Implicature
Contradictio
“Implicature”
***
“Implicatura: Aquilo que é, entretanto não pode ser visto, pois, o ato de enxergá-lo, depende da sensibilidade de quem á procura.”
***
**Pretérito**
- Não precisamos matá-la... – o reverberar aflito veio em um fio de voz, enquanto as orbes avelãs fitavam-no em suplica. O titubear cortou os azuis escuros nos olhos do homem, contudo, tão rápido quanto surgiu, foi-se. Naquele momento ela percebeu que não seria atendida. A jovem mulher o conhecia intimamente, melhor que á ela mesma... Não haveria alternativas. – Por deus... – rogou por uma ultima vez, certa da inutilidade de suas palavras diante de tamanha determinação nos olhos escuros – Ela tem um bebê, uma pequena garotinha, que ficará á mercê de um pai monstruoso se eu fizer o que me pede! – apelou sentindo as lágrimas quentes e pequenas carregarem o ultimo resquício de fé e esperança de encontrar um sinal do seu amado amante, entretanto a constatação dolorosa lhe atingiu sem reverencia ou piedade... Ele não estava mais lá.
- Mate-a e prove seu amor e fidelidade a mim! – o rouco áspero ordena – Caso contrário eu mesmo me certificarei de sumir com você e esses... – as palavras morreram e o nojo cortou a face dura e quadrada, moldada pela barba rala - Essas coisas! – Apontou com desdém para a barriga inexistente da morena. – Não me decepcione, baby! – sussurrou para ela, apertando as mãos grandes em volta do mento fino e delicado da morena, que lutava com bravura para se manter firme diante do pavor em suas veias.
***
O movimento dos amantes. Encontro carnal. Entrelace dos profanos. Insinuações. Anseio dos selvagens. Ofensas aos luteranos, calvinistas e anglicanos; Sodomitas. Condenados. Rotulados. Enigmático. Carnal...
A pedra bruta da paixão infame que inflama as almas, ligando-as ao entrelace duro; bruto, do destino.
As pernas e os braços - os corpos - se confundem entre os suspiros sôfregos, hora por mais; hora por muito mais e por fim, até que encontrem seu clímax singular, único, mas profundamente compartilhando, intrinsecamente ligados, pois são tão dependentes um do outro que não conseguem “Ser” separados.
Ligações covalentes.
Olhos nos olhos. Mal se podem entender as cores das íris mescladas. Azul nos verdes, verdes nos azuis; as janelas sensitivas, todas voltadas uma á outra.
As mãos pálidas iniciam sua busca insaciável, entre o vale dos seios intumescidos pelo desejo, circunda a pele quente. Os pelos sob suas digitais espicham – sinal de que os lábios avermelhados encontraram o ponto sensível na pele dourada do pescoço esguio- outro suspiro deleitoso, maldosamente, envia sinais quentes e provocantes á virilha desnuda e inquietante perdida entre as coxas delgadas.
A ânsia pelo alívio ao fulgor salta dos lábios rosados e fartos- agora maculados pelo inchado da reivindicação bruta e duro de quem não suposta mais a distância fustigada pelo tempo- e imediatamente, como um amante subserviente... Okay esqueça a subserviência... Pois ela já não poderia controlar o seu próprio jogo de poder, suas mãos pálidas também estavam apavoras e inquietantes pela doce e profunda humildade da outra.
- Oh... K-Kath... – o lamuria soprada superou carnudos, levemente separados entre si.
O calor do hálito torturador correu por toda extensão das costas tonificadas e musculosas, impregnando-se ao pelos eriçados na pele suada.
- Peça... – o rouco sussurrou ofegante– Peça e te darei, minha sereia! - afirmou desnorteada quando os quadris largos e ondulantes se moverem em meio ao frenesi contra a palma da sua mão.
- Oh, deus... – tentou formular em meio ao desespero prazeroso – E-eu preciso de mais... –deu voz á todas as células de seu corpo moldado.
- Mais de que? ... – rosnou tão impaciente e apressada quando o trabalho circular de seus dedos e a língua macia com os montes lisos entre os lábios - Diga-me, amoré mio... – ofegou quando os dedos longos e quentes puxaram as madeixas platinadas da nuca, demandando todas as suas exasperações.
- Eu preciso que você me foda... – rosnou autoritário, guiando com certa brutalidade a cabeça da outra rente á sua e esticando com força os lábios avermelhados entre os caninos brancos e selvagens – Com forca e agora, minha capo... – completa a demanda, com as madeixas loiras pregadas em desordem pelo rosto rubro e contorcidas pela busca primitiva do prazer.
O gemido fez tremer o peito desnudo pálido, fundindo aos dourados.
- Seu desejo é uma ordem, minha sereia selvagem... –sussurrou entre dentes e com um suspiro resfolegado, não tardou em cumprir a ordenança de sua amada profana.
- Porr*... – o gemido agudo retumbou entre as paredes tonificadas pela penumbra – Oh, sim... –murmurou como uma gata manhosa, esfregando-se ao corpo pálido e tonificado sobre o seu, como se naquele momento sua vida pareceu dependesse disso.
