Capitulo 3
Marina ainda estava ofegante quando Estela levantou-se da cama de forma rápida, procurando por suas roupas. Antes que Marina se levantasse, Estela voltava ao quarto terminando de colocar a blusa, visivelmente perturbada.
- Olha, não precisa me levar, vou chamar um uber – falava sem olhar pra Marina.
- Mas você vai sair assim, desse jeito? Que pressa é essa? Tá fugindo do que?
- Não estou fugindo de nada, eu.. eu preciso ir. Isso não deveria nem ter acontecido!
- Nossa, mas já está arrependida? – Marina perguntava com perplexidade.
- Meu uber chegou, vou indo.. – Saiu apressadamente.
Marina continuou sentada na cama, assimilando o que acabara de acontecer. Estela estava tão entregue minutos antes, foi ela quem deu o aval para que Marina avançasse. Tinha se mostrado uma pessoa agradável e em questão de segundos tudo mudou. Fugiu dela depois que conseguiu o que queria.
- Como sou idiota!! – gritou Marina, se jogando na cama – é óbvio que ela quis mostrar que conseguiria manipular uma “adolescentezinha” fácil. É isso! Essa mulher é ridícula.
Chorou de raiva durante um tempo. Acreditava piamente que Estela tinha feito todo um teatro para que, no final das contas, fizesse Marina se sentir uma adolescente iludida. Era óbvio que não era inocente ao ponto de se iludir com apenas uma trans*, mas esperava o mínimo de consideração da outra.
Já se passavam das 22h quando se levantou ainda nua e foi tomar banho. Precisava tirar dela o cheiro do sex* gostoso que tivera. Estava com raiva e um tanto quanto decepcionada. Nunca foi de se apegar fácil ou criar expectativas, mas com Estela tudo era diferente e ela mesma não entendia o porquê de não conseguir simplesmente esquecer.
Colocou uma camisola e foi para sala, recolheu as taças e garrafas vazias. Lavou a pouca louça que tinha sob a pia, quando se deu conta de que não havia comido absolutamente nada. Tentou comer um pão de forma, mas estava enjoada. Deu apenas uma mordida e jogou fora o restante. Deitou no sofá e passava os canais da tv de forma aleatória, sem prestar atenção. Estava chateada, precisava conversar. Pegou seu celular e procurou o contato no WhatsApp iniciando a conversa:
- Ju, tá por aqui?
Imediatamente a resposta veio:
- Oi, Má! Tô sim, tudo bem?
- Tudo. Como tá a boca? Tá sem dor?
- Doendo um pouco, não consigo comer nada! Mas eu sei que é assim, tenho a melhor dentista.
- kkkk.. sei!
- O que foi, Marina? Anda, fala que eu te conheço. Ainda que seja a melhor dentista, vc não me chamaria tarde da noite pra perguntar como eu tô kkkk
Começaram ali uma longa conversa que se estendeu até 00h. Julia e Marina se conheceram no curso de inglês e, a partir de então, se tornaram amigas. Marina contou tudo para Julia, desde o dia da batida com o carro até Estela ter saído daquela forma de seu apartamento depois de terem trans*do. Júlia foi categórica ao falar que Marina deveria esquecer Estela. Citou vários motivos dentre eles que a outra poderia ser casada ou comprometida com alguém. Supôs, também, que Estela poderia ter agido sob efeito do álcool e se arrependido quando a sobriedade retornou. Quanto mais Marina tentava contra argumentar, mais Júlia a trazia para realidade. Finalizou dizendo que, independente do motivo, Marina merecia ser tratada melhor que Estela havia tratado. Se despediram com a dentista dizendo que iria seguir o conselho da amiga.
