Conhecendo Alice...espero que gostem da personagem e da sua história peculiar.
Capitulo 1 - Todo carnaval tem seu fim
A Bruxa e a Spirit doll
CAPÍTULO 01 - Todo carnaval tem seu fim
Alice tentava equilibrar a enorme bolsa de viagem vermelha, ao mesmo tempo em que arrastava com raiva a pesada mala de rodinhas enferrujadas que rangia e enganchava em tudo que encontrava pela frente. Chocolate, seu cachorro inseparável da raça Golden Retriver a seguia lado a lado, como se estendesse tudo, Bruna vinha logo atrás, tentando alcançar Alice, enquanto segurava um vaso oriental que quase caíra do aparador, e ao mesmo tempo tentava ajeitar os cabelos negros e desgrenhados em um pesado rab* de cavalo.
- Alice, não precisa sair assim desse jeito, vamos conversar, nós tivemos sete anos maravilhosos, me perdoa, não era para ser assim, você só ia voltar na sexta, lembra?, como eu poderia imaginar que ia antecipar o voo?, eu ia conversar com você, será que pode parar um minuto e me ouvir?. Eu me apaixonei pela Letícia, aconteceu, me desculpa...
- Não tem nada mais que queira ouvir, nada mesmo, acabou, vou embora e por favor, não me ligue, dessa vez não tem mais volta, ouviu?, depois precisamos combinar sobre o que vamos fazer com o escritório, possivelmente vou comprar a sua parte. Ah, Bruna, só mais uma coisa, torça muito para que o romance com sua estagiária seja definitivo, ou vai ter que voltar a caçar naquele maldito bar que por azar te conheci, saiba que em mim você não encosta mais, não vai ser como das outras vezes, entendeu?.
- Espera Alice, já é muito tarde, onde você vai?.
- Isso realmente não é mais da sua conta, e depois o que vai me propor?, que eu durma no quarto de hóspedes?, ou vou dormir contigo e com essa paquita erótica ai que colocou na nossa cama? - Falou olhando firme para a estagiária que se escondia assustada atrás da porta da cozinha, se perguntando o que seria uma paquita erótica - Portanto, me poupe Bruna e não finja que está preocupada comigo.
Já havia saído deixando tudo para trás, não sem antes bater com força a porta de entrada, jogando a cópia das chaves nos pés de Bruna, que dá um salto para trás. Estava na porta do elevador quando lembrou que o apartamento também era seu, e enquanto Bruna tentava trancar a porta com dificuldade, pois continuava segurando com cuidado o vaso oriental como um verdadeiro prêmio, Alice empurra a porta e rapidamente pega as chaves de volta. Chocolate sai do seu lado e corre até o tapete felpudo e caramelo da sala, deixando um enorme rastro de xixi em toda sua extensão, depois segue até Bruna, e com a força da sua pata joga longe o vaso que a morena abraçava delicadamente, espatifando-se no chão, "meu vaso da Dinastia Ming, seu cachorro safado", falou a dona do vaso, sua voz rouca subiu dois tons mais alto, sentindo o rosto esquentar e possivelmente avermelhar na mesma hora.
Alice não teve como segurar o riso, o cachorro adestrado nunca fizera isso. "Vamos Chocolate, já basta, não vamos ficar mais nenhum minuto aqui", só assim o cachorro acompanhou a dona, olhando atentamente seus olhos azuis quando entraram no elevador, era como se dissesse que ia ficar tudo bem, os olhos de Alice estavam diferentes, não apenas pelas lágrimas, mas, pelo tom que estava quase violeta, o que sempre acontecia quando sentia uma emoção muito forte. Depois que Chocolate se acomodou no banco de trás, saiu da garagem cantando pneu.
Com as mãos grudadas ao volante, Alice suspirou forte em um quase grito e ligou o som, cantando irritada "Todo carnaval tem seu fim" do grupo Los Hermanos, deixando extravasar a raiva que estava sentindo "devia lançar uma maldição em Bruna, ou melhor, um feitiço para trancar sua vida amorosa já bastava", ao pensar isso riu nervosamente, tinha abandonado a bruxaria há anos quando se desligou da sua tradição, ou seja, do grupo onde todas as bruxas de sua família desenvolviam seus dons, fizera isso assim que montara seu escritório de advocacia, e nem sabia mais onde estava seu Grimório, seu livro de feitiços que ganhara na adolescência da sua avó, portanto, qualquer coisa que fizesse poderia dar muito errado, lembrando desse detalhe, ajeitou a franja que caia o tempo todo nos olhos, e logo chegou à conclusão que não valia a pena arriscar.