E a verdade é que, para ambas, suas vidas dependiam daquele árduo alivio, do calor uma da outra, da vitalidade compartilhada, do prazer mútuo alcançado pelo entrelace da paixão cultivada e sufocada pelo tempo.
- Isso meu amor... –incentiva a maior entre sua luta fugaz pelo prazer - Goz* para mim, sereia! –não se sabe se era uma ordem ou uma suplica, contudo, fato é ambas ambicionavam por isso.
As coxas douradas e torneadas, intencional ou não, comprimiam a intimidade alheia, trazendo á outra o alívio as sensações acorrentadas em si, rogando silenciosamente por libertação e isso serviu de intensificados aos punhos pálidos, pois no mesmo momento, tornaram os movimentos mais profundos e rápidos.
- Kath... – choramingou acelerada, na verdade tudo estava acelerado naquele instante célebre.
O sangue corria como um louco, acumulando-se abaixo da pelve e forçando as paredes escorregadias comprimirem os dedos pálidos com força.
- Amoré... – o rouco titubeia e quase não encontra a conclusão.
-Oh sim... – a devolve, com as unhas gravadas aos ombros firmes – Eu vou... Eu vou...
Não houve prorrogação para as palavras, pois nos instantes seguinte o grave inconstante de uma, misturou-se ao agudo sôfrego - ao mesmo tempo doce - da outra e a explosão libertadora veio, expandindo o mundo ao redor e guiando-as ao céu negro e estrelado e Depois as carregando da valsa lunar aos lençóis de ceda embaralhados.
As respirações arritimadas balançam os ombros moles e enfraquecidos, como se os ossos rijos estivessem derretido.
O hálito quente bate forte no pescoço dourado, buscando restabelecer seu mundo; e com uma lufada de ar o sorrido brilhante cresce, desenhando a pele quente á ele grudado.
- Qual é o humor, Angelo mio? – interrogou a voz doce e resfolegante.
- Nada em particular... – o murmuro abafado só fez o sorriso aquiescido aumentar – Apenas, acabo de comprovar que o meu mundo está bem aqui, deitado sobe meu corpo!- concluí simples e sem maiores pretensões.
Era a pura e mais concreta verdade para si naquele momento.
O corpo pequeno estremeceu, enaltecido pela grandeza dos sentimentos perambulantes em si. E a reiteração do sentimento, já há muito descoberto, reverberou nela.
- E você o meu... Meu belo anjo! –sussurrou, mais para si do que para ela – Você é o meu... – repetiu, sentindo o copo maior sobre o seu relaxar com as carícias delicadas de suas unhas emboladas aos fios platinados.
- Eu te amo... – foram as ultimas palavras murmuradas pelos lábios amantes, ates dos movimentos singelos na lateral da cintura fina da loira cessar, carregando-as para o limbo.
***
Batidas leves ricochetearam nas paredes do quarto escuro, arrastando o despertar para o subconsciente da jovem mulher, despojada sobre o abdômen macio de sua acompanhante.
Mais duas batidas e os azuis escuros arrastaram as pálpebras pesadas para cima, causando uma ardência arenosa, fruto do cansaço. Contudo o despertar definitivo – quase definitivo - deu-se quando a loira manhosa, que a trancafiava em um aperto de braços, murmurou palavras inteligíveis desconexas.
Em um salto, Emanuella, estava sobre os pés, caminhando com a nudez pálida do corpo sob a luz da gloriosa Lua até a pilha de roupas em um canto aleatório do quarto e em uma busca, quase apavorada, encontra seu objetivo de anseio: “Pacificadora” (Uma Glock 48).
Enrolou-se afoitamente no roupão de algodão preto, disposto sobre a poltrona, e rumou para a sala da suíte.
Os batimentos acelerados - não se sabe ao certo se pelo susto de ser despertada de forma repentina e/ou pela adrenalina recém adicionada á circulação – no entanto, seguiu para a porta com a empunhadura formada.
Os azuis, já acostumados com a negritude do ambiente, focaram-se à maceta cativa nos dedos longos e frios e com um suspiro encorajador, girou-a.
-Calmati Ragazza (Acalma-se garota)!- a voz tranqüila e melodiosa ressoa e nenhum mínimo estalar de olhos fluiu da expressão calma e controlada no rosto pintado pela experiência dos anos vivido.
- Senhora d’Angelis? – indaga a mais nova. Franzindo o cenho, abaixou a arma de imediato, acionando o interruptor da energia e o interior do ambiente rapidamente foi tomado pela luz.
- Precisamos conversar!- Afirmou apressada a mais velha e agora uma centelha de agonia brilhou nos azuis italianos.
-Melannie e Tandara estão bem? – discorreu a questão com o rouco tomado pela preocupação.
- Minha figlia (filha) estava dormindo como um gorila babão quando a deixei, junto á ragazza (Garota) Lazzari! – soou brincalhona, com um pequeno sorriso nos lábios vermelhos – Desculpe-me pelo horário, contudo receio não poder esperar até o raiar do sol, senhorita Castiel! – exclamou exasperada e Kath pode registras uma pequena rusga entre as sobrancelhas escuras.
