Beatriz por stela_silva
Capitulo 14
POV Cecília
Sarah me olhava intensamente. Ela mordia os lábios esperando uma resposta minha. Talvez aquela não fosse a melhor hora para falar a verdade, mas dane-se... Eu tinha que falar e ela estava disposta a escutar então não havia melhor momento que esse.
-- Eu me chamo Beatriz por causa do meu antigo trabalho – disse fechando os olhos e respirando fundo.
-- No que... Você trabalhava? – perguntou gaguejando.
-- Prostituição... – falei a encarando. Sarah arregalou os olhos.
-- Vo-você... É... – ela não conseguia falar.
-- Sim, Sarah.... Eu fui uma prostituta... Eu vendia meu corpo em troca de dinheiro – falei sincera.
Sarah levantou e passou a andar de um lado ao outro. Passava as mãos no cabelo e sussurrava algo para si mesma. Era visível seus desespero. Ela parou de andar e finalmente me encarou, seus olhos marejados.
-- Por que? – sussurrou angustiada.
Levantei e ajeitei meus óculos mantendo uma certa distância entre a gente.
-- Eu precisava de dinheiro – disse olhando para meus sapatos. Eu não conseguia encará-la.
-- Eu poderia ter te ajudado! – falou exaltada.
-- Era impossível e você sabe disso, éramos adolescentes e você dependia de seus pais para qualquer coisa – falei nervosa.
-- Foda-se se éramos adolescentes! Foda-se se eu dependia dos meus pais! Foda-se tudo! Você só não deveria ter se tornado uma puta! – Sarah gritava totalmente descontrolada.
-- Para com isso, Sarah. Por favor, não grita – tentei me aproximar, mas ela afastou-se rapidamente.
-- Você preferiu vender seu corpo a ficar comigo – disse com uma grande mágoa.
-- Você não entende né... Nunca foi uma escolha... Eu não queria passar o resto da minha vida presa em seu quarto... Eu...
-- Então você preferiu foder com um bando de homens nojentos! – falou irritada e passando as mãos pelo rosto para enxugar as lágrimas.
-- Você não entende... – disse triste.
-- Não, eu não entendo... Nunca vou entender... Você teve escolha, Cecília! Você poderia ter arrumado um trabalho digno, eu poderia ter ajudado... Eu não consigo entender – Sarah não conseguia deixar de chorar – Eu só queria te proteger...
-- Naquela época eu era muito imatura para saber das coisas. A gente nunca sabe tudo não é?... Eu tinha medo que seus pais descobrissem que eu estava ali e acontecesse com você a mesma coisa que me aconteceu, eu nunca iria me perdoar de levar você para o buraco junto comigo. Eu não poderia estragar a única coisa boa que sobrou do meu passado... Por favor, Sarah – tentei me aproximar, mas ela novamente se afastou.
-- Não encosta essa sua mão em mim! Só consigo imaginar o quanto você é uma puta! Meu Deus, isso é nojento! – falou virando de costas e encarando a janela – Quero ficar sozinha!
Não consegui segurar as lágrimas.
-- Me desculpa, Sarah...
-- Sai daqui! – gritou.
Coloquei minha mão na boca para conter o choro e sai praticamente correndo daquele quarto. Entrei em meu quarto e fui direto para minha mala, troquei de roupa para poder ir embora. Olhei para Manuela que me encarava sem entender nada.
--Precisamos ir – falei tentando segurar o choro.
-- O que aconteceu? Você está vermelha... – disse levantando e fazendo uma careta – Aiii... Essa cabeça dói.
-- No caminho te explico, agora precisamos ir... Seja rápida.
Mesmo desconfiada, Manuela não me fez perguntas. Vestiu uma roupa e arrumou sua mala. Por sorte não havia ninguém acordado aquele horário. Fomos direto para o meu carro. Manuela me observava atentamente. Eu estava tão nervosa que não conseguia encaixar a chave no carro. Depois de várias tentativas, bufei e esmurrei a parte de cima do carro, senti dor em minha mão, mas nada se comparava com a dor que estava sentindo em meu coração.
-- O que aconteceu? – Manu finalmente perguntou.
-- Não quero falar sobre isso – falei apertando os lábios.
-- Você não está em condições de dirigir... Melhor a gente esperar um pouco – disse observando o quanto minhas mãos tremiam.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Ela tinha razão, não poderia dirigir naquela situação, poderia causar algum acidente, mas eu não queria ficar mais nenhum segundo nessa casa. Passei as mãos pelo rosto angustiada.
