E vamos conhecer outras particularidades de Alice e sua família...
Capitulo 2 - Hora de recomeçar
CAPÍTULO 02 - Hora de recomeçar
Maitê acordou bem tarde, levantou espreguiçando e coçando os grandes olhos verdes, calçou as chinelinhas rosa com desenho de fada que havia ganhado de presente da Vó Helena, e já estavam ficando pequenas em seus pés, mas, recusava-se a usar outra, e saiu do quarto para procurar a mãe e avisar que estava com fome.
Zefa avistou Maitê na porta e ficou admirando a menina, olhando o rostinho delicado, os cabelos negros e lisos que mal precisavam ser penteados, pareciam uma crina de cavalo, se a menina balançava um pouco, logo voltava tudo para o lugar.
Zefa sorriu para neta, avisando que a mãe tinha ido trabalhar e a chamou para um abraço, foi quando sentiu que a neta estava quentinha, pegou o termômetro e após constatar que a temperatura tinha subido muito, deu um remédio para que a febre cedesse, e após macerar umas ervas com as mãos, seguiu com a menina para dar o banho que Helena havia ensinado.
Antes de chegar ao banheiro, Maitê pediu baixinho que queria tomar o leite quente com caramelo que Vó Helena fazia, e de mãos dadas voltaram a cozinha.
- Está gostoso Maitê?.
- Está vovó Zefa, mas, o da Vó Helena era melhor.
- Mas, era só o que me faltava...
Zefa escondeu a lágrima teimosa que escorreu na face, e só após tomar todo o leite, Maitê levantou os braços para ser levada no colo por Zefa, que olhou derretida para a neta de cinco anos. Sorriu e fez exatamente o que a menina estava pedindo, não sem antes dizer, "mas, não se acostume, viu Maitê?''. A menina envolveu os bracinhos em redor do pescoço de Zefa e seguiu quietinha pelo banheiro, cantando baixinho "Lili é uma boneca, ai Lili, ai Lili...".
- Como você conhece essa música Maitê?, Helena cantava para neta quando ela era bem pequena.
Mas, a menina não respondeu e adormeceu no final do banho de ervas. Zefa voltou a aferir a temperatura, ficou mais tranquila, pois percebeu que a neta não estava mais com febre, assim a levou de volta para o quarto, ficando de voltar mais tarde para ver como estava.
De volta a cozinha, Zefa preparava a lista de compras quando ouviu o som de um chuveiro fechando, sabia que era Alice, deu um tempo para que trocasse de roupa, já ia ao seu encontro quando ouviu a loira ligando primeiro para a secretária avisando que remarcasse os clientes para a semana seguinte, pois tiraria os próximos dias para descansar, e depois ligou para o seu advogado, pedindo que providenciasse a compra da parte de Bruna no escritório e agilizasse a divisão dos bens o quanto antes, ainda pediu que fosse justo na partilha. Zefa revirou os olhos e pensou "essa aí é metida a brava, mas, tem o coração tão bom quanto o de Heleninha". Uma lágrima desceu do canto do olho e a enxugou com o dorso da mão, depois parou uns instantes e constatou "por que ela não faz isso se é advogada?, bom, não tenho nada a ver com isso, não é?, o bom é que separou da ‘pavoa' morena, não tive coragem de dizer que vi a tal Bruna em plena montaria e não era bem um cavalo que cavalgava e sim o jovem rapaz que cuidava de Hércules e Zeus, os cavalos de Heleninha".
Quando percebeu o silêncio vindo do quarto de Alice, abriu a porta devagar e por uns segundos ficou admirando a loira dormir abraçada a Chocolate, "ela lembra tanto a avó quando novinha". Para não acordar, saiu rapidamente e resolveu esperar que despertasse para enfim realizar a missão entregue meses antes. Encostou a porta e foi ajeitar o almoço, um pouco mais tarde quando a loira apareceu em busca de um café já parecia mais bem disposta, Zefa pediu um minuto, foi até o seu quarto e chegou com uma carta e uma chave na mão, "Alice, sua avó pediu para te entregar, é uma carta e a chave do quarto lá dos fundos".
