VII.

Depois do desjejum matinal o trio voltou a conjeturar.

- Moara, temos que iniciar medidas para ficarmos preparados.

- Sei disso e você veio só com a sua cavalaria.

- Não tinha certeza que você declararia guerra, mas, assumo que já imaginava, por isso, deixei meus homens de sobre aviso. Nem posso ordenar que venham todos, pois, as minhas terras não podem ficar totalmente desprotegidas, mas a maioria virá.

- Entendo e quando eles chegam?

- Como não moro tão longe com um dia de viagem e sem muitas paradas já estarão por aqui.

- Acha que temos tempo para reforçar a muralha?

- Acredito que temos alguns dias.

- Então descanse da viagem, vou providenciar hospedaria para os seus homens e recomendar que fortaleçam a muralha. 

- Como eu posso ajudar?

- Linda não se preocupe.

- Faço questão de ajudar no que puder.

- Dayara, você ficará protegida aqui em casa, assim como todas as mulheres que não possuem treinamento, da mesma forma que as crianças que nem tem idade para participarem de combates.

- Mas...

- Irmã, sem mas, escute a tua esposa ela sabe o que é melhor para você. Agora, por favor, me mostre onde posso dormir por algumas horas, passei a noite toda viajando.

Mesmo contrariada optou por não tecer mais nenhum comentário, pois, já tinham muito com o que se preocuparem. Os dois seguiram para o segundo andar e logo o lorde se acomodou. Enquanto Moara seguiu para delegar inúmeros afazeres.

Voltaram a ficar juntos na hora do almoço.

- Vejo que a minha bela irmã tem passado muito bem neste último mês, seus olhos ganharam brilho, está mais alegre, voltou a estampar jovialidade, Dayara você merece o melhor sempre, fico feliz por ti.

- Muitíssimo obrigada (ela agradeceu com timidez).

- Moara sou muito grato por tudo que você vem fazendo pela minha irmã e por ter acolhido também a gravidez. Eu já te admirava, você é muita íntegra e digna. Agora você tem a minha eterna gratidão.

- Não precisa me agradecer, agora vamos comer antes que esfrie. Maria o cheiro está ótimo.

Depois de se alimentarem sentaram um pouco na varanda para descansar.

- Já escolheram o nome?

- Ainda não, você tem algum nome em mente? (Moara perguntou olhando para a esposa).

- Existem tantos bonitos, gostaria de um diferente como o nosso (Dayara respondeu).

- Já que ainda nem decidiram pode ser Dimitri Sobrinho.

- Oportunista (a guerreira o repreendeu e ainda lhe deu um peteleco).

- Ô sua bruta (ralhou).

- Irmão, ela não é bruta, na verdade é muito gentil e amável.

- Uau e você a defende, pelo visto estão se dando muito bem. 

- Meu bem não me elogie na frente dele, assim perco minha fama de má.

- Moara e se for menina, qual será o nome? 

- Por aqui nestas bandas o recomendado é buscar se aconselhar e ter o consentimento das divindades na escolha batismal.

- Perguntam para o padre?

- Não temos padres e nem somos católicos.

- Já observei que por aqui seguem uma doutrina junto da natureza, é bem diferente.

- Somos politeístas.

- Minhas caras, não querendo interromper, mas, já o fazendo. Temos muitas questões a tratar, já enviei um mensageiro para chamar meus homens.

- Hoje mesmo o galpão de armazenamento de grãos será esvaziado e alguns reparos já estão sendo providenciados para que os seus homens fiquem acomodados.

- Excelente! Minha cara cunhada...

- Pode parar, nem venha puxar meu saco.

- Dura na queda, mas, não tem problema sou perspicaz e astuto.

- Além de metido, é também convencido. Deixe de ser folgado seu lorde metido a besta.

- Mais respeito com o meu título senhorita.

- Errou! Já marque mais um ponto negativo para a sua conta.

- Errei no que, posso saber?

- Não sou mais senhorita.

- Quem diria.

- E você seu encalhado, aposto que nenhuma mulher te quer.

- Sou novo para casar e não é por ter se tornado uma senhora que pode ficar desdenhando da minha superioridade.

