Beatriz por stela_silva
Capitulo 15
POV Sarah.
Estava almoçando na companhia de meus inseparáveis colegas e amigos. Bárbara conversava com Marcos e Denis tinha saído para comprar alguma coisa. Renata estava ao meu lado, mas visivelmente brava com minha pessoa. Eu tinha contado tudo que aconteceu entre eu e a Cecília. Renata me disse umas verdades e eu percebi que fiz merd*, mas eu só precisava de tempo para digerir tudo. Foi horrível saber da boca da garota que você mais gostou na vida que ela vendia o corpo para ganhar dinheiro. Eu sempre a vi como a mais preciosa das joias e ela não tinha valor, ela seria intocável, pelo menos para mim.
Descobrir que Cecília vende o corpo por meros trocados foi horrível e amargo. Ela não percebe o quanto é preciosa? Ela não percebe que não precisa se vender para conseguir algo na vida? Eu teria dado tudo a ela e não pediria nada em troca, tudo que eu queria era sua felicidade... Mas ela nunca me aceitou... Nem mesmo como amiga e isso estava me fazendo um mal terrível.
Para completar Denis apareceu acompanhado dela e da Bruna. Renata me olhou rapidamente e voltou a conversar. Não estava prestando atenção nas coisas que eles diziam, mas eu percebia os toques de Bruna em Cecília, sempre dava algum jeito de encostar na garota. Acho que eu não estava com uma cara muito boa.
Fiquei distraída observando vários nadas até que Bárbara chamou minha atenção com uma pergunta direcionada a minha ex amiga.
Se fosse no passado eu saberia sua resposta, mas Cecília estava mudada, eu não sabia mais nada sobre ela.
Cecília respondeu com uma naturalidade impressionante. Ela não se importava com o que as pessoas iriam pensar dela... Não mais.
A encarei e ela me encarou de volta. Seus olhos azuis brilhavam em desafio. Eu quase sorri, ela não iria abaixar a cabeça para ninguém e eu tinha orgulho disso. Tão linda... Perfeita... Eu senti coisas com esse olhar... Coisas que apenas Cecília me causava e apesar dos anos... Eu nunca havia deixado de sentir e isso é uma merd*, porque novamente eu irei gostar sozinha e tudo que eu queria era não sentir nada.
Nosso olhar foi quebrado quando Bárbara a convidou para sair e ela só disse um “pode ser”. Eu a fuzilei, mas Cecília não pareceu dar muita importância. Essa garota não presta mesmo! Eu tenho que manter distância é a melhor coisa a fazer. Não quero sofrer novamente.
O sinal tocou e cada um seguiu seu rumo. Estudei o dia todo e depois que as aulas terminaram e fui para uma sala que apenas eu e Denis conhecíamos, vantagem de ser filha de um dos donos. Fiquei fazendo alguns trabalhos e acabei esquecendo da vida. Lembrei que tinha deixado o celular desligado e o peguei do meu bolso ligando o aparelho. Havia uma mensagem de Renata. A mãe dela havia passado mal e ela viajou para vê-la.
Fiquei assustada com as várias ligações que havia da casa dos meus pais. Retornei a ligação e minha tia atendeu.
Eu não tenho como descrever o que senti quando minha tia me deu a notícia. Era um grande vazio... Um grande nada... Eu não conseguir chorar, mas sabia que precisava. Congelei por longos minutos, sem saber exatamente o que pensar.
Lembrei de todos os momentos com meu pai... O quando ele foi um pai amável, apesar de toda a sua falta de tempo. Meu coração estava apertado e dolorido.
Caminhei no automático em direção ao meu carro. Eu não sabia o que estava fazendo, mas sabia que precisava chegar com urgência a casa dos meus pais.
Meus dedos tremiam enquanto eu tentava dirigir. Não foi nada fácil e eu quase atropelei uma pessoa... Uma pessoa não.... A pessoa... De todas que existem no mundo, tinha que ser a Cecília.