Deu a volta no quarteirão e parou uns instantes para olhar a fachada daquele prédio que vivera por quase sete anos. Deixou as últimas lágrimas descerem pelo rosto, passou a mão pelos cabelos loiros, curtos e desconstruídos e saiu tentando manter a calma que não tinha, de longe acenou ao porteiro, que correspondeu ao seu aceno, olhando penalizado, ciente de tudo o que estava acontecendo a meses.
Alice dirigia enquanto fazia uma retrospectiva dos últimos três anos do seu casamento com Bruna, lembrou que já haviam se separado outras vezes, no fundo sabia que era traída, mas, nunca a morena tinha tido coragem de levar ninguém para o apartamento que compraram juntas, ou tinha?, bom, já não importava mais, afinal, uma coisa eram os indícios de traição, as piadas maliciosas dos supostos amigos, outra coisa bem diferente era ver com seus olhos a cena da traição.
Alice resolveu seguir, triste, mas, no fundo aliviada, sempre caia nos pedidos de desculpas de Bruna, e acabava cedendo e voltando. Estava absorta traçando planos do que faria desse dia para frente, quando sentiu o cheiro de jasmim no ar, olhou irritada e percebeu uma fumaça opaca formando-se ao seu lado.
- Oi Janine, não cansou dos efeitos especiais?. Te vejo desde os sete anos, quando apareceu no meu quarto pela primeira vez dizendo que era minha fada madrinha envolta em uma ridícula fumaça de cor rosa. Sabia que suas aparições repentinas não tem mais graça alguma agora que tenho trinta e cinco?.
O espírito sorri e encosta a mão onde seria o coração, fingindo sentir dor...
- Nossa Alice, o que queria que dissesse?, muito prazer, sou Janine, sua mentora espiritual?, fada madrinha era bem mais suave para uma garotinha, ah, e tem outra coisa, você adorava os efeitos especiais.
- Desculpa Janine, não estou bem, é tarde e vou ter que procurar um quarto de hotel que aceite cachorro uma hora dessas...
- Que hotel que nada, você vai morar na chácara da sua avó, quer dizer a chácara agora é sua, você herdou há meses e ainda não foi lá...
- Janine, não é uma chácara, é um sítio, que aliás não tem mais graça depois que Vó Helena se foi, mas, mantive todos que trabalhavam com ela, prometi que nas férias eu vou, depois o sítio fica a mais de uma hora daqui, como você quer que eu more naquele fim de mundo?, fora que...
Ao olhar de lado Janine já tinha sumido, Alice sorri e lembra que há muitos anos Janine a acompanhava, sua protetora embora muito desajeitada a ajudava sempre que precisava, as vezes atrapalhava um pouco, é verdade, mas, no final tudo dava certo.
Como não queria procurar um quarto de hotel, parou o carro no acostamento e verificou se as chaves do sítio estavam na sua bolsa, por sorte estavam, sorriu e pensou "quem sabe consigo recomeçar uma vida nova no sítio?, ao menos por enquanto, assim, tenho tempo de procurar com calma um cantinho para alugar ou comprar". Sorriu ao olhar pelo retrovisor, Chocolate dormia largado no banco de trás.
"Sítio o vale das margaridas", a placa de madeira talhada na porta da entrada indicava que havia chegado, o enorme portão pintado de laranja era pesado e com dificuldade conseguiu abrir, enquanto isso, Chocolate já desperto latia e balançava o rab* dentro do carro, dando voltas no banco de trás querendo sair.
- Chocolate, não faz barulho, eu tiro já você daí menino...
Depois de estacionar, abriu a porta do carro, mesmo assim o cachorro continuava a balançar o rab* e latir enquanto Alice fazia força para fechar o enorme portão, "a primeira coisa que vou fazer aqui vai ser por um portão automático, ou transformar este em um, como minha avó tão franzina conseguia abrir sozinha esse peso todo?".
Estava ajeitando as malas no chão, quando percebeu que o cachorro havia silenciado, Chocolate estava sentado balançando alegremente o rab*, ao mesmo tempo em que oferecia a pata a alguém invisível, Alice sorriu e o chamou.
- Vamos Chocolate, está ridículo com essa pata levantada para ninguém.
O cachorro a seguiu, mas, continuava olhando para trás e balançando o rab*. Alice olhou o relógio, quase quatro da manhã, deixou suas coisas no quarto enquanto seguiu para cozinha, precisava tomar algo quente, acendeu a luz e viu que tudo estava no mesmo lugar, exatamente como a avó tinha deixado, "ah vovó, como precisava do seu colo agora!". Pegou o leite na geladeira, o achocolatado, a baunilha e o amido de milho na dispensa e fez o chocolate quente que a avó fazia com todo amor sempre que pedia ou precisava. Estava longe quando ouviu passos que se aproximavam da cozinha, "deve ser Zefa, a governanta jurássica da vovó", quando subiu os olhos uma moça a olhava com um sorriso estampado no rosto, "oi Lila, quanto tempo". Alice levantou o mais rapidamente que conseguiu, escondendo-se atrás da pesada cadeira de madeira.