-- Alguma problema meninas?
Marcos estava parado observando nós duas.
-- Estamos bem... Só estou um pouco nervosa, preciso voltar pra casa – falei apertando os lábios. Era perceptível o quanto eu estava nervosa e triste.
-- Consegue dirigir? – perguntou me encarando.
Ele não parecia nem ao menos estar de ressaca. Fiquei surpresa, pois quase todos ali tinham bebido até desmaiarem. Ele percebeu meu olhar.
-- Não gosto de bebida e eu sempre tento manter a forma física – disse sorrindo.
Acho que foi a primeira vez que abri um sorriso verdadeiro para ele.
-- Que bom, eu também não gosto de nada alcoólico.
Manuela observava todo nosso diálogo sem dizer nada. Ela apenas segurava a alça da mochila.
-- Bem... Se vocês quiseram eu posso dirigir – falou esfregando a nuca.
-- Oh, não precisa... Não queremos incomodar. Só preciso ficar um pouco mais calma – merd*! Isso me fez lembrar o porquê de eu estar daquele jeito.
-- Não será um incômodo... Preciso voltar para minha casa mesmo e como vim de carona com o Denis... Acho que eu posso ajudar levando vocês e no final também ganho uma “carona” — disse fazendo aspas com o dedo.
Fiquei um pouco hesitante, sabia a real intensão de Marcos, mas eu estava desesperada para sair desse lugar e me trancar em meu quarto.
-- Tudo bem então – enfim falei.
Marcos abriu um grande sorriso.
-- Ok, só vou pegar minhas coisas... Não demoro! – disse se afastando animado.
-- Você sabe que ele tá afim de você né? – Manu falou encostando no carro.
-- Sei... Mas preciso sair daqui. Depois eu me resolvo com Marcos, quem sabe a gente não possa ser amigos.
-- Hmm... Se você diz... – Manuela cutucava algumas pedrinhas com os pés.
Ficamos em silêncio. Não estava com a mínima vontade de falar e minha amiga sabia disso. Marcos não demorou a voltar e seguimos viajem. Ele até era uma pessoa legal, cursava educação física e era bolsista, tinha uma grande dedicação ao estudo. Era de uma família humilde e batalhadora, foi criado em uma fazenda até passar no vestibular. Denis era seu melhor amigo e foi ele que o ajudou em tudo. Marcos trabalhava meio expediente para conseguir se manter. Me sentir bem perto dele... Todos nós fazíamos parte da mesma classe social... Eu, Manu e ele. Aliás, Manuela ficou bem animada em conversar com ele. Os dois foram criados em fazendas. Era divertido a interação deles, por algum tempo eu até consegui esquecer as palavras duras de Sarah. Quando chegamos em meu apartamento, Manuela tinha um encontrado marcado. Deixei os dois sozinhos em minha sala e segui para o meu quarto. Tomei um banho relaxante e fui me deitar. Estava cansada, não havia dormido nada. Fiquei a noite toda velando o sono de Sarah. Ela era tão linda dormindo... Nunca imaginei que ela fosse lésbica, mas ontem eu vi o beijo dela com a Lorena. Talvez eu estivesse de olho nela, ok? Mas eu estava apenas preocupada. Eu nunca tinha visto a Sarah bêbada e quando a vi indo para a praia não tive dúvidas em ir atrás dela.
As palavras dela ainda doíam no fundo da minha alma. Não estava arrependida de ter falado toda a verdade, eu não gostava de mentiras e enrolação... Mas o desprezo e o nojo que vi em seus olhos eram difíceis de aguentar. Sarah não era mais a garota que conheci... Espero que pelo menos ela não espalhe pela faculdade. Eu sabia que no fundo ela não iria falar nada.
Sarah sentia nojo de mim.... Nojo....
Não conseguir segurar as lágrimas e chorei por muito tempo. Era horrível saber que ela sentia isso por mim... Eu poderia aguentar o desprezo de muitas pessoas, mas Sarah era diferente... Sempre foi... Sentia meu coração apertado, dolorido. Eu só queria esquecer, mas estava sendo impossível.
Depois de algum tempo Manuela entrou no meu quarto e sentou-se ao meu lado. Ficamos em silêncio, mas ela conseguia escutar meus soluços, mesmo que eu fizesse um grande esforço para esconder minha dor. Manu me abraçou apertado e chorei em seu colo. Eu odiava demonstrar fraqueza, mas sabia que sempre poderia contar com minha melhor amiga. Depois de muito tempo conseguir ficar mais calma. Manu fazia carinho em meus cabelos.