- Certamente... – confirma, cedendo passagem ao corpo cumprido, mas não maior que o seu próprio - Por favor! - apontou-lhe uma das poltronas de cor pastel no meio da sala de estar, mas a mais velha negou.
- O que tenho a dizer não será a animador, Ragazza!- diz ela, comprimindo os lábios para se manter serena e centrada. - Merida... – vendo a sobrancelha negra da mais jovem curvar de imediato em inquisição, continua – Merida está voando nesse exato momento de volta ao Brasil... - quando o silêncio tornou-se abrangente, retomou com pigarrear. - Na verdade creio que já esteja pousando á esse horário! - esclarece, mirando o pequeno relógio de pulso e fazendo um pequeno calculo mental.
- Como assim? – indagou– Ela estava estável quando saímos do hotel pela tarde! – observou Kath, deitando sua arma sobre a mesa de centro e tragando o ar com mais vontade.
- Absolutamente... – A matriarca d’Angelis com um suspiro – O problema é que durante o período que ficou sob meus cuidados, ela piorou e começou a tossir sangue novamente, antes de desmaiar, por fim. Resolvi que era hora de passar com algum especialista e fazer uma bateria de exames mais tecnológicos no Brasil! – pondera verdadeiramente preocupada.
Os olhos claros acompanharam a jovem levar os dedos para o meio dos platinados rebeldes para trás, como se aquilo pudesse acalmar seus pensamentos.
- Quando liguei para que ficasse com ela, achei que soubesse o que estava acontecendo! –Kath diz, caminhando para o frigobar e apanhando o líquido com maior teor alcoólico que encontrou e com um suspiro cansado, segue. – Quando eu a vi caída ao chão, achei que... - quedou-se desviando os azuis tempestuosos da morena - Enfim... – limpou a garganta - Obrigada por cuidar dela, estarei “voando” para casa logo que amanhecer! – pontua com firmeza.
- Claro! –afirmou com um aceno e continua parada no meio da enorme sala, segurando firmemente sua bolsa ao antebraço dobrado.
Emanuella observou Diana trocar o peso do corpo entre as pernas- cobertas pela calça social branca- algumas vezes. Ela estava desconfortável.
Pelo modo que esfregava sutilmente um dedo ao outro, a jovem poderia dizer que ansiosa também.
- Vamos, Diana... – exasperou-se Kath, tomada pela impaciência - Diga-me o que tanto lhe incômoda!- sentenciou, bebericando de seu copo – deus... Isso é forte! – murmurou em uma careta desengonçada e largou o copo na bancada.
Os lábios crispados de d’Angelis tragaram uma lufada de ar, mais de o que normalmente precisaria.
- Emanuella, o que sabe sobre seu pai? – Indagou, como se não houvesse interesse de sua parte no assunto e para Katherine não poderia ser um repertório mais aleatório.
- É... Perdão!? – uma interrogação cravou a face dura, enquanto a platinada cerrou os braços sobre o peito, transparecendo seu desconforto.
- Talvez Merida tenha dito a verdade em relação á alguns contextos... – sugeriu Diana, sentindo o peso das próprias palavras recaírem sobre seus ombros - O que me faz crer que resta apenas uma pessoa que poderia revelar a peça que falta á esse quebra-cabeças de mentiras, vinganças e contradições! – esclarece ela, com os azuis presos aos tempestuosos da ex-policial.
- Está sugerindo q... – como se fosse necessário revelar a indignação estampada nos Azuis escuros, o rouco iniciou seu discurso elevando alguns poucos decibéis.
- Não!- Diana cortou-a de forma categórica. Divagou de imediato, caso sua filha estivesse lá, rolaria as avelãs em protesto á “hipocrisia” da mãe ao quebrar uma das inúmeras regras de etiquetas que fora obrigada a decorar na infância – O que estou a dizer, Castiel... – Pigarreou e voltou-se ao estado concentração – É que há alguns “fios” soltos nessa história e que precisam ser aparados, Imediatamente... – a seriedade tomou conta do ambiente e, tão rápido quanto, uma áurea negra – A vida da Capo está na mesa! – completa sem tirar as orbes dos azuis escuros.
- E lá vamos nós... – murmurou Kath arrebatada pelo choque e correu as mãos para o seu copo outra vez. Precisava de algo que entorpecesse sua mente um pouco mais – Porr*! – rosnou infeliz, ao sentir o líquido queimar o esôfago.
***
- Doutora? – a voz firme, mas pontilhada por pequenas falhas das escapadas de ar, varou o aparelho de celular, tão antigo e rústico quanto o cômodo pequeno iluminado pelas labaredas do lampião, e percorreu até os ouvidos da figura aconchegada, confortavelmente, á cadeira de balanço, assim como o cenário, igualmente obsoleta.
- Achei que esse número era restrito á “Ela”, Enrico! – os lábios rosados crisparam em desgosto, enquanto a figura permanecia com as costas voltadas ao lampião e os olhos inexpressivos, altamente curiosos e concentrados, fitavam as brasas crepitantes junto á lenha na lareira de tijolos.
