Capitulo 13
Desmond tentou controlar a raiva, estavam no meio do nada, na madrugada chuvosa e em uma estrada barrenta sem qualquer sinal da loirinha.
- Vamos ter que empurrar - disse Ramón quando o carro patinou mais uma vez na lama.
- Fiquem a vontade, vou continuar andando. - avisou o assassino.
Sem se importar com o frio ou as roupas molhadas ele seguiu a estrada usando a grama no acostamento para não cair na lama. Em pouco tempo a luz dos faróis do carro sumiram deixando Desmond na completa escuridão, ele seguiu calmamente entre tropeços.
Estava obcecado por Stella como ficara anos atrás com Nanda, enquanto não a matou não se sentiu em paz. As duas tinham muito em comum: a cor dos olhos, os cabelos e a mesma idade. A única diferença era que Stella estava com uma assassina que não hesitaria em mata-lo, Nanda não tinha proteção alguma.
- Rosalie - murmurou para si mesmo - O Anjo da Morte.
Ele sabia que ela seria um empecilho em sua fantasia e não ganhara tal apelido a toa. Não a conhecia mas já a odiava porque tinha certeza que ela faria de tudo para manter a loira a salvo.
- Não me importa quem é, não vai estragar minha diversão. - jurou ele imaginando que matar Rose não seria tão interessante.
Ela não tinha o tipo fisíco que ele buscava em suas vítimas, adorava ver o semblante de dor nos rostos delas enquanto as tortura. Mortes como a da recepcionista e do frentista não lhe davam tanto prazer quanto adolescentes ou jovens entre os dezesseis e dezenove.
Todos esses anos ele se manteve impune graças a um acordo que fizera com Armando, o traficante tinha muitas utilidades para alguém como ele e se por acaso algum assassinato levantasse suspeita daria a policía um bode espiátorio.
Continuou andando sem trégua e sem sentir o gelo que seu corpo havia se transformado, a ponto de tremer incontrolavelmente. Não ligava, se acostumara desde a infância as piores condições pois assim como Gabriel nascera no Mercado Velho filho de uma mulher da vida.
No entanto, ele não tivera uma Rosalie para ajuda-lo portanto antes de completar sete anos já havia sido entregue á prostituição. Com isso o Desmond que já carregava no cerebro a incapacidade de sentir tornou-se cruél, sendo torturado ele aprendeu a torturar, vendo os clientes sentirem prazer com sua dor ele aprendeu ter prazer com a dor alheia, alimentando o ódio aprendeu a se vingar.
Ao atingir dezesseis anos Desmond fugiu do prostibulo onde era escravo, voltou horas depois com dois galões cheios de gasolina. Aguardou que a casa enchesse de clientes então, sem separar culpados e vitímas, espalhou o combustivel nos quartos não ocupados e discretamente entre os convidados na entrada.
Sem que ninguém visse jogou o cigarro que fumava sobre a gasolina e o fogo começou. Naquela noite ouviu todos gritarem do lado de dentro, as saídas fechadas a chave por foram fatais e ninguém além dele se salvou.
Assistiu entorpecido a casa antiga de dois andares queimar e saboreou os gritos de desespero e dor fumando um cigarro tranquilamente. Aquela noite foi há tanto tempo atrás pensou ouvindo o som ensurdecedor da chuva.
- Ah! Stella! Você é tão parecida com ela que vou fazer pior do que já fiz nas outras vezes. - murmurou Desmond para si mesmo.
Depois que saíra da cena do incendio ele vagou a esmo, roubando para matar a fome. Porém com o passar das madrugadas frias que dormia na rua gélida Desmond percebeu que não era só de alimento que precisava.
Enfiou na cabeça que livraria o mundo de crianças como ele destruindo pessoas como sua mãe e os clientes. Assim, o esfomeado rapaz sem teto virou o pesadelo do Mercado Velho.
A sensação de infligir dor tornava seus sofrimentos mais maleaveis e quanto mais privações passava mais torturava a vitima da noite. O bairro mais antigo e decaido da cidade sempre teve um alto indice de violencia por isso seus crimes passaram desapercebidos pela policia mas não para os donos dos bordéis.