-- Dá pra sair da frente! – falei tentando controlar as lágrimas, mas falhando de forma miserável.
Cecília me encarou assustada e acabou percebendo que eu não estava nada bem.
-- Você está bem? – perguntou preocupada.
Eu não consegui controlar as lágrimas e chorei de forma sofrida, chegava a soluçar. Minha dor tornou-se perceptível para ela. Cecília aproximou-se e abriu a porta do carro, agachou-se e segurou a minha mão.
-- Meu Deus, Sarah. O que tá acontecendo? —perguntou angustiada.
Não falei nada, apenas sair do carro e a abracei apertado. Eu sabia que apesar de todas as nossas diferenças, Cecília não seria insensível naquele momento. Ela gostava de verdade dos meus pais, apesar de tudo que aconteceu no passado. Não havia melhor pessoa nesse momento para ter por perto que não fosse ela. Aliás, acho que ela é a pessoa que eu desejo agora do meu lado, nesse momento tão difícil. O abraço dela é o melhor de todos e por um momento eu pude sentir o conforto de que nunca estaria sozinha e eu sabia disso. Ficamos abraçadas por muito tempo. Ela fazia carinho em meus cabelos e passava a mão por minhas costas. Consegui ficar mais calma e finalmente falar alguma coisa.
-- Meu pai, Cecília... – disse engolindo o choro – Ele...
Não conseguir falar, mas ela percebeu e seus olhos azuis se encheram de tristeza. Ela até chegou a lagrimar.
-- Eu sinto muito, Sarah – falou deixando as lágrimas cair.
Eu sabia que ela estava sendo sincera e isso de alguma forma me confortou. Nos afastamos depois de um tempo e Cecília perguntou se eu conseguia dirigir. Acho que sim, mas eu não queria ficar sozinha, eu não queria passar por tudo aquilo sozinha... Eu precisava de uma amiga... Eu precisava da Cecília, eu queria ela perto de mim nesse momento. Mesmo hesitante eu não pude deixar de pedir.
-- Será que você poderia... Bem, ir comigo?
Ela me encarou surpresa, mas logo depois abriu um lindo sorriso.
-- Claro! – foi sua simples resposta.
Manuela acabou vindo com a gente e eu gostei disso. Manu era um doce e ficou tentando me distrair durante toda a viagem. Eu tinha quase certeza que ela e Cecília não tinham absolutamente nada além de uma pura amizade.
Quando cheguei na casa de meus pais fui correndo abraçar minha mãe. Dona Vera estava péssima, seu rosto inchado de tanto chorar. Fiquei grudada em minha mãe. Acho que a dor que ela estava sentindo era muito maior. Ela passou quase trinta anos casada com meu pai e eles se amavam muito. Deve ser horrível perde o amor de sua vida... O seu companheiro de tantos anos. Meus olhos buscaram por Cecília que estava em um canto ao lado de Manu, seus olhos fixos em mim. Mamãe depois de um tempo percebeu a presença das duas garotas.
-- Cecília – falou com um leve sorriso em meio a dor – É muito bom revê-la.
Mamãe abraçou a loirinha apertado e Cecília também a apertou.
-- Eu digo o mesmo, dona Vera... Pena que seja nessas circunstâncias – disse triste.
-- Pelo menos eu pude vê-la... Fique a vontade... Você sempre será bem vinda. Cuide da Sarah por mim.
Cecília me encarou e sorriu.
-- Eu cuidarei.
Eu sabia que ela estava falando sério. Senti meu coração aquecer e pela primeira vez desde que recebi a notícia eu não estava sentindo dor. Não ousei encará-la novamente.
Mamãe e eu seguimos para o velório e eu falei com Denis para levar as meninas.
