APÍTULO 03 - Sexo é escolha, amor é sorte

        A lua cheia invadia o quarto de Alice com seus raios prateados, da mesma forma com que o vento frio entrava por uma janela de madeira que batia com força por ter sido esquecida aberta. Lá fora os sons dos animais noturnos compunha o cenário digno de um filme de suspense. No meio disso tudo a loira acordou, se envolveu com a grossa coberta de lã e seguiu para fechar a janela, ainda tinha o hábito de dormir nua mesmo que estivesse um dia bem frio quanto aquele, apenas buscou a coberta mais quente que encontrou no quarto para esconder sua nudez, procurou por Chocolate, mas, lembrou que ele tinha ido dormir com Maitê, a menina se afeiçoou ao cachorro e ele da mesma forma.

       Alice tentou dormir novamente mas, não conseguiu, as lembranças de Bruna voltavam a lhe perseguir sempre que estava sozinha, suas noites eram mais frias e sem cor, fazia um esforço para demonstrar que estava bem, achava que era um sinal de maturidade ter uma relação educada com a ex, mas, não estava conseguindo superar, e se sentia muito culpada, pois tinha certeza que não valia a pena. Sentou na cama abraçada com as cobertas e relembrou o encontro que teve com Bruna esta manhã, quando tivera que voltar ao escritório depois de duas semanas, não foi nada fácil encontrar a ex mulher, ela estava elegantemente vestida, principalmente com o sorriso encantador, seus olhos continuavam brilhantes e sua fala descontraída, conquistava a todos e exalava charme e sedução, continuava prendendo de forma charmosa os cabelos negros e pesados em um rabo de cavalo, deixando apenas uma mexa cair lindamente em torno do rosto delicado, com aquela maldita pinta em cima dos lábios carnudos.

         Quando entrou em sua sala, Bruna atendia um cliente, um cantor sertanejo, de cabelos loiros compridos e calças apertadíssimas, "eu tenho certeza que se ele se mexer mais um pouco para empinar esse peito de pombo, a calça vai rasgar". Alice pediu desculpa pelo atraso e sentou em sua mesa, enquanto Bruna apenas sorriu e continuou o assunto, era notório que naquele momento flertava descaradamente com o rapaz, que sorria derretido, e combinava animadamente um jantar, que provavelmente não aconteceria. Bruna adorava os jogos de sedução.

         O fato é que Alice teria que vê-la todos os dias, já que a morena se recusou a vender sua parte no escritório, e, na partilha dos bens pediu apenas para ficar com o apartamento que moravam. Alice achou justo, e, tudo seria assinado em breve, também queria continuar usando seu sobrenome, Durand, mas, ai já seria demais.

          E foi com os pensamentos em Bruna que viu o trinco da porta girar lentamente, o coração acelerou de medo, juntou as pernas e ficou encolhida, só suspirou aliviada quando percebeu que era Sâmia.

- Oi Sâmia, está precisado de alguma coisa?, a Maitê está bem?.

         Mas Sâmia nada respondeu, seguiu até a janela, fechou a pesada cortina, e foi em direção a cama, o grosso pijama de flanela xadrez ficou pelo caminho. Enquanto isso, Alice olhava a cena quase sem respirar, estava em êxtase enquanto olhava a nudez de Sâmia, gemia baixinho completamente admirada com a beleza do seu corpo bem definido. Sâmia não fazia nenhuma expressão, apenas encarava Alice, enquanto delicadamente passava a mão pelos seios, pelo sex*, levando o seu gosto a própria boca, depois a mão subiu por sua barriga, era evidente que estava admirando e acarinhando o próprio corpo. Em um rápido movimento puxou a coberta onde Alice estava envolvida e a jogou no chão, subindo rapidamente como uma verdadeira gata em sua cama. Com o peso do próprio corpo foi empurrando Alice para cabeceira, sentando sensualmente no colo da loira, deixando um rastro úmido em suas coxas. Alice ainda disse um "mas", no entanto, Sâmia nem deixou completar a frase, rapidamente colocou seu dedo com o resto de sua umidade na boca de Alice, e levou a mão da loira até seu centro, movendo-se rapidamente, e urrando alto quando saciada, depois beijou toda extensão do pescoço de Alice que  se contorceu e gem*u baixinho pensando "eu não podia, não devia, mas, poxa, está tão bom, o que deu em Sâmia?", tentou afugentar o pensamento, enquanto isso, ofereceu o outro lado do pescoço e os seios. Sâmia seguia beijando e dando suaves mordidas, e quando sentiu que Alice ofegava mais alto, a puxou pelos pés, deitando seu corpo com força na cama, Alice gem*u de prazer e de dor, e Sâmia seguiu alternando o curso dos seus beijos até chegar ao sex* da loira, primeiro cheirou, e emitindo um leve gemido para logo mais buscar com as duas mãos o sex* da loira, levando até sua boca e se deliciando com o sabor, as pernas de Alice tremiam, e tão carente que estava, o orgasmo veio intenso e forte. Sâmia levantou e esboçou um sorriso, continuou olhando Alice, que a chamava com as mãos, no entanto, ela apenas vestiu o pijama, e quando em um sussurro a loira a chamou "Sâmia", ela respondeu "zoya", ou algo assim, e saiu do quarto, deixando Alice cheia de perguntas, "será uma expressão zoya?".

