(5 Capitulo) - Fogo Cruzado
Connor havia perdido boa parte da manhã e resolveu ir para a sua sala preparar as suas aulas para logo mais à tarde. Precisava conversar com o Comandante, pois isso nunca havia acontecido e ela estava disposta a não mais deixar acontecer. Sempre que havia um contratempo desses, era um passo atrás que ela dava. Era um tempo precioso que ela não podia se dar ao luxo de perder.
Recostou o corpo na cadeira e ligou para sua mãe. Precisava dizer que estava com saudades e que muito em breve iria visitá-los. Quando desligou sentiu o vazio novamente recair à sua volta. Levantou-se e foi até a janela puxando a cortina para um lado. O céu estava limpo até o horizonte e ela quis sair dali, pois começava a se sentir sufocada. Pegou a jaqueta saindo pela porta, atravessando o pátio da base.
Connor passou por um jardim, subiu um lance de degraus e entrou pela porta de madeira entalhada. Adentrou um corredor, onde Militares iam e vinham, entrando e saindo das salas. Bateu duas vezes na porta e colocou a cabeça no vão.
- Capitão... – posso?
Taylor assentiu que sim, mas estava ao telefone.
- Como vai Connor?
- Estou bem. – disse com um sorriso.
- Conversei com o Comandante sobre você.
- Puts. – revirou os olhos.
- Não se preocupe eu sempre falo bem de você. - contornou a mesa e encostou-se sobre ela, cruzando os braços.
Connor se apoiava no encosto da cadeira olhando fixadamente para ela e pensava sobre o futuro ao seu lado. Mas todas as vezes que pensava nisso, não chegava a lado algum.
- O que você quer de mim?
- Almoçar. – sorriu.
- Estou falando sério!
- Eu sei... – olhou no relógio.
- Vamos almoçar, pelo visto está com fome.
- Pouca.
Taylor fechou a janela, puxando a cortina. Pegou a chave do carro, abriu a porta e esperou que Connor passasse por ela, mas em vez disso, ela fechou, puxando Taylor para si.
- Também tenho fome... – disse olhando com tesão para ela.
- Hum... – e beijou Connor lentamente.
- Agora sim podemos ir.
Abriu a porta e saiu deixando Taylor parada no mesmo lugar.
As duas caminharam em silêncio parando diante do Ford Fusion preto de Taylor.
- Vai ficar ai parada? – disse Taylor olhando pela janela.
E Connor abriu a porta do carro, arrumando o banco e ajeitando o cinto.
- Que calor... – disse abrindo o zíper do macacão.
- Você poderia ter trocado de roupa. – olhou para Connor e depois para o seu retrovisor.
- Tudo bem.
Disse tirando a parte de cima do uniforme e amarrando as mangas ao redor da cintura.
Taylor não morava muito longe da base, se ela quisesse ir em casa almoçar todos os dias não teria problema algum. Já Connor não poderia fazer o mesmo.
- Qual seu problema?
- Sem fome.
- Ah fala sério! – sorriu saindo do carro e abrindo o portão para estacionar na garagem.
Connor olhava com um sorriso nos olhos, ficando séria no instante em que Taylor entrou no carro.
- Perdeu o controle do portão?
- Tem uns dias. – deu a partida no carro. - Não lembro onde coloquei. Deve ter caído do meu bolso – disse parando o carro a uns centímetros da parede.
Sem dizer nada, Connor saiu do carro e andou alguns passos olhando para a imensa árvore que fora plantada diante da casa.
- Logo estará com flores! – disse virando-se na direção de Taylor. – Você quem plantou?
- Patrizia. – e encaminhou-se para a porta.
- Hum, devem ter a mesma idade então?
- Quase... – Vamos entrar que estou faminta!
Connor já estivera ali umas três vezes e sempre se maravilhava com a casa e seu interior. Parecia que os móveis haviam mudado de lugar ou eram simplesmente trocados por outros. Adorava a luminosidade das janelas. O cheiro que vinha da cozinha. Parecia estar em casa, quando a mãe fazia bolo ou pão de café da tarde. Havia um balanço na parte dos fundos, dependurado em outra árvore. Era um lugar perfeito para se morar.
- Connor...
- Estou indo. – disse sorrindo.
A casa não era muito grande como aparentava ser. Havia uma sala, cozinha, dois quartos com suíte, um banheiro, lavanderia, uma área verde com churrasqueira, garagem, um jardim amplo na frente da casa e uma área verde com muitas árvores no fundo. Era a casa dos sonhos de Connor.
