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Um passado no presente por moniquetayah

Ver comentários: 5

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Palavras: 7236
Acessos: 1288   |  Postado em: 25/05/2020

Notas iniciais:

Essa história foi escrita por mim há anos, mas era uma web novela de rbd... o tempo passou e eu estou reescrevendo ela como uma história original, de tudo que escrevi, essa é a que mais amo, então espero que recebam ela de coração aberto e que me ajudem a continuar com seus comentários.

 

twitter: moniquetayah

instagram: moniquetayah

 

Boa leitura!

Voltar a ser luz

 

 

O nascer do sol entrando pela janela do quinto andar na cidade do Rio de Janeiro, era a vista que tinha a frente de Éli, uma mulher de 40 anos. Por mais belo e mágico fosse aquele momento, não era ali que ela se encontrava de verdade, sua mente vagava por lados tão distantes que um hábito antigo já deixado de lado há tempos estava ali em mãos, trago após trago.

Éli passou a mão em seu pescoço como se buscasse um colar e balançou a cabeça na tentativa falha de espantar toda sua confusão, apagou o cigarro, pegou mais três no maço próximo a janela, se virou para dentro onde Rebeca com seus 10 anos a menos dormia serena na cama de casal e negou frustrada mais uma vez. A vida parecia não parar de lhe pregar peças, mesmo depois de ter certeza que tudo já havia sido enterrado. Lá estava Éli, revivendo todo seu passado em apenas um cigarro.

A mulher mais velha respirou fundo, foi até seus pertences, guardou os 3 cigarros em sua bolsa, tirou o hobby, vestiu suas roupas sem pressa, foi até Rebeca que ainda dormia e lhe tocou nas costas nuas.

- Tô indo. – sussurrou próximo ao seu ouvido, o que fez Rebeca resmungar.

- Tava fumando? – perguntou ainda de olhos fechados.

- Não...

A mulher sonolenta se moveu na cama encarando Éli para analisar sua resposta.

- Mas você não fuma.

- Volta a dormir, volta... – beijou sua testa – depois a gente se fala.

Éli saiu com cuidado pela porta da frente do apartamento, chamou o elevador e subiu até a sua cobertura.

Férias de janeiro sempre foram uma quebra total da rotina, onde seu filho mais novo, Miguel de 12 anos, revezava entre ficar na casa do pai ou ficar na casa de amigos. Já Maria Eduarda de 18, mais conhecida como Madu, passava quase todo o tempo saindo com sua melhor amiga de infância, Navi - Ana Vitoria.

Mesmo não tendo ninguém em casa, Éli se trancou em seu quarto, tomou um banho demorado em busca de lavar não só o corpo, mas a mente também, o que a fez relaxar um pouco para talvez enfim conseguir colocar algo em ordem dentro de suas lembranças, porém antes mesmo de conseguir encontrar algo para vestir, seu celular tocou e a mensagem que ela não queria receber chegou através de um áudio.

- Éli, meu amor... vim mais uma vez pedir para você pensar com amor nesse projeto... eu sei que esse doc não é algo que você planejou e muito menos almejou... mas pensa com carinho... já faz tantos anos, mas tantos anos, que eu tenho certeza que você e todos os outros podem até curtir esse reencontro... o que aconteceu no passado ficou no passado... e esse projeto é a mensagem que o universo tá te dando para você conseguir depois de tantos anos dar um ponto final nessa história, sabe?!... Éli... sei que é difícil desenterrar algo que foi um sonho, mas vai... tenta ver por outro lado, consulta sua terapeuta, sua taróloga, sua astróloga, sua guia espiritual... eu tenho certeza que todas elas vão dizer para você encarar isso de frente e acabar logo com essa história, seja apenas pra contar ao mundo o que aconteceu... ou pra quem sabe um lindo show de reencontro depois de 20 anos... pensa com carinho, querida... beijos.

Seu amigo Fábio era um dos sócios de uma conhecida produtora de audiovisual, já Éli em conjunto com sua irmã mais velha, Débora, haviam herdado a produtora musical de seu pai já falecido.

Éli e Fábio já tinham feito tantas e tantas parcerias que essa seria apenas mais uma... mais uma se Éli não fosse um dos focos do documentário, se ela não tivesse que entrar em contato com os outros integrantes de sua antiga banda, se ela não tivesse que junto a eles contar suas histórias ao mundo, se ela não tivesse feito de tudo para sumir com esse passado que foi tão amado, mas que partiu como água entre os dedos.

Éli abriu uma das portas do seu armário, retirou uma caixa de madeira do fundo, a colocou sobre a cama, foi até o outro lado do quarto, retirou uma chave de dentro de uma boneca russa e sentou em frente a caixa.

Por mais que existisse um cadeado, não eram bem segredos que haviam ali, eram lembranças de uma época tão distante que nem pareciam terem sido vividas por ela.

Paletas, chaveiros, cartas, fotografias, pulseiras e pequenos pertences de quando a trevo de 5 ainda existia, remexer aquilo era como cutucar uma ferida antiga que mesmo tapada, nunca havia sido real curada.

Éli pegou uma das fotos e sorriu cheia de nostalgia, remexeu a caixa e tirou uma das cartas, se encostou a cama sentindo todo o peso que estava por vir com aquelas palavras escritas a tanto tempo. A carta lhe trouxe uma avalanche de sentimentos e sensações, chegou a pensar em como aquilo poderia ainda mexer tanto com seu emocional, mas Éli negou firme para si quando sentiu uma lagrima se formar. Largou a carta dentro da caixa e deixou um pensamento escapar pela boca, “quanta bobeira”.