Não dormiu naquela noite. Mais uma madrugada perdida. Estava virando hábito. Enquanto o sono não vinha, Marina abriu a janela do whatsapp no contato de Estela. Ficou olhando a foto. Percebeu que não tinha o “visualizado por último”. Queria mandar uma mensagem abusada, mas desistiu. Faria como Julia aconselhou, iria esquecer Estela. Lembrou-se de seu primeiro caso com uma mulher mais velha ainda na faculdade. Estava no primeiro período quando a conheceu. Era a monitora de anatomia. Seis anos tornavam distantes uma da outra. Ana era mais madura e decidida enquanto Marina dava seus primeiros passos na vida adulta. Tiveram um caso que perdurou quatro meses. Encontravam-se nos intervalos das aulas, no carro de Ana no estacionamento da faculdade. Marina gostava da sensação de perigo. Algumas vezes se encontravam na casa da monitora. Foi em uma dessas vezes que foram surpreendidas pela volta repentina da mulher de Ana para casa. A mulher queria fazer surpresa e foi surpreendida com as duas na cama. Marina nunca mais teve contato com Ana, que mudou de campus da faculdade. Nunca recebeu uma explicação, aquele flagra foi a última vez que se viram. Sofreu amargos cinco meses por Ana. Prometeu-se que não iria repetir a dose com Estela.
Viu o dia amanhecer. Ficou na varanda de seu apartamento, sentada em uma das poltronas enrolada com uma manta vendo o nascer do sol daquela manhã. Viu o alaranjado se tornar rosa para em seguida o sol, lindo como sempre, iniciar sua subida. Suspirou fechando os olhos como quem pedia por energia para aquele sol que emitia um calor gostoso em sua pele. Adorava ver o nascer do sol. Quando mais nova, saía das baladas e fazia questão se sentar na areia da praia para esperar o majestoso dar o ar das graças.
Iniciou seu ritual da manhã, tomou banho e, enquanto colocava uma cápsula de cappuccino em sua máquina de café, foi se vestir. Colocou uma calça jeans branca, uma blusa social azul clara e sapato fechado. Penteou seus cabelos os deixando soltos. Passou uma base para esconder a noite mal dormida que se evidenciava nas leves olheiras abaixo dos olhos. Completou com um lip tint, não era adepta a batons, mas esse em particular deixava seus lábios naturalmente rosados. Apanhou os óculos escuros e foi em direção à cozinha. Tomou seu café, pegou a bolsa e saiu para o consultório.
Chegou ao seu consultório às 8h. Lourdes já estava na recepção ligando o computador. Passou com ela a agenda daquele dia. Seria um dia de bastante trabalho, tinha os horários da manhã e tarde completos, teria apenas 1h de almoço. Enquanto separava o material e organizava a sala para receber o primeiro paciente que já estava na recepção, seu celular vibrou, indicando uma notificação no whatsapp. Quando olhou, sentiu seu coração acelerar e se odiou por aquela sensação. Era uma mensagem de Estela. Abriu:
- Bom dia, Marina. Peguei o carro agora.. Bom, obrigada por ontem e me desculpe por qualquer coisa.
- Essa mulher só pode está de brincadeira comigo! – resmungou. Se ela pensa que vou ficar de papo, está enganada. – Fechou o aplicativo, colocou seu celular na bolsa e iniciou seu trabalho.
Apesar de está totalmente com raiva, se concentrou no trabalho esquecendo completamente de Estela. Terminou os pacientes da manhã e foi almoçar, avisando Lourdes que retornaria rápido. Não tocou mais em seu celular, estava com o horário apertado e precisava almoçar. Foi a pé mesmo para um restaurante que sempre ia quando não almoçava em casa ou na casa da mãe. Ficava a uma quadra do seu consultório. Enquanto almoçava pensava nos conselhos de Julia. A amiga estava certa, precisava ignorar. Tinha sido boba ao se envolver com Estela. Queria o quê? A mulher tinha mostrado seu lado rude na primeira vez que se viram. Finalizou o almoço e retornou ao consultório.
- Seu celular não parou de tocar – Informou Lourdes.
- Acabei esquecendo ele aqui – Olhou para a recepção e percebeu que já havia paciente aguardando - Pode mandar o paciente entrar.
