Florença por lorenamezza
Capitulo 21 SEM RUMO
Marina saiu de lá desnorteada, teria de voltar ao trabalho,
mas ligou e disse que não se sentia bem, que não poderia voltar
à tarde. Andou sem direção durante algum tempo, depois
rumou para o Palazzo Pitti, deitou-se no gramado em frente ao
esplendoroso palácio, chorou um pouco e pensou no que havia vivido com Lorena, em como fora inocente ao pensar em
terminar com Giane e no quanto havia sido egoísta e mentirosa
com ele. Até que um guarda veio e a tirou de lá. Foi embora
muito triste, pois amava verdadeiramente Lorena, mas iria dar
o assunto por encerrado, Giane não merecia aquilo.
Logo que chegou em casa, seu pai, que ainda não agia normalmente
com ela, percebeu sua tristeza:
— O que aconteceu, minha filha? Está tudo bem?
Marina não se conteve em esconder as lágrimas e se deitou
no colo do pai:
— Nada, pai, eu sou uma besta mesmo, acredito em quem
não devo.
— Tem a ver com Giane? Ele lhe fez algo?
— Ele não fez nada pai, foi algo com uma amiga, mas não
quero falar disso agora. Logo tudo vai melhorar — levantou-se
e foi para o seu quarto.
Gustavo percebeu que sua investida contra Lorena surtira
efeito, a tal amiga que a filha mencionara era a mulher que a
estava tirando do bom caminho. Mas, agora, tudo voltaria ao
normal, pensou ele.
Os dias passavam devagar para Lorena, que tentava, em vão,
esquecer Marina. Cada centavo que entrava, juntava para terminar
de pagar a dívida e dar um fim no vínculo que mantinha
com Giane, faltava pouco para acabar, se vendesse seu carro,
que era um instrumento de trabalho, quitava tudo. Nesse
caso, teria de pensar se valeria à pena. Por enquanto, não queria
resolver nada, precisava esquecer Marina.
Na sexta feira, como combinado, Giane apareceu para conversarem.
Haviam combinado de se encontrarem fora de casa,
para que os pais de Marina não o vissem:
— Oi Marina, tudo bem? Como você não me ligou a semana
inteira, imagino que só vim aqui para me despedir.
— Oi, Giane, desculpe, eu precisava ficar sozinha.
— E pensou sobre nós? Eu já não sou mais criança, não
quero ficar nessa situação, ou estamos juntos ou cada um segue
seu caminho. Eu te amo e queria continuar com você, porém
acho que estava sozinho neste sentimento.
Marina estava arrasada, mas decidiu dar mais uma chance
para ele, sentia-se culpada por tudo o que lhe fizera:
— Eu me apaixonei por outra pessoa, Giane, eu não acho
certo continuarmos sem você saber disso.
— Como assim?! Vocês tiveram alguma coisa?
Marina sequer respondeu, apenas baixou a cabeça, como
quem já tivesse respondido.
— Quem é? É do seu curso? — perguntou estarrecido.
— Não importa, já acabou. Sinto muito por tudo — arrasada,
foi logo tirando a aliança de noivado do dedo —, você merece
alguém que te ame da mesma forma que você me ama
hoje, eu não correspondo do mesmo modo. Sinto muito.
— Não sei o que dizer, Marina, obrigado pela sinceridade
tardia, mas você jogou fora tudo o que criamos, tudo o que eu
sentia por você. Que você encontre seu caminho.
Ela chorou e ele saiu tentando esconder a decepção. Não
houve briga. Com um relacionamento desgastado, um noivado forçado e uma traição, o caminho era somente o fim. Assim,
ele partiu com o orgulho ferido, desolado.
Ao voltar para a casa, Marina tentou esconder as lágrimas
para não preocupar sua mãe. Porém, a mesma e o marido perceberam
que havia algo estranho com a filha. Gustavo pensou
se teria a ver com Lorena, mas ainda era cedo para falar. Preferiu
esperar os acontecimentos.
— Minha filha, você está bem? — perguntou Sophia,
preocupada.
— Estou sim, não é nada, apenas estresse, estou com a cabeça
cheia por causa do trabalho e das aulas. Já vou me deitar —
beijando a mãe.
— Já? É cedo, não vai comer nada? Olhe, logo o seu noivo
chega e você se cura nos seus braços!