Tudo aquilo era exatamente o que não queria voltar a sentir, a viver... por isso Éli estava fugindo de encontrar com Fábio, por isso Éli estava tão desatenta e ansiosa nos últimos dias, por isso Éli havia roubado cigarros de Rebeca, por isso Éli estava fazendo de tudo para não aceitar a proposta do documentário que contaria tudo sobre a trevo de 5 e faria com que seu passado caísse de paraquedas em seu presente depois de tantos anos.

Éli ouviu sons vindo de fora do quarto, passou a mão em seu rosto, balançou a cabeça tentando espantar tudo que estava sentindo e com calma, trancou sua caixa colocando tudo de volta no lugar. Entreabriu a porta do quarto para ter a certeza de quem eram e logo pode ouvir as vozes que vinham do quarto de sua filha mais velha, Madu e Navi riam alto e pela forma com que conversavam era nítido que estavam alcoolizadas... Éli apenas riu das jovens e se trancou novamente em seu mundinho.


Depois de um cochilo Éli serviu à mesa do café na sala de jantar, que era aberta junto a sala de estar, ligou a tv em um programa qualquer e tentou prender sua atenção somente ali.

Fixa nas paisagens do mundo visto de cima, sua campainha tocou e por uma fração de segundos seu coração foi a boca, mas logo lembrou que era seu ex-marido e também melhor amigo, Ricardo, que estava lá para deixar Miguel em casa.

Ricardo foi uma pessoa muito importante para Éli, foi ele quem lhe ajudou em um momento em que ela acreditava que nada mais poderia ter cor, ele se tornou seu confidente, se casaram, tiveram dois filhos, mas Éli nunca se apaixonou por ele. Com o passar dos anos Ricardo enxergou que mesmo com todo o companheirismo que havia entre eles, aquele amor jamais seria uma paixão... então logo depois que Miguel nasceu, ele pediu o divórcio, liberando a si para finalmente poder viver um amor real.

- Oi mãe! – Miguel beijou sua bochecha com pressa e correu para dentro - Tchau mãe!

- Aposto que ele está super atrasado para um compromisso muito importante que deve ser ir para casa de algum amigo, jogar no play, ir na praça... – Éli comentou séria com ironia.

- Muito sério mesmo... vidas depende disso... – Ele ia entrar no jogo de piadinhas irônicas com a ex-mulher, mas reparou na tv ligada fazendo-o analisa-la.  

Éli sabia que ele saberia na hora se ela estava bem ou não, mas mesmo Ricardo sabendo tudo de sua vida, ela não queria falar sobre aquilo naquele momento, então tentou disfarçar com um sorriso.

- Não vai entrar? – deu passagem a ele – Carmen fez aquele bolo que você ama... e eu acabei de passar um café.

- Tentador..., mas hoje não dá... tenho que estar na clínica para atender um paciente daqui a pouco... e o trânsito hoje está impossível... – ele permaneceu parado a porta – Maria tá ai? – Éli afirmou com a cabeça.

- Chegou de manhãzinha com a Navi, foram numa festa na casa de alguém... estão apagadas...

- É né Éli... a juventude... ela é mesmo muito intensa e passa como uma estrela cadente... – O semblante de Éli mudou, lhe dando a certeza que ela não estava mesmo bem. – As vezes eu fico vendo nossa filha cheia de energia para ficar a noite toda acordada e penso ter saudades daquela época, mas ai essa vontade passa em um minuto quando olho melhor e vejo o quanto eu me achava esperto e na verdade era um ignorante sobre as coisas reais da vida... – O ar que Éli prendeu em seus pulmões fez com que Ricardo tivesse que intervir. – O que você tem?

- Nada...

- Éli... – Ele a encarou esperando por respostas que não vieram – a tv está ligada... então me fala, o que você tem?

- Nada, só queria ver as notícias... – desviou.

- Me fala Éli, o que aconteceu? Faz tempo que não vejo esse seu olhar assim...

- Que nada, Ricardo... eu tô com sono, dormi pouco, liguei a tv para ficar acordada... e você não tá atrasado? – sem muita paciência.

- Eu volto aqui ainda hoje... – olhou em seu relógio – se eu não voltar hoje eu vou te ligar, porque pelo que tô vendo isso aí é coisa antiga que de alguma forma veio à tona...

- Tchau, Ricardo... está atrasado!

- Estou mesmo..., mas eu volto!

- Tchau!

- Eu volto mesmo em Éli! Se cuida enquanto isso e – ele invadiu seu espaço pessoal e lhe beijou a testa. – não esquece de dar o meu recado pra Madu.


ºººººº


Longe dali em uma fazenda na serra, na varanda de trás da típica casa de caseiro da grande Fazenda Três Amores, os primeiros raios de sol surgiam entre as arvores e os sons dos animais eram a melodia perfeita para a pratica de yoga de Maria, que mesmo com seus 40 anos aparentava ter uns 10 a menos.

Após finalizar toda sua prática com uma gratificante meditação, Maria abriu os olhos para o novo dia e sorriu para o céu pronta para mais uma sexta-feira agitada que viria pela frente.

Sentada na mesma varanda, Maria tomava seu café da manhã quando Gabriela, sua namorada e também veterinária da fazenda, parou no vão da porta com uma xícara em mãos.

- Bom dia... – Gabriela se aproximou de Maria e lhe deu um beijo.

