--Mãe eu fui para o cinema com a tia Bruna. – A menina já entrou falando para a mãe que estava sentada no sofá com uma xicara de chá nas mãos.

-- Foi? Assistiram que filme?

--Um engraçado de uma princesa.

--Muito legal, agora vai tomar um banho que você está fedendo a pipoca de cinema – A menina saiu deixando as mulheres ali.

--Então conversarão?

-- Conversamos- Cléo  disse deixando mais uma lagrima escorrer.

--Então?

--Então que eu não consigo, ela diz que me ama, mas se envolveu com essa, essa... pirralha, ela deve ter no máximo vinte anos, acho que ela enjoou das minhas estrias e essa barriguinha aqui, só você vendo ela tem uns peitões que dão dois do meu e a bunda? Acho que entendo a Leticia, quem não trocaria uma menina daquela por uma velha como eu – Disse deitando no colo de Bruna

--Ei, para com isso, olha para você, amiga você é linda, eu aposto que ela não chega aos seus pés, e outra a única culpada da história é a Leticia, não você.

--Como eu vou fazer sem ela?

--Não tem como vocês conversarem melhor?

--Nós já conversamos, ela me pediu perdão mas eu não consigo esquecer, eu não confio mais nela, mas nãos sei como fazer sem ela.

--Então como vai ser? Você vai morar com sua mãe?

--Não, ela disse que essa casa e minha e da Isa, ela deixou as chaves dela – Cléo  mostrou a chave.

-- Menos mal, não esperava outra coisa dela. – Bruna estava fazendo um carinho nos cabelos da amiga.

 

 

-- Pela cara não se acertaram não foi – Beto perguntou assim que a amiga entrou

--Não, ela não me quer mais, disse que não me quer mais – Sentou-se no sofá encolhendo-se

--Nossa Let, pensei que ela poderia ser mais maleável, afinal foi só uma vez.

--Eu também, mas ela está certa sabe, nós tínhamos algo tão bom, uma cumplicidade incrível, uma confiança plena, mas agora tudo isso foi quebrado.

--Eu sei de tudo isso, mas pensei que o amor de vocês falaria mais alto.

--Eu queria que falasse, mas me coloquei na posição dela, não sei se suportaria, toda vez que olhar para ela saber que ela me traiu, iria me machucar.

--Mas o que você fará, aliás como vocês farão?

-- Ela vai ficar com a casa e dividiremos a guarda da Isa, amanhã vou lá para nós conversarmos com ela, vou procurar um flat ou um apartamento para alugar

--Sabe que pode ficar aqui o tempo que quiser não é?

--Sei, mas não quero te atrapalhar, sem contar que preciso de um quarto para a Isa, aqui só têm dois, não queria tirar o conforto dela quando não estiver em casa.

--Eu sei, agora vou tomar um banho, amanhã volto para a oficina, ocupar minha cabeça – Não conseguiu dormir, chorou quase que a noite toda, mesmo assim no começo da manhã estava de pé para ir trabalhar, na hora do almoço foi até a sua casa, ficou esperando na porta Cléo  chegar com a criança.

--Mãe Leticia estava com saudades – A menina a abraçou e pulou em seu colo.

--Eu também estou morrendo de saudades – Leticia disse beijando a filha enquanto entravam na casa.

--Filha nós precisamos conversar com você – Cléo  disso olhando para Leticia que apenas balançou a cabeça.

--Eu fiz alguma coisa de errado?

--Não minha gatinha, não fez nada, mas nós precisamos apenas falar uma coisa com você.

--Não é uma coisa legal, mas vamos ter que nos acostumar com isso – Cléo  respirou fundo – É que eu e a mãe Leticia não estamos mais juntas, ela vai morar em outra casa. – A menina encheu os olhos de lagrimas

--A mãe Leticia não é mais minha mãe?

--Não meu amor, nunca, eu serei sua mãe para sempre, nunca mais pense uma coisa dessa eu amo você, para sempre entendeu?