-- Eu contei tudo para a Sarah... – sussurrei com a cabeça enterrada no colo de minha amiga.
-- Foi tão ruim assim? – perguntou carinhosa.
-- Foi horrível, Manu... Ela tem nojo de mim – falei com imensa dor.
Manuela respirou fundo. Provavelmente estava indignada com a atitude de Sarah.
-- Ela não tem o direito de te julgar... Nunca teve e nunca terá! Você vai superar mais esse momento em sua vida – disse beijando o meu cabelo e me apertando em seus braços.
Chorei por mais algum tempo, mas acabei sendo vencida pelo cansaço. Apaguei e acordei somente no início da noite, apenas para comer alguma coisa e voltar a dormir.
Segunda-feira, e eu não estava com a mínima vontade de ir para a faculdade. Acordei com uma leve dor de cabeça. Fiz minha higiene e apenas comi uma maçã, não estava com fome. Manuela continuava dormindo em minha cama quando sair. Só torcia para não encontrar com Sarah tão cedo, mas como minha sorte era uma merd*...
As primeiras aulas do dia foram bem tranquilas. Era hora do almoço e eu não queria descer, mas estava morrendo de fome. Não poderia deixar essas coisas me afetarem, naquela faculdade eu não era a Cecília, precisava da força de Beatriz. Levantei decidida em ir na lanchonete, sabia que a chance de encontrar com Sarah era grande, mas que se dane!
Acabei encontrando com Bruna enquanto esperava na fila para fazer meu pedido.
-- Eu não vi quando você foi embora da casa do Denis – comentou me encarando.
-- Eu tive que voltar cedo – falei vagamente.
-- Entendo... O João Pedro perguntou por você – disse mudando de assunto.
Eu não queria falar sobre ele. Acabei me lembrando do sumiço do Ricardo, isso estava muito estranho. Eu sabia que vinha chumbo grosso.
-- João Pedro tem outras intenções comigo e eu não estou querendo me envolver com ninguém nesse momento.
Por sorte a minha vez tinha chegado e Bruna não conseguiu falar mais nada. Fiz meu pedido e esperei por Bruna. Caminhávamos em silêncio em direção a uma mesa vazia, mas não conseguimos chegar até lá, pois escutei alguém me chamando e reconheci a voz. Denis. Eu sabia quem deveria estar com ele, mas não tinha como ignorar, não queria chamar a atenção. Bruna talvez tenha percebido minha hesitação, mas não disse nada. Respirei fundo e me virei para encará-lo.
-- Ei meu amor, tá fugindo de mim? — disse sorrindo.
Estou! Fugindo de todos que tem alguma relação com Sarah!
Pensei, mas não disse.
Denis estava com o cabelo loiro arrepiado e com os óculos torto.
-- Claro que não, Denis. Eu apenas tive um problema e acabei voltando mais cedo.
-- Eu sei, o Marcos me disse — olhou para nossos lanches — Vem sentar com a gente.
Eu iria abrir a boca para negar, mas Denis não esperou resposta e pegou a bandeja da minha mão. Não tive outra alternativa a não ser segui-lo. Bruna nos seguiu. Cheguei na mesa que Denis estava e sentei, não encarei as pessoas, mas percebi que Marcos estava a minha frente, o encarei e ele abriu um lindo sorriso, não conseguir não corresponde-lo e sorrir de volta. Acho que as pessoas perceberam o clima.
-- Impressão minha ou o Marcos conseguiu fisgar a loirinha aí – Bárbara comentou rindo.
Marcos a encarou e riu.
-- Bom, na verdade estou interessado em outra pessoa no momento – disse risonho.
Era óbvio que ele estava se referindo a Manuela, mas ninguém além de mim sabia.
-- Acho que a fila andou, bela – Denis debochou.
Eu apenas dei de ombros. Não estava com vontade de falar. Renata que estava ao lado de Denis e me encarava com um sorriso acolhedor, eu até estranhei, ela sempre foi tão indiferente. Sarah estava ao lado dela, mas eu evitava de todas as formas encará-la. Eu sabia que ela não havia falado nada com ninguém, bom, talvez tenha falado para a Renata.
Eles iniciaram um papo descontraído. Todos falavam animados, menos eu e Sarah. Bruna sempre que gesticula tocava levemente em minha mão.