- Bom dia – sorriu – Já está indo?

- É... – encostou-se a pilastra próxima a Maria – vou só tomar esse café e correr para casa, tenho um monte de coisa para resolver na cidade, mas mais tarde eu volto que eu tenho que examinar a porquinha que seu tio pediu e dar uma olhada na Sol... acho que a qualquer momento: BUM! – fez um gesto de explosão com as mão - Eles vão nascer.

Gabriela era naturalmente uma mulher empolgada, dessas que se é feliz com as pequenas coisas e que sempre insistia naquilo que acreditava... se não fosse por ela aquele namoro nunca teria começado, já que teve que fazer de quase tudo para derrubar os muros de Maria e conquistar seu coração.

- Eu sei que seu dia vai ser longo... – Gabriela tinha a voz manhosa – que você tem um monte de coisa..., mas assim, por um acaso... como quem não quer nada... quem sabe você não arruma um tempinho para mim mais tarde? – Maria ia começar a falar, mas foi interrompida – Olha antes de dizer não, só pensa com carinho... ok? – sorriu animada.

- É sexta-feira... – com desanimo.

- Eu sei! – Interrompeu – Eu sei..., mas quem sabe? Vai que você arruma um tempinho? – Gabriela sorriu e lhe beijou mais uma vez. – Tenho que ir... – partiu deixando Maria com seu café.

Maria gostava de Gabriela, é claro que gostava, mas toda aquela coisa da paixão, das loucuras de amor, não existia mais para ela... em algum lugar do passado ela foi uma menina apaixonada, acreditava em almas gêmeas e sonhava em morrer velhinha ao lado de um grande amor, mas a vida lhe deu tantas rasteiras que só de lembrar tudo que perdeu, chegava a achar graça de tão tolo que era toda aquela bobeira de paixões avassaladoras.

Viver na fazenda era tranquilo, gostoso e sem grandes aventuras, não tinha do que reclamar, na verdade era a vida perfeita caso não tivesse tido tantas perdas ao longo dos anos... perdas essas que nos últimos dias estavam lhe atormentando... faltava pouco, muito pouco para Maria derrubar mais um muro e ir atrás do que era seu.

Maria que tinha a mente longe e o café já frio em mãos, levantou e sacudiu suas lembranças, mandado embora tudo que poderia tirar sua sanidade, aquela sexta-feira não merecia suas dores do passado ela tinha muito mais o que fazer, então foi até a cozinha e preparou um café da manhã especial: banana amassada com granola, suco de laranja e um pedaço de aipim. Colocou tudo na mesa da varanda e foi até um quarto escurinho onde abriu as cortinas fazendo o menino Bento de 6 anos se mover incomodado com a luz.

- Bom dia meu amor. – Maria sentou-se à beira da cama. – Está na hora... – o menino de cabelos cacheados e bagunçados resmungou sonolento, mas permaneceu de olhos fechados. – Tá cansado né?! Mas também brincou a beça ontem né, filho?! – Ela passou a mão em seu rosto. – Vamos, Bento... vamos levantar, vamos.

- Tô com fome... – falou ainda de olhos fechados, o que fez Maria rir.

- Eu sei... seu café já está pronto... vamos lá?

Maria não era mãe biológica de Bento e tão pouco havia ido em busca de um filho adotivo, o pequeno surgiu como um presente do cosmo. Por mais que todas as suas perdas tenham a feito descrente de muitas coisas e até de certa forma lhe deixado oca, o menino lhe trouxe uma luz que já havia se apagado há muito tempo.

A mãe biológica de Bento veio fugida do Nordeste em busca da tia que trabalhava na fazenda. A jovem tinha apenas 15 anos, estava assustada e grávida... toda aquela situação fez Maria sentir algo real depois de muito tempo, o que a fez abraçar a causa e amadrinhar o bebê que estava por vir. Mas, a jovem morreu no parto e Maria sentiu que o universo estava lhe dando uma chance de se redimir com o que havia deixado no passado... não que sua culpa tivesse diminuído, mas ela sentia que de alguma forma aquilo a fazia ser um ser humano menos ruim.

O avô de Maria, pai do seu pai Heleno e do seu tio Heitor, era dono de fazendas e antes mesmo dela nascer ele deixou em seu testamento uma fazenda para cada filho.

Heleno seu pai, vendeu a sua e foi viver seu sonho de morar no Rio de Janeiro, já Heitor na época transformou a fazenda em uma comunidade Hippie, mas com o passar dos anos junto a sua esposa Laura e seu marido Antônio, eles transformaram a comunidade no Hotel Fazenda Três Amores - uma referência na comunidade LGBTQIA+.

Maria era uma espécie de faz tudo naquele lugar, montava o cardápio, mexia com a terra, recepcionava os hospedes, resolvia pepinos financeiros na cidade para os tios, supervisionava a limpeza dos quartos e ainda cantava no palquinho da Fazenda... Sorte a dela que tinha tios tão maravilhosos que junto a ela criavam Bento muito bem.

Naquela sexta-feira as coisas não seriam diferentes, pela manhã junto ao Bento ela colheu manjericão para o almoço, entregou as cozinheiras que já estavam a todo vapor nos fogões a lenha. Deixou o filho com a tia Laura, foi auxiliar o eletricista, conversou com o tio Heitor sobre um casal que estava querendo se casar lá no final do mês, encontrou o tio Antônio e o ajudou com as questões tecnológicas. Antes mesmo do almoço, Maria já tinha feito tantas coisas que teve que parar para respirar junto a um café na parte externa próximo a cozinha.

