POV Sarah.

 

Saí da faculdade decidida a terminar tudo com a Carla. Cheguei em casa, mas ela ainda não estava. Provavelmente só chegaria a noite. Fui para o quarto de hóspedes, que era onde eu estava dormindo na maioria do tempo. Tomei um banho relaxante e fui deitar. Estava cansada da viagem e esgotada da conversa que eu tive com a Cecília.

 

Cecília....

 

Tão linda com aquele jeitinho de menininha.

 

Fechei meus olhos e não conseguir evitar pensar nela.... A garota dos meus sonhos. Suspirei... Lembro-me quando eu sofri um acidente de carro, acho que tinha uns 14 anos... Ela ficou ao meu lado, não desgrudou de mim. Foram os melhores dias de minha vida, nunca me senti tão amada... Nem mesmo quando a Carla fazia várias declarações de amor... Cecília era doce sem nem ao menos fazer esforço, mas ela não demostrava isso para qualquer pessoa. Eu sei que ela me amava, mas também sei que nunca foi do jeito que eu desejava.

 

Por que ela se chama Beatriz? O que aconteceu em sua vida? Sei que quase cinco anos não é muito tempo, mas ela estava diferente. Parecia bem mais madura, não que eu não fosse, mas Cecília parecia uma mulher 30 e tantos anos. Ela ficava tão linda com aqueles óculos... Será que ela namorava? Eu não vi nem uma aliança em seu dedo, casada eu sei que ela não é.

 

Acho que fui um pouco dura com ela... eu a vi chorando... Tão frágil. Não! Eu tinha que ser firme, não vou me aproximar dela! Não quero voltar a ser aquela adolescente boba e apaixonada, não mesmo! A melhor coisa a se fazer é manter distância.

 

Passei o resto do dia pensando em Cecília. Foi inevitável, apesar do grande esforço que eu fiz. Carla chegou por volta das oito, mas eu fique esperando ela fazer tudo que tinha que fazer. Era umas nove e meia quando decidi procurá-la em seu quarto. Minha futura ex mulher estava deitada mexendo em seu notebook. Ela usava seu óculos de grau, ficava linda, se fosse em outro momento eu teria ficado toda quente. Carla sorriu ao me ver e levantou-se tentando me beijar, mas virei meu rosto fazendo o beijo pegar em minha bochecha. Carla bufou e voltou a sentar.

 

-- Como seu pai está? – perguntou digitando algo no notebook.

 

-- Melhor... Bem melhor – sorri – Só precisa de alguns cuidados.

 

-- Fico feliz em saber disso – disse me encarando rapidamente, mas logo voltando a digitar.

 

Suspirei. Essa mulher nunca parava de trabalhar, por Deus!

 

-- Precisamos conversar – falei direta.

 

Carla me encarou intrigada. Deixou o notebook de lado e retirou os óculos.

 

-- Sobre o que você quer conversar? – disse séria.

 

Suspirei e sentei na cama.

 

-- Sobre nós.

 

Carla não disse nada, então decidi continuar.

 

-- Eu quero o divórcio, Carla... Não aguento mais isso – levantei e passei as mãos no cabelo – Será o melhor para nós.

 

-- Nós já falamos sobre isso, Sarah – falou séria.

 

-- Você falou, Carla... Você decidiu por nós duas. Estou cansada disso... Esse relacionamento acabou e temos que ser adultas e saber lidar com isso. Vou arrumar minhas coisas e sair de sua casa – falei caminhando em direção a porta.

 

Carla correu e segurou meu braço.

 

-- Não precisa ser assim... Por favor, Sarah – falou desesperada – Eu te amo! Vamos fazer diferente... Podemos viajar e...

 

-- Minha decisão já está tomada, Carla... Não complica as coisas – disse puxando meu braço.

 

Dessa vez eu não iria cair no drama dela. Isso tinha que acabar.

 

-- Por que, Sarah? – disse com a voz embargada.

 

-- Desculpa – falei sincera – Eu nunca te dei o que você realmente merece.

 

Carla respirou fundo. Acho que ela estava tentando se acalmar.

 

-- Ok, eu cansei de insistir nessa merd* mesmo – disse com raiva – Faça o que você quiser! – Voltou a sentar na cama e pegou seu computador.

 

Eu sabia que ela estava puta, mas eu agradeci por ela não ter insistido. Saí do quarto sem dizer nada. Não adiantava conversar com ela nesse momento. Arrumei minhas coisas e segui em direção ao meu carro. Alguns funcionários ficaram me olhando curiosos, mas não ousaram abrir a boca.

