Vinte e Oito
|Tentar já é um ótimo passo;|
Caroline
Chegamos à mansão do velho em menos de vinte minutos; a casa era gigantesca e o muro dava cinco de mim. Me identifiquei na portaria junto com Bruno, e ficamos esperando alguém abrir o imenso portão de ferro cinzento e grosso.
— Caroline, esse daí não faz nada de graça para ninguém. Ele é um miserável. É o que dizem por aí...
— Ué, vocês não são amigos?
— Amigo de bar não é amigo de vida. Acho melhor voltarmos.
— Volte você, seu frango da porr*.
— Caroline... A polícia já está agindo.
— Certo. Mas vou tentar qualquer coisa para salvá-la.
— Ele pode te cobrar caro... Ele — Coçou a cabeça. — Ele pode querer que — Pigarreou na mão pálida fechada. — Que você pague com seu corpo. O velho é safado, você sabe disso.
— Eu pago como for, cara. Não importa, eu vou salvar minha mulher. Se meu corpo é a única coisa que eu tenho para oferecer em troca da libertação dela, eu vou oferecê-lo.
Eu tremia de nervoso, mas estava convicta de que me entregaria para o velho nojento se esse fosse o preço a ser pago pelo resgate da minha mulher.
— Meu Deus, Caroline! Qual o tamanho da sua insanidade?
— Eu a amo, Bruno! EU A AMO. E farei qualquer coisa pela segurança dela. Se você a amasse mesmo, como diz, me entenderia.
Ele mencionou voltar para o carro, me deu as costas e andou três passos. Coçou a cabeça e virou-se para mim, apontando o dedo indicador em minha direção, balançando-o no ar:
— Sabe de uma coisa, garota? Estou começando a ver a Caroline que Nicolle sempre defendeu e que eu nunca conheci.
— Eu farei qualquer coisa por ela, cara. — falei, com a voz embargada.
O grande portão de ferro se abriu e então entramos novamente no carro. Continuei dirigindo, com Bruno no banco do carona como um frango amedrontado. Entrei cantando pneu e trilhei em segundos o imenso jardim da grande residência.
— Pra gente salvar a Nicolle, a gente precisa estar vivo, sabia, sua louca?
— Se não morri até agora, meu bem, eu não morro tão cedo. Acha que vão nos matar aqui dentro?
— Não sei.
— Medroso da porr*.
— Não sou medroso, sou precavido. É bem diferente uma coisa da outra...
— Você é um caralh*.
— Defina caralh...
— O velho está vindo!
Inácio Carneiro saiu de roupão marrom, com um charuto grande na boca. Desceu os degraus de mármore da enorme varanda e aproximou-se com seus cabelos bem penteados para trás, olhando-me atentamente, com ar de satisfação.
— Ora, ora... Que surpresa! A que devo a honra, Caroline?
— Preciso da sua ajuda. — Fui direto ao ponto, não tinha motivos para enrolar, eu estava com pressa.
Ele me olhou com um risinho de triunfo, o que me encheu de nojo. Mas eu não desistiria. Estava no olho do furacão e deveria enfrentá-lo.
— E em que posso te ajudar, meu docinho de coco?
Engoli a saliva de desprezo antes de continuar, sem desmanchar minha postura ereta:
— Minha namorada foi sequestrada e estão pedindo um milhão para o resgate; não tenho esse dinheiro, sei que o senhor pode me arrumar. O senhor precisa nos ajudar. — Fui incisiva.
— E o que te faz achar que eu ajudaria?
Estávamos frente a frente, ele me encarava com atenção.
— Eu te dou o que quiser se me ajudar a salvar minha mulher.
— O que eu quiser?
— Sim...
Abaixou a cabeça e ponderou por um instante. Mas logo voltou a me encarar:
— Já sei o que quero — disse, aproximando-se e passando o dedo em meu mamilo direito, contornando-o por cima da camiseta regata branca que estava usando desde a noite anterior. — Vocês mulheres; não querem ser assediadas, mas vivem usando roupas provocantes... Depois não podem reclamar, não é mesmo? — Continuou contornando o meu mamilo com a ponta do indicador. Eu segurei firme sua mão e a afastei com total desprezo.