-Perdonami per la sventura, ma lei ha bisogno di te (Perdoe-me pelo infortúnio, mas ela precisa de você)! – responde o rouco falho do homem.
-Aconteceu novamente? – Indagou- o, com um suspiro irrigado pelo cansaço.
- Sfortunatamente si (Infortunadamente, sim)! – Diz ele, lamentoso.
- Estou a caminho!- Exclama e finaliza a chamada, sem esperar pela resposta do interlocutor.
O murmuro solitário beijou os lábios rosados, torcidos por um pequeno sorriso, rasgando a harmonia silenciosa das saltitantes labaredas.
- è ora di andare a casa (hora de ir para casa)...
***
- Acho que deveria falar com ela! – o rouco de Katherine veio para arrancar a loira de seus devaneios, assim como os verdes correndo da pequena jovem, com a cabeça colada ao vidro em uma das poltronas mais extremas e afastada das outra do jato particular, para a mulher de quem usava os ombros delgados como travesseiro.
- Talvez ela não seja o momento apropriado para me apresentar como a tia paterna! – murmurou Muller, estreitando um pouco mais o aperto das mãos na parte interna do antebraço da esposa.
- Meu amor, ela precisa da família e é isso que você é para ela! – pondera, quando os azuis preocupados pousaram em uma Tandara, enrolada ao felpudo e quente cobertor vermelho.
- Não... – suspirou com os verdes rasos – O que eu sou para ela é a filha do crápula que matou sua mãe e vendeu-a para uma família que a trocou por alguns pesos de prata! – Completou amargurada e tratou de limpar a pequena lágrima solitária com o dorso da mão, enfiando o rosto no peito de Emanuella. – Ela nunca me aceitará como família quando souber a verdade, Kath! – sussurrou sentindo a angústia lhe travar a garganta.
- Tudo ficará bem, amoré mio... – balbuciou a mais nova, correndo as mãos leves pelos fios dourados, em acalentar silencioso.
***
**Brasil**
- A capo chegou hoje pela madrugada! – Gonzáles, com os olhos presos ao pequeno jornal, suspenso no ar por suas mãos enroupadas em uma jaqueta de couro. O inverno estava chegando com peso á grande São Paulo, tão verídico era que o vapor do hálito quente do homem, contrastava-se á brisa cortante daquela tarde.
- Creio que seja o momento ideal para darmos cabo ao plano! – o outro exclamou sentado á outra extremidade do banco de madeira, com uma das pernas flexionada ao outro joelho. Enroupava um casaco sobretudo social cinzento, com um cachecol escuro entorno do pescoço largo – Na verdade é o momento ideal! – sorriu orgulhoso, finalmente o seu plano retornava ao curso desejado, sem desviar os olhos de um pequeno balanço solitário.
-Seria... – Gonzáles suspira, enrolando o papel e colocando - o minuciosamente sobre o colo - Mas tem uma pequena variante que deveria levar em conta, Senhor Castiel! –Ponderou com as negras orbes correndo de um lado ao outra da pequena praça – A Capo já havia escolhido seu sucessor á muitos anos atrás e nos últimos meses... – estalou a língua – Bem, nos últimos meses ela apenas reafirmou essa preferência, gritando á quem quisesse ouvir que a jovem Emanuella Castiel é sua primogênita e herdeira, assim como a irmã bastarda! – notificou.
- Nem sobre meu cadáver aquela imbecil ficará no meu caminho outra vez! – rosnou, controlando sua respiração para não gritar – Eu a mataria antes disso! – Completa Vithor, torcendo o nariz em desprezo.
- Só estou avisando, Ragazzo... – alertou – Os homens á respeitam como Herdeira e sucessora da Capo, seria uma pena se seus planos fracassassem por causa dela, outra vez! – o sarcasmo parecia dançar com suas palavras.
- Nunca! – Rosnou, virando o rosto quadrado e contorcido pelo ódio para Gonzáles.
- Bom... – pigarreou, pondo-se sobre os pés e ajeitando o elegante terno pelas lápides – Estou apenas fazendo minha função de Consigliere (conselheiro)! – sorriu seco.
- O plano deverá seguir!- Repreendeu, com os olhos flamejantes cravados na figura italiana adiante – Mate-a! – rosnou decidido.
- Dida ao seu superior que assim será feito, Signore (Senhor)! – concordou com um aceno e caminhou para longe, enfiando um das mãos no bolso da calça de alfaiataria.
***
- Mamãe!!!! – O gritinho eufórico rompeu pelo Hal de entrada da mansão Castiel, fazendo as vidraças vibrarem como integrantes da sinfonia de alegria no pequeno coração saudoso.
- Oh meu deus... – A loira abriu um imenso sorriso e esticou os braços longos na direção do corpinho rechonchudo, correndo afoito para o corpo acalentador da mãe. – Como a mamãe sentiu sua falta, baby girl! – rosnou baixinho, tentando conter a explosão de calorosa em seu peito. – Como está cheiroso esse meu bebe lindo! – brincou Iara, passeando a ponta do nariz na pele alva do pescoçinho gordo da filha.