Após dar o recado, a governanta saiu de forma apressada, avisando que iria terminar o almoço, fez isso antes que Alice percebesse que estava emocionada com a cena tantas vezes imaginada por Helena.
Alice abraça a carta, sentindo um leve perfume de lavanda e um suave arrepio percorrendo sua coluna, o que sempre acontecia quando algum espírito estava por perto, sabia que a presença não era da sua avó, mas, alguém estava ali observando atentamente o que estava fazendo, e pelo arrepio que sentiu era uma doce presença e estava bem ao seu lado. Chocolate sentou e novamente ofereceu a pata como fazia em reverência a alguém muito querido, Alice segurou a pata do cachorro que tirou delicadamente e a deixou solta no ar.
- Chocolate!!!, que feio, você está me trocando novamente por um espírito?.
A loira riu abafado enquanto o cachorro girava alegremente balançando o rabo para alguém invisível.
Alice sorriu e voltou a abraçar a carta, "ah vovó, quantas lembranças esse sítio me traz, como fui feliz aqui, deveria ter vindo mais vezes". Já ia abrir a carta quando escutou uma voz melodiosa com um sotaque estrangeiro dizer "tudo a seu tempo". Sorriu e levantou os olhos procurando a dona da voz, mas, sabia que não tinha clarividência, só conseguia ver Janine, e só porque era a sua mentora espiritual, quando Alice percebeu que a presença tinha ido embora e estava sozinha, pode enfim abrir a carta:
Minha querida neta Lila,
Não sei onde estarei no instante que receber essa carta, sei que estarei em outro plano, mesmo assim espero que o meu amor te abrace. É tudo uma questão de sentir, respire fundo e sinta, a minha energia está em cada detalhe, gostaria de ter todo tempo do mundo para revirar o baú das minhas lembranças e compartilhar aqui, mas, não tenho, e portanto, serei breve e direta, ou vou tentar ser, espero não seja muito tarde para revelações.
Lila, a doença está consumindo meus dias, mas, não se preocupe, não vou partir sentindo dor, sim, eu sei que em breve deixarei esse corpo, não tem problema, ele já não me serve. Gostaria de falar tudo pessoalmente, mas, não vai dar tempo de esperar que volte da sua viagem com Bruna, infelizmente eu sei disso, por isso resolvi escrever essa carta.
Te peço apenas duas coisas, por favor, tome conta da família que fiz e que não pude por muitas razões chamar de minha. Mesmo sendo viúva de tantos anos, na minha época o meu amor não era válido para ser assumido, mas, forte para ser sentido, o seu avô Heitor partiu cedo e me deixou com esse sítio e com Zefa, que veio a ser meu grande amor, você deve imaginar que a sua mãe Patrícia, nunca iria aceitar e iria chamar minha Zefa de aproveitadora, você a conhece, enfim, as pessoas são o que são, peço apenas que ajude minha Zefa, ela é tão teimosa e ranzinza, não sabe como se proteger, ela nunca quis entender a tradição, não a deixe desamparada, nem a menina Sâmia, que tão cedo perdeu os pais, e principalmente, ajude com a sua filhinha Maitê Helena, juro que não foi ideia minha essa homenagem, o nome não combinou nada, ah, além disso, por favor cuide de Annick, minha Spirit doll, você vai encontrar o receptáculo onde o seu espírito se ancora lá no quarto dos fundos, é uma boneca que você apelidou de Lindinha quando criança, cuide com todo amor que ela vai te ajudar a se reencontrar no caminho mágico, por favor no tempo certo encaminhe Maitê, ela tem o dom, lá no quarto também estará o meu Grimório e o seu, boa sorte no retorno a bruxaria. Ah, antes do meu adeus, já ia esquecendo, procure Melissa, ela é filha de uma das sacerdotisa da tradição, e vai te ajudar nesse retorno, por sorte ela é nossa vizinha e se dedica totalmente as ervas e feitiços, ela trabalha com isso. Tenha força, luz e sorte no trabalho que vai ter pela frente, não esqueça, cuidado com a "Bruxa Negra". Eu sei que vai honrar sua família, no mais, que a deusa te abençoe e consiga êxito e proteção na sua missão.