Havia alguma pessoas naquele local e eu senti um arrepio no corpo. Aproximei-me do caixão e observei aquele homem maravilhoso. Ele parecia dormir profundamente, apesar de seu rosto sem cor. Toquei em suas mãos... Geladas.
Lágrimas inundaram meus olhos e eu agachei um pouco para olhá-lo de perto... Essa seria a última vez e meu coração estava apertado.
-- Pai... Eu te amo... Você é único... Não importa quando tempo se passe, eu nunca vou te esquecer. Sempre serei a sua garotinha – falei tocando em seus cabelos – E você sempre será o meu herói... O homem da minha vida. Eu sei não sei como é... Mas eu espero um dia poder revê-lo. Te amo para o todo sempre.
Afastei-me e fiquei perto de minha mãe. Ela chorava muito e eu a abraçava apertado. Algumas pessoas vieram falar com a gente, pessoas que eu nem conhecia. Quase dei um tapa em minha testa ao ver Caio e Deborah entrando naquele lugar. Era óbvio que eles estariam aqui, papai e o pai deles eram sócios.
Meus olhos se fixaram em Cecília e eu percebi quando ela avistou o Caio. Ela o encarou em desafio e eu quase sorri, mas percebi que ela arregalou os olhos. Observei que Caio agora estava na companhia de sua mulher e da sua irmã. Deborah!
Aquela loira maldita não demorou a se aproximar de Cecília. Eu percebi seu sorriso sedutor em sua direção. Fuzilei aquela mulher! Eu havia esquecido o quanto Deborah era detestável. Elas conversaram por um tempo e Cecília logo se afastou. Decidi segui-la, eu precisava alertá-la em relação a Deborah, apesar de ter certeza que Cecília nunca mais voltaria a se relacionar com ela.
Deborah não valia nada. Era noiva do Ricardo, um cara podre de rico, mas que tinha idade para ser seu pai, não que isso fosse relevante, mas eu sabia que aquele relacionamento era baseado em puro interesse de ambas as partes. Deborah nunca conseguiu sair do armário, ela então viu no noivado com Ricardo uma refúgio para sua putaria. Uma conhecida em comum me disse que a loira era cheia de amantes de tudo quanto é tipo e ela e o noivo viviam fazendo putaria, com ménage ou troca de casais... Já escutei falar que ela dormiu com cinco pessoas. Era tanta coisa louca que sei lá... Tudo bem que a vida é dela e não tenho nada a ver com isso, mas eu me preocupava com a Cecília apesar de tudo. Eu sei que a minha amiga não gostava desse tipo de relação, pelo menos minha antiga amiga não... Eu não conhecia essa nova Cecília ou Beatriz, sei lá... Não sei se ela virou um pervertida. Mas eu não poderia julgá-la antes de conhecê-la novamente, porque eu tinha certeza que queria conhecer essa nova Cecília e eu esperava com sinceridade não me decepcionar novamente.
Voltei a ficar perto de minha mãe e Cecília ficou na companhia de Manuela, Marcos e Denis. Eu a observava atentamente e acabei percebendo seu olhar assustado. Franzi o cenho e observei a direção que seus olhos azuis estavam fixos. Era Deborah com o noivo e ele encarava Cecília de volta com um olhar surpreso. Eles se conheciam?
De repente um pensamento passou por minha cabeça.... Oh, não pode ser... Será que Ricardo já foi cliente dela? Não quero imaginar essas coisas! Não quero! Já não bastava o Caio?
Sérgio e Carla foram os próximos a adentrar naquele local e chamaram a atenção de todos. Meu irmão não parecia sentir qualquer dor, estava com a mesma expressão fechada de sempre. Eu nunca soube se ele realmente gostava dos nossos pais. Sérgio era meio revoltado e eu não sabia o porquê, meus pais sempre o amaram tanto quanto me amavam. Meu irmão abraçou minha mãe e eles ficaram conversando.