 

Olhava a estrada atenta. Decidir ir para um hotel, pois não queria atrapalhar a noite de Renata com seu namorado que havia acabado de chegar de viagem. Sou uma burra, pois já deveria ter comprado um apartamento, mas nunca me liguei muito nisso. Fiz reserva em um hotel aconchegante, não era muito chamativo, mas eu gostava dele. Ficaria cinco dias ali, depois iria para a festa do Denis e o resto eu não sei. Provavelmente iria ficar uns dias com minha amiga até conseguir um apartamento novo. No fundo eu estava aliviada por ter terminado meu casamento fracassado.

 

Deitei na cama macia e fiquei pensativa. Fechei os olhos e lembrei dela... Cecília... Ela tinha um cheiro tão gostoso. Eu precisa ficar longe dela. Essa garota era uma tentação.

 

Liguei para a Renata que ficou brava por eu não ter ido para sua casa, mas no final, ela acabou comemorando minha separação.

 

Não falei nada para meus pais. Não queria preocupa-los e eu sabia que papai não ficaria nada feliz. Mas a vida é minha! Eu decido o que é bom pra mim.

 

Renata ficou tentando arrumar alguma garota para mim, mas eu só queria ficar tranquila e de boa, no entanto, minha amiga era insistente. Ela acabou me apresentando para uma de suas colegas de curso. Ela se chama Lorena, uma negra de tirar o fôlego de qualquer ser humano. Lorena não negava que estava interessada em minha pessoa.... Mas ela não era do tipo insistente. A companhia dela era agradável e ela tinha um ótimo papo. Gostávamos praticamente das mesmas coisas e ela é divertida. Quem sabe no futuro né.

 

Cecília... Ahh... Ela não me procurou mais. Confesso que isso me frustrou, mas eu sabia que era melhor assim. No fundo eu queria que ela tivesse me procurado... Que ela tivesse insistindo, mas ela simplesmente se afastou. Eu sentia vontade de insultá-la e gritar, mas eu não poderia, então decidi ignorá-la por completo. Eu sabia que muitas vezes ela ficava me olhando. Havia se afastado do João Pedro e sua turma e agora lanchava praticamente sozinha. A Bruna que não desgrudava dela e conhecendo bem aquela garota, eu sabia que ela tinha interesse na Cecília. Eu tentava evitar sentir qualquer coisa quando via as duas juntas, mas era impossível e a Bruna parecia saber que eu tinha algum interesse em Cecília, pois sempre que me encontrava fazia questão de provocar. Acho que ela só queria se vingar. Na quarta-feira eu encontrei com Bruna no corredor da faculdade, que estava vazio naquele momento.

 

-- Oi Sarah... – disse debochada – Soube da sua separação... Que peninha né.

 

O silêncio era a melhor resposta para ela. Andei em direção a saída, mas Bruna me seguiu.

 

-- Eu não vejo a hora ficar com a Bia – falou maliciosa.

 

Parei abruptamente e virei-me para encará-la. Será que ela sabia que o nome verdadeiro da “Bia” na verdade é Cecília? Senti vontade de esfregar isso em sua cara, mas conseguir me controlar.

 

-- Eu não te perguntei nada! – falei grossa e me afastando. Eu consegui escutar sua risada divertida.

 

Na sexta-feira o maldito do Denis inventa a ideia de chamar a Cecília para seu aniversário. Que idiota! Eu quase o esfolei de tanta raiva. Ele a levou até a nossa mesa e a apresentou para todos. Marcos ficou logo interessado, essa tarado! Se ofereceu para levá-la na festa do meu primo besta, mas Cecília se negou. Eu quase gargalhei da cara de paspalho que o Marcos fez, era difícil ele tomar qualquer fora, afinal, ele é um homem bonito, alto, olhos verdes, forte... Mas a Cecília mal olhou na cara dele.

 

Meu momento divertido passou quando minha melhor amiga se ofereceu para mostrar o caminho a Cecília. Eu quase a matei, essa cachorra! Eu sabia que ela fez de propósito. Cecília ficou hesitante, mas acabou aceitando.

 

Ahh... Eu ia esquecendo de falar da Bárbara que ficou toda assanhada para o lado de minha ex amiga. Bárbara era bissexual e era super de bem com a vida. Ela tinha aquele jeito de hippie e estava sempre com aquele sorrisinho feliz no rosto. Era uma pessoa legal, mas uma safada! Pronto, falei!

