POV Cecília.

 

Manuela tentou me convencer a não sair com João Pedro, mas eu não tinha alternativa, Ricardo estava de olho em mim e eu precisava cumprir minha parte no acordo.

 

Meus pensamentos estavam todos voltados para Sarah, mas eu precisava deixá-la de lado por algumas horas. Eu tinha que ser a Beatriz. Precisava ser perfeita para conseguir conquistar o João Pedro.

 

Acho que fomos no restaurante mais caro daquela cidade. João Pedro estava tentando me impressionar, nada que outros homens não tenham feito, nada demais. Era preciso muito mais que isso para me agradar, eu gosto de dinheiro, mas eu gosto de aproveitar a mordomia sozinha. Conheci homens muitos mais ricos que João Pedro, mas eu nunca cogitei a possibilidade de casar com algum deles e não foi por falta de propostas.

 

João Pedro conversava comigo e eu fingia interesse no assunto. As coisas que ele falava eram desinteressantes. Eu não queria saber quanto ele gastou em uma gravata e muito menos saber que ele tinha muitas terras espalhadas e um monte de blá blá blá chato pra cacete. Eu apenas fingia que estava gostando de toda aquele papo furado, meu sorriso era enorme no rosto, mas por dentro eu tava tipo “Zzzz”. Estava quase morrendo de tédio quando ele finalmente falou algo interessante.

 

-- Minha tia me ajuda bastante a saber como cuidar de todo meu patrimônio. O Sérgio manda super bem também... Ah... E tem a Sarah que sempre tenta me orientar... Ela será uma ótima advogada! – disse com um sorriso.

 

Sarah? Será que...

 

-- Sarah?

 

-- Sim, a Sarah.

 

-- Da faculdade? – eu tinha que ter certeza.

 

-- Essa!... A Sarah é bem conhecida na faculdade. Ela é sobrinha do reitor que é um dos donos da faculdade. Os pais dela também são super influentes, o senhor Antônio é um dos maiores advogados do Brasil e ele cuida de todos os negócios da minha tia. Aliás, ele adora a nora que ele tem – falou divertido.

 

Antônio... Claro! O tio Schmidt!... Pera aí... Nora? Como assim?

 

-- Nora? – Gente, eu parecia uma fofoqueira.

 

-- Sim, minha tia Carla é nora do senhor Schmidt – disse bebendo um pouco do vinho.

 

-- Nossa, eu não sabia que o Sérgio havia casado – falei pensativa.

 

João Pedro sorriu e negou com a cabeça.

 

-- O Sérgio não é casado... Quem é casada com minha tia é a Sarah – disse divertido.

 

-- O QUE? – perguntei alterada, surpresa, sei lá.

 

Pedro apertou os olhos desconfiado.

 

-- Você conhece a Sarah?

 

Será que eu devia falar a verdade? Na verdade eu não sabia muito bem o que dizer, estava completamente confusa. A Sarah casada com uma mulher? Como ela nunca me falou sobre gostar de meninas?

 

-- Você está bem, Bia? – perguntou preocupado.

 

Sorri amarelo e tentei disfarçar.

 

-- Estou sim, só apenas surpresa. Eu conheci a Sarah quando era mais nova, nós fomos colegas de classe e depois acabamos nos afastando, mas eu nunca imaginei que ela fosse lésbica... Naquele tempo ela namorava um menino chamado Júnior, eles pareciam tão perfeitos juntos... Estou realmente surpresa.

 

-- Bom, tudo que sei é que agora ela é casada com minha tia Carla – disse dando de ombros.

 

-- As pessoas mudam né – meu sorriso era completamente forçado.

 

O restante daquele jantar foi difícil de aguentar. Eu não conseguia mais me concentrar no João Pedro. Tive que fingir que estava passando mal para sair logo daquele lugar e me livrar do garoto. Pedro foi compreensível e se ofereceu para me dar carona, mas eu recusei prontamente. Tudo que eu mais queria era ficar sozinha.