-- Bia, você se envolve com mulheres? – Bárbara perguntou de repente.
Em que momento a conversa havia chegado a esse ponto? Eu estava tão aérea que nem tinha percebido nada.
Todos me encaravam interessados em minha resposta, inclusive a Sarah, eu sentia seus olhos sobre mim.
-- Sim – falei simples.
Denis e Marcos abriram a boca pasmos. Bruna sorriu maliciosa. Renata riu da cara dos meninos e Sarah estava com os olhos fixos em mim sem demonstrar nenhuma expressão. Eu a encarei e ficamos nisso por sei lá quanto tempo. Acho que ela estava esperando que eu negasse tudo. Mas eu estava apertando o botão do foda-se, então FODA-SE!
-- Uau – Bárbara bateu palminhas animada – Então eu tenho chances! Que tal um encontro?
Bárbara tinha uma energia contagiante. Rir do seu entusiasmo. Ela talvez fosse uma boa companhia.
-- Pode ser... – respondi simpática.
Não ouve tempo para resposta, pois o sinal bateu, mas percebi que Sarah me fuzilava. Bruna me seguiu em silêncio.
-- Você vai sair com a Bárbara mesmo? – perguntou interessada.
-- Talvez... – falei tranquila.
-- Você gostaria de sair comigo? – disse nervosa.
-- Você é direta – falei sorrindo – Talvez....
-- Responde sim ou não, não quero me torturar com essa dúvida.
Parei de andar e a encarei. Bruna era linda e muito amável, mas não sei se estava preparada para sair com alguma mulher. Sempre manteria uma certa cautela, apesar de saber que nem todas tinham o caráter da Deborah. Mordi os lábios, talvez se fosse a Sarah quem sabe eu não aceitaria... Ela era tão... Ah, esquece! Nem mesmo minha amizade ela quer. Sarah tem nojo de mim.
-- Eu prometo que vou pensar com carinho, Bru – sorri docemente.
-- Tudo bem, terei paciência... Eu sei esperar – Bruna beijou meu rosto e se afastou.
O restante das aulas foi tranquilo. Pensei no sumiço do Ricardo, quando ele souber que desistir de tudo vai fazer um inferno, mas estou pouco me importando com isso. Sarah também não saia da minha cabeça. Eu não conseguia esquecer suas palavras duras. Estava no estacionamento e andava distraída em direção ao meu carro, mas quase tive um infarto quando escutei o som de uma freada brusca, observei o carro que tinha parado quase em cima de mim. De onde ele surgiu? Encarei o motorista e arregalei os olhos assustada. Sarah me olhava intensamente, seus olhos estavam banhados em lágrimas. Não estava entendendo nada, já estava tarde para algum aluno do turno da manhã estar por ali. Acabei me atrasando, pois fiquei fazendo trabalho na biblioteca.
-- Dá pra sair da frente! – Sarah abriu o vidro e falou com uma voz sufocada.
Eu sabia que alguma coisa muito errada havia acontecido. Sarah não chorava por qualquer coisa.
-- Você está bem? – perguntei preocupada.
Ela ficou alguns segundos em silêncio, mas logo depois caiu num choro sofrido. Aproximei-me rapidamente e abri a porta do carro, me inclinei segurando sua mão. Não importa o tão magoada eu estava com suas palavras, eu jamais a deixaria chorando.
-- Meu Deus, Sarah. O que tá acontecendo? – perguntei angustiada.
Sarah não disse nada, apenas saiu do carro e me abraçou apertado, muito apertado. Fiquei sem reação, mas acabei a abraçando também. Ficamos abraçadas por muito tempo. Ela chorou muito e eu esperei que ela ficasse mais calma. Fazia carinho em seus cabelos lisos e negros, seu rosto estava vermelho devido ao choro.
-- Meu pai, Cecília... – sussurrou com a voz abafada, pois ainda estava abraçada a mim – Ele...
Sarah não conseguia falar, mas eu tinha entendido. A apertei em meus braços. Tio Antônio...
-- Eu sinto muito, Sarah – falei sincera e sentindo meus olhos encherem de lágrimas. Sabia o quanto Sarah amava os pais.
Não falamos nada por um tempo. Mas eu conseguia sentir um pouco de sua dor.
-- Cadê a Renata? – perguntei quebrando o silêncio. Sarah estava mais calma.