 

Para completar a minha desgraça a idiota da Bruna aproximou-se da nossa mesa e ficou conversando com a Cecília. Eu estava ignorando a Cecília, mas a presença daquelas duas era impossível de aguentar. Bruna a convidou para conversarem em particular. Eu fuzilei aquelas duas até sumirem da minha vista.

 

-- Você deveria disfarçar melhor – Renata sussurrou divertida.

 

-- Por que você fez isso? – perguntei irritada.

 

-- Eu só queria ser legal – disse sorrindo falsamente.

 

-- Você mente muito mal – falei brava.

 

Nós falávamos baixinho. Lorena e Bárbara conversavam entre si.

 

-- Ok, então eu falo para o Marcos mostrar o caminho pra ela – disse me provocando.

 

-- Não! – falei alto, chamando a atenção da Lorena e da Bárbara – Você é insuportável – sussurrei.

 

-- Também te amo – disse me mandando beijinhos.

 

*****

 

Estávamos esperando por Cecília. Havíamos marcado às seis horas e ela estava atrasada. Eu estava irritada e sem paciência. Renata estava relaxada sentada no sofá de seu apartamento. Lorena puxava assunto comigo e eu tentava não ser grossa com ela. Quando deu sete horas eu explodi com minha melhor amiga.

 

-- Tá vendo só? Você vai querer fazer uma merd* de caridade e acontece isso! – falei irritada.

 

-- Deve ter acontecido alguma coisa, Sarah... Pelo pouco que sei da Bia, ela odeia se atrasar para qualquer coisa – Renata falou me encarando.

 

E era verdade. Cecília sempre foi pontual e odiava atrasos. Será que aconteceu algo grave?

 

O interfone tocou. Deve ser ela, então não havia acontecido nada de mais. A bandida apenas se atrasou mesmo. Eu queria esgana-la naquele momento.

 

Cecília nos esperava encostada em seu carro, havia uma garota de cabelos escuros ao lado dela. Só depois que chegamos mais próximo eu conseguir reconhecer a menina e ela pareceu me reconhecer também, pois abriu os olhos surpresa.

 

-- Sarah... – falou sorrindo.

 

-- Manuela... – falei abrindo um sorriso.

 

Manuela aproximou-se de mim e me abraçou apertado. Percebi que ela estava com a mão enfaixada.

 

-- O que houve? – perguntei preocupada.

 

-- Eu acabei me queimando sem querer – disse sem graça.

 

-- Não sabia que você já conhecia a acompanhante da Beatriz – Renata falou chamando nossa atenção – Aliás, você está muitíssimo atrasada – disse apontando para a Cecília.

 

-- Eu sinto muito – Cecília falou sincera – Manuela teve um acidente e acabou se queimando e eu tive que levá-la com urgência ao hospital, por sorte só queimou um pouquinho da mão dela. Na pressa acabei esquecendo o celular e não tive como avisá-la.

 

-- Tudo bem, Bia... A festa só bomba depois da meia noite. Vamos meninas? – Renata estava animada.

 

Entramos no veículo e Cecília nos seguia. Eu estava pensativa. Então a Manuela é amiga da Cecília?... Lembro que ela me chamou pelo nome a primeira vez que a vi. Aquilo foi muito estranho, será que ela sabia quem eu era? Impossível! Cecília não tinha nem uma foto de nós duas juntas. Será que elas têm alguma coisa? Manuela parece ter um carinho intenso por ela... Ah não... Tira isso da minha cabeça! Decidir pensar em qualquer coisa, menos em Cecília, foi difícil pra caramba.

 

Duas horas depois chegamos na mansão onde seria o aniversário do meu querido primo Denis. A propriedade era gigante e bem perto dali tinha a praia, que com certeza o pessoal iria aproveitar bastante. Ainda não tinha muitos convidados. Denis ficou entusiasmado ao nos ver. Ele nos mostrou nosso quarto. Eu ficaria com Renata e Lorena teria uma quarto só pra si. Manuela e Cecília ficariam juntas, confesso que aquilo me incomodou, mas não tinha nada a ver com isso.

 

Deitei na cama de solteiro e fechei os olhos.

 

-- Cecília está muito bonita hein – Renata provocou.

 

Abri meu olhos e a encarei séria.

 

-- Eu te perguntei alguma coisa? – falei ríspida.