            Abraçada pela endorfina do sex*, Alice adormeceu e acordou com preguiça, tinha um sorriso diferente no rosto e uma sensação gostosa que aconchegou todo o seu corpo dolorido, e, pelas marcas deixadas nele, não foi apenas um sonho. Tomou um banho demorado e vestiu uma roupa que gostava muito, uma calça jeans colada, uma camisa branca comprida, um suéter azul e um cachecol cinza, calçou botas elegantes e sentia que aquela roupa a deixava ainda mais bonita, sorriu e disse "muito bem Alice, é hora de recomeçar", sabia que a calça realçava as suas curvas, também aproveitou, colocou um perfume suave e fez uma maquiagem leve no rosto anguloso, e saiu cantando a música "Garganta" de Ana Carolina, seguiu alegremente em direção ao café da manhã, sentindo o corpo doer e uma leve ardência por onde as unhas de Sâmia havia deixado suas marcas, mas, estava valendo demais. "Nossa, nem imaginava que Sâmia fosse tão intensa, quem diria, não é?".

           A mesa de café da manhã estava bem arrumada, e foi recepcionada primeiro por Chocolate que balançava o rabo, enquanto tentava subir em seus braços da mesma forma que fazia quando filhote.

- Chocolate, mamãe não aguenta mais seu peso querido.

           Zefa desejou bom dia a Alice, e estranhou a sua alegria, tentou disfarçar o quanto pode, mesmo assim de longe observava Alice e Sâmia, enquanto preparava suas famosas panquecas e esquentava o mingau de Maitê. Sorriu quando começou a perceber e estranhar os sorrisos de Alice para Sâmia, até aí tudo bem, sua neta era maior de idade, e estava sozinha há muito tempo, até achou engraçado a piscadinha discreta que a loira direcionou a sua neta, o problema é que pelas expressões que fazia, Sâmia também não estava entendendo nada.

- Alice, você está bem?, aliás, vejo que está muito bem, voltou com Bruna, foi isso?.

Alice baixou o tom de voz e disse quase em um sussurro:

- Claro que não, e nem pretendo. Muito deselegante falar de Bruna viu?, e Sâmia, não precisa se preocupar, vai ficar tudo entre nós, se é essa a sua preocupação...

- Tudo o quê?

- Ontem, né?...

- Você nos viu juntos?. Por favor, não diz a Vovó que estou ficando com o Caio novamente...

- Quem é esse Caio?

- O dono da "Fazenda Boi Dourado", não era a isso que se referia?, e nem se preocupe amiga, ele vai separar da mulher ainda esse ano agora que o filho está maior, não sei quem te contou, mas, esse é o nosso segredo....shiiii...Maitê está na porta.

A menina estava encostada na porta, escondendo o rosto com um ursinho de pelúcia, e rindo bastante disse quase engasgando com a saliva:

- Maitê apresenta, o meu batom "pêto", preto...

Todos riram quando ela tirou o ursinho para mostrar o rosto todo pintado de canetinha preta.

- Ai amiga, por favor, leva Maitê a escola depois de tirar toda essa canetinha, você pode chegar um pouco atrasada no escritório, eu não...

- Tudo bem Sâmia, pode deixar que eu levo Maitê.

           Sâmia distribuiu abraços a todos, comeu rapidamente e saiu. Alice olhou para Zefa e o seu sorriso morreu, aparentemente Sâmia não lembrava de nada do que tinha acontecido a noite, e assim Alice deu por encerrado o que pensava ser uma série de encontros fortuitos.