- “P-pala” m-mamãe... – soluçou entre os gritinhos e gargalhadas – “Pa-aaa-la”! – gritou depois de outra gargalhada ainda mais gostosa que a primeira.
- Veja só... – A voz da ruiva mais velha, só agora foi capitada por mãe e filha, arrancando-as momentaneamente da bolha carinhosa que as envolvia. – Essa traidorazinha acaba de me trocar na maior cara de pau! – Diz Luciana Salvatore, com falsa decepção.
- Uh... – Iara exclama, tomada por um leve rubor – Perdoe-me, senhora Castiel. Não havia visto-a ai! – retrata-se com a sogra.
- Pelos deuses, querida... – gargalhou a ruiva divertida – Imagino como deve ter sido extenuante ficar longe dessa “pestinha” adorável! – acalentou-a se aproximando da nora que mantinha a filha enroscada no peito.
- Não, vó Lucy... – Murmurou Manu, como um enorme “bico” e um vinco entre as sobrancelhas negras ralas – Não “sô” “pestalinha”, não! – reclamou emburrada, cruzando os bracinhos sobre o peito, provocando uma onda de risos humorados nas mulheres.
- É a “pestinha” da vovó sim, entendeu coisa linda! – rebateu a matriarca Castiel, distribuído beijos estalados na bochecha rosada e gorducha da pequena Emanuella.
- Ta... – outro gritinho empolgado – E-eu “sô”, v-vó! – fungou, tentando recompor o fôlego da seqüência ensurdecedora de gargalhadas alegres.
- Então, a Litlle Princess aqui... – tombou a cabeça na direção do “toco” de gente, enrolado ao seu corpo -... Comportou-se como uma mocinha, Lucy? – Iara indaga a mais velha, com um arquear das sobrancelhas claras.
- Como um verdadeiro furacão! – Exclama com leveza Luciana.
O fato do pequeno “diabo-da-tasmânia” (como a matriarca nomeara), tranqüila e docilmente recostado ao colo da loira, ter quebrado sua coleção de porcelana chinesa e proporcionado uma imensa dor de cabeça a empregada da mansão nos últimos três dias, não lha importava muito.
A verdade é que ter a neta, filha de sua amada Katherine, espalhando alegria pelos corredores gelados daquela casa lhe era demasiadamente precioso.
- Eu peço desculpas por isso, Lucy... – lamenta Muller, levando os verdes de encontro aos azuis sonolentos da filha – Às vezes gostaria que houvesse um botão de “desliga” embutido em algum lugar por aqui! – sorriu simples e satisfeita por tê-la quente contra si.
- Imagine querida... – devolveu em tom afável – É sempre um enorme prazer passar um tempinho com ela! – um sorriso amoroso pintou a face sardenta.
- Mesmo assim, eu quem devo agradecimentos, senhora Castiel, mas precisamos ir agora... – mirou o topo das madeixas negras – Temos uma surpresa para a pequena aniversariante e lamentavelmente a “bateria” dela parece estar ficando sem vida! – sorriu baixinho, sentindo a pequena ronronar em seu peito, demonstrando todo sua contrariedade sonolenta á aquelas palavras.
- Certamente querida... – caminhou com a loira pelos degraus externos, levando a mochila da pequena Angel em um dos braços. – Venham para o almoço de domingo, caso não tenha nada programado! - propôs, despedindo-se da neta com um beijo maternal.
- Claro... – agradeceu Muller grata pelo aquecedor ser acionado pelo chofer á direção – Ligarei avisando! – pontua antes da mais velha cerrar a porta traseira do Honda Civic 2020.
***
- Kath... – rolou as avelãs em órbita, com um bufar impaciente – Vai furar o chão desse jeito, mulher!? – elevou o tom, percebendo que os azuis permaneciam fora de sintonia e, pela forma tensa com que a mais velha girava aliança no dedo pálido, poderia jurar que ela se quer havia a escutado. – Dio!? – rosnou para si mesma, tomada pela frustração.
A ex-policial era capaz de enfrentar um brutamonte com mais de 2m de altura, que poderia, com uma facilidade assombrosa, parti-la no meio em um único golpe sem ao menos piscar. Nesse exato momento, entretanto, a mulher parecia tão amedrontada quanto um ladrão frente á espada da autoridade. Tremendo dos pés a cabeça, por conta de um “mini ser humano”, detentora de “assombrosos” 110, 00 cm (isso sendo demasiadamente generosa), Emanuella marchava como um animal acuado entre quatro paredes.
Melannie teve uma gana irreverente de gargalhar das caretas inquietantes pincelando á face dura da mulher, que não parou seus passos largos e ansiosos, de um canto outro da sala luxuosa dos Muller’s, um minuto se quer.
“Certo, talvez ela devesse intervir?!” – ponderou a italiana, totalmente sonsa por acompanhar a inquietude de Katherine.
- Ok! – Sentenciou d’Angelis, saltando do confortável sofá – Qual é o problema, maninha? – interpelou-a, segurando os ombros delgados da outra.