--Mas por que você não pode morar aqui, sempre foi assim

--Eu sei que sempre foi assim, mas agora eu e a Leticia não somos mais um casal. – Cléo  disse sem encarar Leticia, que se segurava para não chorar

--Vocês não namoram mais?

--Não, mas continuamos sendo suas mães, porque você não tem nada a ver com isso, não tem culpa em nada, apenas não vou morar aqui, porem vou ter uma casa nova e você vai poder morar lá também, serão duas casas, essa com a mãe Cléo  e a outra comigo.

--Então eu vou ter dois quartos?

--Vai sim, eu vou arrumar uma casa com um quarto bem bonito para você.

--Minha amiga lá da escola é assim ela tem duas casas, mas ela tem um pai e uma mãe.

--Vai ser dessa forma meu anjo, ainda estaremos aqui com você sempre, tanto aqui como na nova casa da Leticia.

--Tá certo então, vou toma banho que estou com fome, mãe Leticia depois do almoço você vai trabalhar? – Leticia olhou para Cléo  que respirou fundo e respondeu o questionamento

--Isa a Leticia não vai ficar para o almoço, ela tem que voltar ao trabalho mais cedo hoje – Leticia sentiu uma fisgada no peito, como se estivesse furando alguma coisa dentro de si, não pensou que a Cléo  iria querer tanta distancia assim, seria apenas um almoço.

--Isso mesmo, me dá um abraço e vai para seu banho, amanhã depois da escola vamos ver umas casas para nós, você quer ir comigo?

--Quero sim – A menina disse pulando nos braços de Leticia, que beijou-lhe depois saiu para o banho.

-- Eu já vou indo – Leticia disse ficando de pé, ela estava de cabeça baixa. –Seria só um almoço, não iria arrancar pedaço. - Disse assim que chegou na porta

--Iria sim, arrancar mais um pedaço – Disse sem olha-la, Leticia não respondeu, apenas saiu, montou na sua moto e foi para o trabalho, lá dedicou-se ao seu trabalho, pediu para Jane olhar alguns apartamentos, ou casa para alugar, ninguém comentava nada sobre o assunto, mas Leticia via o olhar de pena que os amigos lhe direcionava.

 

 

--Tio Beto a mãe Leticia comprou o jantar, estava esperando você

-- Já cheguei princesinha, vou só tomar um banho – Beijou os cabelos da menina -- Então conseguiram alguma coisa hoje?

--Nada, já é a terceira vez que procuramos e não gostamos de nenhuma, só uma que é muito longe.

--E tinha que subi escada tio, era horrível  - Riram da graça que a criança fez.

--Vou toma banho já volto – Tinha se passado mais de duas semanas, Leticia tentou conversar mais uma vez com Cléo , porem foi tratada com raiva, diferente da conversa anterior, preferiu dá um tempo para as feridas cicatrizarem, era visível na aparência e humor de Leticia que ela não estava bem, alguns quilos mais magra, e sem o sorriso aberto que sempre carregava.

 

 

 

--  Cléo  vamos sair um pouco, você é de casa para o trabalho, hoje é sábado, a Isa está com a Leticia, vamos apenas dá uma volta, olha para você, jogada ai no sofá assistindo esses filmes melosos, sabia que só faz você se sentir pior que está.

-- Eu não estou com a menor vontade de sair desse sofá, eu já devo estar uns cinco quilos mais gorda.

--Você só vive falando isso, mas não para de comer essas besteiras – Disse pegando o pote de sorvete das mãos da amiga.

--Serio Bruna, vai lá curtir sua noite, não estou com a menor vontade de sair.

--Então vou ficar aqui assistindo esse romance chato com você – Sentou-se no sofá colocando o sorvete no colo – Segunda vou ter que esticar os minutos na esteira por sua causa – Disse colocando o sorvete em seu colo.