           Antes de sair precisava de mais uma certeza e resolveu investigar. Tentando descobrir o que queria, puxou assunto com Zefa, buscando ser o mais natural possível.

- Zefinha, sabe o que estava lembrando hoje?, você se recorda que o meu primo Andrey era sonâmbulo?, lembro que uma vez nas férias, ele pegou o travesseiro e veio para sala, montando como se fosse um cavalo.

- Era mesmo Alice, uma vez a Heleninha pegou Andrey com a chave na mão, disse que estava saindo de casa para laçar um touro bravo. Tadinho que Deus o tenha em um bom lugar.

- Não se sabe se ele morreu Zefa, ele desapareceu sem deixar nenhum vestígio há mais de vinte e cinco anos. Bom, ainda bem que ninguém aqui tem esse problema de sonambulismo, não é?.

- Nada, Sâmia e Maitê dormem a noite todinha menina. Bom, agora está na hora da senhorita ir trabalhar e essa mocinha ai já está se atrasando.

- Vô Helena me deixava ficar se eu não quisesse ir.

- Mas, a Vô Helena não está mais aqui com a gente.

- Eu sei, ela foi para o Egito, né?.

- Sim querida, agora vai buscar seu agasalho.

        Enquanto Maitê saiu, Zefa explicou que era assim que Helena se referia a sua morte, deixando o tema mais leve para a criança.

- Alice, sei que eu não tenho nada a ver com isso, mas, ainda não foi ao quarto lá de trás, te conheço há muitos anos, sei que já está em condições, não acha que está na hora de ver o que te espera lá?.

        A loira não teve tempo de responder, Maitê subiu os bracinhos pedindo colo e dizendo:

- Tia Alice, estou pronta, eu posso levar o chocolate para a escola?.

- Não querida, o Chocolate tem que ficar com a Zefa, quando esquentar ela vai leva-lo a clínica onde sua mãe trabalha, hoje é dia do banho dele, e vou ter que trabalhar, lembra?.

- Não tia, estou falando desse chocolate...- E mostrou a barra enorme que ganhou de presente de Alice, e que na mesma hora esperou o sim com a cabeça de Zefa para afirmar que Maitê poderia levar a barra de chocolate com flocos para comer no lanche.

       Estava dirigindo, ouvindo "Shiny Happy People" do grupo R.A.M quando Maitê perguntou:

- Tia Alice, happy é feliz, não é?, eu tenho aula de inglês da escola.

- Sim Maitê, é feliz, assim como você é...

       Maitê estava sentada no banco de trás, quando começou a gargalhar. Alice olhou pelo retrovisor, e sorriu ao ver que Janine fazia cócegas em sua barriga.

- Tia Alice, você também vê a Janine?, olha, a gente não pode contar tudo o que vê para todo mundo, viu?, não é Janine?. A minha avó Heleninha disse que nem todo mundo entenderia.

- Segredo de dedinho Maitê, ah, e eu tenho um outro segredo, sabia que eu conheço a sua tia Alice desde quando ela era quase da sua idade?.

- Que legal, pena que nem todos são legais como você Janine.

      Maitê fez bico, mas, logo que chegou a porta da escola esqueceu do assunto, deu um beijo em Janine e outro em Alice e já do lado de fora deu um tchauzinho, entrando na escola rapidamente, feliz como toda criança deve ser.

Alice sorriu e fez uma cara brava ao perguntar:

- Então Janine, o que deseja?.

- Eu?, nada vim só desejar um bom dia. - Alice não teve tempo de responder e viu Janine esmaecer, até sumir completamente.

       Alice chegou abafada ao escritório, não gostava de chegar atrasada, mas, chegou bem a tempo de ver sua secretária ajeitando a saia enquanto saia de sua sala, sorriu timidamente, enquanto tentava dar um jeito nos cabelos crespos que estavam desarrumados, até  conseguir prendê-los em um coque. Logo após saiu Eduardo, um cliente recente que estava respondendo um processo após arrancar um pedaço da orelha de um adversário durante uma competição de judô, o rapaz de cabelos fartos e com dreads, saiu vestiu a camiseta, para logo depois passar a mão no bumbum arredondado, e por fim apareceu Bruna com um chicote na mão e no rosto uma máscara de dominatrix.

- Ora, ora....olá Alice, não precisava ficar apenas assistindo nossa festinha, poderia ter participado...

Fim do capítulo