Logo cedo, Lorena Pivotte acorda para trabalhar, alonga-

se antes de sair da cama, coloca o café na cafeteira

enquanto se arruma. Como representante comercial,

gosta de se produzir, tanto para se sentir bem, quanto para chamar

a atenção dos compradores e realizar uma boa venda.

Na manhã de hoje, escolheu uma calça social preta, camisete

branco e echarpe de seda florida, combinando com seu escarpim

também florido, estava, como sempre, elegante. Tudo

bem alinhado, adorava sentir-se poderosa. Na verdade, escondia

a insegurança de não se achar tão bonita, media 1,65 m,

cabelos castanhos ligeiramente encaracolados até os ombros,

olhos também castanhos, seu corpo, apesar de não ser malhado,

estava bem cuidado para seus 36 anos.

A cafeteira apitou, tomou seu desjejum preferido, café preto

com croissant. Escovou os dentes, arrumou os cabelos e saiu

para mais um longo dia de trabalho, coisa que ela adorava era

trabalhar. Neste dia, iria até a cidade vizinha, Siena, para encontrar um novo empresário a quem apresentaria seus produtos.

Ela já produzia pequenas quantidades de geleia, mas

queria ir além, já vendia suas compotas em mercados menores,

agora, queria vender no seu próprio estabelecimento. Para

que isso acontecesse, precisaria de um pouco mais de dinheiro

para acelerar a reforma de um ponto comercial que já havia

alugado.

Marcaram de se encontrar em uma das vielas que dava bem

de frente para a basílica San Domenico, em um pequeno café,

famoso pelos seus deliciosos croissants. Aquelas ruas de pedras

com comércios simples de portas enormes davam um ar de

calmaria, apesar de toda a agitação que era Siena.

Lorena chegou um pouco mais cedo do que a hora combinada

e seu investidor, Gianlucca Ferrazzo, no horário. Ele

tinha 38 anos, 1,80 m, típico italiano com traços marcantes,

expressão forte. Trajava um terno cinza risca de giz, cinto e sapatos

pretos bem engraxados, cabelos bem cortados, era um

homem muito bonito, difícil não percebê-lo onde quer que

fosse. Trouxera consigo uma loira de cabelos lisos até o meio

das costas, mais ou menos 1,70 m, olhos incrivelmente verdes,

pele clara, sorriso doce, estava usando um short de cetim branco,

uma camisa azul também de cetim, sandálias brancas. Parecia

ter uns 22 anos. Era estonteante, Lorena não conseguiu

não notá-la.

— Oi, bom dia, prazer, eu sou Lorena.

— Você é a dona da bela voz ao telefone? — brincou Gianlucca.

— Prazer, essa é minha namorada, Marina Mezza.

Prazer, Marina, e obrigada pelo elogio, Gianlucca —

olhou para ele, que logo a interrompeu:

— Pode me chamar de Giane.

— Tá bom, Giane — e sorriu. — Eu vou abrir um pequeno

negócio, uma loja de geleias que eu mesma produzo. Aprendi

a fazê-las com meus avós e, depois, aperfeiçoei com alguns fazendeiros

da Toscana que conheci enquanto fazia minhas vendas.

Penso que já está na hora de eu ter o meu próprio negócio.

Na verdade, eu preciso de pouco dinheiro, até venderia meu

carro para ajudar a obter a quantia, porém preciso dele para

carregar minhas coisas e não atrasar o serviço. Não quero me

envolver com banco, lá os juros são enormes, por isso seu empréstimo

viria bem a calhar.

— Lorena, eu realmente não cobro juros altos, o meu propósito

é ajudar, porém sou um homem de negócios, não um

amigo. O meu contrato funciona da seguinte forma: se você

atrasar mais de vinte dias do pagamento, fica devendo tudo o

que já pagou. Trabalho com segurança. Você me vendeu bem

seu peixe, tenho certeza de que não haverá problemas quanto

ao contrato. Eu vou te ajudar.

— Obrigada, Giane, eu amo o que faço e amo trabalhar,

não haverá problemas mesmo. Onde assino? — sorriu.

Giane pegou o contrato na bolsa, deu para Lorena assinar:

— Segunda-feira, passamos no cartório e reconhecemos

firma.

— Tudo bem! — Lorena estava eufórica.

Depois de tudo acertado, eles conversaram por um tempo.

Lorena mostrou as fotos de como ficaria sua loja. Enquanto isso, Marina só os observava, não falou uma palavra sequer. Via

as fotos e, ao mesmo tempo, olhava firme para Lorena, prestava

atenção em todos os movimentos e gestos que ela fazia. Lorena

percebeu e ficou desconcertada ao ser medida, aquela mulher

estava tirando sua concentração.

Então, os três conversaram e tomaram seus cafés, falaram

sobre muitas coisas, sobre a vida, o trabalho, Siena, estavam

descontraídos. Lorena descobriu que Giane era de Roma e morava

sozinho desde que seus pais haviam falecido. Marina era

de Florença, por acaso a mesma cidade em que Lorena vivia. A

hora passou e Giane teria de ir:

— Bom, Lorena, a conversa está boa, mas preciso ir, tenho outra

reunião aqui em Siena. Vamos, amor? — e foi se levantando.

— Lorena, você está voltando para Florença agora? Pode

me dar uma carona? — perguntou Marina.

— Estou sim.

— Amor, está calor, eu não quero ficar em outra reunião

e preciso preparar uma aula, se você não se importar, voltarei

com Lorena — pediu a Giane carinhosamente.

— Tá bom, o que eu não faço por você?! — e deu um beijo

na namorada.

Fim do capítulo