Carla veio em minha direção e me abraçou tão apertado que eu quase fiquei sem ar, mas foi um abraço gostoso. Eu sabia que ela gostava do meu pai, os dois sempre se deram bem.
-- Eu sinto muito, meu amor – ela falou e eu percebi que ela chorava e eu não aguentei e chorei agarrada nela. Ficamos muito tempo nesse abraço.
Quando nos afastamos, percebi muitos olhares sobre nós. Inclusive o de Cecília que me olhava com um olhar indecifrável. Deborah voltou a se aproximar, mas Cecília se afastou rapidamente e ela estava com um cara nada de boa. Acho que ela não gostou nada do que Deborah lhe disse. Aliás, a loira diabólica sorria de forma irônica.
Não vou me alongar nesse momento, pois ainda causa dor. Meu pai foi enterrado e eu deixei de prestar atenção em Cecília e somente me deixei levar pela tristeza. Mamãe chorou muito e foi um momento complicado e difícil, eu não sabia como consolá-la, eu nem sabia me consolar. Dizem que somente o tempo é capaz de nos consolar dessa dor... Somente o tempo vai amenizando tudo, mas saber disso não deixa as coisas mais fáceis... O tempo quando ele quer... Pode ser cruel.
Uma semana se passou desde o enterro. Renata veio me ver e graças a Deus, sua mãe estava melhor. Ela ficou dois dias comigo, mas logo teve que voltar, não poderia perder aula.
Mamãe parecia melhor, mas ainda estava triste, às vezes eu via ela chorando. Acho que isso era normal porque eu também chorava. Minha tia Fátima decidiu que iria morar com ela. As duas eram viúvas agora e poderiam ser boas companhias para a outra. Vovó e vovô também vieram morar com minha mãe, finalmente.
Sérgio foi embora depois do enterro e ninguém entendia como ele conseguia ser tão frio, até mesmo naquele momento.
Carla ficou comigo por mais um dia e eu conseguir após tanto tempo gostar de sua companhia. Mas tudo foi um pouco estranho, pois Cecília também ficou e as vezes percebia os olhares nada amistosos das duas. Acho que elas chegaram até a discutir, mas Carla negou e mudou de assunto. Ela foi embora no outro dia. Eu estava no meu quarto quando escutei baterem em minha porta. Carla estava ali.
-- Podemos conversar? – perguntou tímida.
-- Sim... – falei deixando-a entrar.
Ficamos um tempo em silêncio, apenas nos encarando. Ela suspirou nervosa.
-- Sarah, eu sempre estarei aqui para tudo que precisar. Eu sei que errei muito e você não imagina o quanto eu me arrependo... Todos os dias da minha vida. Aquela casa está vazia sem você... Eu te amo tanto... Me perdoa por tudo, volta pra nossa casa, por favor – ela disse tudo de uma forma angustiada e chorosa.
Fiquei em silêncio. Não havia possibilidade de eu voltar para ela. Carla teve todas as chances, mas desperdiçou. Claro que eu não fui uma esposa exemplar, mas eu nunca fui capaz de trai-la... E eu gosto dela, gosto de verdade e é por esse motivo e também por mim que jamais poderia voltar com ela. Carla merecia uma mulher que a amasse por inteira e eu não era essa mulher. Eu nunca fui.
-- Não posso... – sussurrei de cabeça baixa.
Eu escutei ela chorando, mas não tive coragem de encará-la.
-- É ela não é? – disse em meio ao choro.
Franzi o cenho sem entender o que ela estava dizendo. A encarei confusa.
-- A loirinha de olhos azuis e sorriso tímido, que usa óculos... A tal de Cecília! – falou com raiva.
Mordi os lábios e desviei o olhar. Era tão óbvio assim?
-- O jeito como você a olha... Você nunca me olhou assim... Nunca!... E eu tentei, Sarah... Tentei de todas as maneiras que você me amasse, porque eu sou completamente louca por você, desde que eu te vi... Mas seu coração, ele não te pertencia mais... Merda! Isso dói pra caralh*! – disse passando as mãos no cabelo e enxugando as lágrimas.