Ali sentada no degrau, Maria tentava espantar suas lembranças que mais uma vez insistiam em voltar a criar raízes, era como se uma caixa de pandora tivesse libertando tudo aquilo que ela levou tanto tempo para enterrar. Ou talvez fosse o chamado para ir em busca do que foi deixado.

- Minha filha... – Tio Heitor sentou ao seu lado também com um café em mãos.

- Veio tomar um café comigo? – Sorriu feliz com a sua presença, assim conseguiria não pensar no passado.

- É... na verdade eu vim conversar com você... – Seu tom era sério, de imediato ela se preocupou. – Eu tenho pensado tanto no seu pai... tenho sentido ele... muito presente nos últimos dias... – Maria respirou fundo com o assunto – Eu sei que você não gosta de falar do passado... e eu sempre respeitei isso... e não que eu queira revirar algo agora, mas eu... eu sinto que é preciso te falar algumas coisas... – Maria permaneceu calada, séria e tensa. – Meu irmão se foi muito jovem, mas com muita graça ele nos deixou você... – sorriu para a sobrinha. – lembro da última vez que vocês vieram juntos aqui... você tinha uns onze anos e brilhava como o sol, era valente, inteligente, cativante, já cantava e tocava como adulta... sorria o tempo todo e tinha uma energia tão espetacular que era difícil não ter a atenção de todos...

- Eu era só uma criança exibida... – sua voz saiu sem emoção.

- Não Maria! Você era Luz! – Heitor se exaltou um pouco, mas sem elevar o tom de voz - Você era daquele tipo de gente que falta no mundo, a energia boa que faz as coisas darem certo... você brilhava tanto que mesmo nos dias mais difíceis do câncer de seu pai, ele me contava que você o fazia esquecer todo aquele sofrimento... – Maria desviou o olhar e prendeu a respiração – Respira minha menina... respira... eu não estou falando essas coisas para lhe causar dor... muito pelo contrário... eu não aguento mais ver você nessa situação... eu só quero que você volte a ser a luz que sempre foi, eu quero que você seja feliz, Maria... – Olhando para o outro lado ela nega com a cabeça. – Maria... olha para mim... – Ela nega novamente. – Olha para mim! – continua a negar – Maria! – Ele chama sua atenção, mas ela não o escuta. – Maria Ca- Ela o interrompe.

- Estou olhando! – olha com nitidamente chateada.

- Já faz 15 anos que você veio para cá... não acha que 15 anos são o suficiente para você deixar o passado para trás e voltar a viver?

- Como assim Tio? Eu vivo! Eu tenho o Bento, eu trabalho aqui, eu moro aqui, eu conheço um monte de gente, eu canto... tenho até uma namorada... o que mais você quer que eu faça para ser feliz?

- Ser feliz! Maria, ser feliz!

- Eu sou feliz!

- Minha filha... você pode tentar mentir para mim, mas não minta para si... tirando o Bento, tudo isso que você citou são apenas tapa buracos... você nem gosta dessa menina, a Gabriela...

- Você não tem o direito de dizer de quem eu gosto ou não... nem mesmo de dizer se sou feliz, só eu sei o que eu sou! Só eu sei se eu – ele a interrompeu.

- Maria, não! Presta bem atenção. Eu tinha uma dívida com seu pai, mas ele morreu antes mesmo que eu pudesse quita-la... então há um tempo atrás eu decidi junto aos seus outros tios que iria quitar com você. – Ela o interrompeu nitidamente chateada.

- Eu não preciso de nada, vocês já me deram demais nessa vida, já está pago. – Ela ignorou.

- Nós montamos um café & bar feito todinho pensado em você lá no Rio de Janeiro. – Maria negou nervosa.

- Não!

- Já está pronto, faltam só os retoques finais que será você quem vai decidir.

- Não... – Enquanto ela negava, ele continuava a ignorar.

- Além do café e bar tem também um apartamento, que foi todo mobilhado pela Laura.

- Vocês só podem estar de brincadeira comigo... – Seus olhos estavam vermelhos, seu coração na boca e um misto de sentimentos lhe invadia.

- Maria! – Ele se virou de frente para ela, fazendo-a olhar em seus olhos. – Você precisa dar uma chance, você tem que parar de se esconder de você mesma... já tem muitos anos que você está dando sua vida para essa fazenda... Já chega! Você precisa voltar a ser quem é! Você precisa voltar a ser luz!

- E você acha que voltar para o Rio de Janeiro vai automaticamente fazer isso?

- Não sei o que aconteceu com você lá trás... não sei o que a maluca da tua mãe lhe fez... mas seu pai, ele te amava demais, assim como eu também te amo, e tanto eu quanto ele queremos que você volte a ser feliz de verdade.

Heitor levantou, passou a mão na cabeça da sobrinha e suspirou ao ver o quanto ela tinha ficado abalada.

- Vai ficar tudo bem...


ºººººº


Madu e Navi acordaram ao entardecer e como se não houvesse o amanhã lá estavam elas se arrumando para mais uma reunião, desta vez seria uma despedida, já que a tal amiga estava indo fazer faculdade fora do país.

Com roupas jogadas pelo quarto, musica nas alturas e indecisões misturadas com euforia, Éli bateu na porta com o celular no ouvido, de imediato Madu abaixou o volume.

- Eu não te disse?! Elas estão se arrumando... – Fez uma pausa para ouvir o que dizia do outro lado da linha. – Uma ingrata, eu concordo!