 

Durante todo o caminho até meu apartamento, eu não conseguir deixar de pensar em Sarah. Então ela era casada com uma mulher? Que loucura é essa? Em que momento isso aconteceu? Por quê eu nunca suspeitei disso? Sarah sempre foi tão reservada. Ela havia namorado apenas o Júnior e falava pouco sobre a relação deles... Que espécie de melhor amiga eu era? Agora mais do que nunca eu precisava conversar com ela.

 

Cheguei em casa ainda pensando em Sarah. Manuela já estava dormindo. Fui direto para meu quarto. Tomei um banho e fui deitar, mas meus olhos pousaram na fotografia que ficava na cabeceira da cama. Peguei o porta-retratos e observei nós duas.

 

Sorri...

 

Estávamos abraçadas de lado e Sarah olhava para câmera e eu a encarava com um sorriso enorme. Eu nunca fui uma garota de sorrir, mas Sarah sempre arrancou os melhores sorrisos de mim. Senti o coração apertar... Saudade. Eu sentia uma saudade grande dela...

 

Acabei adormecendo com o porta-retratos em cima de mim, perdi a noção do tempo olhando para aquela foto. Acordei assustada e peguei meu celular para ver a hora. Ainda era cedo, mas eu não conseguiria mais dormir. Levantei, tomei banho e tomei um pouco de café, eu sempre amei café. Manuela ainda dormia quando eu saí do apartamento.

 

Dirigi calmamente. Queria refrescar meus pensamentos. Será que a Sarah já tinha voltado? Bom, eu esperava ansiosamente que sim.

 

A primeira pessoa que encontrei na faculdade foi o tal de Denis. Ele sorriu ao me ver. Denis era muito loiro e tinha os olhos escuros.

 

-- Ora se não é a menina da Sarah – disse divertido – Bom dia, senhorita.

 

Sorri, ele não era uma pessoa desagradável.

 

-- Bom dia... E eu não sou a menina da Sarah.

 

-- Então isso significa que eu tenho alguma chance – falou galanteador.

 

Eu rir e ele riu junto.

 

-- Eu sei que não fomos apresentados formalmente... Me chamo Denis e estudo química – disse estendendo a mão.

 

Apertei a mão dele.

 

-- Oi Denis, eu me chamo Beatriz e estudo relações internacionais.

 

Denis ficou me observando por alguns segundos.

 

-- Se você precisar de qualquer coisa é só procurar por mim. Depois da Sarah eu conheço tudo nessa faculdade.

 

-- Obrigada, Denis... É muito gentil de sua parte.

 

-- De nada, gatinha – piscou o olho.

 

Fiz cara de nojo, ele percebeu e gargalhou. Eu odiava esses adjetivos ridículos.

 

-- Você é engraçada com essa sua cara de metida.

 

-- Eu não tenho cara de metida – falei contrariada.

 

-- Imagina – ironizou – Eu preciso ir loirinha... Depois a gente se fala – disse se afastando.

 

-- Até depois, “loirinho” – provoquei.

 

Ele apenas riu e se afastou. Dei alguns passos, mas logo fui impedida de continuar, pois alguém me chamava, virei-me para encarar a pessoa.

 

-- Oi Bia, bom dia, tudo bem? – Bruna falou simpática.

 

-- Oi Bruna, bom dia, estou bem sim, e você? – perguntei sorrindo. Eu gostava da Bruna, ela era uma ótima pessoa, mas eu tinha certa desconfiança dela.

 

-- Estou ótima – ela parecia animada – Você não gostaria de ir na minha casa amanhã depois da aula?

 

Como eu iria fugir disso?

 

-- Então Bruna é que eu bem... Eu... – aff, eu não sabia o que inventar.

 

-- Bia relaxa... Só vamos tomar um banho de piscina e se você quiser pode levar algum amigo – ela não tirava o sorriso do rosto.

 

-- Olha, eu vou ver.... Se der eu te aviso – falei pra acabar logo com aquele assunto.

 

-- Ok, Bia – acho que ela desanimou.

 

-- Preciso ir, até depois – falei me afastando.

 

-- Até...