— Caroline, acho melhor irmos embora... — Interveio Bruno, temendo meu descontrole.
— Tem outra solução para trazê-la de volta, Bruno? Se tiver, só falar.
— Ainda não. Mas...
— Então, se quer se mandar, se mande. Eu vou fazer o que tem que ser feito!
O velho puxou a mão que eu segurava com mais força do que julgava segurar e a massageou com a outra. Disse:
— Vamos entrar? Conversamos em meu escritório. É lá que faço negócios.
Entramos os três; o velho na frente e o Bruno ao meu lado, suando frio. Eu estava apreensiva, mas tentava não demonstrar insegurança nenhuma.
— Você é muito louca — sussurrou para mim. — Os pais dela estão a caminho e devem conseguir a grana.
— Podem demorar para conseguir. Enquanto isso Nicolle sofre, com medo, com fome, machucada.
— Ela deve estar morrendo de medo — disse ele, fazendo partir meu coração em mais pedaços do que já estava partido. Meus olhos marejaram, mas eu mordi os lábios para não ceder ao choro.
— Por pouco tempo.
A casa era realmente gigante, nunca vi algo parecido de perto em toda a minha vida. Parecia aquelas mansões de filmes de poder, máfia, com magnatas ostentando tudo do bom e do melhor. Tudo era muito lindo, até as paredes. Parecia um centro de arte, pois havia vários quadros com molduras brancas pendurados, um lustre de cristais centralizado no teto, o chão era de porcelanato branco, os tapetes avermelhados pareciam custar meus dois rins e córneas... Era tudo muito impressionante mesmo.
“Nem se eu juntasse todo o dinheiro que ganhasse trabalhando na vida e fizesse parceria com mais trinta assalariados, conseguiria construir um lugar desses.”
O escritório era maior que minha casa e a mesa de madeira prostrada ali no centro parecia custar meu fígado. Fiquei olhando em volta, impressionada, mas logo voltei minha atenção aos fatos.
— Sentem-se — sugeriu Inácio.
Sentamo-nos.
— O que querem beber? — questionou o velho de roupão marrom.
— Não queremos beber nada, seu Inácio. Eu só vim aqui atrás de seu dinheiro mesmo. Minha mulher foi sequestrada e não podemos demorar. — Bruno me deu uma cotovelada dolorida — Podemos beber em outra ocasião, se quiser.
— Não é assim que fazemos negócios, minha querida. Precisamos ter cautela para tomarmos qualquer decisão na vida e eu gosto de fazer isso tomando um bom vinho. Ou uísque. Ou martini.
Estendeu um copo para mim e Bruno e depois os encheu com um uísque que parecia não ser qualquer um.
— Por que ela foi sequestrada? Nicolle é muito respeitada na cidade, é a melhor psicóloga. Minha falecida esposa era sua paciente e melhorou muito da depressão desde que começou as consultas com sua esposa. Infelizmente, acabou falecendo vítima de um câncer no colo do útero. Enfim... Há algum motivo para terem a sequestrado?
— Não fazemos ideia. A pegarem na frente de casa quando ela foi colocar o lixo para fora. Mas antes disso, há dois dias, sofremos um atentado homofóbico e acredito que tenha sido isso. Não vejo outro motivo, pois ela é uma pessoa maravilhosa, não conheço ninguém que a odeie. — Olhei para Bruno, que estava calado ao meu lado, com o copo de bebida na mão, bebericando de vez em quando. — Você conhece alguém que a odeia, Bruno? Alguém do trabalho de vocês? Ela nunca mencionou nada. Você conhece?
— Não. Nicolle é muito íntegra. Querida por todos. A única pessoa que sei que não vai muito com a cara dela é a Melina, por gostar de você; tem ciúmes.
— Melina é uma franga, é uma garota... Não teria capacidade de comandar um sequestro. Não acredito que ela esteja envolvida em algo assim.
— Não subestime ninguém, Caroline. Às vezes a bomba vem de quem menos esperamos — falou Bruno.
— Não acredito que ela tenha algo a ver, cara. Melina? Ela ficou impressionada porque a salvei desse velho, mas ela gosta mesmo é da Sabine, a dançarina ruiva.