-- Ela teve que viajar. A mãe dela passou mal e teve que se internada. Parece que hoje o dia foi ótimo hein – falou amarga – Eu preciso ir... – afastou-se.
-- Consegue dirigir? – perguntei preocupada.
-- Sim, estou um pouco melhor – Sarah estava com os olhos fixos no chão. Ela parecia lutar para falar algo – Será que você poderia... Bem, ir comigo?
Sério que ela estava me convidando para ir com ela? Meu Deus!
-- Claro – respondi sem pensar muito. Eu queria ficar perto dela nesse momento difícil. Não importa o que ela tenha dito antes. Eu sempre seria sua amiga acima de tudo.
Eu acabei tendo que dirigir, pois Sarah ainda tremia muito. Tudo foi feito em silêncio. Passamos em meu apartamento e eu peguei algumas roupas. Tive que levar Manuela. Ela era maluca demais para ficar sozinha. Sarah disse que não precisava de roupas, pois tinha na casa de seus pais. Fizemos todo trajeto em silêncio. Manuela abraçava a Sarah no banco traseiro tentando consolá-la. Manu era sensível para essas coisas.
Quanto mais me aproximava daquela cidade mais nervosa eu ficava. Desde que eu fui embora, nunca mais havia voltado. Eu só queria esquecer tudo.
Fui direto para a casa dos pais de Sarah, que ficava em um condomínio luxuoso. Eu estive nessa casa muitas vezes. Não conseguir deixar de pensar em meus momentos com Sarah.
Havia algumas pessoas na casa, entre elas Denis e o pai. Uma das empregadas nos levou até um quarto, Manu e eu ficamos em quartos separados. Sarah ficou na companhia da mãe, que estava inconsolável. Dona Vera tinha sido simpática com minha pessoa, pelo menos ela tentou. Eu percebi que ela ficou surpresa com minha presença, mas ela não pareceu se importar, muito pelo contrário, acho que ela gostou.
Denis ficou responsável de nos levar no local onde estava acontecendo o velório. Havia muitas pessoas naquele lugar. Pessoas de classe alta. Sarah estava ao lado da mãe perto do caixão. Seus olhos e nariz estavam vermelhos, dona Vera não estava diferente.
Manu ficou pouco tempo ao meu lado, pois logo avistou Marcos e foi quase correndo ao seu encontro. Os dois conversavam um pouco afastados, eles formavam um casal bonito. Fiquei um tempo sozinha e apenas observando todo o ambiente. Denis decidiu se aproximar e ficamos falando sobre coisas aleatórias. Muitas vezes meus olhos esbarravam nos de Sarah e ficávamos nos encarando por um tempo.
Denis teve que sair e eu voltei a ficar sozinha. Fiquei mexendo no celular para esperar o tempo passar. Depois de um tempo resolvi tomar um café. Somente agora percebi que tinha muito mais pessoas ali. Estava pegando meu café quando senti um olhar queimando em meu corpo. Meus olhos começaram a vasculhar o local em busca da pessoa. Olhos verdes e frios me fuzilavam a poucos metros de mim. Senti o peso desse olhar, mas não desviei os olhos.
Jamais abaixaria minha cabeça novamente.
Caio!
Quatro anos sem vê-lo e eu passaria o resto da vida assim se isso fosse uma escolha. Ele parecia bem, sempre bonito e bem vestido. Tinha uma mulher ao seu lado, acho que era namorada, uma morena muito linda.
Meu queixo caiu quando percebi uma loira se aproximando do casal.
Céus! Era Deborah.
Ela observou o irmão e percebeu que ele estava com os olhos fixos em mim. Seus olhos verdes brilhantes seguiram em minha direção e eu percebi o quanto ela ficou surpresa.
Acho que não se passou nenhum segundo, quando percebi ela se aproximando de mim. Deborah parou em minha frente e abriu um sorriso discreto. Ela continuava mais linda do que eu lembrava e seu sorriso era doce e traiçoeiro. Se eu não a conhecesse de outros momentos ela poderia me enganar direitinho com essa carinha de anjo. Mas eu sei que Deborah não passa de um anjo caído.
-- Cecília – disse simpática.
-- Oi... – falei sem emoção.
-- Eu imaginei muitas maneiras de te reencontrar, mas jamais imaginei que seria nessas circunstâncias – Ela me olhou de cima a baixo – Incrível! Você conseguiu ficar ainda mais linda – disse admirada.
-- Obrigada.
