(6 Capitulo) - Sem folego
Connor foi a primeira a ir para o refeitório naquela manhã. Preparou o café deixando um pouco na garrafa e fez algumas torradas para ela. Precisava comer algo leve para poder voar ou ficaria em terra novamente. Colocou um pedaço da torrada na boca, levando a xícara de café e bebendo um gole. Ela estava distraída procurando por armamento de caças pelo celular.
- Ei!
- O que faz por aqui? – sorriu para Siena.
- Não agüentei ficar sozinha naquele apartamento.
- E você caiu da cama?
- Ah nem te conto. – continuou a pesquisa.
- Nossa fico um dia ausente e coisas acontecem, mas quando estou aqui...
- Ontem eu não fui com o esquadrão.
- Por que? – disse servindo uma xícara de café.
- Tive um contratempo nada de mais.
- Ok me poupe dos detalhes.
- Melhor. – disse sorrindo.
- Você está estranha Connor. – sorriu assoprando o liquido quente.
- Desculpa realmente ando meio avoada.
- Bingo! – soltou uma gargalhada.
- Mulheres... – virou o restante do café. – Hum... será que ainda tem cereais por aqui?
- O que quer dizer com isso? – tomou o café.
E Connor olhou com um sorrisinho nos lábios, levantando-se e procurando cereal pelo armário.
- A minha fama não é a das melhores por aqui. – disse virando para Siena. – Achei! – disse sacudindo a caixa que parecia vazia.
- “Connor. A Pegadora” – Siena soltou outra gargalhada.
- Ainda quer ficar comigo? – derramou o restante de cereais em uma tigela, cobrindo com o leite até a borda.
- Não quer manter a sua fama? – sorriu novamente.
- Não brinca com isso vai. – disse séria fazendo careta ao colocar uma colher de cereal na boca.
- Quem mais sabe além de mim?
- O que?
- De você... – disse de ombros. – Eu desconfiava, mas só tive a certeza naquele dia.
- Quando sentei nua na sua frente e você olhou para os meus seios?
Siena sorriu.
- Isso não importa agora.
- Importa. Importa para mim!
- Vai dizer ou não?
- Algumas sabem, não escondo a minha opção, mas também não fico a quatro cantos dizendo para todo mundo que sou.
- Algumas? - arregalou os olhos.
- Não é nada engraçado Siena. A culpa não é totalmente minha. Você sabe bem do que estou falando.
- Acho que sim...
- Acha?
Connor comeu em silêncio. Isso tudo a deixava irritada, com raiva de si. Por mais que ficasse com uma ou com outra, ela não conseguia levar por muito tempo. Queria se amarrar em alguém, mas o seu sangue fervia e o seu tesão era cúmplice de tudo. Na maioria das vezes as mulheres insistiam tanto a ponto dela ceder, queria só uma noite, mas no fim isso sempre voltava acontecer e quando via, estava se envolvendo com outra mulher e a anterior continuava a lhe procurar. Não era algo que se orgulhasse, mas precisava dar um basta nisso.
Ela saiu pela porta, mas Siena não a acompanhou, ainda queria comer uma fatia de pão e Connor não a quis esperar. Desamarrou o rabo de cavalo do alto da cabeça e sacudiu os cabelos, que caíram sobre ombros e costas. Atraia olhares por estar assim, algo que raramente fazia. Ter os cabelos soltos. Quis sentir aquela sensação e viu alguém acenando para ela. Foi naquela direção com um sorriso nos lábios.
- Primeiro Tenente! – disse batendo continência.
- Como você está? – retribuiu a saudação.
- Bem. Que pena ter sido tão rápido...
- Taylor é foda às vezes. – e Connor levantou as mãos para arrumar o rabo novamente.
- Não... fique assim por mais um momento. – sorriu.
- Como quiser. – disse sem jeito.
Coisas assim a deixavam em profunda timidez.
- Ansiosa para voar.
- Imagino que sim. – disse admirando os seus olhos pretos.
- O que foi Primeiro Tenente? Por que me olha assim?
E Connor olhou para trás e para os lados.
- Obrigada pela pizza. Desculpa por aquele incidente. Se a deixei nervosa e...
- Já passou. Só não faça novamente.
- Quero estar a sós com você é possível?
- No bar?
- Não. – disse olhando novamente para os lados. – Realmente a sós.
- Claro. Lá em casa? – disse sorrindo.
- Taylor não vai aparecer? – disse olhando para o relógio de pulso.
- Ela não costuma ir para lá à noite. Muito difícil. Deixo-te nervosa? – sorriu novamente procurando pelo olhar de Connor.
- Realmente? Sim... – sorriu olhando para o chão.
- Hum, precisamos dar um jeito nisso Primeiro Tenente!
- Leva-me para um jantar.
- Ok. Feito. Vamos de moto. Hum, que horas?
- Pelas 20h00 ninguém sentirá nossa falta. – Agora preciso ir.
- Primeiro Tenente! – cumprimentou e Connor retribuiu.
