Helena não conseguia controlar sua ansiedade enquanto esperava o bendito resultado do Edital de Projetos da FAET. Assim que saiu o Edital, ela simplesmente se debruçou sobre ele para apresentar o melhor projeto possível e assim ser selecionada pela professora mais prestigiada dos cursos de engenharia da Universidade.
Não seria tarefa fácil, mas se esforçou muito e sabia que tinha dado o seu melhor.

A expectativa já era grande, mas depois de mostrar seu projeto para dois professores (que não faziam parte da banca) recebeu inúmeros elogios e palavras de incentivo dizendo que certamente seria escolhida pela estimada professora Marina Soares.

Era uma oportunidade de ouro para a jovem aluna do quinto semestre de Engenharia Sanitária e Ambiental, haja vista que ainda não tivera oportunidade de tê-la como professora e, ao que tudo indicava, não a teria em circunstâncias normais até o fim da graduação. Desde que ingressou na Universidade, Helena sempre ouviu falar muito bem da professora. Era unanimidade entre os veteranos: a melhor professora da FAET (Faculdades de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia). Rígida e extremamente competente, cobrava muito de seus alunos e em contrapartida dava o melhor de si durante as aulas. Mas por uma infelicidade do destino, optou por não dar mais aulas para as turmas da Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA) justamente no ano em que Helena começou o curso.

A tecla F5 do notebook de Helena já estava "dolorida" de tanto que era acionado naquela manhã. Já passava das 12h e nada do resultado sair, precisou ir se arrumar senão perderia a primeira aula daquele dia.

Assim que chegou ao bloco do seu curso viu seus dois fiéis amigos (Duda e Gabriel) abraçados comemorando. Abriu um amplo sorriso e foi ao encontro deles, pois certamente o resultado já havia saído e estavam comemorando.

Helena: Já saiu o resultado? - questiona assim que se aproxima dos amigos.

Gabriel: Amiga até que enfim você chegou! - saiu do abraço de Duda para abraçar apertadamente a outra amiga - Nem sei como te agradecer pela ajuda. Graças a Deus e a você, consegui uma bolsa de Projetos.

Duda: É verdade amiga, você nos ajudou tanto... Só com sua ajuda mesmo p'ra eu ter conseguido uma bolsa com a professora Marina. - falou se juntando ao abraço dos dois amigos.

Helena: Fico tão feliz de vocês terem conseguido. - falou assim que desfizeram o abraço - Mas ainda não vi o resultado. Fui selecionada também?

Gabriel: Claro, né meu anjo?! Eles não seriam loucos de recusarem o seu. Professor Valmir escolheu o seu e o meu projeto. - disse com um sorriso amarelo, pois sabia que a amiga idealizava a orientação da professora Marina Soares.

Helena: Jura?! Nossa, pensei que ela escolheria meu projeto também. Nada contra o professor Valmir, mas eu queria ter a oportunidade de trabalhar com ela. - falou sentida.

Após conferir o resultado oficial, Helena constatou que de fato os amigos tinham dito a verdade. Ela não fora selecionada pela professora mais concorrida. Apesar de estar feliz com a conquista da amiga, não podia esconder a frustração. Talvez tivesse cantado vitória antes da hora por acreditar nos elogios que ouvira de seus colegas e professores e isso lhe tirou o foco.

Tirou aquela quinta-feira para lamentar a sua "derrota", mas no dia seguinte iria erguer a cabeça e se apresentaria para o seu novo orientador de Projetos e assim o fez. Às 7h em ponto já estava de plantão na porta do laboratório em que professor Valmir costumava dar suas aulas.

Prof. Valmir: Menina Helena! - Disse assim que viu a bela moça na porta de seu laboratório. - Já está me perseguindo logo cedo?! - falou sorridente.

Helena: Bom dia Professor. Desculpas, mas quis me apresentar logo cedo p'ro senhor. - disse simpática. 

Prof. Valmir: Tudo bem, vamos entrar. Quero te parabenizar pelo projeto que apresentou. Realmente fazia anos que não líamos um projeto tão bom assim menina. Por acaso seus pais lhe ajudaram, hein?! - sorriu maroto enquanto entravam no laboratório.

Helena: Claro que não professor! Minha mãe não costuma se envolver com meu curso e meu pai deu apenas algumas dicas de bibliografias e me emprestou alguns livros. Mas quem elaborou o projeto fui eu.

Prof. Valmir: Eu sei menina. Falei com a professora Rubia e ela disse que você mal estava indo nas aulas nas últimas semanas, só vivia na biblioteca escrevendo o projeto. Todo mundo elogiou muito o seu projeto, fui inclusive bem disputado lá na banca.

Helena: Sério professor?! Que bom. O senhor vai me desculpar, mas ontem eu fiquei meio triste e frustrada porque acreditei que faria parte da equipe da professora Marina. - falava exasperada - Não é desmerecendo o seu trabalho, mas é que já tive aula contigo em 3 semestres e vi nesse projeto a oportunidade de trabalhar com ela também.

Prof. Valmir: Minha nossa, você é igual à sua mãe. Transparente feito água. - riu da sinceridade da aluna. - Não tem problema nenhum. Na verdade nós da banca esperávamos que ela fosse escolher o seu projeto também. Mas a sorte a minha é que neste ano o melhor projeto ficou comigo.

Aluna e professor conversaram durante mais algum tempo até que os primeiros alunos começassem a chegar. Helena ficou feliz e motivada com seu orientador, pois ele não era qualquer um, e a relação entre eles sempre fora excelente. Mas não podia deixar de se questionar qual a razão para que a professora não estivesse escolhido seu projeto para orientar.

Precisava saber o motivo, era questão de honra pra ela. Mandou um e-mail pedindo um horário para conversar com a professora, mas não obteve resposta. Era terça-feira quando, decidida, seguiu em direção ao corredor onde os mais renomados professores tinham uma sala exclusiva para preparação de suas aulas. Leu o nome na primeira porta e seguiu a diante parando em frente a porta seguinte.

Helena: Dra. Marina Soares. - leu praticamente sussurrando.

Deu dois toques leves na porta e após não ouvir nenhum protesto, entrou. Deu de cara com uma mulher compenetrada em seu notebook. Recebeu um olhar avaliador em sua direção. Marina teve a leve impressão de 200kg de que aquele rosto era familiar, mas resolveu ignorar tal fato.

Marina: Entrou na sala errada. - disse após voltar os olhos para a tela a sua frente.

Helena: Me-me desculpe professora. Gostaria de falar com a senhora. Me chamo Helena Fernandes Borges e sou aluna do 5° semestre da ESA... 

Após ouvir aquele fatídico nome, Marina não conseguiu mais raciocinar, só via os lábios da garota a sua frente se movendo, mas não ouvia mais nada. Sua pressão baixou drasticamente e por alguns segundos perdeu os sentidos.

Dar um rosto àquele nome era doloroso demais para a professora.

Helena.

Fim do capítulo