Temendo ficar sem clientes, os principais cafetões e cafetinas do Mercado Velho se uniram para pagar Armando e seus homens como seguranças do bairro. O traficante não demorou para encontrar o causador da confusão, porém não o eliminou como mandaram. Protegido por uma figura conhecida e temida por todos na cidade, Desmond se viu livre da miséria que até então o perseguia mas não do monstro que criaram dentro de si.
Matar foi seu passaporte para manter a boa vida que levava e logo se tornou alguém de extrema confiança de Armando. Por isso não foi surpresa para ninguém quando o poderoso chefão anunciou a caçada da garota olhando para o assassino.
- Quero essa puta no QG, ela vai ter que falar quem matou meu irmão. E depois, quem a pegar pode usa-la á vontade.
Fotos da garota foram distribuidas entre os outros e Desmond não estava tão animado para essa tarefa e náo iria atrás dela pois Armando não exigiu isso dele. Na verdade estava interessado em acabar com um cafetão que havia desafiado seu chefe, então a foto chegou em suas mãos e a semelhança da garota com sua mãe o fez dizer sem hesitar:
- Pode deixar, será muito divertido.
Não estava sendo nada divertido, molhado até os ossos como não ficava há muito tempo e tropeçando no escuro. Como não conseguia enxergar direito, a caminhonete preta só foi vista quando estava a poucos passos dela, a descrição batia com a que o frentista dera.
Mas por que a abandonaram? Se perguntou abrindo a mochila que trazia nas costas e pegou uma micha. Sem temer o alarme Desmond abriu a porta do motorista e entrou, olhou o painel e não demorou para ver que não havia nenhum problema visível.
Enfiou a micha na abertura da chave e fez seu truque até o painel acender, os olhos foram para o mostrador de gasolina que indicava tanque vazio.
- Se eu fosse uma assassina com uma pirralha atrás o que eu faria? - perguntou ele encarando mostrador indicando ser cinco e cinquenta da manhã.
O dia ia amanhecer logo e a chuva começara no meio da manhã do dia anterior quando já estavam na estrada. A pirralha mimada não andaria na chuva, viu a casa dela, ajudou a destrui-la e sabia que alguém com tanto dinheiro adoeceria fácil na tempestade fria.
- A assassina deve ter ido para um abrigo provisório até que a manhá chegue e posso apostar que vão buscar isso. - deduziu ele, muito embora soubesse que se Rosalie trocasse de veiculo ele ficaria para trás.
Ainda assim preferiu se esconder em uma moita do outro lado da estrada e dar o braço a torcer. Por uma extrema falta de sorte o escuro não permitiu que ele visse a trilha que dava no rancho e ela ficava fora de vista de seu esconderijo. Horas mais tarde se arrependeria de não ter checado os arredores e deixado escapar uma oportunidade de ouro.
Stella entrou na sede da fazenda de mãos dadas com Rose mal contendo a felicidade, a morena havia desistido de ficar longe e se rendido ao inevitável.
Os olhos verdes buscaram o rosto da rebelde quando adentraram a cozinha, não sabia como ela se comportaria na frente dos outros. Rose ficou acanhada diante dos olhos dos três como se estivesse espondo sua fraqueza e vulnerabilidade.
- Chegaram bem na hora. - disse Lorena tirando o leite que acabara de ferver do fogo. Colocou o canecão sobre a mesa e correu para os ármarios para pegar os copos.
Gabriel passou pelo casal e correu pegar toalhas para elas, Héctor sorria para Stella e até deu um pequeno aceno para Rose. A loira sentou na mesa radiante e ficou ainda mais ao se ver lúcida e ainda feliz, tudo aquilo aconteceu mesmo e não foi fantasia de sua mente. Rosalie sentou do lado dela e assim que Gabriel voltou pegou uma das toalhas e passou pelos ombros de Stella a fazendo suspirar com um gesto tão carinhoso.