-- Me desculpa, Carla – falei também chorando – Eu quis de todas formas te amar... E eu tentei... Muito, mas eu falhei e te fiz sofrer e eu me arrependo disso todos os dias da minha vida, pois a última coisa que eu queria era te causar dor.
Carla respirou fundo tentando se acalmar.
-- Boa sorte com a menina lá – disse irônica – Vocês formam um lindo casal, até mais...
Carla tentou sair, mas eu a segurei pela cintura.
-- Me perdoa, Carla... Por favor – pedi desesperada.
Carla segurou meu rosto entre as suas mãos e me encarou intensamente.
-- Não fique assim... Seja feliz, Sarah... Eu também serei... Agora eu preciso disso...
Não tive tempo de raciocinar... Carla me beijou intensamente. sabia que era nosso último beijo, e eu não pude deixar de corresponde-la em igual intensidade. Perdemos a noção do tempo nesse beijo e eu realmente desejei beijá-la.
Nos afastamos quando escutamos um barulho de algo quebrando.
Cecília nos olhava com os olhos arregalados. Seu olhar estava diferente. Ela trazia um copo com chocolate quente, mas que agora estava espalhado pelo chão do meu quarto e o copo estava em mil pedaços. Ela havia deixado cair.
Cecília abriu e fechou a boca muitas vezes. Eu provavelmente estava muito vermelha por causa do beijo, mas também sentir minha bochecha queimar de vergonha.
-- Me desculpa... Eu não queria atrapalhar eu... – falou nervosa.
-- Você não atrapalhou nada! Bom dia para vocês! – Carla passou por nós feito um raio.
O silêncio que ficou no quarto foi um tanto constrangedor. Eu não tinha coragem de encará-la, mas sentia seus olhos azuis em mim.
-- Acho melhor eu pegar alguma coisa pra limpar essa bagunça.
Ela não esperou resposta e saiu do quarto.
Respirei fundo e passei as mãos no rosto.
-- Céus! Que momento bizarro! – falei em voz alta.
Como eu disse já havia se passado uma semana e todos tinham voltado para sua vida normal... Todos, menos ela... Cecília ficou comigo por toda essa semana.
Ficamos em um clima estranho depois que ela viu meu beijo com a Carla, mas isso logo passou. Manuela teve que ir para a casa dos pais e Marcos deu uma carona para ela, eu percebi o clima que rolava entre os dois e agradeci por Marcos ter esquecido Cecília.
Cecília e eu conversamos muito e eu sabia que devia desculpas a ela.
-- Conhecer a Manuela foi o melhor presente que aquela vida me trouxe – comentou comendo um pouco de pipoca.
Estávamos em meu quarto assistindo um filme qualquer. Ela sempre fazia de tudo para me distrair.
-- Eu não imaginava que Manuela também saiu dessa vida – comentei pensativa.
-- Eu nem mesmo sei como ela foi parar lá – disse sorrindo.
Eu estava puxando ansiosa a minha coberta. Eu queria fazer perguntas a ela.
-- Eu posso te perguntar umas coisas? – disse nervosa.
Ela me olhou curiosa e sorriu.
-- Sim, você pode.
Respirei fundo.
-- Você se apaixonou por algum cliente?
Cecília fez uma cara de nojo engraçada.
-- Claro que não! Não vou negar que muitos homens tentaram se exclusivos. Eles prometiam rios de dinheiro apenas para que eu fosse amante deles.
-- Nojentos – resmunguei baixinho.
-- Teve um que me pediu em casamento. Ele me encontrava todo o final de semana. Era jovem e bonito. Rico... Muito rico... Ele se apaixonou. Eu tive a chance de sair daquela vida, mas eu não quis... Eu não poderia me casar com um homem que não amava. Jamais poderia me casar com qualquer homem. Eu sou lésbica e tenho consciência disso – falou tranquilamente.
