Florença por lorenamezza
Capitulo 20 MENTIRAS
A noite foi longa. Acordou com olheiras,
sem ânimo para nada, a vontade que tinha era só de ficar deitada,
mas não era possível, a responsabilidade a chamava.
Após fazer seu ritual matutino, desligou o telefone, não
queria falar com ninguém, nem com Marina, precisava relaxar
e tomar a melhor decisão.
Marina, por sua vez, acordou cedo com seu pai batendo
à porta:
— Bom dia, minha filha, podemos conversar? — sentou-se
na beira de sua cama.
— Bom dia, pai, o que houve? Foi a mamãe, ela está bem?
— Está bem sim. Olhe, quero lhe dizer que só quero que
você seja feliz, sei que seu relacionamento com Giane não
anda bem, tenho visto o modo com que você o trata, mas relacionamento
é assim mesmo, tem dias difíceis. Mas você vai ver,
quando se casar, tudo vai melhorar, vocês estão apenas passando
por uma fase. Não se engane, ele é o melhor caminho.
— Por que isso agora, pai, logo cedo? Enganar-me com o
quê? — estranhava a atitude do pai, ele era frio geralmente.
— Nada, minha filha, porque naquele dia, você disse que
não sabia se queria se casar com ele. Achei que precisava de
uns conselhos — sorriu de mansinho —, você sabe o quanto o
adoramos. Sua mãe, então, acho que enfartaria se você não se
casasse com ele — disse, beijando-lhe a fronte.
— Tá bom, pai, obrigada.
Marina ficou pensativa, será que seu pai havia descoberto
algo ou só estava preocupado? Não gostou. Tomou seu café
sem sequer imaginar o que o pai já havia feito.
Lorena ligou para Francesca para se aconselhar. Combinaram
na cafeteria onde ela e Marina haviam se encontrado pela
primeira vez:
— Francesca, não sei o que fazer — disse desconsolada —,
é a Marina.
— O que ela fez? Eu disse que não confiava nela!
— Ela, nada, aliás, essa semana ela ia terminar o noivado,
mas o seu pai nos viu esses dias na loja.
— Putz, Lolò, como assim?! Que foda!
— Ela estava na loja e me deu um beijo na saída, ele estava
passando e viu tudo. Ela nem sabe, ele não lhe contou.
— Então, qual é o problema, Lolò?
— Ele me encontrou e disse que a mãe dela está doente,
mas que ninguém sabe. E se ela souber de nós, pode até morrer.
Disse ainda que Marina não conseguiria viver com essa
culpa. Estou arrasada, não sei o que fazer — balançou a cabeça
negativamente.
— Olhe, eu falei que isso não iria dar certo, mas se vocês se
gostam tanto, não dá para viver à surdina? — propôs Francesca.
— Essas coisas não dão certo, ela teria de viver inventando
mentiras para a família, nós não teríamos uma vida normal,
tudo seria escondido. Eu lutei tanto para ser o que eu sou, para
poder andar de cabeça erguida, não sei se daria conta de tudo
isso novamente. E se o pai, assim que ela terminar com Giane,
contar para a mãe e a mulher morrer mesmo? Você lembra o
que eu sofri quando minha mãe adoeceu depois que soube de
mim, não quero isso para a Marina.
— Eu lembro, foi difícil para vocês duas. Nossa, estou triste
por você e nem sei o que dizer, a resposta parece óbvia, se vocês
se amam, fiquem juntas e enfrentem, mas sei também que
a realidade não é assim. Sinto muito, amiga.
— Eu nem tive coragem de atender o telefonema de Marina,
estou evitando para ver o que faço, ela deve estar estranhando.
Lorena sabia que a decisão mais acertada seria o término
com Marina, mas faltava-lhe coragem. Bebeu seu café, parecia
ser o café mais amargo de sua vida, saiu de lá com a cara
mais triste do que quando entrara. Foi trabalhar desanimada,
pensando que não conseguiria fazer aquilo cara a cara e pensou
em mandar uma mensagem para Marina na hora do almoço.
Porém, antes mesmo da manhã acabar, Marina, preocupada
por não receber notícias suas, passou na loja para juntas
irem almoçar.
Lorena, ao vê-la entrando, arregalou os olhos e, ao invés de
abrir aquele sorriso habitual, apenas sorriu de canto de boca e baixou a cabeça. Marina percebeu imediatamente e esperou
até estarem a sós na loja:
— O que está acontecendo, Lorena? Você não respondeu as
minhas mensagens e, quando me viu, agiu estranha — passou
as mãos pelos cabelos de Lorena, em um gesto de ternura.
— Não posso fazer isso, não dá — Lorena não olhava para
Marina —, eu pensei que pudesse, mas me enganei.
— Não pode o quê, Lorena? Do que você está falando?
— Acho que fomos depressa demais, não podemos continuar.
Sinto muito, mas isso tem que acabar! — e encarou Marina,
tentando fazê-la acreditar que não sentia mais nada por ela.
— Como assim?! Se for por causa do meu noivado, eu já falei,
vou terminar com ele e logo contarei à minha família, seremos
só nós duas — desesperou-se.
— Não, não é por causa dele, é por nós, eu estava enganada
quanto aos meus sentimentos por você — Lorena se segurou
para não chorar, mas seus olhos marejados a entregavam.
— Você não é assim, Lorena, estou vendo nos seus olhos, o
que está acontecendo?
Lorena, tentando ser mais convincente, foi dura em suas
palavras:
— Acho que confundi amor com sex*. Por favor, entenda,
acabou.
— Então, quer dizer que tudo o que houve entre nós era
mentira? Você mentiu o tempo todo? Eu... Eu ia mudar a minha
vida por você, sua... Sua egoísta! Você se aproveitou do
que eu sentia por você e pensou: “deve ser legal ficar com uma mulher que nunca ficou com outra, só para confundir a cabeça
dela”. Não acredito, Lorena! —estava desconsolada.
— Sinto muito, Marina. Agora, gostaria que você fosse embora,
por favor, que eu preciso sair.
— Sabe, Lorena, por isso é que você está sozinha até hoje,
você mente, usa as pessoas, merece mesmo todo o sofrimento
por que já passou, agora entendo. Esqueça que um dia você me
conheceu, porque pode ter certeza de que eu vou te esquecer
— e saiu da loja chorando copiosamente.
Anna voltava do almoço e notou o desconforto quando viu
Marina saindo e Lorena chorando. Não era uma mulher amorosa,
mas tentava ajudar no que podia:
— Dona Lorena, fique lá dentro, que eu cuido de tudo aqui.
Lorena assentiu e foi sentar-se sozinha no quartinho de estoque.
Sentiu um buraco se abrindo em seu estômago, pensava
no quanto havia magoado Marina e que a mesma, se algum
dia soubesse da verdade, nunca a perdoaria. As palavras
de Marina perfuraram seu coração como uma faca, lembrou-se
de todas as vezes que fora magoada, quando lhe diziam que a
amavam e, logo depois, a decepcionavam. Pensou também em
como seria sua vida sem Marina e no que ela pudesse estar sentindo.
Pediu a Anna que fechasse a loja para ela, seu expediente
naquele dia havia acabado.
Fim do capítulo
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