- E-eu... – tentou, mas o rouco preocupado atropelou a intenção – É que... – Suspirou cansada e com um pigarreio, desmoronou pesadamente sobre o estofado aconchegante, onde Melannie repousava antes – E se ela não se lembrar mais de mim? Sim, por que já se passou tantos meses desde que ela esteve comigo. E se ela me odiar, por todos os meses longes e se... – os azuis correram com aspereza das avelãs da italiana e se concentra em um ponto qualquer para além das vidraças monumentais do ambiente – E se ela não conseguir mais me amar, Mel? – o murmurar estava contaminado pela aflição.
- Oh, Kath... – exclamou carinhosa, enquanto se aproximava com um sorriso pequeno -“Então era isso que perturbava a maior?!”- e sentou-se adiante da platinada – Sabe, não faz o menor sentido o que está dizendo, totalmente infundado! – as orbes azuis voltaram para a italiana - Manu é sua filha, independente do tempo que estiveram distantes uma da outra, ela vai adorar ter mãe de volta! – consolou confiante de suas palavras.
- Talvez você tenha razão! – um sorriso torto cresceu nos lábios avermelhados de Castiel.
- Mas é óbvio... – rolou os olhos, estufando o peito em orgulho – Eu sempre tenho, “Mon na mour” (Meu amor)! – relaxou as costas no sofá, assistindo os ombros da outra sacudirem de cima para baixo em uma gargalhada vigorosa.
- Você, definitivamente, é filha da sua mãe! – zombou Kath, ganhando uma careta “ultrajada” de d’Angelis.
- Meu anjo... – elevou o indicador á altura da cabeça, movendo-o com afobação – Você é minha gêmea, caso tenha se esquecido! – e mais uma vez os olhos irreverentes rolaram nas orbitas. Aparentemente, o plano da mais nova fora um sucesso.
Castiel parecia mais relaxa e confiante, há julgar pela postura relaxada e risos contidos.
As gêmeas continuaram sua troca “carinhosa” de adjetivos - certamente amigáveis- até que foram interrompidas pelos ruídos no Hal de entrada.
[...]
- Mas mamãe, eu não deveria ter que tomar banho no meu “versário”! - argumenta, ao ponto que os sons de passos se aproximavam.
O cérebro da ex-policial quase derreteu quando seus ouvidos capturaram o som abafado do riso infantil, acompanhado pelo da mãe.
Era tão extasiante.
O coração passou a trabalhar com eficiência frenética. A garganta embargou e os olhos escuros ganharam vida própria em um brilho cristalino.
- É aniversário, baby girl... – a voz da loira veio em correção – E não tente me ganhar com esse “bico” adorável, Angeline Emanuella! – exclamou com falsa firmeza, ao passo que alcançava a sala de estar. Os verdes amorosos caíram sobre a figura da esposa petrificada sobre o tapete persa esticado ao meio do cômodo – Litlle Princess... – desviou a atenção para a menina, brincando distraidamente com o pingente brilhante em seu pescoço – Lembra-se da surpresa que a mamãe prometeu de aniversária? – indagou.
- Uhm... – Manu cerra o cenho, como se aquilo forçasse o cérebro recordar e levou as mãozinhas ao queixo avantajado – Ah! – exclama eufórica – “Lemblo”!- sorriu genuinamente e esperançosa pela revelação do tal “presente de aniversário”.
- Bem... – suspirou a loira, lançando um olhar acalentador para além da filha – Aqui está ele! - exclamou, sentindo o pequeno corpinho em seu colo se tornar rijo, assim que os azuis escuros da filha cruzaram-se aos azuis escuros da mãe.
Para Emanuella pareceu uma eterna tortura, mas na verdade foi apenas alguns milésimos de segundos necessários para Angeline saltar do colo de Iara e correr, sem qualquer desenvoltura, em direção a uma Castiel tomada pela emoção e a mesma estava de braços esticados para receber-la.
Diferentemente do (re) encontro agitado em recepção á loira, esse foi silencioso.
As audaciosas lágrimas e os pequenos soluços de mãe e filha eram os únicos que se atreveram a quebras o silêncio afável que as envolvia em uma bolha particular. Kath envolveu o corpo pequenino, enrolado á si com tanta força quanto era possível á uma criança. O nariz gelado correu pelas madeixas negras, como uma genitora reconhecendo a cria e logo sentiu todos os poros do corpo relaxaram sobe o efeito do cheiro infantil em seu cérebro.
- A mamãe disse que a Rainha tinha “ido” “pro” céu, “pra” proteger a “plincesinha” de olhos verdes e o “bebezinho” delas o homem mal outra vez! – murmurou a pequena, fungando no pescoço pálido.
- Eu sei, meu amor... – tentou responder a pequena, mas tudo que conseguia era apertar o pequeno corpo quente contra o seu peito.
– Senti sua falta, mamma! – sussurrou a confissão, apertando-se ainda mais contra a mãe.
- Eu também senti, Figlia (filha)...- devolveu, cerrando os olhos com força e aconchegando-a com delicadeza ao seu aperto – Não faz idéia do quanto, meu bolinho! - murmurou para a pequena ouvir e aos poucos o choro copioso, que sacudia o corpinho colado ao seu, foi cessando.