Connor se afastou com um sorriso nos lábios prendendo os cabelos novamente, indo na direção do hangar. Cumprimentou a sua equipe de solo contornando o caça. Era sempre assim. Como se fizesse uma prece em silêncio ou um mantra e depois ela iria até o vestuário colocar o seu macacão.
Nada a impediu de voar naquela manhã e mais uma vez pousou satisfeita com seu desempenho, como também de todo o esquadrão.
- Sentiu a diferença? – o Comandante se aproximou de Connor.
- Sim senhor. – sorriu.
- A equipe gosta de você. É como um chaveiro da sorte.
- Fico lisonjeada. Licença senhor, preciso correr para a aula.
- Dispensada Primeiro Tenente! – sorriu.
Connor tentou andar o mais depressa possível, mas vestindo todo o equipamento de vôo era bem complicado. Guardou o capacete retirando o restante do equipamento e saiu correndo para a sua sala. Pegou a mochila com todas as anotações e o notebook saindo pela porta apressada. Todos já estavam presentes com exceção de Siena.
- Senhores e senhoras...
E a porta abriu-se de supetão.
- Senhora... desculpe o atraso. – sorriu Siena toda vermelha de vergonha.
- Tudo bem, sente-se. – Connor sorriu ao senti-la em apuros.
- Obrigada. – disse colocando sua mochila no chão.
- Bem vocês sabem que em pouco mais de uma semana haverá uma missão.
Connor andava de um lado a outro.
- Não poderá haver erros, mesmo que pequenos. Sei que já falei isso aqui um milhão de vezes. – suspirou. - Como sei também que cada um aqui passara por isso em algum dia. E eu quero ter a certeza de que não irão falhar. É preciso equilíbrio e calma.
Connor falou por mais uns vinte minutos e depois fechou as cortinas apagando a luz, para que pudessem ver um vídeo, desde a decolagem até a velocidade e altitude do caça no céu para reabastecimento. Tudo parecia ser tão simples, tão fácil de como ela pilotava. Todos ficavam empolgados. Sonhavam em poder sentar no cockpit de um caça e ter essa experiência única.
Meia hora depois Connor estava sentada sobre a mesa de madeira e vários alunos a rodeavam. Faziam perguntas e sorriam descontraídos.
- Bem alunos... estão dispensados! – disse pulando da mesa e abrindo as cortinas da sala de projeção.
Todos foram saindo, menos Siena e Patrizia.
- Bom até mais Primeiro Tenente. – disse Patrizia baixando os olhos, tipo: “Não se esqueça do nosso jantar!”
- Até.
E saiu pela porta.
- Foi emocionante.
- Explique.
- Está com medo Connor?
- Não, você sabe o que pega sempre que vou em missão desse tipo.
- Sim, eu estava lá.
- Eu havia conversado tanto com ele! Onde foi que eu errei?
- Não foi culpa sua Connor. Ele foi muito afoito na manobra o que acarretou a perda de sentidos.
- Ele quase morreu...
- Procure não pensar nisso e se controle.
- Estou, mas...
- Connor... vem vamos tomar um banho, logo vai anoitecer.
Connor arrumou as suas coisas e saiu com Siena para o corredor. Tomaram um banho e foram para o alojamento. Siena deitou um pouco, pois dizia estar sem energia depois de correr quase uma hora na esteira, mas parecia mesmo estar fugindo dela. Connor estava louca por uma xícara de café e a convidou, mas não obteve sucesso e foi até o refeitório sozinha. Estava de pé olhando fixadamente para a máquina de café quando Patrizia entrou com um capacete na mão.
Connor olhou para a porta com um sorriso.
- Mas já?
- Eu o tinha perdido.
- E onde o encontrou?
- Na sala da Samanta.
- Ela viu você pegando?
- Não. – sorriu.
- E como você entrou? Quer café? – disse enchendo a xícara.
- Estava conversando com ela e disse que precisava sair por um instante.
- Entendi. Você é esperta.
- Aceito seu café. - disse sentando em uma mesa colocando o capacete em cima do tampo de madeira. – Tenho aprendido muito com você.
- É mesmo? – serviu Patrizia com uma xícara do liquido fumegante.
- Bastante.
Connor sorriu acanhada bebendo um gole.
- Nossa que delicia! Nunca tomei um café assim.
- Tem certeza. – disse olhando de rabo de olho.
- Já tomei seu café outras vezes, mas como este... - Está perfeito!
- Que bom. – e sentou-se ao lado de Patrizia.
Connor não conseguia resistir e levou sua mão sobre a de Patrizia, acariciando o torso da pele macia. As unhas dela sempre estavam bem feitas. Ela a invejava por isso. Por conseguir algo que ela não conseguia.
- Desculpa. – disse retirando sua mão. – Aceita mais? – levantou-se colocando mais café para ela.
- Não, obrigada. – Bom te espero no jardim, às 19h40.
- Até as 20h00, não sei se consigo sair antes, tenho algumas coisas para fazer ainda.