Óbvio que eu não queria conversar com essa garota e óbvio que ela percebeu, mas Deborah nunca foi de desistir fácil.
-- Achei que você e a Sarah não fossem mais amigas.
Meus olhos seguiram em direção a minha ex melhor amiga. Sarah estava encarando nós duas. Ela estava com uma expressão nada boa.
-- Eu sempre quis te encontrar – Deborah falou chamando minha atenção.
Rir amargamente e neguei com a cabeça.
-- Fique longe de mim – disse dando alguns passos, mas fui impedida de continuar, pois Deborah segurou meu pulso.
-- Você pode não acreditar em mim, mas eu gostava de você... Sei que te devo desculpas e eu quero muito me desculpar, por favor, acredita em mim – falou nervosa.
Puxei meu pulso e me libertei de sua mão.
-- Só esquece que eu existo. Não quero suas desculpas! – me afastei sem olhar para trás.
Fui em direção ao banheiro. Eu estava nervosa e com raiva. Como ela poderia falar todas aquelas coisas? Como ela conseguia ser tão cínica?
Apoiei minha mão na pia e respirei fundo tentando me acalmar.
-- Você está bem?
Levei um pequeno susto, pois não percebi que alguém havia entrado no banheiro. Observei Sarah pelo reflexo do espelho. Ela mordia os lábios e parecia está bem preocupada.
-- Sim – sussurrei e abri a torneira lavando minhas mãos.
-- Eu sinto muito, esqueci que os pais deles eram sócios do meu pai.
-- Tudo bem, Sarah. Não é sua culpa, uma hora isso ia acabar acontecendo mesmo – retirei os meus óculos e os limpei com um paninho que sempre levava na bolsa.
-- Bom, eu só queria te dizer que você não deve confiar na Deborah.
Coloquei meus óculos e virei-me para encará-la.
-- Eu sei disso.
Sarah deu alguns passos em minha direção.
-- Eu sei que você sabe, mas não custa te alertar. Deborah está noiva e pelo que sei ela nunca saiu do armário, mas tem muitas amantes. Eu sei disse porque uma dessas amantes era amiga da Carla. Somente por isso você percebe que Deborah não vale nada. Eu nunca entendi esse medo todo que ela tem.
-- Sarah, eu não irei me envolver novamente com a Deborah, isso está fora de qualquer cogitação.
-- Que bom – disse cruzando os braços – Vamos voltar, tenho que ficar perto de minha mãe e logo será o enterro – mordeu os lábios.
-- Ok, vamos - percebi seus olhos ficando marejados.
Sarah voltou para o lado de sua mãe e eu decidir ficar perto de Manuela e Marcos. Denis não demorou a se juntar a nós. Estamos conversando coisas aleatórias quando eu avistei aquela criatura imponente adentrando naquele lugar. Era impossível não reparar naquele homem bem vestido. Seu terno estava impecável, assim como seu cabelo e barba. Seus fios grisalhos que sempre foram um charme para qualquer mulher, menos para mim, óbvio.
Meus olhos se arregalaram quando percebi que ele se aproximou da loira de olhos verdes e a beijou levemente os lábios e abriu um pequeno sorriso. Puta merd*! Não pode ser.... Ricardo e Deborah? Sério isso?
Meu Deus! Isso só poderia ser um pesadelo.
Senti o sangue sumir do meu rosto quando seus olhos castanhos pousaram no meu.
Isso vai dar merd*! Isso vai dar merd*!
Ele me olhava intrigado e eu sabia que estava lascada.
Fim do capítulo
Voltei, gostei tá gostado, não gostou... Hahaha
Meninas eu estava com problemas na Internet, pensei que não ia conseguir atualizar hoje.
Tenho uma surpresa pra vocês, comentem e eu falo o que é kkkk
Muitas coisas aconteceram somente nesse capítulo, que tenso.
Beijos e até o próximo
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menteincerta
Em: 19/05/2020
Sabia que lá vinha merda!
Quero só ver oq vai dar essa dupla dinâmica, o cafetão e a hétero de Taubaté. Eles se merecem mesmo
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Mille
Em: 19/05/2020
Oi Stelinha
Que capítulo heim
Primeiro: a verdade da Cecília ser Beatriz, dando a Sarah surpresa e nojo da decisão da amiga.
Segundo: a morte do pai e voltar a antiga cidade.
Terceiro: Ricardo e Débora Vixe vai dar merda.
Falta só os pais da Cecília aparecer no funeral.
Bjus e até o próximo capítulo
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