 

Eu tinha uma enorme suspeita em relação a Bruna. Ela me lembrava a Deborah, tinha aquele sorriso de sempre querer algo mais e os olhares dela? Eu não era boba né e não queria nem um problema para mim, além disso, meu foco é o João Pedro... Pelo menos era pra ser ele, mas acabei deixando um pouco de lado... Meu foco total era a Sarah.

 

A aula foi até divertida hoje, deu até para distrair um pouco. Eu e o Luís conversamos bastante. No horário do intervalo João Pedro veio me chamar para fazer companhia a ele e eu não tive como recusar né. Aff, eu já ia procurar a Sarah novamente.

 

Eu estava sem vontade de ficar na companhia dessas pessoas, mas eu tinha que fingir, por isso o sorriso estava estampado no rosto. Bruna e eu conversávamos sobre o trabalho dela. A garota era herdeira de uma empresa de tecidos, haviam várias delas espalhadas pelo Brasil. Ela fazia estágio na própria empresa. Um dia ela iria administrar toda a sua fortuna. Acho que ela falava tudo aquilo para ganhar a minha admiração. Só que eu estava pouco me importando com isso. Mas eu não poderia negar que a Bruna era uma ótima pessoa. E se não fosse pelo meu desinteresse nas pessoas, eu poderia achá-la uma mulher bem interessante.

 

Meus olhos pousaram na menina que havia acabado de entrar e eu não prestei mais atenção em nada. Sarah estava linda na sua simplicidade. Usava um jeans escuro e uma blusa azul-marinho, seu cabelo estava solto e ele fazia um contraste lindo com sua pele branca.

 

Ela sentou-se de frente para mim, mas ainda não tinha me visto. Quando ela olhou para mim, eu tentei sorrir, mas ela me ignorou por completo.

 

-- Cuidado, ela é casada.

 

Escutei Bruna sussurrando e a encarei sem entender nada.

 

-- Pelo menos disfarça – ela disse assim que a encarei.

 

Apertei meus olhos indignada com o que ela havia acabado de insinuar.

 

-- Você não sabe de nada, Bruna!

 

Levantei e caminhei em direção a minha ex melhor amiga. Não me importava o que as pessoas pensariam de mim. Dane-se! Eu precisava falar com ela.

 

Sarah era uma pessoa difícil e não havia mudado muita coisa. Ela foi grossa comigo, mas eu não iria desistir fácil.

 

Renata a convenceu a falar comigo, por incrível que pareça.

 

Eu a segui, sabia que os olhos de quase todos estavam sobre nós duas, inclusive do João Pedro, mas eu tinha coisas mais importantes naquele momento para me preocupar.

 

O que aconteceu depois disso vocês já sabem. Eu estava curiosa em saber sobre o casamento da Sarah com a tal da Carla, e foi por isso que perguntei. Eu não era esse tipo de pessoa fofoqueira, mas eu queria saber muitas coisas... Queria conhecer essa nova Sarah. Queria saber como ela estava e como havia sido a vida dela nos últimos anos. Eu queria me aproximar dela, mas óbvio que ela não quis falar da vida pessoal para mim... Afinal, eu já não era mais sua melhor amiga.

 

Durante os nossos anos de amizade Sarah nunca tinha sido grossa comigo. Ela sempre foi estourada com todos, mas eu sempre fui uma exceção. Eu que sempre fui tão acostumada ao seus carinhos e sorrisos, agora só me restava aquele olhar frio e indiferente.

 

Eu tentei ser a mais sincera possível com ela. Eu não poderia trazê-la para meu mundo, esse tão sujo. Sarah merecia muito mais. Não tive coragem de falar sobre minha vida de prostituição, achei com sinceridade que aquele não era o momento certo. Mas eu não sabia se haveria momento certo depois dessa nossa conversa.

 

Ela estava tão distante de mim... Eu pude sentir isso... Principalmente quando ela disse que não queria ser minha amiga... Nossa, eu me sentir um lixo, um nada... Mas eu conseguia compreendê-la mesmo diante da dor que aquelas palavras me causaram. Não conseguir segurar as lágrimas, elas desceram em abundância. Sei que Sarah percebeu, mas nada disse... Em outros momentos era teria me abraçado e consolado, mas isso era no passado.