 

Renata gargalhou.

 

-- Uii... Pessoa grossa... Melhor você ir logo tomar seu banho. Daqui a pouco a festa estará bombando! – disse mexendo em sua mala que estava na cama e pegando sua roupa.

 

Levantei e entrei no banheiro com toda a preguiça do mundo. Me olhei no espelho, encarando meus olhos escuros. Renata tinha razão, Cecília não estava apenas bonita, ela estava linda! Maravilhosa! Aquele vestido branco e soltinho ficou perfeito nela, aquele cabelo loiro que estava preso em um coque frouxo e ainda tinha os óculos que tinha a cor azul escuro, simplesmente linda!

 

Aff, eu preciso tirá-la da minha cabeça.

 

Tomei um banho relaxante e tentei reorganizar meus pensamentos. Renata não estava mais no quarto, provavelmente estava na companhia de Denis.

 

Me arrumei e desci para aproveitar a festa. Não tinha muito movimento dentro da casa, a festa estava concentrada na área da piscina. Já estava quase saindo da casa quando avistei a menina de cabelos escuros que observava curiosa as pessoas que estavam se divertindo fora da casa. Me aproximei sorrindo.

 

-- Manuela – chamei.

 

A garota levou um pequeno susto, mas abriu um lindo sorriso ao me ver.

 

-- Sarah – disse simpática.

 

-- Por que não está lá fora aproveitando a festa?

 

-- A “C”disse para eu esperar aqui. Ela não gosta que eu fique sozinha, principalmente em festa com pessoas bêbadas e drogadas – disse revirando os olhos.

 

“C”?... Isso é tão íntimo. Há quanto tempo elas se conhecem?

 

-- Sua amiga é meio neurótica né? – perguntei debochada. Eu sabia o quanto Cecília era protetora para algumas coisas.

 

-- Muito! Ela acha que sei lá... Vou ser sequestrada ou “estrupada” – disse fazendo uma careta.

 

-- “Estrupada” – repeti rindo – Agora você não está mais sozinha. Pode me acompanhar se quiser, prometo que cuidarei de você até sua “mãe” chegar – ironizei.

 

Manuela mordeu os lábios e ficou pensativa. Ela estava em dúvida.

 

-- Ela vai querer minha cabeça, mas tô cansada de ficar aqui, vamos?

 

Sorri vitoriosa.

 

-- Vamos! – concordei animada.

 

Apresentei Manuela para todos os meus conhecidos. Ficamos em uma mesa, todos reunidos. Denis puxou assunto com Manuela, já tinha um certo interesse na garota, mas ela pareceu não perceber, portanto não deu muita atenção para ele. O loiro acabou desistindo da conquista e foi se divertir com outros convidados. Renata conversava animadamente com Lorena e Bárbara. Manuela e eu passamos a conversar e a beber ao mesmo tempo. Ela era meio confusa, mas muito divertida. Impossível ficar séria perto da Manuela. Estava estranho a demora de Cecília, mas Manu parecia não se importar. Eu vi Bruna junto de umas amigas, mas graças a Deus ela não se aproximou de nossa mesa. Encarei Manuela que estava com as bochechas coradas, muito linda a garota.

 

-- Como você conheceu a “C”? – fiz aspas com os dedos.

 

Manuela já estava meio bêbada. A garota havia misturado vodca com caipirinha. Acho que a qualquer momento ela iria desmaiar. Fazia quase duas horas que a garota estava em minha companhia.

 

-- Eu precisava de dinheiro pra cuidar do meu pai – disse com a voz um pouco embolada – Conheci ela em um trabalho... – bebeu mais um gole de sua vodca.

 

-- No que vocês trabalhavam? – perguntei curiosa.

 

-- Bom, não é exatamente um trabalho... – disse pensativa – Mas pelo...

 

-- Manuela! – escutei aquela voz tão conhecida.

 

-- Aiii ferrou! – Manuela resmungou.

 

Cecília aproximou-se e finalmente eu conseguir vê-la. Quase eu abro a boca pra babar... Nossa! Que PERFEITA! Ela estava toda de preto, um vestido lindo soltinho, salto alto, cabelo solto e jogado para o lado, estava sem óculos. Cecília observava a amiga e pela sua cara não estava gostando nada de vê-la bebendo.

 

-- Eu disse que não era pra você beber, Manuela! — falou brava.

 

-- Mas eu só tomei uma dose... Tô ótima, “C” —disse sorrindo. Era tão óbvio que ela estava embriagada.

