Caterine

Demorei pra pegar no sono, aquela noite maluca ficava martelando minha cabeça, nunca fui tão impulsiva. Como eu fiz isso com uma pessoa?! Enfiei uma arma – sem balas, mas é uma arma – na cabeça de uma pessoa, praticamente a fiz minha refém. Quando eu perdi o senso do perigo  e do ridículo ?!  Peguei no sono pensando naqueles olhos tristes, naquele medo que eu causei...me sentia um zero a esquerda, a pior pessoa do mundo.

O celular tocou as 7 da manhã, meu primeiro compromisso era as 9, teríamos um longo dia. Estavamos fechando contrato para segurança de um senador e uma cantora internacional que faria turnê no país, pelo jeito o dia seria corrido e exaustivo, as imposições feitas pelos clientes  eram na verdade uma lista e essas burocracias eram um porre. Ahhhh o dia realmente seria longo.

Cheguei na empresa logo depois das 8, queria adiantar as documentações , fichas e perfil dos agentes que iriam fazer parte do treinamento. Natasha iria se atrasar pois iria a uma reunião da escola dos filhos.

Enquanto estou analisando as fichas ouço minha portar abrir e vejo Aline sorridente entrando .

- Bom jour chefinha

- Bom dia Aline, desaprendeu a bater na porta é ?  - Perguntei com um sorriso sarcástico.

Ela responde gargalhando e sentando no canto da mesa.

 - Já passamos dessa fase chefinha.

Não resisto e começo a rir junto . Aline é uma das melhores pessoas que conheço , trabalha comigo a 5 anos  e se tornou uma grande amiga.

 - Chefinha tem uma deusa grega querendo falar com você . O nome dela é Megan. Disse que você pediu pra ela vir, posso pedir pra ela entrar?

Meu sorriso se desfez na hora, não conseguia acreditar que ela estava mesmo ali  , e agora como eu deveria agira?! Putz a Natasha deveria estar aqui pra me orientar , ou pra eu me esconder atrás dela. Esse dia vai ser estranho !!!

Megan

Estava esperando ser atendida a 15 minutos, ainda me perguntava o que eu estava fazendo alí. Mas toda vez a imagem do meu filho vinha a cabeça me fazendo ficar firme.

Quando Aline disse que eu poderia entrar, minhas pernas bambearam , a segui até uma sala no final do corredor onde o nome Caterine Velasquez estava estampado na porta. Senti um frio na barriga, mas era tarde demais eu já estava ali . Quando entrei lá estava ela, sentada sobre sua cadeira de couro olhando fixamente para o computador.

- Bom dia Senhora Caterina.  – Eu disse com a voz meio tímida, não sabia o que esperar daquela mulher.

- Bom dia senhorita Megan, sente-se por favor  - Ela respondeu com a voz firme e fria. Dei graças a deus por ela ter aquela postura profissional , aquilo me acalmou, pois meu medo era dela começar falando da noite anterior.

Caterina pegou meu currículo nas mãos e começou a analisa-lo com calma, ela estava concentrada e fazia algumas anotações , pude olha-la de perto e como era linda... morena clara, cabelos ondulados a baixo dos ombros, olhos castanhos , olhar firme , um perfume que envolvia o ambiente e uma boca pequena e linda.

Quando ela levantou os olhos para mim, me flagrou olhando sua boca. Eu baixei a cabeça imediatamente e fiquei vermelha. Não sabia como agir com aquele “flagra”.

- Senhorita Megan, você tem um currículo muito bom. Você se encaixa no perfil que estamos precisando. A vaga é de assistente da presidência , que seria eu e minha sócia Natasha. Você aguar um minuto que eu vou pegar uma cópia do contrato, se for do seu agrado ficaremos felizes em termos você como nossa funcionária.

Ela saiu da sala as pressas, me deixando sem fala e sem reação.

Caterine

Eu estava fazendo o máximo para parecer profissional , mas dentro de mim eu mal conseguia me concentrar. Eu realmente pensei que nunca mais iria ver aquela moça, e naquele instante ela estava ali ao meu lado , me olhando com certa desconfiança, meu coração estava agitado e eu não sabia o que fazer.

Agradeci pelo currículo e disse que iria no RH pegar uma copia do contrato, mentira..eu queria mesmo era fugir daquela sala, eu ainda estava envergonhada pelo dia anterior.

Fui até Aline no Rh, pedi para fazer algumas alterações no contrato, como adicionar um plano de saúde mais amplo e flexibilização nos horários de trabalho. Aline fez uma cara de safada e desconfiada, expliquei a situação de Megan. É claro que não falei do assalto nem nada da noite anterior . Mas ela se comoveu com a historia e prometeu ajudar.

Voltei para a sala e vesti minha armadura de profissional séria , mas sorri ao ver Megan fazendo uma chamada de vídeo com o filho, que aparentemente estava num hospital . Quando ela me viu rapidamente desligou o celular eví lagrimas em seus olhos.

Automaticamente me agachei ao lado dela. Segurei em seu ombro e perguntei:

 - Hey, o que aconteceu ? Porque está chorando ?

Ela de surpresa se agarrou em mim chorando ainda mais, me abraçando com muita força, como se sua vida dependesse daquele abraço.

Esperei ela se acalmar , nos sentamos em um sofá no canto do escritório e a ouvi desabafar .

 - O Bem está no hospital , hoje ele fez um exame e os rins dele estão cada vez mais fracos. Se continuar assim a única saída será um transplante . Eu não posso perder meu filho.

E voltou a chorar abraçada em mim. Senti uma vontade imensa de chorar também , a abracei beijando o topo de sua cabeça dizendo.

- Calma Megan, vai ficar tudo bem! Pega sua bolsa, eu vou te levar ao hospital.. Seu lugar nesse momento é lá acalmando seu pequeno guerreiro.

Ela levantou a cabeça como se estivesse surpresa e confusa com minhas palavras, apenas concordou com um gesto e se levantou comigo. Levei a ate o banheiro para se recompor...e fomos juntas ao hospital.

Fim do capítulo