 

 

 

-- Let? Você está ai? – Beto entrou chamando a amiga

--OI Beto estou aqui – Ele entrou no quarto e viu a amiga novamente chorando

--Ai Leticia novamente? Não seca? Acho que você está desidratada -sentou-se na cama.

--Espero que um dia seque – Disse amargurada.

--Tenho algo que acho que você vai gostar

--O que é? – Sentou na cama enquanto enxugava as lagrimas

--A vizinha aqui do lado vai se mudar para Londres, ela vai trabalhar lá e está querendo alugar a casa dela, já está mobiliada, ela disse que vai passar cinco anos lá, seria uma boa para você.

--Realmente, seria um tempo para eu comprar minhas coisas ou quem sabe até um ap com calma, tenho que organizar minhas finanças – Ela jogou-se na cama novamente – Quem fazia tudo isso era a Cléo , eu mal comprava uma roupa para mim, ela sempre fez questão de me ajudar em tudo.

--Agora vai ter que se virar sozinha então, vem vamos lá na vizinha – Beto puxou a amiga e logo estavam na casa, Leticia gostou muito do que viu, poucos moveis, apenas o necessário, um quarto vazio, poderia montar o quarto da filha.

 

-- Eu gostei, como ela disse que não precisava de contrato, será bom, pois se eu conseguir outra coisa eu não terei que pagar multa. – Falaram enquanto retornavam para a casa de Beto

--Isso mesmo, quando você vai pegar o resto das suas coisas?

--Não sei, talvez no final da semana, depois de amanhã, ela disse que entregaria as chaves, ela é gente boa, e te olhava de um jeito.

--Já fiquei com ela algumas vezes, mas ela só quer saber de trabalho mesmo, ela é legal.

--Você e suas conquistas- Leticia jogou-se no sofá

--Adoro minhas conquista – Sorriu – E a Novinha?

-- Ela me ligou algumas vezes, mas eu não atendi, não consigo falar com ela.

--Ao menos a trans* foi boa?

--Eu não sentir muita coisa, estava bêbada, e sempre que fechava os olhos imaginava a Cléo com a “Alunazinha” lá, quando ela não negou que estava com ela fiquei enlouquecida, me feriu tanto, só pensava que não iria tê-la nunca mais, só ficava lembrando dos elogios que ela distribuiu para a tal aluna que era muito inteligente formada em várias faculdades e que tinha passado em um ótimo concurso, que tinha um ótimo salario e tudo mais – Respirou fundo enxugando uma lagrima – É por isso que eu entendo o que ela sentiu, quando descobriu que eu a trair, não é fácil e eu nem tinha certeza de nada.

-- E você acha que ela está com essa tal aluna?

--Não sei, ela disse que não.

--Mas e se ela tiver? Você vai fazer o que?

--O que eu posso fazer? Vai doer mais do que está doendo, mas o que eu posso fazer se foi um erro meu, mesmo diante de todos os nossos problemas nós éramos felizes, nos amávamos, eu com minhas imaturidades deixei-me levar por uma garota mais nova, deixei levar pelo desejo.

--O que você sentia quando ficou com a Celina?

-- Sei lá, gostava de conversar com ela, algo que não estava tendo com a Cléo , nós mal conversávamos, sem contar que ela é divertida, e para piorar ela é bem gata, quando eu descobrir que ela estava afim de mim foi como algo bom para meu ego, sei lá uma mulher gata e mais nova afim de você enche seu ego.

--Não teve nenhum sentimento?

--Eu não vou mentir que não tinha tesão por ela, até porque ela é uma gostosa, mas acho que era algo muito de momento onde eu me encontrava frágil, e fraca, porque em nenhum momento a culpa foi da Cléo  me responsabilizo pela minha falha.

-- Queria ser tão evoluído assim – Ele sorriu – Como não sou vou fazer algo para comermos.

-- O que acha de uma cerveja?

--Ótimo, vai comprar porque não tem aqui.