Ficamos em silêncio.
-- Você nunca se envolveu com outra mulher? - perguntei mordendo os lábios.
-- Não, foi apenas a Deborah – riu debochada – Tinha que ser ela.... De todas as garotas que existiam! – revirou os olhos.
-- Você a amou? – perguntei a encarando. Eu carregava essa duvida por muitos anos.
-- Deus me livre – disse rindo – Foi apenas tesão... Não sei explicar... Uma atração louca... Desejo... Amor não – disse olhando para a própria mão que fazia círculos na coberta.
-- Você já amou alguma vez na sua vida?
-- Desse jeito não... Não mesmo – ela continuava a olhar a coberta – Você amou a Carla? – perguntou hesitante.
-- Não... Eu tentei, mas nunca conseguir – falei sincera.
-- Mas você já amou alguém? – ela tinha uma curiosidade no olhar.
Fiquei alguns segundos em silêncio.
-- Sim – não conseguir encará-la, mas sentir que ela me observava.
-- Você sempre soube que era lésbica? – perguntou me analisando.
-- Sim, mas eu tentei negar.
-- E o Júnior?
-- Foi uma forma que arrumei de negar tudo. Eu gostava dele, mas estava longe de ser amor. Depois que você foi embora eu decidir terminar tudo.
-- Por que você nunca me falou de você? – seus olhos estavam fixos em mim.
-- Por que você nunca me falou de você? – devolvi a pergunta.
Cecília olhou para a televisão pensativa.
-- Eu tinha medo... Você deve imaginar como é isso... Tinha medo de ficar sem sua amizade e de você me achar um nojo de pessoa.
-- Eu jamais acharia isso de você! – falei sincera – Você era minha melhor amiga.
-- Eu não tinha como saber disso na época... E por quê você não falou nada mesmo depois de todos saberem de mim?
-- Porque eu só estava preocupada com você – falei sincera. Eu não poderia deixá-la mais confusa.
Cecília abriu um lindo sorriso... Sorriso que há anos eu não via.
-- Obrigada por sempre pensar em mim – disse com uma voz fofa.
-- Eu preciso me desculpar com você, Cecília – falei envergonhada – Eu não deveria ter sido tão estúpida. Eu não tenho o direito de falar aquelas coisas para você... Estou arrependida, de verdade.
-- Tudo bem, Sarah – disse fazendo carinho no meu rosto. Meu coração ficou louco – O importante é que você se arrependeu.
Merda! Por quê eu tenho que deseja-la tanto?
Fiz um grande esforço para manter o controle e a abracei apertado. Ficamos o resto da noite assistindo filme.
A semana passou rápido. Mamãe me obrigou a voltar por causa da faculdade. Ela disse que minha vida não poderia parar e ela tinha razão.
Depois de todos esses dias eu tive que me afastar de Cecília. Era tão perfeito ter ela todos os dias ao meu lado, mas infelizmente tivemos que nos separar.
Estou na casa da Renata, pois ainda não tive tempo de procurar um apartamento. Minha amiga tenta me distrair de todas as maneiras. E eu amo isso nela, mesmo que ela não seja a Cecília... Cecília me deixava distraída apenas por tirar o cabelo do rosto.
Contei tudo para a Renata que ficou feliz com nossa aproximação e aproveitou para dizer que eu precisava falar dos meus sentimentos para a Cecília. Eu não tinha essa coragem e era melhor tê-la como amiga, que ela ficasse por perto.
Passaram-se quase três meses... E eu estava novamente apaixonada por minha amiga, na verdade eu nunca deixei de estar. Fazíamos tudo juntas, não nos desgrudávamos para nada. Assistíamos séries e filmes juntas e compartilhávamos até o mesmo livro. Cecília me ajudava com meus trabalhos e provas, ela sempre foi muito inteligente. Passávamos todos os finais de semana juntas. Muitas vezes eu não conseguia tirar os olhos de cima dela.