Da mesma forma com que fizera na manhã se desligou de tudo e se concentrou apenas no trabalho. Atendeu 10 pacientes naquela tarde, finalizando o último às 19h. Tinha liberado Lourdes, sabia que a senhora morava longe. Sempre que ficava mais tarde a liberava. Liberou o paciente e fechou o consultório. Ao entrar no carro, pegou seu celular. Várias ligações perdidas e uma infinidade de mensagens não lidas no whatsapp. Havia três ligações da mãe, uma de Júlia e cinco de Estela. Revirou os olhos se perguntando o que aquela mulher queria com ela. Abriu o Whatsapp e dentre todas as mensagens que tinha, abriu apenas a que interessava: Estela.
- Marina, me desculpe por ontem. Sei que está chateada. Não queria que vc tivesse uma impressão errada de mim. Me retorna para que possamos conversar?
Visualizou e reparou que Estela estava online. Decidiu não responder naquela hora, precisava ir pra casa. Bloqueou a tela do celular e deu partida com o carro.
Ao chegar em casa, foi tirando o sapato, jogando a bolsa e jaleco em cima do sofá e pegando o celular. Abriu a janela de Estela e digitou...
“Estava ocupada, trabalhei o dia todo. Não se preocupe porque não estou chateada. Estela, na boa, foi só uma trans*, ok? Não espero nada de vc. Fica de boa. Beijos.”
Tomou banho e deitou. O cansaço acumulado a venceu. Adormeceu rapidamente. Acordou pela manhã. Olhou para o relógio e já marcava 7h. Estava atrasada. Levantou-se rapidamente. Tomou banho de forma apressada. Vestiu-se com a primeira roupa que pegou no armário. Não dava tempo para fazer uma maquiagem, colocou apenas seus óculos escuros e saiu.
Ao chegar no consultório, passou apressadamente pela recepção, ainda com os óculos escuros, sem olhar para os pacientes que a esperavam. Apenas falou enquanto passava
- Lourdes, me dê 2 minutos e já pode liberar o primeiro paciente.
Colocou seu jaleco enquanto Lourdes entrava
- Sua primeira paciente é uma criança de seis anos. A mãe trouxe porque o dente não caiu e está nascendo outro.
- Lourdes perdi a hora, ela estava esperando muito tempo? – perguntou apreensiva. Detestava se atrasar no trabalho.
- Não, ela estava marcada para as 8h. São 08h15minh agora. – sorriu – vou mandar a mãe entrar
Enquanto Marina tirava os óculos escuros e se paramentava, viu Estela entrar no seu consultório de mãos dadas a uma menina linda, cabelos cacheados com um arco em laço vermelho enfeitando-o. Olhos verdes e um sorriso acanhado.
- Oi – Estela disse um tanto quanto sem graça – trouxe essa mocinha para acabar com o problema do dente que não cai.
Marina ficou imóvel, olhando para a mulher a sua frente a qual tinha jurado que não iria mais querer nenhum tipo de contato. Bastou olhar para aquele par de olhos convidativos para esquecer todos os conselhos da amiga.
- Oi princesa, como você se chama? – perguntou Marina tentando esconder a surpresa em ver Estela ali com a filha.
- Elisa - a menina falou tentando esconder o rosto nas pernas da mãe.
- Que lindo nome. Você é muito linda! Vamos sentar aqui pra tia dar uma olhada nos seus dentinhos?
- Mas vai doer? – Elisa perguntou desconfiada.
- Não vai não. Vamos combinar que se você sentir dor é só me avisar que eu paro tudo bem?
Ainda desconfiada, Elisa deitou na cadeira e concordou. Marina não se dirigiu à Estela, se concentrando apenas em ganhar a confiança e simpatia da criança que, já de cara, se encantou. Antes de iniciar a avaliação Marina, assim como fazia com todas as crianças, explicou à Elisa que iria olhar o dente que estava mole, mostrou a ela os instrumentos que iria usar e que não precisava ter medo. E somente quando Elisa disse que ela podia começar foi que iniciou.
- Elisa você tem um dentinho que não caiu ainda e o dentinho novo, que é mais forte e bonito, já começou a nascer por baixo desse mole. A Tia vai ajudar esse dente que está mole a sair para o novo crescer, tá bem? – Marina conversava enquanto avaliava a dentição de Elisa – Então eu vou colocar essa pastinha aqui, de sabor de morango, na sua gengiva. Você gosta de morango? – Elisa balançou a cabeça que sim.