Ela assistiu a morena se secar com a toalha e depois com um sorriso inseguro lhe entregar uma caneca. O leite quente aqueceu seu peito tanto quanto sua proximidade com Rose, seus ombros, braços e pernas se tocavam propositalmente enquanto a outra explicava para Gabriel e Héctor a ameaça que Desmond representava.
Aquecidos e sonolentos acharam por bem ir dormir, as duas subiram juntas e se trocaram rapidamente. Rose tentou ir para seu lugar de vigia na varanda superior mas Stella a impediu, tinha certeza que o assassino não as encontraria ali.
Stella a fez se deitar e a usou como travesseiro, sorrindo como uma criança travessa e adormeceu rápido. Mesmo com a arma de Rosalie sob a mesinha de cabeceira lhe lembrando que ainda não estava segura.
Rosalie não pregou os olhos, a mente ainda agitada revia a foto do espelho do motel, um aviso para elas. Ouvia o som doce e baixo da respiração da loirinha deitada sobre seu peito e a apertou mais contra si tentando mitigar seus medos.
Assim viu os primeiros raios de sol entrarem pela porta de vidro e o canto dos passáros encher o ar. Desgrudou-se de Stella com cuidado, deu beijo na testa alva dela e levantou. O corpo estava quebrado da noite em claro mas a água gelada da pia a despertou um pouco.
Pegou a arma na mesinha, checou o pente e a trava antes de guarda-la no cós da calça. Fitou Stella sorrindo, quando imaginou que se apaixonaria por alguém tão diferente de si?
Desceu e deixou um bilhete para Lorena avisando que pegaria um carro emprestado, não quis acordar a anfitriã pois deveria estar cansada. No fim nem precisou emprestar o veiculo, pegou carona com dois empregados e levou os galões consigo.
No posto, o mesmo que Stella parara de madrugada, encheu os galões e depois esperou que os dois homens passassem para pega-la. Eles haviam ido em um mercado na cidade vizinha e não demorariam.
Conversou com os dois no caminho de volta e assim que desceu do carro pegou a trilha que levava a caminhonete. O veiculo estava onde havia deixado, em meio a lama que a estrada de terra se tornou.
Andou até a parte traseira e com a chave abriu a portinhola que dava acesso ao tanque. Pegou um dos galãos que estavam no chão e ia desrosquea-lo quando viu o reflexo de alguém no vidro traseiro.
Rose se movimentou para o lado a tempo de evitar a lamina de Desmond que acertou o vidro. A mão dela foi direto para arma no cós da calça mas antes que pudesse pega-la teve que fugir do ataque outra vez.
- Esperava mais de voce, um desafio mais perigoso...mas não passa de uma garota assustada como as outras. - Rose aproveitou a distração dele e socou seu rosto com força o fazendo se afastar dela.
- E voce é um cara patético que mata as mulheres porque não consegue pega-las. - zombou ela sacando a arma e apontado para ele.
- Antes fosse isso. - retrucou Desmond sem se intimidar com a arma.
Rosalie mirou na cabeça dele e ia atirar mas antes que apertasse o gatilho um estrondo forte a fez se abrigar atrás das árvores. Na confusáo, um carro havia chegado e Rámon apontava pistola para ela.
Desmond partiu para cima dela outra vez e Rose o empurrou contra uma arvore, estavam proximos demais para ela mirar e ele se aproveitava disso.
Na tentativa de evitar que a lamina acertasse seu rosto colocou o antebraço na frente ganhando um enorne corte, ouviu as portas do carro abrirem e fecharem indicando que seus ocupantes tinham descido e ela estava cercada.
A lâmina do assassino obrigou ela a desviar mais uma vez e mais outra quando enfim viu uma brecha e usou a coronha da arma para acertar Desmond na altura do figado. Ele ofegou e Rosalie nãoo perdeu tempo e o socou no rosto atingindo seu nariz que espirrou sangue na pele morena dela.
Viu Ramon e seu outro comparsa se preparando para atirar e sem hesitar agarrou o assassino e o usou como escudo. Os tiros soaram altos no silencio da manhã e atingiram em cheio Desmond fazendo que seu sangue respingasse em Rosalie.