Marina deu de ombros e foi para o seu quarto. Sua mãe estranhou
aquela atitude, sabia que havia algo de errado entre
ela e Giane. Seu pai não falou nada, apenas as observava. Ele estava
preocupado pela tristeza da filha, mas aliviado de pensar
que Lorena pudesse estar fora de sua vida.
Marina estava em seu refúgio, sentada em um canto do
quarto, chorou pensando em tudo o que fizera a Giane. Talvez,
nesses cinco anos, ele a tivesse traído também, afinal, morando
fora e sempre ocupado, era bem possível que isso tivesse
acontecido. Mas nunca soube de nada e trair não fazia parte
dela, sofria por isso. O que a deixava mais triste era Lorena,
como fora burra de pensar que fosse verdadeiro o que havia
entre elas, pensava que Lorena deveria estar rindo de tamanha inocência. Ela entregara seu coração e Lorena se desfizera dele.
Marina estava abalada. Dormir, neste dia, nem pensar.
Lá embaixo, sua mãe fazia planos para o casamento, imaginava
a filha entrando na igreja com o mesmo vestido que usara
em sua boda. E com Giane, homem que considerava maravilhoso.
Durante algum tempo, Marina conseguiu enganar a família
quanto ao rompimento, por vezes, dizia-lhes que Giane não viria
porque estava trabalhando, em outras, viajava para a casa de amigas,
dizendo estar com ele. Porém, sua tristeza preocupava a todos.
Depois de Lorena, ela não saíra com mais ninguém, preferiu,
desta vez, ficar só consigo mesma. Até porque, homem, ela
sabia que não queria mais e ainda achava cedo para estar com
outra mulher.
O tempo foi passando e Marina foi melhorando, seu pai já
falava melhor com ela, mas nunca mencionou o ocorrido. Ele
via que a filha estava triste, mas, mesmo assim, não lhe contou
a verdade. Isso lhe corroía o coração.
Depois de um mês mentindo para a família e com sua mãe
cobrando a presença de Giane para falar do noivado, Marina
não se conteve. Estava sentada na sala assistindo TV, quando
sua mãe a procurou para falar novamente sobre o assunto:
— Marina, olhe aqui, cadê Giane? Não o vejo mais. Já marcaram
a data do casamento? — estava nervosa.
Perante toda a família, ela se abriu:
— Não tem mais noivado, não tem mais Giane, nós terminamos.
Sinto muito, mãe, sei que era seu sonho que eu me casasse
com ele. Mas eu não o amava.
Todos ficaram alvoroçados, fazendo perguntas ao mesmo
tempo, sem nem querer saber de Marina.
— Mas por quê? O que tem dessa vez? Ele não é bonito o
suficiente? Rico o suficiente? Não te trata bem?
— Não, apenas não o amo o suficiente para casar — começou
a chorar. — Vocês não me notaram nessas últimas semanas?
Que eu ando triste, abatida... Vocês só querem saber do casamento,
mas e de mim, querem saber?
Neste momento, o pai, prevendo o que poderia vir pela
frente, tentou intervir:
— Marina, minha filha, abaixe a voz para falar com sua
mãe, cuidado!
— Como assim, filha? O que você quer dizer? — perguntou
a mãe aflita.
— Eu terminei com ele e com tantos outros, porque descobri
que o problema não eram eles, e sim eu. Sinto muito, mãe,
mas não aguento mais mentir, isso está acabando comigo. Eu
não gosto de homem, eu sou gay!
Sua mãe se sentou e começou a chorar, proferindo palavras
em italiano que quase ninguém entendeu.
— Marina, o que é isso, você gosta de mulher? Olha o que
você está fazendo com sua mãe — disse a tia, enquanto abanava
Sophia.
Seu pai se sentou e levou as mãos à cabeça, não acreditava
que sua filha tivesse coragem:
— O que você está fazendo? Está acabando com nossa
família!
— O que eu estou fazendo?! Mãe, sei que é difícil para você
entender, mas eu estou sofrendo, porque ia entrar em um casamento
que eu não queria, só para te fazer feliz, desculpe, eu
não suportei — chorava aos prantos —, mas podem ficar tranquilos,
eu estou sozinha, pois a pessoa que eu amava e que eu
pensava que me amava também, não quer saber de mim. Pois
então, podem ficar felizes, porque agora eu não sou feliz.
A casa ficou um alvoroço, seu pai não disse uma palavra sequer,
não contou que já sabia nem que havia conversado com
Lorena. Sophia foi se acalmando, mas não conseguia entender
como uma mulher larga um homem tão bom por outra
mulher.
Fim do capítulo
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