Afastou-se e foi buscar o anestésico. Passou no local enquanto conversava com a criança ganhando tempo.
- Olha só o que temos aqui! O dente teimoso que não queria cair – mostrou o dente na gaze para Elisa.
- Nem doeu! Viu mamãe, eu não senti nada – falava a criança aliviada.
- Mas claro que não doeu, eu prometi que não iria doer. E sabe de uma coisa? Você foi muito corajosa e merece um brinde – sorriu – E pode deixar Estela – pela primeira vez se dirigiu a mulher que atentamente observava todo o procedimento e entrosamento das duas – não é pirulito ou doces.
Levantou-se e buscou no armário uma sacola plástica preta. Retornou onde estava Elisa e disse
- Bom, aqui tem livro de colorir com lápis de cor, tem jogo de quebra cabeças, jogo da memória e massinha. Qual você quer?
- O livro de colorir!
- Bom, aqui está! Parabéns por ter sido corajosa viu! Adorei conhecer você, princesa.
Sem que Marina esperasse, Elisa a abraçou carinhosamente.
- Obrigada, tia. Você foi muito legal comigo.
Antes que saíssem da sala, Estela que até aquele momento apenas observava, começou sua tentativa em se aproximar de Marina
- Elisa, o que você acha da Tia Marina jantar conosco hoje? – sugeriu com um sorriso tentador.
Antes que Elisa respondesse, Marina se adiantou.
- Eu adoraria, mas a tia trabalha hoje o dia todo e vai está cansada a noite.
Arrependeu-se em recusar no momento em que olhou Elisa baixar os olhos numa demonstração de tristeza. Ignorando todas as suas defesas disse:
- Mas de qualquer forma vou precisar jantar... então eu aceito – não tinha mais volta, mas ficou feliz ao ver o largo sorriso e os olhinhos brilhando de Elisa diante de sua aceitação.
- Eu te passo o endereço pelo whatsapp. – Estela falava com expectativa – E obrigada por resolver o problema dessa mocinha.
Despediram-se com um “tchauzinho” de longe enquanto Elisa a abraçou novamente. Saíram e Marina ficou apreensiva. Mil perguntas se passavam em sua mente
Fim do capítulo
Oi oi, amores!!
Como vocês estão??
O que estão achando da história?
Ótima semana para todos.
beijinhos.
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Rosangela451
Em: 30/08/2020
Scanagem usar criança rsrs
Marina ja caiu
Jeito gostosinho de escrever
Abraços
Hanna Quexua
Em: 11/07/2020
Estou maratonando esse romance. rsrsrs Parabéns por sua desenvoltura na escrita, realmente muito envolvente.
Resposta do autor:
Oi oiee!!
Ahh, não sabe a alegria que sinto quando leio um comentário desses!!!
Hoje tem mais !!!
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bicaf
Em: 29/06/2020
Têm coisa aí. Cá acho que a Estela passou por alguma situação no passado e tá com medo de envolvimento. Vamos ver no próximo capítulo, já estou ansiosa. 😘
Resposta do autor:
Oi oiiie!
Será??? Estela cheia dos mistérios rsrsrs
Hoje tem mais capítulo e recheado de novos fatos :)
Beijooos e até mais tarde!
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preguicella
Em: 29/06/2020
Ixi... Estela fez feio em sair correndo, talvez pq tinha que ir ficar com Elisa. Podia ter explicada, vacilo em sair correndo, hein.
AÃ foi ignorada e resolveu jogar baixo, levou a doce Elisa para derreter o gelo.
Quero ver Marina resistir ao charme duplo. hahaha
Bjãoooo
Resposta do autor:
Oioieeee!!!!
Será que existe algum ser humano na face da terra que não resista aos olhinhos pidão de uma criança? kkkkk
Estela faz a besteira e depois corre atrás do prejuízo.. vamos aguardar até quando...
Hoje tem mais!!!
beijãoooo =)
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