- Deve ser seu pai...- Madu falou para Navi.

- Aff, esqueci de ligar para ele...

- Sim, fala com ela... – Éli entregou o celular para Navi.

- Oi paizinho querido, desculpa... – Ela foi em direção ao banheiro e - meu celular tá carregando no modo avião... – se trancou.

- A festa ontem foi... daquelas, né Maria Eduarda? – Éli chamou a atenção da filha.

- Ah mãe estamos de férias...

- Como se durante o ano vocês ficassem pianinho dentro de casa.

- Ah mãe...

- Ah mãe nada, vocês chegaram hoje de manhã... dormiram até agora e já estão se arrumando para sair de novo? Da para ficar em casa pelo menos um dia? Ou talvez quem sabe saírem comigo?... Podemos ir ao cinema, na praia... sei lá...  – Madu sorriu para mãe, que permaneceu com cara de brava.

- Ah então é isso, você tá é com saudades da gente enchendo seu saco o dia todo.

- Estou mesmo! – Assumiu a contragosto – Nem vocês nem seu irmão tem ficado em casa...

- Ah mãezinha, fica tranquila que amanhã eu e Navi vamos ficar com você, ok?!

- Amanhã é sábado, então eu nem vou criar expectativas...

- Cria mesmo não. – Madu riu. – Mas vamos sim.

- E hoje, onde vão?

- Eu falei com você ontem, mãe... – Madu revirou os olhos impaciente - vamos na despedida da Julia.

- Ah é! Ela vai quando mesmo?

- Mês que vem...

- E a festa é hoje?... aposto que vai ter um monte de despedida até ela ir de verdade...

- Sim – sorriu travessa ao mostrar uma blusa para Éli. – O que acha dessa?

- Ai filha, tá tão calor, coloca uma coisa sem manga.

- Eu não, ninguém merece ficar olhando meu braço gordo.

- Maria Eduarda! – Chamou sua atenção, fazendo-a automaticamente revirar os olhos.

- Ah! Nem começa, mãe!

- Nem começa você! Filha! Você é linda, perfeita, inteligente... te criei tão livre dessas amarras da sociedade, mas mesmo assim você tem esse complexo sem pé nem cabeça com seu corpo... eu não consigo entender!

- Que sem pé nem cabeça mãe!? Eu sou gorda ué, ou você nunca reparou?

- Filha! Sim..., mas você é saudável... ser gorda seria um problema se você não fosse, se só comesse porcaria, se não se exercitasse..., mas muito pelo contrário!

- Mãe... não quero ouvir...

- Porque você faz isso com você Madu?

- Mãe me deixa! Já pode ir, depois a Navi leva o seu celular...

- Filha... se você soubesse o quanto você é linda... poxa vida, não faz isso com você... - com carinho.

- Cara, sério! Na moral... – se exaltou - Às vezes eu acho que vocês gostam de me irritar, sabe?!... porque é muito fácil para você vir me falar que eu tenho que me aceitar como gorda... olha para você! Toda magra perfeita... Ah manhê, tchau! Se você não quer sair do meu quarto, saio eu! – bateu a porta.

Éli suspirou e pensou o quanto o jovem é problemático independente da criação, parecia que fazia parte do currículo de todos eles serem do contra tudo que seus pais mostravam como o melhor caminho a seguir.

Como todos os pais que tentavam fazer o seu melhor, ela deu de ombros para a situação e bateu na porta do banheiro no mesmo instante em que Navi a abriu.

- Muito obrigada! – Devolveu o celular. – Eu consegui pegar o que vocês estavam falando... sobre a Madu não aceitar o corpo e tal... eu já tentei mostrar para ela de várias formas que ela é a mulher mais linda desse mundo, mas só acabou em briga... então eu tô tentando de outro jeito, se eu tiver sorte te conto depois – sorriu animada para a tia.

- Espero que dê! – Éli suspirou mais uma vez – Bem, resolveu as coisas com seu pai? – Navi afirmou – Então agora eu preciso voltar a trabalhar... por favor, não esqueçam de me dar tchau quando forem.


ºººººº


Na despedida, Navi e Madu estavam sentadas no sofá próximo a janela e relembravam fatos da infância após sua amiga Julia ter mostrado uma foto delas três na escola.

Navi foi criada apenas pelo pai. Sua mãe, lhe abandonou quando ainda era criança, seu pai dizia que ela simplesmente fez as malas e se foi, sem nem ao menos deixar um recado. Aquela história nunca lhe desceu a garganta, o que a fazia sempre o encher de perguntas, e com o passar dos anos a tristeza de seu pai com aquele assunto começou a lhe incomodar, então ela parou de perguntar.

Carlos era um ótimo pai, dedicado, atencioso, carinhoso. Trabalhava como professor de português e literatura em algumas escolas, que foi em uma delas que ele matriculou Ana Vitoria no passado e foi lá que ela conhecei Madu.

Madu e Navi se tornaram melhores amigas muito rápido, a conexão que existia entre elas era sem dúvidas de outras vidas. Alguns juravam que eram namoradas, já outros irmãs.

Na família de Madu, Navi era como filha para Éli, que praticamente a criou de tanto que ela ficava enfurnada naquele apartamento.

De fora era realmente uma relação perfeita, mas de dentro não era bem assim... uns dois anos antes, Navi conheceu Clara que lhe ajudou a entender seus sentimentos e confusões, na época Madu se sentiu deixada de lado, o que gerou algumas brigas, mas o grande BUM ocorreu quando Navi contou a Madu que Clara havia lhe aberto os olhos para entender que ela gostava de meninas.