--Vou lá no mercado então –

--Aproveita compra mais algumas coisas que também não tem.

--Manda a lista para mim que lá eu compro - Leticia pegou o capacete e foi para o mercado comprar cerveja.

 

 

 

--Mãe me deixa levar esse sorvete?

--Isa você já colocou os salgadinhos, já chega filha.

--Prometo que será só esse sorvete mãe, vai porfavorzinho

--Tudo bem, agora volta logo, estou vendo a hora de você se perder dentro desse mercado – Cléo  ficou ali esperando a filha voltar, estava parada na frente das frutas, escolhendo algumas e foi interrompida por uma voz já conhecida.

--Mas não é a professora mais gata que eu já tive na vida

--Nossa que exagero  - Abraçou a mulher que segurou um pouco mais o abraço.

--Mãe eu estou em dúvida, chocolate ou morango?

--Não sei filha qual seu preferido? – Cléo  disse afastando-se do abraço

--Os dois.

--Eu posso te ajudar nessa – Joana disse aproximando-se da garota que ficou a encarando

--Filha essa é uma amiga da mãe, a Joana

--Como pode me ajudar?

--Você pode escolher o napolitano, tem chocolate, morando e ainda outro sabor.

--Nunca comi desses.

--Posso? – Perguntou a Cléo  que apenas afirmou com a cabeça

--Vamos lá que eu te mostro – Elas saíram para a seção de sorvetes sob o olhar de Cléo , que ficou observando as duas sorrindo perto dos sorvetes.

 

--Nossa que coincidência – Cléo  sentiu o seu coração acelerar ao escutar aquela voz.

--Oi Leticia – Disse tentando esconder os sentimentos que entrava em ebulição ao ver aquela mulher.—Milagre é esse você em um mercado?

--Vim ajudar o Beto, já basta morar de favor na casa dele.

--Mãe Leticia! – Ela virou a cabeça a procura da voz, de início sorriu ao ver a menina que corria para seus braços, porem logo depois sentiu uma dor no peito ao ver quem estava ali com sua filha.

--Oi minha gatinha, estou com saudades – pegou a filha no braço

--Olha mãe, eu vou experimentar esse sorvete novo, a tia Joana disse que era gostoso tem morango chocolate e outro branco.

--Tenho certeza que você vai adorar, ele é muito gostoso – Ela disse encarando Joana, não sabia bem mensurar se aquele sentimento era raiva, ciúmes ou os dois juntos.

--Tia eu vou levar esse mesmo – Disse mostrando o pote de sorvete para a mulher

--Boa escolha – Joana disse sorrindo para a criança.

--Bem eu vou indo, só vim comprar umas coisas – Leticia voltou a atenção para a filha –A mãe tem uma surpresa para você, amanhã vou lhe buscar na escola, daí te mostro tá?

--O que é mãe?

--É surpresa horas – Beijou a bochecha da menina se despedindo –Até amanhã gatinha – Afastou-se sem ao menos olhar para as outras adultas.

--Acho que ela não gostou muito de me ver – Joana disse baixinho para apenas Cléo  escutar.

--Ela não tem o que gostar – Cléo  disse voltando sua atenção para as maças que estava escolhendo antes

--Bem eu vou indo, qualquer coisa que precisar pode contar comigo tá bem?

--Tá bem – Cléo  deu dois beijinhos na mulher que se despediu da criança e se foi, Cléo  ficou alguns segundos analisando a situação, estava bem claro que Joana estava flertando com ela, já fazia uns dias que tinha percebido isso, um leve sorriso sádico surgiu em sua face, de algum jeito gostou de ter despertado aquela reação em Leticia, como se seu íntimo estivesse satisfeito em ver a outra com raiva.

--Mãe o qual será a surpresa da mãe Leticia?

--Não sei meu anjo, amanhã você descobri – Ela voltou sua atenção para as compras.

 

Fim do capítulo