 

Ela me deixou sozinha e eu não vi o tempo passar. Continuei sentada remoendo minha dor e a raiva que estava sentindo de mim mesma. Como eu pude ter sido tão idiota? Eu abandonei minha amiga e isso foi horrível, mas eu não poderia deixá-la a mercê do Ricardo, nunca! Jamais envolveria ela nesses negócios sujos. Eu sei que fui estúpida, mas também fiz isso para protegê-la e não apenas para esquecer o passado. Eu só queria que nada tivesse mudado entre nós.

 

Quando me dei conta, já estava escuro. Levantei sem muita vontade e caminhei em direção ao estacionamento da faculdade. Acabei encontrando com o Denis, que colocava algumas caixas em seu porta-malas. Ele sorriu ao me ver.

 

-- Oras, vejam só... A mulher mais linda dessa faculdade – disse sedutor ou pelo menos ele tentou ser.

 

-- Olá Denis – falei sorrindo sem muito entusiasmo.

 

Ele parou e me analisou por completo.

 

-- Pelo visto a vossa senhorita andou chorando... Será que posso ajudá-la em algo? – falou solícito.

 

-- Obrigada, Denis... Mas eu irei ficar bem – disse entrando em meu carro – Boa noite! – falei o olhando pela janela.

 

-- Espera! – ele disse tirando algo de sua mochila e aproximando-se de mim – Toma... Aparece por lá. Tenho certeza que não irá se arrepender – disse me estendendo um papel.

 

Era um convite para o aniversário dele. Que seria em uma propriedade privada, provavelmente a casa dele. Fiquei confusa com aquele convite, pois a gente nem se conhecia. Acho que ele percebeu a minha duvida.

 

-- Eu gosto de você, Bia... E não é qualquer pessoa que convido para meu aniversário, por tanto se sinta lisonjeada com isso. Não se preocupe que não será uma festa gigante... Eu quero apenas pessoas legais ao meu lado nesse momento e você é uma dessas pessoas – disse sincero.

 

Sorri para ele. A verdade é que eu também começava a gostar dele. Um garoto muito simpático e era raro conhecer um cara assim.

 

-- Obrigada, e eu prometo pensar se eu irei – disse sorrindo.

 

-- Não pense, Loirinha.... Apenas vá – disse piscando e se afastando.

 

Dei partida no carro e fui direto para minha casa. Manuela estava deitada no sofá assistindo novela. Sentei no outro sofá e suspirei cansada. Minha amiga olhou-me curiosa.

 

-- Que cara é essa?

 

-- A única que eu tenho – respondi debochada.

 

Manuela riu e sentou-se para me observar melhor. Ela não ligava muito para as minhas grosserias.

 

-- O que aconteceu? – perguntou preocupada.

 

Suspirei e passei as mãos no cabelo.

 

-- Conversei com Sarah – falei tirando os óculos e esfregando os olhos.

 

Manu abriu mais os olhos e pegou o saquinho de salgados.

 

-- Nossa, que legal! Conseguiram se acertar? – disse comendo o salgadinho.

 

-- Não... Ela me odeia e disse que não quer mais ser minha amiga – falei apertando os lábios e tentando não voltar a chorar.

 

Manuela estava com a boca aberta, visivelmente em choque.

 

-- Ela falou isso pra você? – perguntou surpresa.

 

-- Sim – falei desanimada. As palavras da Sarah ainda doíam.

 

-- Por isso você chorou – afirmou.

 

Manuela levantou-se e sentou ao meu lado, me abraçando apertado.

 

-- Ela pode não querer ser sua amiga, mas eu sempre serei, “C”... Em todos os momentos e pra tudo que você precisar – falou carinhosa.

 

Não aguentei e chorei no colo da minha amiga. Manu não falou mais nada, apenas ficou cuidando de mim.