- Ilustre desconhecido (ela voltou a zombar).

- Vocês dois vão me deixar doida, parem de implicância um com o outro (a lady os repreendeu).

Os dois pararam de perturbar um ao outro e voltaram as suas atenções para a guerra iminente.

- Qual é o grande problema entre o rei e a igreja?

- Moara, além da sede por poder, o autoritarismo do monarca muito incomoda os dirigentes da igreja, não estão mais em harmonia já tem um bom tempo, tem até quem diga que ele pode ser a qualquer momento excomungado.

- Irmã e como você sabe de tudo isso? Eu jurava que o barão não comentava nada destes assuntos contigo.

- Ele organizava algumas reuniões ilícitas e dispensava os criados, segundo ele para evitar fofocas, me colocava para servir bebidas para os seus correligionários. Por isso, que acabava ouvindo alguns diálogos, mas, sempre me fiz de muda e surda, para o meu próprio bem. Certa vez, por pura tolice da minha parte, perguntei se ele não tinha receio do rei ficar sabendo da política em represália que ele vinha tentando fazer ou até mesmo de alguém acabar o traindo, não perguntei por maldade, fui até ingênua. Naquela noite mais uma vez senti no meu corpo a sua fúria e foi horrível; só de lembrar fico nauseada e temerosa (relatou com tristeza).

- Maldito, acabarei com a raça dele, te juro que ele vai se arrepender por todo o mal que te fez (Moara garantiu).

Percebendo que o clima tinha ficado muito tenso e chateado pela irmã ter ficado triste ao lembrar do passado. Dimitri resolveu mudar de assunto.

- Moara, não sabia que você tinha tantas amazonas lutando ao seu lado.

- São guerreiras muito competentes.

- Notei assim que cheguei, além de lindas são impiedosas portando espadas. 

- As amazonas são lutadoras formidáveis.

- Concordo. Até parei com a minha cavalaria e vimos um pouco delas treinando pela manhã, farei questão de praticar com vocês.

- Não quero que tantas pessoas se machuquem por minha causa (ponderou Dayara).

- Linda, não se preocupe, seremos vitoriosos (assegurou a sua companheira).

- Irmã, não se sinta culpada, se alguém acabar machucado, a culpa é toda do MacTough que não possui escrúpulos e por ter perdido tudo está revoltado. E também do rei William que quer o barão morto a todo custo por ser um traidor da coroa.

Dimitri parou de falar, pois, ficou encantado com a linda moça que se aproximava e ele logo pensou e por falar em amazona, eis uma delas, tão bela e visivelmente exaltada.

- Sou uma boa lutadora e não quero ficar de fora da batalha (disse sem cerimônia).

- Qual o teu nome?

- Senhora, eu me chamo Myrina.

- Já que é habilidosa como diz, por qual motivo nunca te vi em nenhum treinamento?

- Tenho um pai possessivo.

- E também cuidadoso imagino.

- Aproveitei que ele esta ocupado trabalhando na muralha para vir falar com a senhora.

- E pretende me convencer que o teu pai esta podando as suas asas.

- Não quero afronta-lo, é que tenho capacidades e estou pronta para participar de uma disputa.

- Observando seus trajes já consigo notar que assim como eu, você aprendeu a lutar com as amazonas e creio que foi uma delas que te incentivou para me procurar. Já que seu pai não te quer lutando, como tem conseguindo aprender com elas?

- Digo que vou para a colheita ou cuidar dos cavalos. Faço minhas tarefas rapidamente e vou ao encontro de alguma amazona para lutarmos.

- Com qual objetivo?

- Quero um dia me tornar uma boa guerreira.

- Gostei.

- Então estou dentro do combate?

- Quero te ver duelando, mas, já te aviso, não sonhe que permitirei que você faça parte da linha de frente, somente os mais experientes, que já estiveram antes em combate estarão neste posto ao meu lado. Se você estiver apta poderá lutar, mas, com precauções.

- Compreendo.

- Me dê a honra? (Dimitri solicitou).

- Certo, então lute com ela, mas desta vez, nada de espadas, na raça, quero avaliar se ela é mesmo boa como diz.

Fim do capítulo