Aqueles foram dias difíceis, Madu não queria nem ouvir o nome Clara e a amizade ficou balançada por meses. Com o tempo o assunto meio que se tornou proibido, porque sempre havia briga, de um lado Madu não suportava ver Navi com outras meninas, com isso Navi acusava a melhor amiga de preconceituosa e já Madu jurava que não.

Em meio a risadas de memórias bobas, a campainha do apartamento tocou fazendo quase todos da despedida se olharem sem entender, já que todos estavam lá.

- Será que ela pediu mais comida, ou bebida... sei lá? – Navi perguntou sem entender quem poderia ser.

- Ou pode ser a Polícia, para prender geral pelo consumo exagerado de drogas ilícitas. – Com deboche.

Julia abriu a porta e logo abraçou uma menina desconhecida, dando passagem para ela entrar, em seguida abraçou a jovem que nem Navi, nem Madu acreditaram que estava ali.

- Clara?! – Madu questionou Navi imediatamente.

- Nem vem que eu não sei de nada, faz tempo que não falo com a Clara... eu nem sabia que ela conhecia a Julia...

- Cara... sério, inacreditável como esse mundo pode ser pequeno desse jeito, como essa garota insuportável veio parar logo aqui?!

- Menos, Madu... você nunca trocou nem duas palavras com ela, não sabe quem ela é, então não começa com seu preconceito idiota a essa hora se não eu vou ficar bem puta. – Levantou.

- Onde você vai?

- Falar com a Clara, e se ficar de mimimi ou cara feia eu nem falo mais com você hoje... – deu as costas a amiga fazendo-a revirar os olhos nitidamente irritada.

Navi cumprimentou Clara e a desconhecida, Leticia, que era namorada de um grande amigo dela. A conversa inicial com Clara foi rápida ela logo se juntou a outro grupinho deixando Leticia junto a Navi.

- Quer sentar? – Navi perguntou apontando para o sofá onde estava com Madu que também tinha ido se juntar com outro grupo.

- Por favor! – praticamente se jogou no sofá, suspirou e tomou os últimos goles de cerveja – Finalmente!... estou exausta... – sorriu aliviada e a encarou. – E você?... mora sozinha?

- Que? Não... – A achou estranha e engraçada.

- Se puder adiar morar sozinha, faça isso... eu to morando com meu namorado tem nem um mês e eu já me sinto uma senhora dona de casa exausta dos afazeres do lar... – começou a tagarelar - Tá que o fato de estarmos arrumando a mudança torna tudo mais hardcore que o normal... Mas mesmo assim eu to toda dolorida, sabe... e eu nem sou de reclamar nem nada não, pelo menos eu acho... não sei... tanto faz... Mas aí eu fico aqui pensando... Imagina quando as aulas da faculdade voltarem? E quando eu tiver trabalhando e estudando? Olha Nivia... é Nivia né?

- Não – riu achando graça – é Navi, apelido de Ana Vitoria...

- Olha Navi... te falar que eu nem te conheço e to aqui contando minha vida para você...-  riu ao revirar os olhos de si mesma - Mas, eu preferiria fazer tudo isso mil vezes do que ficar morando com minha vó... Então ai vai o meu real conselho, se você tem uma boa relação com quem mora, fica até não poder mais... Caso não tenha, arruma um jeito de cair fora.

- Anotado!

- É sério ok?... E tipo eu tô aqui falando a beça sem parar porque na real, meu namorado tem passado o dia trabalhando com o pai e como não tenho mais empregados então eu passo o dia todo sem falar com ninguém naquele apezinho... – fez uma pausa e negou com a cabeça como se tivesse pronta para contar algo ruim – é muito solitário..

- Empregados? – Navi perguntou realmente interessada, ela estava adorando aquela garota doidinha.

- É... nossa... que saudades da Paula... Não que eu não tenha saudades da Silvia, do Sr Getúlio e da Lucia..., mas da Paula?... nossa que saudades da Paula...

- Quatro empregados?

-  Tem uns outros que só vão algumas vezes na semana, mas esses que falei são os que tão lá todos os dias antes mesmo de eu nascer... quero dizer, a Paula é a mais nova lá na casa da minha vó... e para falar a verdade eu nem sei se ela ainda tá lá, já que eu fui embora e ela era meio que minha...

- Sua?

- É... ela foi minha babá e depois virou minha motorista...

- É... sua vida deve ter sido bem difícil... - riu com deboche, mas Leticia levou a sério.

- É verdade... você não faz ideia do inferno que é morar na mesma casa que a minha vó... é sério, real, de verdade, ela é um monstro e eu não estou exagerando...

- Ela te batia?

- Não! – riu da pergunta – Ela nunca tocou em mim... literalmente ela nunca tocou em mim...

- E seus pais?

- Meu pai é legal, tem lá a família dele, mulher e filhos, sabe?! Minha mãe? Bem... pelo pouco que sei, ela era doida, chegou a ser internada no manicômio e tudo... minha vó conta que ela tinha uma banda e que eles eram muito drogados... e que foi por conta disso que ela ficou maluca... eu na real não tô nem ai sabe?!... para mim ela não significa nada.

- Ela morreu? – Navi ficou intrigada com aquilo - E como assim não significa nada? Eu também não tenho mãe, ela nos abandonou quando eu era criança..., mas...