Tudo estava perfeito até aquele dia... Lorena havia me convidado para um churrasco no domingo. Eu não vi mal algum em aceitar o convite. O problema de tudo é que eu estava na companhia de Cecília quando a garota me convidou. Para completar a merd*, Lorena me deu um selinho para se despedir.
Fiquei completamente constrangida e não conseguir encarar minha amiga. Nós caminhávamos lado a lado em silêncio. Paramos em frente ao bloco dela. Ela quebrou o silêncio.
-- Você esqueceu que marcamos de ir no parque esse domingo? – perguntou, acho que com mágoa.
Fechei os olhos e quase dei um tapa na minha testa. Sua anta!
-- Eu posso falar com ela... – falei nervosa.
-- Tudo bem, não se preocupe. Eu te entendo – sorriu sem vontade.
-- Mas... – tentei argumentar, mas fui atrapalhada.
-- Bia, eu posso falar com você?
Fechei os olhos ao reconhecer aquela voz.
-- Claro, Bruna – falou sorridente.
-- Então... Abriu uma nova boate esses dias e eu pensei em te convidar para ir lá... Você aceita? — perguntou tímida.
Cecília me encarou com aqueles olhos azuis desafiadores. Oh, merd*!
-- Claro, Bruna... Não tenho nada para fazer no domingo – disse ácida desviando os olhos dos meus e sorrindo para a minha inimiga.
Prendi a respiração e não escutei mais nada do que elas falaram, apenas vi Bruna beijar o rosto de minha amiga e se afastar. O sinal tocou.
-- Preciso ir... – Cecília beijou minha bochecha e seguiu para sua sala.
Soltei a respiração e apertei minhas mãos em punho. Eu respirava com dificuldade tamanho era meu ódio. Caminhei em direção a sala onde somente eu e Denis ficávamos, eu não conseguiria assistir aula.
Me joguei no sofá confortável e puxei os cabelos. Eu sentia minhas mãos tremendo. Maldito ciúme!
Eu só pensava besteira! Parecia uma tortura. Meus pensamentos me levavam a Bruna e ela juntas e isso doía intensamente. Horrível esse sentimento. Minha boca estava amarga e comecei a lagrimar de pura raiva.
Cecília aceitou o convite de Bruna apenas para me provocar, certeza. Eu tinha a trocado por Lorena e ela havia pago na mesma moeda. Só que em mim estava doendo muito mais, afinal, eu a amo e amo muito.
Depois de muito tempo, conseguir ficar mais calma. Renata tinha razão, eu precisava falar com Cecília. Precisava tentar... Não poderia viver para sempre de “e se”.
Não deixaria Cecília sozinha com Bruna nem ferrando! Nunca!
Levantei decidida a tentar pelo menos uma vez na minha vida. Eu só esperava de coração que Cecília me desse uma chance... A chance que sempre desejei!
Fim do capítulo
Olá, meninas. Mais um capítulo pra vocês suas fofas!
Eu queria dizer a senhorita menteincerta que li todos os seus comentários e que amei te ver por aqui depois de tantos anos. Respondendo sua pergunta as meninas tem 22 anos.
Queria dizer que pretendo começar a escrever uma nova histórias, mas como tenho várias, vou pedir a opinião de vocês . O que acham? Ou eu posso sumir por mais 3 anos kkkkkk
Beijos e até o próximo
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Mille
Em: 21/05/2020
Oi Stelinha
A Sarah perdendo tempo, ai quando ela toma atitude vai ouvir alguma treta da Cecilia.
Pq acho que o Ricardo vai cobrar a Beatriz e com certeza a Deborah vai infernizar também.
Nada de sumir por três anos kkkk
Bjus e até o próximo capítulo
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