 

-- Manuela você sempre mentiu mal, vem... – falou puxando a menina pela mão – Você precisa tomar um banho e dormir.

 

-- Mas agora que a festa começou – Manu fez bico.

 

-- Você por acaso é a babá dela? — perguntei debochada.

 

Cecília me encarou com os olhos brilhando de raiva.

 

-- Sarah, você não sabe como é essa garota – fazia um grande esforço para manter a calma. Dava para perceber sua pressão na mandíbula.

 

-- Ela está apenas se divertindo – falei tranquilamente.

 

-- Manuela não deveria ingerir nada alcoólico, ela levou uma queimadura e está tomando remédio – disse séria.

 

Droga, eu não lembrava desse ocorrido e confesso que senti um pouco de culpa.

 

-- Nossa, desculpa. Eu realmente não lembrava – falei sincera.

 

-- Tudo bem – Cecília abriu um pequeno sorriso. Ela parecia mais calma.

 

-- Oi meninas! – Marcos chamou nossa atenção. Não sei de onde ele surgiu, havia sumido há tempos.

 

Todas cumprimentaram o garoto, mas Marcos estava com os olhos fixos na minha ex amiga. Cecília não percebia os olhares dele sobre ela, estava mais preocupada com Manuela.

 

-- Bia... – ele chamou sua atenção – Você não gostaria de dançar? — falou sorrindo.

 

Era tão óbvio o quanto Marcos estava interessado nela.

 

-- Obrigada, mas nesse momento eu preciso cuidar da minha amiga – ela tentou ser o mais cordial possível.

 

A cara de decepção dele foi hilária. Me segurei para não rir e acho que Renata e Bárbara também. Marcos não era o tipo que tomava fora.

 

-- Ah, tudo bem então... Se mudar de ideia é só me chamar – disse sorrindo e se afastando. Cecília apenas sorriu.

 

-- Vamos, Manuela – disse a puxando para se levantar.

 

Somente nesse momento percebi o quanto Manuela estava bêbada. Acho que ela era fraca para o álcool, pois eu tinha bebido o mesmo tanto que ela, mas ainda estava em meu juízo perfeito.

 

Cecília ajudou Manuela a andar e as duas sumiram dentro da casa, acho que foram para seu quarto. Minha intuição dizia que as duas eram apenas amigas. Manuela tinha uma verdadeira admiração por minha ex amiga. Elas pareciam irmãs. Fiquei um pouco mais aliviada ao perceber isso.

 

Voltei a beber e agora estava na companhia de Lorena. Renata havia sumido, pois tinha recebido uma ligação do namorado. Bárbara provavelmente estava agarrado com alguma pessoa. Depois de várias doses eu comecei a ficar no brilho. Lorena aproveitou para me beijar e eu decidir curtir o momento. Fazia anos que não beijava outra boca, foi diferente, porém, muito gostoso. Ficamos por muito tempo, mas alguém a chamou e eu fiquei sozinha. Decidi caminhar na praia, com muita dificuldade por sinal. Aproveitei para sentar na areia e sentir o vento gostoso em meu rosto. Fechei os olhos e fiquei assim por um bom tempo.

 

Estava feliz por tudo ter dado certo em relação a Carla. Eu gostava dela, mas era apenas isso. Queria muito que minha ex mulher fosse feliz. Era o que eu mais desejava do fundo do meu coração. Foi estranho ter sido tão fácil assim, mas no fundo eu me sinto aliviada.

 

Minha cabeça estava rodando e eu sabia que havia passado do meu limite. Sóbria, eu não teria ficado com Lorena e talvez nem mesmo tivesse saído do quarto. Levantei com certa dificuldade e encarei o mar. Estava escuro, mas a lua ajudava a iluminar. As ondas estavam me encantando e eu senti uma vontade louca de mergulhar. Tirei meu vestido com muita dificuldade ficando apenas de lingerie. Abri um lindo sorriso e dei alguns passos em direção ao mar, mas senti meu braço sendo segurado.

 

-- Você tá maluca?! – falou nervosa.

 

Virei-me para encarar a garota e percebi que ela havia trocado de roupa. Cecília estava ainda mais linda, perfeita, maravilhosa. Ela usava um short curto e um blusão que cobria todo o short, era vermelho e tinha a estampa do pernalonga. Seu cabelo estava solto e ela estava com os lindos óculos grau.