- Mamma, não volta mais “pro’ céu, não, Ta?!– pediu Manu, com a cabeça aconchegada ao peito da maior - Por que se for, mamãe e eu voltamos a “cholar” outra vez!
- Nunca mais, bolinho... – prometeu, sentindo a garganta trancar diante de pedido tão sincero e puro – Nunca mais! – sussurrou, acarinhando as madeixas negras e levantou os azuis da filha para as esmeradas rasas. Á passos vacilantes, pois seus músculos pareciam inoperantes, caminhou para a esposa escorada ao arco de entrada e com o braço livre, que só se afastou da filha para esticar-se na direção de Muller, envolve-a em um abraço caloroso, cheio de promessa e juras de amor e fidelidade á sua família – Nunca mais... – em um murmuro abafado, reafirmou, mas dessa vez para a garota, a única garota do mundo, com o rosto encalhado á curva do pescoço esguio.
- Oh, meu deus... – o fungar exagerado interrompeu o silencio e atmosfera, atraindo dois pares de azuis e um verde mel – Isso é tão lindo, gente! – exclamou Melannie, assuando o nariz em um lenço branco que Kath jamais saberia dizer de onde havia saído.
- TIA “MELECA”! – Angel em mai um de seus gritos ensurdecedores e eufóricos.
Bem, desde que a Italiana veio ao Brasil buscar a sobrinha para passar a “lua de mel” na Itália com as duas mães, recém libertas de um seqüestro, a pequena Emanuella desenvolveu uma forma peculiar de pronunciar seu “maravilhoso nome” e era tão fofo quando aqueles olhos enormes e azuis juntavam-se ao enorme bico avermelhado para recitar-lo, que Melannie foi incapaz de tentar dissuadi-la da idéia.
- Vem cá, mini Kath... – Chamou pela sobrinha, estendendo os braços compridos e a pequena não tardou em correr para ela, assim que os pezinhos tocaram o carpete – Ai meu deus, quanta fofura! – rosnou apertando o corpinho rechonchudo e distribuindo pequenas cócegas por ele.
- Vai sufocar minha filha, “tia Meleca”! – protestou Emanuella zombeteira, acompanhando a farra das mais novas com um riso satisfeito.
- Maninha, vai para p...
- d’Angelis! – uníssonas, Iara e Katherine, repreendem.
***
Katherine não havia pregado os olhos durante toda a madrugada, não que não estivesse morta de cansaço, pelo contrário, o corpo reclamava á cada mínimo movimento da menor fibra muscular e a maldita poltrona - popularmente conhecida como “cama”, pelo menos aquela noite - em que estava encolhida passava infinitamente longe de ser desconfortável, sendo extremamente honesta, era uma grande porcaria.
A dor latejante em seu crânio, não era capaz de causar uma desordem metal maior que aquela que roubou seu sono.
Os azuis escuros caíram sobre um “tatu humano”, embolado á sua jaqueta de couro negro no sofá, adjunto à parede contra a que amparava a sua poltrona de feita de “concreto”, Melannie praticamente declarou uma pequena guerra quando a irmã gêmea determinou que a menor devesse ficar no sofá maior.
“Não é justo, cabeção, você deveria ficar no maior... – bufou indignada com a proposta que soara para lá de “indecente”–Por algum motivo você é 12,5cm maior que eu, então nada mais justo que você reclamá-lo para esse seu “corpão ossudo”! - rolou as avelãs nas orbitas, como se o seu ponto de vista fosse o mais óbvio do mundo.”
Emanuella precisou ameaçar contar a Juliana como a outra roncava alto e babava ao dormir e depois de assistir as bochechas rubras da irmãs- uma das poucas vezes- e riso sem graça da morena, ela deu por encerrada a questão.
Mais alguns centímetros corridos á esquerda e os azuis alcançaram o corpo imóvel despojado sobre a cama, atado covardemente á um emaranhado de fios e sondas. Parecia que a sentença era obvia... Morte.
Os malditos médicos ainda não sabiam dizer o que se passava, sem diagnósticos ou prévia de melhoras, apenas aquele ar de piedade cravada aos mais de seis rostos que circularam pelo leito desde que elas chegaram ali e nada mais.
“E se ela morrer?” - Engoliu em seco, tragando o ar com mais voracidade.
Melannie, por mais que tentasse disfarçar, reforçando o apelido de “Putanna” – agora soava um pouco mais carinhos quando a de cabelos escuros falava – estava uma pilha de receios, afinal, bem ou mal, aquela mulher arrogante e leviana era mãe delas. Ainda na Arábia, quando Kath entrou na suíte atropelando os próprios pés, encontrou Merida ao chão e a irmão em desespero, o receio de perdê-la foi experienciado com amargor por ambas as gêmeas.
“Por que estou aqui? Eu deveria odiá-la, sim?!”
“Ela nos abandonou, ela nos ameaçou e fez-me atirar no peito da minha melhor amiga!”