Taylor sentou-se na mesa e apontou a outra cadeira para que Connor se sentasse. Um terceiro prato estava arrumado na outra ponta da mesa.
- Senhoras... cheguei a pensar que não viriam! – sorriu olhando para as próprias mãos.
Patrizia era irmã mais nova de Taylor e também estava no mesmo caminho de Connor. Queria pilotar caças e Connor era sua instrutora de vôo.
- Como vai Segundo Tenente. – Connor sorriu ao ver a sua timidez.
- Tudo bem. – sorriu.
- De folga?
- Sim, volto amanhã. – disse vestindo as luvas para pegar algo que havia preparado no forno.
- Connor, sirva-se ok?
E ela assentiu com a cabeça.
Patrizia olhou pelo vidro do forno, abriu com cuidado retirando uma pizza e colocando a fôrma sobre a mesa.
- Ai que delicia! – disse passando a língua no lábio inferior.
- Sabia que você iria gostar. – disse Taylor arrumando o guardanapo no colo.
- De repente me deu uma fome! – sorriu.
- Quer que eu te sirva? – disse Patrizia cortando a massa em fatias.
- Por favor!
Fizeram uma oração antes de comerem e entreolharam-se entre uma mordida e outra.
- Deliciosa.
- Te disse que valeria a pena. – Taylor enfiou outro pedaço na boca.
Patrizia sorriu ao ver que elas tinham gostado.
- Pilotou hoje Primeiro Tenente?
- Não... fiquei de castigo. – fuzilou a irmã mais velha com os olhos.
- Quem te pôs de castigo? – sorriu colocando o garfo apoiado no prato.
Connor continuou comendo e sorriu olhando para Taylor.
- Poxa Samanta! – sorriu.
- Pergunta para ela o que anda fazendo! – comeu outro pedaço de pizza. – Ou melhor! O que não anda!
E Patrizia olhou para Connor seriamente.
- Nada! – encheu a boca para não ter que falar.
- Gente...
- Ela não tem se alimentado direito. Passou mal outro dia.
- Ah não acredito!
- Te juro que se tivesse pizza todos os dias...
Taylor sorriu da cara de Connor.
- Vou ficar de olho em você professora.
Connor coçou a cabeça mastigando.
- Puts esqueci o suco! – disse sorrindo.
Patrizia levantou-se e abriu a porta da geladeira colocando a jarra de suco de melão sobre a mesa.
- Agora que acabamos cabeça de vento! – disse Taylor em desaprovação.
- Eu realmente me esqueci! – sorriu.
- Sem problemas para mim! – disse Connor enchendo o copo com o liquido.
- Ah tem sobremesa antes que eu me esqueça!
- Nossa você é prendada!
Connor disse com um sorriso.
- Adoro cozinhar!
Voltou a abrir a geladeira retirando um mouse de chocolate.
- Não sabia desses seus dotes. – disse Connor virando o restante do suco.
- Quer que todo mundo engorde ou o que? - sorriu Taylor.
- Puta que pariu... você está muito rabugenta Samanta! – sorriu. – Desculpa a língua Primeiro Tenente, ela me irrita!
- Vou escovar os dentes porque se eu comer isso... – disse olhando para o relógio de pulso.
- Ok já entendi, precisamos ir. – Connor olhou para Taylor.
- Prove uma colher, não vai se atrasar por isso. – disse Patrizia.
- Também acho. Posso pegar um prato desses?
- Espere. – disse abrindo a porta do armário. – Aqui... – disse oferecendo uma taça de sobremesa.
Connor sorriu com a delicadeza da irmã mais nova e como era detalhista com as coisas. Inclusive com a dedicação que demonstrava em sala de aula e simulador de vôo.
- Obrigada pelo almoço. Delicioso!
- Não há de quê.
- Vamos Connor te trago aqui outra hora, para você aproveitar mais.
- Eu cobro. Obrigada de novo.
- Nossa parece que acabaram de chegar!
- Sim, estamos aqui há quase uma hora.
- Vai sair P? – perguntou Taylor.
- Preciso fazer compras ou se não for, vou estudar.
- Comprou o capacete?
- Sim, quer ver? Está lá trás. Eu...
- Depois P. Vamos Connor?
- Sim. Obrigada mais uma vez! – disse juntando as mãos em agradecimento.
- Até breve!
- Até.