Para finalizar, sei que nessa altura o romance com Bruna já terminou. Minha querida, siga adiante, você foi avisada por mim, por Janine, pela espiritualidade, por vivos também, enfim, me conhece e sabe tudo o que penso sobre ela. Só um último aviso, cuidado ao escolher aquela que fará o cruzamento das vassouras.
Um abraço cheio de amor, tua Vó
Helena
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Alice respirou forte, passou a mão pelos cabelos curtos, e segurou as lágrimas nos olhos azuis, que no momento estavam duas enormes violetas. "minha avó não tinha o direito de fazer esse tipo de pedido, tudo bem, vou cuidar de Zefa com todo amor, mas, voltar a ser bruxa é pedir demais, ela sabe que não gosto disso".
A loira estava profundamente magoada, e precisava extravasar, se recuperar de toda emoção que invadia o peito. Como assim missão, bruxa negra e tradição?, não queria ser bruxa, nunca quis ser na verdade, sua mãe a obrigou, pois precisava por alguém no seu lugar antes de sair pelo mundo gastando parte da fortuna que lhe cabia com seu último namorado, seu personal trainner. E por fim, jamais faria o cruzamento da vassoura, nunca mais casaria, muito menos com uma bruxa.
Alice guardou a carta e a chave no bolso, nem escutou Zefa avisando do almoço, saiu em disparada, o coração aos pulos, pediu a um peão que selasse Hércules e seguiu com o cavalo até o ribeirão. Lá sentou um pouco nas pedras e deixou Hércules debaixo da sombra de uma árvore, só assim pode chorar tudo que carregava no peito. Chorou pelo pedido da avó, mas, no fundo sabia que ela jamais lhe pediria isso se não fosse muito importante, chorou igualmente por ter se sentido magoada mesmo que por instantes com a avó, e por fim, chorou mesmo foi por Bruna, lembrou de como se conheceram em um barzinho e tinha se apaixonado de cara pela morena de grandes olhos negros, que saiu do banheiro ajeitando a saia curta, enquanto uma ruiva saia do mesmo box indo ao encontro de uma provável namorada. A cada lembrança que vinha, tinha a terrível sensação de amor desperdiçado, lembrou do seu cheiro, do seu sorriso, das covinhas que formavam quando ria, das viagens que haviam feito, da compra do apartamento dos seus sonhos, de quando Bruna trouxe Chocolate pequenininho em uma cestinha de vime com um laço vermelho, e por fim, a última lembrança, o alívio de Bruna ao vê-la deixando o apartamento.
Ao seu lado Janine preferiu permanecer invisível, aplicou uma energização, enquanto a olhava e dizia:
- Pode chorar minha menina, põe para fora essa tristeza
- Pode aparecer Janine, eu sei que está aqui...
Fim do capítulo
O capítulo de amanhã foi antecipado, não desistam de Alice, ainda tem muita água para correr na história...abraços
Comentar este capítulo:
Rosa Maria
Em: 13/12/2020
Sá...
Que missão Alice recebeu hein? não vai ter como negar o pedido da avó...
Beijos
Rosa
florakferraro
Em: 08/12/2020
Amei a carta da avó dela, são muitas tarefas e ela parece que não entende nada de bruxaria, mas, quem sabe.
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brinamiranda Autora da história
Em: 24/07/2020
Se tiver alguma curiosidade e não for spoiler eu respondo...pergunta aí 😉
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Gabi2020
Em: 24/07/2020
Olá!
Que bonitinha a carta da avó da Alice! Será que a Alice vai fazer o que a avó pede? Fiquei curiosa com algumas coisas, mas ao longo dos capítulos acredito que encontrarei as respostas, sera? Kkkkkk...
Tadinha da Zefa!
Resposta do autor:
Oi, então, eu quis trazer aquele amor de vó, aquele aconchego, foi em homenagem a minha avó Natércia que não era bruxa, mas, era um amor. Alice tenta, depois de tantos anos longe da bruxaria está enferrujada né? Kkkkkk Vai na fé que as respostas chegam rsrsrs
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