Não julgar as ações de terceiros, quando as mesmas alcançam-nos é uma tarefa imensamente complicada, entretanto, não julgar as ações de alguém que, em tese, deveria ser a pessoa mais próxima a nós é quase inevitável. Mas, na ânsia de encontrarmos sentido nas atitudes do outro, partimos do ponto de origem que prega deve-se olhar o contexto para compreender o todo.
Talvez as escolhas, as memórias, experiências adquiridas nesse “mar” traiçoeiro que é o existir seja um prelúdio que anuncia quem será cada individuo, cada pessoa, e sempre haverá um denominador comum á todos... “Nunca seremos iguais!”
Não se trata de igualdade á despeito a dignidade, amor, direitos e responsabilidades, mas á semelhanças intrínsecas ao “Ser”, no que tange as peculiaridades e personalidades de cada um.
Todos têm sua própria história, as próprias razões de fazer o que faz como fez. Tudo isso por que o ser Humano, não é “Ser” universal, talvez sim como raça, mas jamais como sujeitos.
Os caminhos que trilham essa jornada pelo autoconhecimento são sinuosos e em alguns momentos haverá desencontros, o que pode tornar o outro vil, imoral, anormal aos olhos julgadores.
“A grande resposta é que não há resposta, Castiel... contente-se!” – sabotou seus devaneios, sentindo as pálpebras pesarem e a ardência nos olhos cobrarem o preço das noites de sono quase inexistente.
O limbo entre a consciência e os “braços de Morfel” parecia inexistente para a jovem Castiel, mas o “Clik” cuidadoso na porta do leito fez-la estreitar os olhos inchados e recém abertos para a figura que aproximava da confortável marca de Merida. Demorou alguns minutos, mas finalmente a consciência inundou o cérebro da ex- policial e junto a ela, uma constatação... A enfermeira havia passado no quarto á menos de meia hora e prometeu retornar apenas pela manhã.
“Merda!” – xingou-se Castiel ao registrar as mãos enrugadas correm pelo braço direito de Martinelli e encontrar o caminho para injetar-la um líquido translúcido.
- Estouro seus miolos se continuar! – a voz rouca cortou o silencioso quarto sem maiores exasperações ao ponto que Kath empunhava sua arma para a cabeleira clara, estática ao lado da cama.
Um novo suspiro sonoro, mas dessa vez veio do corpo miúdo...
- Não seria capaz de matar a mãe de sua esposa, certo, ragazza Martinelli? – o tom calmo e doce, porém firme veio como uma onda, carregando toda confusão e espanto Castiel.
***
**Pretérito**
- Tem certeza que isso será suficiente? – a mulher indaga ofegante – Ele vai matá-la no minuto em que perceber que mentiu! – completa, apressando-se ainda mais com tarefa de jogar as roupas, espalhadas pela cama, no interior de uma pequena mala escura.
- O que sugere, princesinha? – destilou em o mais puro e irreverente sarcasmo a morena de olhos avelãs, sem desviar sua atenção da movimentação fora da “espelunca” que chamavam de motel.
- Você me odeia e eu idem... - indignou-se, largando com força as peças que tinha cativa nas mãos sardentas e finas – Por que não me mata logo de uma vez e acabamos com isso? – Não que fosse suicida ou alguma coisa semelhante, mas desde que tomou ciência que aquela “dita mulher”, com nariz arrebitado e postura de “dona do mundo”, tornou-se a famigerada prostituta de estimação, dentre muitas que seu esposo infiel colecionava o desprezo por ela... Bem, digamos que não era nada forçado ou mínimo.
– Seria mais prático deixá-la morrer ao invés de ter o trabalho em matar a seu chofer e largar o carro incendiado com o corpo do “pobre jovem” em algum lugar deserto! – pontua obvia e indiferente, sem mover um músculo para dignar atenção a outra – Mas a grande questão é que... – diz a morena e a loira conseguiu captar, através do reflexo no vidro, quando cerrou a face rosada se contorceu em uma careta de desagrado -... Minha doce irmãzinha jamais me perdoaria se o fizesse! – girando sobre os calcanhares, guiou-se para a loira estancada no meio do pequeno cômodo, muito inferior ao luxo habitual que ela estava acostumada – Infelizmente, nenhuma de nós duas teve sorte no amor!- sorriu sem humor.
Era verídico, o amor havia carregado um significado controverso para a jovem de olhos avelãs, para si e para sua irmã de criação e agora, no mínimo sinal de que a mais velha havia encontrado o “amor de sua vida”, Merida estava prestes á cortá-lo pela raiz e levá-lo para longe, sem a menor chance para despedidas ou um final feliz.
“A vida era uma bela filha da Puta!” – sussurrou para si a morena, dando as costas á uma loira desolada e prestes a ceder a dor da perda que lhe queimava as orbes verdes.
- Prometa-me que jamais dirá a Diana onde estou... – rogou com a voz embargada e tremula – Não me perdoaria se algo á ferisse por minha causa!
Merida sentiu uma empatia profunda pela outra, contudo nunca admitiria isso e com um pigarrear limpou a garganta e endireitou os ombros.
- Não precisa nem pedir, doutora Lazzari! – completa seca.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 02/07/2020
Eita que revira volta da peste e tem gente ressurgindo da morte.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]