Taylor pegou a chave do carro sobre a estante e saiu pela porta até a garagem. Connor do mesmo jeito que entrou, saiu, admirando de um lado a outro.
- Você mora no paraíso. – e entrou no carro ao mesmo tempo que Taylor.
- Estou vendo casa para morar.
- Como assim?
- Privacidade. – sorriu pelo retrovisor.
- Ah... – disse olhando para a mão de Taylor na sua coxa. - Não sabia que a Patrizia tinha moto. – e entrelaçou seus dedos nos dedos dela.
- É porque ela vendeu o carro e está só com a moto agora.
- Então vai comprar outro carro?
- Não sei responder. Na mesma hora em que decide uma coisa, horas depois já é outra.
- Ela me parece ser bem tranqüila. – olhou para o anel no dedo de Taylor.
- Muito. Já eu... Sou um cão!
- Não quero ver isso. Até então só te vi rosnando. – sorriu.
- Connor... – sorriu.
Passaram pela guarita da base estacionando diante do prédio da corporação.
- Te vejo mais tarde Connor.
- Obrigada pelo almoço.
- Pense bem antes de sair sem se alimentar e o que isso acarreta nas suas obrigações.
- Sim, prometo não vacilar da próxima.
- Uma hora que der vamos fazer um churrasco lá em casa. Eu te falo.
- Tudo bem.
- Desculpe.
- Por que?
- O almoço não ter sido muito bem... um almoço. – Quando Patrizia me ligou já estava tudo pronto.
- Como assim Taylor?
- Digo... arroz, feijão, bife e essas coisas...
- Mas...
- Não considero pizza almoço. É isso. – disse olhando para Connor.
- Foi por isso que deu pressa para voltar?
- Isso me deixou um pouco irritada, preciso confessar, mas vejo que isso te agrada.
- Eu amo pizza...
- Estou vendo. – sorriu.
- Ainda mais se for como a de hoje. – olhou para o céu azul.
- Explique Connor.
- Sou louca por cogumelos...
- Então matou a sua vontade! – soltou uma gargalhada.
E Connor olhou novamente para os dedos ainda entrelaçados.
Elas saíram do carro e Connor foi pensativa para a sua sala. Arrumou todo o material que iria precisar, colocando dentro da mochila, fechou as cortinas e saiu para o corredor, com o notebook no antebraço. Todos os seus alunos já a esperavam na sala de projeção. Apesar de não parecer, ela adorava passar adiante todo o seu conhecimento, pois ela já esteve no mesmo patamar que eles e muitos se espelhavam em sua pessoa. A aula tinha duração de uma hora, mas sempre ficava além, respondendo perguntas e tirando dúvidas.
Passado esse tempo ela tomou um banho e foi até o hangar conversar com a sua equipe de solo. Observaram estatísticas e seu desempenho ao longo dos últimos dois meses. A cada sorriso que ela dava era uma conquista alcançada. Ela raramente cometia erros e se dependesse dela assim continuaria.
- Primeiro Tenente! – e ela virou-se na direção da voz.
- Comandante! – bateu continência.
- Como está se sentindo?
- Ótima senhor.
- Sentimos a sua falta. – ele sorriu.
- Eu falo muito quando estou lá em cima, na verdade. – sorriu.
- Estava muito silencioso sim, mas eu falo da sua presença. Todos se sentem mais confiantes quando você está lá.
- Que bom senhor!
- Me acompanha em um café?
- Claro senhor.
- Obrigada meninas, vocês são ótimas. – disse entregando alguns papéis e prancheta para duas operadoras de armas da sua equipe.
- Senhora? – e apontou a frente para ela.
Caminharam juntos até o refeitório e ele mesmo preparou o café para os dois.
- Obrigada senhor.
E ele depositou a xícara diante dela.
- Queria conversar sobre a próxima missão.
- Claro. – tomou um gole de café.
Os dois conversaram por um bom tempo e quando ela passou pela porta do refeitório, tomando caminho diferente do capitão, demonstrou estar um tanto nervosa ou preocupada, pois essa missão não seria tão simples como as outras, já que ficariam mais tempo voando, ou seja, teriam que reabastecer no ar. Lembrou da última vez que haviam feito isso e um piloto por pouco não perdeu o controle de seu caça. Não era um procedimento difícil para ela, mas requeria paciência e autocontrole.
Ela passou cabisbaixa pela janela da sala de Taylor e essa a observava atentamente, mas ela não a viu. E ela entrou pela porta do alojamento, sumindo no seu interior.
Fim do capítulo
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