- Seja breve então. Se apresse.
- Vou tentar.
- Não se atrase, ou ficará para trás.
- Que maldade... – Connor mordeu os lábios.
- Fui.
Connor foi para a sua sala. Ligou o notebook e abriu suas correspondências. Recostou na cadeira olhando para o teto suspirando fundo. Era maçante responder e-mails, mas alguns realmente não poderiam ficar sem respostas e ela respondeu os que eram de mais importância.
- Chega... – disse olhando pela janela. – Puta que pariu, já é noite! – e olhou para o relógio de pulso.
Era quase 19h30 e ela ainda não havia se arrumado para sair.
Connor trancou sua sala e foi se trocar. Tirou o macacão vestindo uma camisa jeans azul e calça preta. Colocou um tênis e penteou o cabelo usando um espelho quebrado que ela tinha herdado de sua mãe, ainda muito jovem. Ela não o desfazia por nada. Era vergonhoso, mas ela tinha imenso carinho por ele.
Olhou outra vez no espelho, fechou o armário e saiu para o corredor. Passou diante da sala de Taylor na ponta dos pés e quando saiu pela porta, correu para o lugar que elas tinham combinado. Patrizia já esperava olhando para o relógio. Ela vestia um macacão preto, com botas no joelho.
- Primeiro Tenente! – bateu continência.
- Aff Patrizia – retribuiu. – Por favor, esta liberada disso até eu disser, ok?
- Ok senhora.
- Vamos antes que eu desista e pare de brincadeiras! Senão ainda te coloco de castigo!
- Sim senhora! – soltou uma gargalhada.
- Muito engraçado. – disse dando as costas para ela.
- Ei, não! Parei, desculpa, volta aqui! – disse a segurando pela mão.
Ela tinha os cabelos soltos e estava linda. Connor observava seus gestos delicados, como ela caminhava, o corpo perfeito. Seus olhos negros agora estavam brilhando com a luz dos postes.
- Vamos – disse estendendo o capacete para Connor.
Connor meio que sacudiu a cabeça para voltar à realidade. Colocou o capacete e subiu na moto segurando Patrizia pela cintura. Como ela adorava o seu cheiro logo depois que saia do banho.
Patrizia estacionou a moto diante de sua casa dez minutos depois e ela nem acelerou demais.
Desceram e Connor retirou o capacete aguardando Patrizia abrir o portão e empurrar a moto para dentro.
- Vai ficar ai? – disse levantando a viseira.
Connor sorriu e entrou. Ela torcia por mais uma gracinha.
- Vai brincando... – sorriu.
- Fique a vontade vou trocar de roupas. – destrancou a porta sumindo para dentro.
Connor retirou o capacete e também entrou, parando no meio da sala de estar. Um abajur estava acesso num dos cantos da sala e outra pequena luz de teto fazia a iluminação do cômodo. Essa combinação era um tanto romântica ou um tanto dramática para quem não acreditava em romantismo. Ela adorava lugares assim que a faziam despertar curiosidades e desejos mais profundos. Connor chegou perto da janela e ficou parada olhando para o jardim bem cuidado. Por pouco não se lembrava de onde morou quando criança, mas tais lembranças eram uma névoa em que vez ou outra o vento assoprava e a transportava para outros lugares que não aquele.
- Está tudo bem?
Patrizia tinha os cabelos soltos e pés descalços. Vestia um top branco e uma calça de moletom preta. Connor só a observou, encaminhando-se para ela.
- Posso te abraçar?
- Claro.
E Connor a abraçou aconchegando seu corpo ao dela. Sentia as pernas bambearem ao sentir o perfume de sua pele. Poder tocá-la novamente era como fazer algo proibido, uma excitação única. Estar indefesa. Era assim que ela se sentia na presença de Patrizia.
- Eu precisava muito disso. – sussurrou.
E Patrizia acariciava seus cabelos lentamente. Tinha os olhos fechados e um sorriso incontido.
- Eu sei... Eu também... É como se fosse sempre a primeira vez.
Patrizia afastou um pouco olhando para o rosto de Connor, para dentro de seus olhos e a beijou suavemente reaproximando os corpos. Ela queria muito beijá-la. Sonhava com isso todas as noites. Desceu as mãos para a cintura puxando seu corpo para o dela, sentindo os seios de Connor roçarem os seus. Queria ouvir sua voz dizendo baixinho que a amava. Seu corpo estremeceu e ela segurou um mamilo de Connor entre os dedos, apertando aos poucos.
- Quero você... – sussurrou Patrizia.
- Estou bem aqui...
Connor segurou a sua face voltando a beijá-la. Patrizia gemia em seus braços. Incitava Connor a levá-la para o sofá.
- Por favor, Connor... não brinque. – sussurrou nos seus lábios.
- Não farei isso. – disse olhando nos seus olhos.
- Vem...
E foram para o quarto.
Patrizia acendeu as luzes que também eram serenas e deitou na cama estendendo a mão para Connor. Era um convite irresistível e Connor não recusou.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]