- Fica ai, como sabe meu apelido?, você está viva ou já passou para o lado de lá?.
O riso da outra era harmônico, a boca vermelha se abriu, dando passagem a dentes brancos e perfeitamente alinhados.
- Desculpa, você não deve mesmo lembrar de mim, sou Sâmia, neta de Zefa, passamos muitas férias juntas nesse sítio, estou dividindo o quarto com a vovó, acordei com sede e vi que estava aqui, mil perdões, não era a minha intensão te assustar.
Alice estendeu a mão e riu ao lembrar da menina, os cabelos castanhos cacheados iam até a cintura e faziam uma moldura no rosto delicado escondido atrás dos enormes óculos redondos de tartaruga, percebeu que Sâmia não havia mudado tanto, apenas os finos cabelos cacheados e castanhos estavam cortados em um elegante Chanel.
O dia já estava claro quando Zefa encontrou Alice e Sâmia conversando animadamente na cozinha, estavam esperado os pães de queijo assarem para passar um café. Em cima da mesa também havia o resto de um bolo de chocolate. Zefa entrou na cozinha, deu um bom dia seco, seu mau humor já era conhecido de todos, e buscou sua xícara, perguntando se queriam mais alguma coisa, com a negativa sentou e perguntou.
- Sâmia, não está na hora de acordar a Maitê?, ou a menina vai ficar mais manhosa do que já é e não vai à escola de novo?.
- Vovó, ela está melhor, mas, teve febre durante a noite, pode deixar que ela vai comigo para a clínica, tenho duas castrações e alguns atendimentos hoje, ela é boazinha, fica quietinha assistindo tv.
- Ela não vai melhorar se for com você, estou é vendo a menina com um filhote de gato ou de cachorro, ou os dois no colo, enchendo o nariz de pelo e espirrando a noite toda, pode deixar que fico com ela, mas, não acostume.
Sâmia e Alice sorriem observando que o humor de Zefa continuava o mesmo depois de tantos anos, na verdade só havia piorado após a morte de Dona Helena.
Fim do capítulo
Espero sinceramente que gostem de Alice, sua história surgiu do nada em um dia qualquer quando o sono não vinha...
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brinamiranda Autora da história
Em: 14/12/2020
Oie Rosa e Flora, fico feliz que estejam gostando da minha história...eu tenho muito carinho por ela.
bj grande
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Rosa Maria
Em: 13/12/2020
Sá...
Comecei a saga da leitura e já gostei da muito da Alice e do chocolate...kkkk
Beijos
Rosa
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florakferraro
Em: 08/12/2020
Coitada da Alice, amei o chocolate, um grande companheiro para ela, esse começo está muito perfeito, amei.
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rhina
Em: 01/08/2020
Alice.
Uma bruxa
Gênio da lâmpada.
Espíritos..
Veterinária.
É .....tem muitas coisas
Rhina
Resposta do autor:
Verdade, são muitas tramas nesse história, que aos poucos vai serenando e esquentando a medida que os capítulos chegam....espero que goste...
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Gabi2020
Em: 24/07/2020
Olha só, gostei da Alice tá? Tadinha da corna mansa! Kkkk...
Essa aura de mistério é interessante , vamos ver o que a Alice vai aprontar!
Beijosss
Ps. Adorei o Chocolata!
Ps2 - Véia mal humorada, véia da havan parte III? KKKK
Resposta do autor:
Oie, que bom que gostou da Alice, a pobre...mas, como dizem, o corno e o traidor também tem história...rsrsrs. Ahhh tudo que escrevo tem uma coisinha assim, uma alminha, uma bruxinha, um et rsrsrs....
ps. o Chocolate foi inspirado em um cachorro que tive e que está lá com Sâo Francisco...
ps2. Tem que ter uma véia da Havan, mas, ela vai melhorando tadinha...rsrsrs é a sofrência sem o amor....
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Hanna Quexua
Em: 16/07/2020
Amo esse clima místico em volta da personagem. E adoreeei Chocolate!!!
Resposta do autor:
Obrigada Hanna, o Chocolate é uma gracinha mesmo, ele tem participação em muitos momentos da trama, e muita água vai rolar...valeu mesmo!!.
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