 

Não consegui dormir direito. As palavras duras de Sarah não saiam de minha cabeça. Eu já tive muitos momentos ruins, esse foi apenas mais um para coleção, no entanto, foi o segundo pior, apenas perdendo para o dia que o meus pais me expulsaram de casa. Foi impossível não voltar a infância e lembrar dos momentos maravilhosos que passei ao lado de Sarah. A gente era tão grudadas, tão amigas. Lembro que eu achava o sorriso da Sarah o mais lindo de todos e também lembro quando a Deborah me questionou sobre meu relacionamento com minha ex amiga.

 

“ – Vocês não acham que essa amizade de vocês é muito estranha? – perguntou certa vez quando estava em minha casa.

 

-- Do que você está falando, Deborah? – disse arrumando meu caderno em minha mochila. Eu iria estudar na casa da Sarah.

 

Deborah aproximou-se de mim e segurou meu queixo fazendo-me encará-la.

 

-- Você nunca sentiu vontade de beijar a Sarah? – perguntou direta.

 

Sentir meu rosto pegar fogo.

 

-- É claro que não! – tirei sua mão de meu queixo e continuei arrumando meu material escolar.

 

-- Você é péssima pra mentir – disse sorrindo debochada – Mas eu te entendo... É impossível não querer beijá-la.... Sarah é linda... Será que ela sente vontade de ficar com meninas? – falou pensativa.

 

-- Não pense em chegar perto dela! – falei furiosa.

 

Deborah riu.

 

-- Está com ciúmes, meu amor?

 

-- Deixa de ser ridícula! – falei bufando.

 

-- Eu acho que se você tentasse beijá-la, ela não iria reclamar – disse colocando a mochila nas costas – Vocês têm uma tensão entre vocês... Deveria tentar. Preciso ir... – disse me dando um selinho e saindo.”

 

Pensei muito no que Deborah havia dito e acabei achando um total absurdo. Sorrir desse pensamento. Deborah era louca e uma bela de uma piranha.

 

A semana se passou lenta. Não tive mais coragem de aproximar-me da Sarah, eu a via todos os dias no intervalo. Ela estava sempre na companhia de uma moça negra de cabelos enrolados, muito bonita. Renata também fazia companhia a elas e as vezes o Denis e o Luís.

 

Eu estava desanimada com tudo, inclusive havia me afastado de João Pedro e sua turma, apenas Bruna ficava ao meu lado. A única coisa que me animava era estudar. Amava o curso que tinha escolhido. Era um prazer cada minuto de aula. Luís disse que eu estou doida e que logo mudaria de ideia, mas eu queria aproveitar tudo isso.

 

Durante esses dias acabei decidindo uma coisa importante. Não iria fazer o que Ricardo havia proposto, eu estava cansada de toda aquela vida e também queria distância do João Pedro. Não queria problemas, eu só queria terminar a faculdade. Sabia que Ricardo não iria aceitar fácil a minha decisão, mas eu não me importava muito com isso. Não tinha medo dele. Aliás, ele sumiu e eu agradeci imensamente.

 

Era sexta-feira, eu estava caminhando pelo refeitório na direção de minha mesa de sempre. Escutei alguém me chamando, mas ignorei, no entanto, a pessoa era insistente.

 

-- Ei loirinha, por quê a pressa? – Denis apareceu ao meu lado.

 

-- Oi Denis – falei sorrindo sincera.

 

-- Olá mulher mais linda que eu já vi – tentou se sedutor.

 

Eu rir.

 

-- Alguém já disse que você é péssimo pra flertar? – perguntei debochada.

 

-- Eu poderia me sentir ofendido com isso, mas hoje estou de bom humor – disse animado.

 

-- Que bom...

 

-- Você vai no meu aniversário? – disse direto.

 

-- Desculpa, Denis... Mas eu acho que não vai dar – na verdade eu não queria encontrar a Sarah ou o João Pedro por lá.

 

-- Ah... Eu não aceito seu não... Vem comigo – disse pegando em minha mão e me puxando em direção a mesa da Sarah.