O velho colocou a mão sobre a minha que estava pousada na mesa.
— Bem, não me interessa quem fez e o motivo pelo qual fez. Eu posso ajudar com a grana.
— Pode? — questionei, arregalando os olhos e ofegando.
— Sim.
— Tá, mas o que vai querer em troca?
— O óbvio, querida: o teu corpo. Quero você por três dias e três noites inteiras comigo. Três dias sendo minha, Caroline. Entregando-se inteira para mim, me fazendo derreter de prazer.
— Inácio, não tem outro meio? — quis saber Bruno, parecendo atordoado.
Não respondi de imediato, estava aflita, não sabia como seria possível me entregar para aquele imundo sem vomitar em cima de seu órgão genital.
— É pegar ou largar, morena. Darei todo o dinheiro que precisam.
— Aceito — falei, estendendo a mão direita para firmar o acordo. Ele a apertou e me mostrou aquele sorriso asqueroso de triunfo novamente. — Onde está a grana? — Nesse momento eu já tremia e suava frio.
— Calma, mocinha, temos que assinar um contrato. Aqui não é bagunça, meus negócios são bem feitos, não foi brincando que construí um império.
Ele chamou alguém no telefone e uma moça ruiva branca entrou com um notebook nas mãos. Redigiu o contrato e imprimiu logo após. Nesse meio tempo Bruno e eu ficamos mudos, não havia mais o que falar, apenas esperar.
Li com atenção cada cláusula do contrato impresso e assinei logo em seguida. Dizia que eu seria dele por três dias e três noites. Que ficaria na mansão durante todo esse tempo, a disposição de seus fetiches sexuais.
Eu não tinha outra opção, a vida de Nicolle estava em jogo e por ela eu enfrentaria os meus mais terríveis medos, para que no final, ficássemos bem.
— Querida, você precisa assinar o contrato. — Lembrou-me, apontando o impresso.
Respirei fundo e engoli a saliva numa sensação de desespero. Peguei a caneta e assinei o mais rápido que pude, sem pensar muito.
— Pronto, assinado — falei, sem encarar nenhum dos presentes.
Bruno pôs a mão sobre a minha e a apertou.
— Obrigada, Caroline. Eu te subestimei, mas você é forte e corajosa.
— O amor nos faz forte, seu imbecil.
Coloquei a mão sobre a alça da bolsa de couro preto que continha a grana e me preparei para levantar, puxando-a. Porém, fui impedida pela mão pesada do velho na minha.
— Onde pensa que vai, mocinha?
— Levar a grana para os sequestradores.
Ele deu uma risada alta e sarcástica, me assustando.
— Não vai, não. Teu amigo leva a grana e você fica aqui para cumprir sua parte no acordo.
— Eu... Volto depois. Pode mandar um de seus caras comigo. Não vou fugir da porr* do acordo, não.
— Está no contrato. Seu trabalho começa a partir do momento em que assiná-lo. Portanto, você agora é minha. Teu amigo leva a grana. E você fica aqui.
— Eu preciso me certificar de que minha mulher será mesmo salva. — Ele apenas me encarou, sem expressar nada dessa vez. — Por favor, seu Inácio... Por favor?
— Nosso acordo já está feito. Você é minha por 72 horas, contando a partir de agora.
Rangi os dentes sentindo o maior ódio da minha vida.
— DROGA! — exclamei, batendo na mesa e curvando meu dorso sobre ela.
— Calma...
Agarrei a bolsa e joguei com toda minha força no colo do lesado do Bruno:
— VÁ BUSCÁ-LA, BRUNO!
Ele não disse nada, apenas segurou firme o dinheiro e levantou-se bruscamente para sair. Enquanto afastava-se, desnorteado, eu o observava rangendo meus dentes, desejando que todo aquele tormento passasse logo. Tremores insuportáveis percorriam meu corpo. Eu queria muito chorar, mas não podia. Não me permitia, pois não suportava a ideia de parecer fraca diante daquela gente.
— Então, minha querida Caroline, vamos iniciar nossa diversão?
— Há outra opção?
— Não.
— Pois então, não pergunte.
Fim do capítulo
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