 

-- O... que você faz... aqui? – perguntei um pouco embolada.

 

-- Eu vi você vindo para a praia... Fiquei preocupada, pois percebi que você está bastante bêbada – falou sincera.

 

-- Estava me vigiando? – perguntei semicerrando os olhos e rindo igual uma retardada.

 

Cecília revirou os olhos e soltou meu braço para logo depois apertar minha mão entre a sua. Esse simples contato fez meu corpo aquecer. Eu estava torcendo para não falar nenhuma besteira.

 

-- Eu só fiquei preocupada... – disse olhando em meus olhos – Vem comigo... Eu cuido de você – falou me puxando e eu apenas me deixei ser guiada.

 

Cecília me levou direto para meu quarto. Ainda tinha muitas pessoas bêbadas espalhadas pela casa. O som permanecia alto. Sentei em minha cama e fechei os olhos, estava tudo rodando. Cecília agachou e retirou os meus sapatos.

 

-- Como... Você sabia onde era meu quarto? – perguntei um pouco sonolenta.

 

A garota abriu um sorriso tímido.

 

-- Eu vi sua amiga saindo daqui, então imaginei que fosse o quarto de vocês – disse levantando e sentando ao meu lado – Você consegue tomar banho sozinha? – perguntou abrindo o zíper do meu vestido.

 

-- Sim, estou meio tonta, mas ainda consigo tomar um banho sozinha – falei passando as mãos no rosto e a encarando.

 

-- Tudo bem então... Vou tomar um banho também e depois venho ver como você está...

 

-- Não precisa! – falei rápida. Não queria ficar mais tempo perto dela.

 

-- Precisa sim... Vou trazer remédio. Não vou demorar – disse levantando e saindo sem esperar qualquer resposta minha.

 

Bufei e retirei meu vestido com uma certa dificuldade. Tomei um banho com água gelada mesmo e isso fez eu me sentir melhor. Me arrumei e deitei em minha cama, suspirei. Observei a cama da Renata vazia. Onde ela estaria? Pensei em pegar meu celular, mas não estava com a mínima vontade de levantar. Escutei batidas na porta e logo depois Cecília entrou.

 

-- Oi... – falou tímida. Ela segurava uma jarra cheia de água e um copo.

 

Não consegui deixar de encará-la intensamente e isso a estava deixando envergonhada.

 

-- Estou com seu remédio também – Encheu o copo com água e deixou a jarra ao lado da minha cama. Aproximou-se e ofereceu o remédio e o copo.

 

Eu peguei e engoli o comprimido, bebendo a água em seguida. Eu não deixei de encará-la em nenhum momento. Cecília ajeitou os óculos e passou as mãos no cabelo.

 

-- Se sente melhor? – perguntou nervosa.

 

-- Sim...

 

-- Que bom... Acho que agora é melhor eu ir... – disse se afastando.

 

Acabei agindo por impulso e segurei sua mão apertado. Cecília me encarou com o cenho franzido.

 

-- Fica aqui comigo – falei carinhosa. Deixei o álcool tomar a atitude que eu evitava quando estava sóbria.

 

Cecília abriu e fechou a boca várias vezes. Acho que ela não estava acreditando em minhas palavras.

 

-- Tem certeza? – disse hesitante.

 

-- Muita – abri o meu mais lindo sorriso e Cecília correspondeu da mesma forma.

 

Ela deitou ao meu lado e eu rapidamente a abracei apoiando minha cabeça em sua barriga. Senti que ela ficou tensa, mas não demorou a relaxar. Sua mão passou a fazer carinho em meus cabelos. Suspirei. Meu Deus, como eu amava isso... Como eu desejei esse momento... Eu sei que deveria manter distância, mas meu coração não aceitava... Ele clamava por Cecília em cada segundo da minha vida. A apertei um pouco mais e respirei fundo sentindo seu cheiro gostoso.

 

-- Eu não devia mais olhar na sua cara... – sussurrei.

 

-- Eu sei, Sah... Mas eu queria que você acreditasse em meu arrependimento... Eu sinto muito a sua falta – sentir ela me apertar fortemente e meu coração acelerou descontrolado.

 

Eu precisava manter minha sanidade para não fazer nenhuma besteira. Achei melhor não dizer mais nada e Cecília não tentou insistir. Demorei a dormir, pois estava curtindo o carinho gostoso em meus cabelos.

 

Depois de muito tempo conseguir adormecer.

 

 

 

Fim do capítulo