 

Fiquei nervosa e tentei me soltar, mas Denis não largou minha mão. Chegamos perto da mesa e todos olharam para nós. Denis ainda segurava minha mão e percebi alguns olhares, inclusive de Sarah, imediatamente soltei minha mão da dele. Renata e Luís estavam na mesa, a morena que vivia grudada na Sarah também estava. Havia mais três pessoas com eles, dois homens e um mulher.

 

-- Olá pessoal – Denis falou sorrindo – Essa aqui é a Beatriz – disse me abraçando de lado – Bia, acho que não preciso te apresentar a esses três aqui – apontou para Luís, Sarah e Renata – Essa aqui é a Lorena – apontou para a morena ao lado de Sarah – Marcos e Edson e essa aqui é a Bárbara.

 

Bárbara sorriu e me abraçou apertado. Ela tinha cabelos e olhos castanhos, era morena. Um belo sorriso.

 

-- Muito prazer, Bia – disse animada.

 

Sorri retribuindo o sorriso dela. Bárbara tinha um estilo meio hippie. Ela transmitia calma apenas com o olhar.

 

-- Prazer, Bárbara – disse simpática.

 

-- Babi para os íntimos – falou piscando.

 

Impressão minha ou ela estava flertando comigo?

 

Percebi que Sarah nos olhava fixamente. Por sorte, fui salva pelo Denis.

 

-- Bia vai para a minha festa e eu queria saber se alguém poderia lhe dar uma carona – falou olhando para os amigos.

 

-- Olha cara, se ela quiser pode ir comigo no meu carro – Marcos me encarava.

 

Fiz uma cara de desagrado. Nunca que iria com ele.

 

-- Eu tenho carro – falei seca.

 

-- Eu sei, minha linda – Denis falou carinhoso – Mas acontece que minha casa é longe e o caminho complicado.

 

-- Hoje em dia tem GPS, Denis – disse como se fosse algo óbvio.

 

-- Eu sei, Bia... Mas sei lá.... Não quero que você se perca no meio do nada.

 

-- Eu ficarei bem – Eu nem sabia se ia para essa festa.

 

-- Nós podemos mostrar o caminho, Denis – Renata falou e Sarah a fuzilou.

 

Denis suspirou. Parecia aliviado.

 

-- Ótimo... Então está tudo resolvido. você vai seguindo elas, Bia.

 

-- Mas... – tentei argumentar.

 

-- Shii... Não quero desculpas – ele falou sério.

 

Suspirei vencida.

 

-- Ok, Denis.

 

-- Vamos... – disse puxando uma cadeira – Sente-se com a gente, assim você logo vai conhecendo a galera.

 

Eu queria negar, mas Denis praticamente me obrigou a sentar e eu não conseguir pensar em uma desculpa perfeita. Aff!

 

Os meninos se ofereceram para comprar nossos lanches. Eu decidi tomar apenas um suco de maracujá. Eles levantaram e nos deixaram sozinhas na mesa. Eu me sentia um peixe fora d’água. Estava visivelmente incomodada.

 

Sarah fingia que eu não estava ali e conversava baixinho com a morena, que agora eu descobri que se chama Lorena. Elas pareceriam ter alguma coisa, mas Sarah não era casada?

 

Eu pesquisei o Facebook dela e vi fotos com a sua mulher. Aliás, que mulher linda. Era bem mais velha que ela, mas muito elegante. Parecia que tinha saído de algum filme...

 

-- Beatriz...

 

Meus pensamentos foram interrompidos pela a Renata que estava me chamando. Encarei a amiga de Sarah.

 

-- Oi.

 

-- Você e o Denis tem alguma coisa? – ela perguntou sem enrolar.

 

-- Oh, não... Claro que não – neguei rapidamente.

 

Renata me analisava atentamente. Eu odiava quando as pessoas faziam isso.

 

-- Sabia que ele e a Sarah são primos?

 

Fiquei surpresa com essa informação. Meus olhos pousaram em Sarah. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, os meninos voltaram com nossos lanches. Denis começou a falar de sua festa e todos acabaram ficando animados. Em momento algum eu e a Sarah trocamos qualquer palavra. Ela estava grudada na Lorena.

