu...
-- E ele eventualmente descobriu isso. – Interrompeu-a.
Lívia confirmou em um balançar de cabeça.
-- Eu ainda não entendo. – Franziu o cenho.
-- Ahr... O que você não entende, Emily? – Soou ríspida.
-- Você estava triste lá na praça. – Afirmou. – Eu sei o que eu vi. – A ruiva curvou o rosto para o lado enquanto analisava minuciosamente o semblante duro de Lívia misturar-se a surpresa.
-- Não é bem uma tristeza, e sim uma preocupação. – Esclareceu.
-- Com o que exatamente? – Lívia revirou os olhos ao ouví-la.
-- E depois dizem que as loiras são as burras... – Balançou a cabeça. – Com a possibilidade dele falar algo para os pais dele e os pais dele falarem para os meus né!
-- Ah, tem isso... – Forçou um sorriso amarelado em uma tentativa de encorajá-la. – Porque você não conversa com ele?
-- Eu me recuso a responder isso. – Passou uma das mãos pelo rosto.
-- Mas... – A loira interrompeu.
-- Cala a boca Emily. – Lívia ergueu o copo novamente, pedindo mais dois chopes para o garçom. – Você queria um porquê, eu te dei um porquê, se isso te fez entender ou não, ai já não é comigo.
-- Eu entendi o fato de você não conseguir deixar de gostar de mulheres, mas o seu medo de ficar sem a herança deles... Isso não faz sentido nenhum. – Seus olhos mediram o corpo da outra. – Olha só para você... Você é uma mulher absurdamente linda e tão cheia de si... Você não precisa deles.
A loira sentiu seu coração agitar-se com os elogios de Emily, mas por mais que ela parecesse isso tudo, sua postura diante de todos era uma casca de autoconfirmação que só ela entendia. Lívia sabia de suas origens.
-- É ai que você se engana. Eu preciso. – Umedeceu os lábios com a ponta da língua. – Vocês veem o que eu quero que vejam, e não quem eu sou.
Naquele momento, Emily buscou pelos olhos da loira, encontrando-os tão perdidos quanto naquela praça horas antes. Sua vontade era de segurá-la nos braços e fazê-la desmontar todo esse bloqueio que ela havia colocado em volta de si, como se estivesse se prevenindo da dor, ou até mesmo evitando que ela saísse.
A ruiva não conseguiu se conter por muito tempo, questionando-a enquanto seus olhos tentavam traduzir-lhe a alma.
-- E quem é você? – Os olhos da loira entregaram a surpresa que aquela pergunta lhe trouxe, e foi impossível não sentir um frio na barriga.
-- Essa é uma excelente pergunta. – Uma linha se formou entre suas sobrancelhas. – Eu acho que faz tanto tempo desde que... – Hesitou. – Eu acho que já nem sei mais.
-- Bem vinda ao meu mundo então. – Os lábios avermelhados da ruiva curvaram-se em um sorriso empático.
Lívia observou cada segundo daquele sorriso, e seus olhos iluminaram-se quando finalmente percebeu que era o fim do mundo se perder de si mesma. Afinal, lá estava Emily, sentada na mesma mesa que ela, se mostrando uma pessoa bem mais compreensiva e comunicativa que antes. Talvez perder-se de si mesmo fosse de fato uma segunda chance para se encontrar de verdade, abrindo nossas possibilidades para o que antes havia se fechado por puro desentendimento.
-- Eu acho que posso gostar dessa nova Emily. – A loira admitiu em voz alta quando seu olhar alcançou aqueles olhos azuis tão intensos e cuidadosos.
Fim do capítulo
Olá meninas, boa noite!
Essa semana eu atrasei um pouco para postar um novo capítulo, mas aqui está: Quentinho saído do forno para vocês! Hahaha
Boa leitura e um grande beijo à todas vocês!
Comentar este capítulo:
Simone
Em: 12/08/2020
Eieeee!! Cadê a nossa autora?
Tudo bem, Jenny?! Por onde voce anda que não voltou por aqui??
Voltaaa!!! Estou doida para saber o desfecho dessa história!
Já reli tudo e te alcancei de novo! Rsrsrsrs
Brincadeiras a parte, espero que esteja tudo bem e que você volte logos com desejadas novidades para nós!
Beijos!
Simone.
Resposta do autor:
Ei meu bem, assim que recebi a notificação de um novo comentário já vim correndo porque não quero deixar vocês preocupadas e nem na expectativa. Eu estou terminando de editar o outro capítulo e devo liberar para vocês no mais tardar sexta feira. Me atrasei um pouco na produção desse porque tive uma ideia futura e já coloquei na escrita para não perder rsrsrsrs
Então assim que esse capítulo de agora sair, o outro sairá bem pertinho.
É que as vezes uma ideia futura vem antes da ideia presente, se é que você entende. Rsrsrs
Mil perdões! Já já solto mais um capítulo para você aproveitar!
Um grande beijo e muito obrigada por continuar acompanhando de forma tão linda!
Mille
Em: 25/07/2020
Oi Jenny
"As letras que viram palavras, que viram frases, que viram histórias, que tocam nossos corações." Muita inspirações para continuar sempre nos presenteando com suas histórias. Feliz dia do escritor.
Bjus
Resposta do autor:
Oi meu bem! Boa noite!
Embora eu não considere escritora, agradeço muito pelo seu carinho!
Muito obrigada!
Um grande beijo!
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Mille
Em: 24/07/2020
Oi Jenny
Então que encontro inesperado e nada acertado por nós.
Sera que a Emily entendeu a conserva da Lívia. Olha vou confessar eu não lembrava dela kkkkkl
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
O nosso passado mais inesperado sempre vem a tona nos momentos mais inoportunos.
Coloquei um pouco do meu pessoal nesse capítulo rs.
Beijo grande! Essa semana tem um novo capítulo para vocês.
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lay colombo
Em: 23/07/2020
Achei q fosse a doida da ex q veio pro Brasil atrás da Alice, mas era só a doida da ex q traiu a Alice com o primo dela kkkkkkk
Não gosto da forma como as duas ficaram se olhando, não aceito nada além de Alice e Em.
Resposta do autor:
Ei meu bem!
De loucas a nossa Alice entende muito bem, não é mesmo?!
Vamos ver o que o futuro reserva para a nova Emily!
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