Balas de espingarda responderam ao ataque atingindo o amigo de Ramon de raspão no braço e estilhaçando o vidro do carro, Rose viu dois empregados da fazenda armados com carabinas acompanhados por Lorena e Gabriel.
Outros homens se aproximaram com mais garruchas fazendo Ramon e Henrique recuarem entrando no carro e saindo de ré as pressas, só não foram mortos porque Lorena deu ordens para que os empregados abaixassem as armas.
Rose olhou para Desmond ciente de que não teriam muito tempo, se ele estava ali logo Armando tambem estaria e mesmo podendo contar com aliados armados ela sabia que os homens do irmão de Beto estavam mais preparados para um confronto que simples trabalhadores rurais.
- Chame Stella e Héctor, peça para que esteja prontos. Vou busca-los o mais rápido possivel. - pediu ela a Gabriel. O ruivo disparou pela trilha desaparecendo em meio a mata.
Olhou para Desmond a seus pés e ia examina-lo porém um dos empregados informou que a policia estava vindo, não seria prudente para ela ser vista mexedo em um corpo recem-assassinado nem que suspeitassem da caminhonete com placa clonada parada na estrada de terra.
Sem mais demora derramou os dois galões no tanque e partiu na toda, patinando pela lama até o asfalto, teve tempo de ver duas viaturas passarem pela rodovia ante de entrar no desvio que levava a fazenda.
A consciencia foi voltando pouco a pouco como uma bruma de um sono pesado, algo quente empapava sua camisa e sentia seu ombro esquerdo e abdomem queimar. Não poderia dizer em qual parte exata mas a medida que os olhos embaçados fitaram o verde da grama ficou claro que estava ferido.
Rosalie. Sua mente lembrou de imediato o nome da assassina de aluguel, tinha subestimado ela e perdido feio. Ouviu passos perto de si e esperou que se aproximassem mais para atacar.
Levantar foi uma batalha dificil mas nao mais que empurrar o homem contra a arvore e bater com a cabeça dele no tronco repetidamente até que desmaiasse. Encostou no tronco oposto ofegante, viu os buracos ensanguentados na camisa e teve certeza de que morreria se nao estancasse os ferimentos.
Meio zonzo pegou a espingarda do homem e saiu tropego entrando na mata do outro lado da estrada de terra. Ouviu as sirenes altas quando já estava quase desmaiando, as vistas escureceram com rapidez impressionante e suas pernas e braços não respondiam mais ordens simples.
Caiu de joelhos sem forças, um ódio feroz dominou seu cerebro ao perceber que morreria sem se vingar. Porém a grande sorte de Desmond o salvou e antes que atingisse o chão viu o Armando e outros dois rapazes andarem em sua direção.
Imagens e sons confusos chegavam através dos ouvidos e dos olhos: o motor de um carro, uma casa no meio da nada, um homem idoso com uma maleta, uma picada e a dor cessou minutos depois.
- Perdeu muito sangue mas teve sorte, as balas atingiram o ombro e uma área do abdomem. Felizmente sairam do outro lado sem provocar hemorragia interna nem atingir nenhum orgão vital. - disse o homem idoso antes de Desmond ser levado pelo sono pesado com um sorriso no rosto.
Fim do capítulo
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Comentários para 13 - Capitulo 13:
Resposta do autor: Kkkk, ele é mesmo duro na queda. Espero que continue gostando da estoria, vou mante-la atualizada sempre que puder.
flawer
Em: 25/05/2020
Meninaaaa! ( Mãozinhas no peito angustiada aqui) alguém verifica esse machucado na Rose miau, pelo amor!!!
Oxeeeee, esse demônio... Ops, digo: Desmond não foi morar nos infernos pq, genteee?! Quem mandou essas balas apenas o atravessarem?!!! ( Cheia de ódio aqui) kkkkk
Oi autora, gostando muito da estória! Parabéns.
Manda logo o outro cap. ( Deitadinha no sofá, esperando...) Kkkk
Beijinhos
Resposta do autor: Kkkk, ele é mesmo duro na queda. Espero que continue gostando da estoria, vou mante-la atualizada sempre que puder.
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