- Não ela não morreu, não que eu saiba... tipo, se a história da minha vó for real, minha mãe era uma mulher doente que preferiu as drogas em vez de ficar comigo... caso não seja real, ela me deixou por algum outro motivo para ser criada pelo demônio que é a minha vó, então... se não for uma cracuda, ela só pode ser pior que a própria...

- Mas você não tem mesmo nenhuma vontade ou nunca teve de saber a verdade... ou de conhecer ela?

- Não...

- Eu tenho...

- Cara... eu tenho meus motivos para não ir, na real acho que ela é tão mostro como minha vó ou pior... por isso não quero..., mas eu sou eu e você é você..., mas e a tua mãe, era boa?

- Pelo quase nada que lembro, sim... e o pouco que meu pai contou... ela era uma boa mãe, mas que um dia foi embora do nada... sei lá, uma história mal contada sabe?

- Navi... – segurou em suas duas mãos fazendo-a olhar em seus olhos – eu acabei de te conhecer, mais falei do que deixei você falar... mas confia no minha intuição, eu sinto que você vai encontrar sua mãe... você vai encontrar sua mãe e está mais próximo do que imagina... mas você precisar ir atrás dela... – sorriu confiante. – E tem mais uma coisa... a partir de hoje eu e você estamos ligadas para sempre.

Madu ao longe viu a menina desconhecida já intima de sua melhor amiga, era irritante demais para ela sentir toda aquela posse, todo aquele medo de Navi a qualquer momento se apaixonar por alguém e elas nunca mais serem como eram... Maria Eduarda entendia bem seus sentimentos pela melhor amiga, mas ela sabia que Ana Vitoria mesmo já tendo lhe contado que gostava de meninas, jamais olharia para ela como mulher... Navi sempre a olharia como a irmãzinha que não teve.

Diferente de todas as vezes em que deixou as emoções falarem mais alto, Madu respirou fundo, bebeu seus últimos goles de cerveja e tomou a decisão que já deveria ter tomado há muito tempo... ela estava cansada de tudo aquilo, exausta de tanto sonhar com o dia em que Navi se declararia ou a beijaria... como aquilo não iria acontecer, ela tinha que colocar de vez um ponto final naquele doido amor... ela tinha que esquecer Ana Vitoria

Maria Eduarda pegou três cervejas e levou até Navi e a desconhecida... aquele era o marco em que ela dava uma trégua ao seu coração, ela não ia mais dar chilique, ou ficar com cara de bunda... por mais que seus sentimentos estivessem borbulhando tanto ela quanto sua melhor amiga precisavam daquilo.

Madu entregou a cerveja as duas com seu melhor sorriso e sentou a frente delas.

- Um brinde...


ºººººº


Éli não tinha muitos amigos, mas tinha muitos amantes, homens e mulheres de todo tipo. Mesmo quando era casada com Ricardo ela tinha seus casos... alguns eram mais fixos que outros, mas nenhum nunca ultrapassou o limite do prazer para se tornar único e oficial.

A mulher de muitos casos teve seu encontro da noite de sexta-feira arruinado com um pedido de namoro, mesmo sempre lhe deixando claro que ela não namorava, o apaixonado João insistiu, fazendo tudo acabar de vez... sem querer voltar para casa, Éli bateu novamente no apartamento de Rebeca que lhe cedeu a cama e o corpo.

Rebeca era a única que nunca lhe cobrou nada, que sempre aceitou aquela relação como era... e talvez por esse motivo, ela fosse o mais próximo de um relacionamento sério que Éli conseguiria ter.

Na mesa de jantar do apartamento de Éli, o café da manhã terminava de ser servido por Madu e Navi ao meio dia. A noite tinha sido longa pra todas, até para Miguel que havia chegado da casa de um amigo e confessou ter virado a noite jogando.

Já tinha um tempo que eles não comiam juntos, que não fofocavam sobre suas vidas, ou apenas faziam planos que nunca cumpririam. A conversa estava boa, as risadas gostosas e o deboche na ponta da língua. Mas, mesmo assim Éli deixou escapar algumas vezes sua ansiedade, dando brechas de que algo estava acontecendo.

- Tua vez. – Navi encarou Éli.

- O que?

- Tua vez de contar para gente o que está rolando. – Madu completou a amiga.

- Mas eu já contei tudo. – sorriu como disfarce.

- Tia... – Navi colocou sua mão sobre a dela e a encarou ainda mais. – Conversa com a gente, se abre...

- Tem alguma coisa aí dentro que está te atormentado e a gente consegue ver, coloca para fora, você mesma sabe que vai ser melhor... – Madu

- Não é nada...

- Mãe! – Miguel chamou sua atenção. – Cara... até eu reparei que você não tá muito bem... se for coisa que você não quer que eu saiba eu posso ir para o quarto para você falar com elas... mas não deixa de falar não... você sempre ensinou a gente a não guardar nossas tristezas...

Éli sorriu feliz ao ver seu filho mais novo falar como gente grande e se sentiu orgulhosa do trabalho que havia feito com todos eles, incluindo com Navi.

- Não filho, pode ficar... – Éli respirou fundo antes de colocar qualquer coisa para fora – é só coisa de trabalho.

Os três afirmaram à espera de mais informações.

- Pode contar... – Madu incentivou, mas Éli negou.

- Vai tia Éli, conversa com a gente...

- Nós vamos perder tudo e vamos ter que viver da nossa arte na praia? – Madu brincou, Éli negou. – Então estamos de boa, pode começar a contar...

- Não é nada... sério...