 

Sarah não conseguia disfarçar quando algo a estava incomodando, no caso acho que era eu. Mas eu vi seus olhos mudando para o ódio assim que Bruna aproximou-se de nós.

 

Bruna foi simpática com todos, mas percebi certa frieza dela com a Sarah. A Renata também a olhava com raiva. Denis a convidou para sua festa e óbvio que ela aceitou, fazendo Sarah bufar. Ela virou-se para mim.

 

-- Será que podemos conversar?

 

Se fosse em outro momento eu teria inventado qualquer desculpa, mas meu desespero para sair dali era enorme.

 

-- Claro, Bruna – sorri forçado e levantei me despedindo de todos.

 

Senti minhas costas queimando. Eu sabia que Sarah estava fuzilando nós duas. Ótimo, agora ela tinha mais motivos para me odiar. Eu era quase amiga de uma mulher que ela parecia detestar.

 

Sentamos em um banco um pouco afastado. Havia poucos alunos por ali. Antes que Bruna falasse qualquer outra coisa eu precisava tirar minhas dúvidas.

 

-- O que a Sarah tem contra você? – perguntei a encarando.

 

Bruna ficou surpresa com minha pergunta e pareceu pensar um pouco.

 

-- Eu falo se você me disser o que tem com ela – disse me analisando.

 

-- A gente não tem nada – respondi nervosa.

 

-- Mas vocês já tiveram?

 

-- Não. A gente foi colegas de turma no passado. Apenas isso – omiti algumas coisas né.

 

Bruna me olhava nos olhos. Ela pareceu não acreditar nas minhas palavras, mas não questionou mais nada.

 

-- Eu sou ex namorada da Carla... Se você não sabe quem é a Carla é a mulher daquela branquela – disse revirando os olhos.

 

-- Você é ex da atual mulher dela – disse pensativa – Mas por quê vocês não se gostam?

 

-- Por motivos óbvios... – ponderou – Eu ainda gostava da Carla na época que a Sarah ficou com ela. Fiz questão de inferniza a vida dela por um tempo, mas isso é algo totalmente superado. Mas ainda temos essa nossa hostilidade e duvido muito que mude – disse sorrindo.

 

-- Você ainda gosta da mulher dela? – perguntei séria.

 

-- Não! – disse rindo – Não mesmo... Acho que foi um pouco de obsessão por ela ter sido minha primeira mulher. Eu tinha 17 anos quando me envolvi com a Carla. Quando ela me deixou eu estava com 19... Fiquei louca e com um ódio gigante da Sarah, mas isso era coisa de adolescente e passou...

 

Bruna parecia sincera em tudo que dizia. Sorri para ela.

 

-- Eu te entendo – falei desviando meus olhos para a grama verdinha.

 

-- Você vai pro aniversário do Denis? – Bruna perguntou mudando de assunto.

 

-- Eu não sei, mas o Denis é insistente – disse arrumando meus óculos.

 

-- Vai... Por favor... Sua companhia é sempre um prazer – disse carinhosa e tocando no meu cabelo.

 

-- Vou pensar, Bruna – falei me levantando – Preciso ir.

 

Bruna me abraçou e beijou meu rosto fazendo uma leve carícia. Ela foi embora sem dizer nada.

 

Decidi não assistir mais aula nesse dia e fui direto para minha casa. Olhei meu celular e nada do Ricardo aparecer. Apesar de eu estar feliz, sabia que esse sumiço estava estranho.

 

Tinha consciência que não deveria ir no aniversário do Denis, mas resolvi apertar o foda-se e me divertir um pouco. Fazia muitos anos que não saía por vontade própria. Manuela ficou feliz quando a convidei para ir comigo. Arrumamos nossas coisas e seguimos em direção a casa de Renata, que havia me enviado o endereço por mensagem.

 

Eu estava nervosa... Essa festa prometia... Eu posso dizer uma coisa... Vou tentar me aproximar da Sarah novamente. Eu sabia que o risco de levar uma patada era grande, mas eu não iria desistir. Estava decidida em relação a isso, acho que por isso estava tão nervosa, mas eu tinha que tentar.

 

 

Fim do capítulo