- Mãe, conta logo! – Miguel insistiu.

Éli revirou os olhos e bufou de leve. Não tinha nada de mais contar a eles, mas de alguma forma havia algo dentro dela que não queria nem mesmo falar sobre.

- Eu tive uma banda, vocês sabem... – eles afirmaram animados – então, eu recebi um convite para participar do documentário que contaria a história da Trevo de 5.

- E isso não é maravilhoso? – Navi perguntou animada, Éli negou meio triste.

- Ô mãe... – Madu parecia confusa - você nunca falou muito banda, mas você já nos contou que foi um grande sonho, que tudo acabou do dia para noite por conta de uma briga entre vocês... como assim esse documentário não é maravilhoso se vocês podem enfim se resolverem, sei lá... isso não foi antes da gente nascer?

- Foi há uns 20 anos...

- Então?

- Eu não sei se quero tudo isso na minha vida hoje em dia...

- Explica... – Navi reencheu sua xícara de café.

- Eu não sei se quero revirar esse passado e contar tudo para o mundo.

- Porque não? – Miguel.

- Está com medo de que, Mãe? – Madu a encorajou com o olhar.

- Eu não sei... eu só sinto medo... – confessou.

- Tia, Éli, você é a mulher mais corajosa que eu conheço! Seja lá o motivo da sua banda ter chegado ao fim, hoje o universo está lhe dando essa oportunidade de você desfazer esse nó...

- Sei lá, mãe... – Madu pensou antes de falar - faz tanto tempo que essa banda acabou... que essa briga rolou que acho meio bobeira da tua parte tá com medo sei lá de que... – Madu.

Éli sabia que era bobeira da sua parte estar com tanto receio de entrar nesse projeto, mas ao ouvir de sua filha algo se desfez dentro de si lhe dando a clareza que precisava.

- É verdade... não faz sentido... – sorriu aliviada - ainda mais que a mulher que amou aquela banda nem existe mais... eu não sou mais aquela Éli...

- Viu como falar ajuda? – Navi piscou para a tia orgulhosa.

- Obrigada. – Éli agradeceu.

- De nada! Agora conclua sua questão. – Navi incentivou Éli.

- Como assim?

- Você recebeu uma proposta de trabalho... – Navi estava animada com aquilo - e acabou de descobrir que estava com medo atoa... então o próximo passo é?

- Eu vou dizer ao Fábio que aceito.

- Vamos ter um documentário sobre a banda! – Madu batucou na mesa como se fosse um tambor fazendo Navi e Miguel a imitarem.

A questão de Éli mexeu com Navi, foi como se sua coragem a tivesse dado o ultimo empurrãozinho. Ela ia enviar a mensagem já escrita há um tempo para a mulher que encontrou na internet.

Navi demorou muito para encontrá-la, foram muitas e muitas tentativas em todas as redes sociais possíveis, até que depois de quase desisti ela buscou em sua certidão de nascimento o nome dos seus avós maternos, a busca por eles na internet também foi em vão, mas teve a brilhante ideia de usar o primeiro nome de sua mãe, junto ao sobrenome de seu avô que não lhe foi passado adiante.

E lá estava Navi trancada no banheiro do quarto de Madu com o celular em mãos... seu olhar fixo na tela, ela releu pela última vez a mensagem e apertou enviar.


ºººººº


No Hotel Fazenda Três Amores, Maria estava sentada junto a cozinheira chefe organizando o cardápio da semana quando seu celular piscou a sua frente, a mensagem em sua tela lhe fez acelerar o coração como há tempos não fazia.

Ela levantou sem pedir licença e foi até a parte de fora, sentou no degrau da escada com as pernas tremulas, encarou o celular por longos segundos e abriu a notificação:

“Olá Maria, eu sou a Ana Vitória e posso estar muito enganada, mas acho que você é minha mãe. Se for, será que podemos conversar? Se não for, apenas ignore essa mensagem.”


Fim do capítulo


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Comentários para 1 - Voltar a ser luz:
patty-321
patty-321

Em: 02/07/2020

Cara, já fiquei fissurada neste primeiro capítulo, estória com conteúdo, personagens complexos e capítulo gigante. Vamos ao.proximo.


Resposta do autor:

Aaaaaah que delicia saber se gostou, eu ainda me sintoinsegura com essa história, sinto como se não tivesse agradando, como se esse cap fosse chato ou entediante... Feliz demais que você curtiu!!

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Anny Grazielly
Anny Grazielly

Em: 26/05/2020

Caracaaaaaa.... as amigas mirins, que possivelmente se apaixonarão, sao filhas do casal Maria e Eli... destino eh fodaaaaa mesmo.... kkkkkk


Resposta do autor:

SIIIIIIIIIIIIM!!! Um destino é um destino e quando está traçado ele acontece!!

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ritapin
ritapin

Em: 25/05/2020

Que bom que voltou! Estou acompanhando e gostando dos capítulos. Para não... 😉


Resposta do autor:

Estou grata por estar aqui! Em breve postarei mais!

Responder

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Raf31a
Raf31a

Em: 25/05/2020

👏👏👏👏👏

 

Que bom que repostou! 😁 E não desista! 


Resposta do autor:

Vamos que vamos! Grata por estar aqui! Em breve postarei mais!!

Responder

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Endless
Endless

Em: 25/05/2020

Está reescrevendo aqui no site? Porque já tinha 3 capitulos.


Resposta do autor:

Sim, eu tinha desistido e apaguei pela falta de retorno, mas entou tentando novamente.

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