Acordei com interfone tocando. Joguei as cobertas para o lado e fui cambaleando até a porta.

- Oi... – tinha os olhos fechados.

- Srta a Margot está aqui em baixo, ela está subindo – e ela acenou para a câmera do interfone.

- Ok. – disse voltando para a cama.

Minutos depois Margot entrou no quarto, abrindo as cortinas e eu cobri o rosto com o travesseiro.

- Ah, fecha isso!

- E são horas de estar na cama?

Olhei para o relógio e marcava quase 16 h.

- Sim... Fecha essas cortinas já!

- Você sabe que dia é hoje?

- Não. Sábado!

- É o seu aniversário e eu vim te buscar.

- Ah Margot, não quero, você sabe que eu odeio essas coisas!

- Vem, vamos tomar um banho e se arrumar.

Sei que não havia outro jeito, eu teria que ir, já que tinham gastado com tudo. Soube por terceiros que elas haviam alugado um rancho perto do lago e que seria algo muito legal.

Fui emburrada para o banho e me arrumei em seguida. Margot me esperava na sala folheando uma revista.

Deixei os cabelos soltos, vesti um croppet de crochê branco e um jeans. Usei uma maquiagem mais suave.

- Estou pronta. – disse desanimada.

- Uau, está linda.

- Vamos Margot, antes que eu desista.

Havia comentado com a Giulia sobre essa festa surpresa e ela disse que iria pensar, mas mesmo assim passei o endereço para ela, caso quisesse ir.

- Vou precisar reabastecer antes. – disse entrando num posto.

- Tudo bem, temos tempo de sobra.

- Pode encher, por favor? – disse entregando a chave do carro para o frentista.

- A Giulia vai?

Eu a olhei pelo retrovisor.

- Não sei, mas ela sabe.

Seguimos pela estrada em silêncio, meu humor estava horrível.

A noite caía serena quando encostei o carro perto de uma cerca. Vi feixes de luzes saindo por entre as árvores. Alguém testava o som. Sentei no capô do carro e disse para Margot ir na frente, que eu logo desceria. Já havia muitos carros parados, imaginei que boa parte dos meus amigos estavam ali. Nestes anos de faculdade tinha feito muitas amizades. Era bem popular por assim dizer.

Desci do carro e segui pela estradazinha de pedra. As luzes estavam apagadas e de repente, a luz de um canhão me iluminou.

- Oi - disse acenando para todos, tentando enxergar alguma coisa diante de mim.

E a luz se acendeu e ouvi em um só grito, todos dizendo ao mesmo tempo.

- SURPRESSAAAAAAA! – junto de vários aplausos e risadas.

- Obrigada gente! – sorri sem graça.

Todos vieram me cumprimentar. Havia mesas espalhadas por todo canto e outra enorme no centro com salgadinhos e docinhos. Margot me olhava de longe com um sorriso enorme no rosto, imaginei que tudo isso foi preparado por ela e pelos pais dela, que trabalhavam com eventos festivos na cidade.

Sofie e Paige me abraçaram por último, trazendo uns embrulhos coloridos nas mãos.

- Não vai ficar assim!

Disse para uma e olhei para a outra.

- Você merece! – e vi Margot sorrindo novamente.

A música tomou conta do ambiente e todos bebiam e dançavam.

Sentei em uma mesa perto do som, me servindo de vodka e um prato cheio de docinhos. Já que a bagunça estava feita, por que não aproveitar? E foi o que eu fiz, dancei e bebi muito.

Sofie veio até mim, segurando no meu braço.

- Oi Sofie! – disse gritando.

- Tem alguém querendo falar com você!

- Onde?

- Na entrada, quer que eu vá junto?

- Não precisa, aproveita a festa!

- Ok.

Estava escuro e as luzes coloridas clareavam a passagem até a entrada, mas não havia ninguém ali perto. Fui para fora e vi um vulto caminhando de um lado para o outro. Quando me viu, veio até mim.

- Você quem está me procurando? – mas ainda não dava para identificar quem era.

- Sim estou...

E o meu coração disparou, abrindo um sorriso. Era a Giulia.

Ela estava linda vestindo um macaquinho branco e estava de salto, o que a deixava ainda mais alta.

- Ai não acredito! – sorri.

- Para a aniversariante. – e estendeu uma caixinha.

- Obrigada!

E ela me abraçou beijando a minha boca.

- Vem.

Voltamos de mãos dadas até onde eu estava sentada. Para minha surpresa, Margot, Sofie e Paige estavam sentadas ali também. Olhei para elas sem saber o que dizer, já que seria a primeira vez que elas viam a Giulia.

- Oi meninas! – sorri. Deixa apresentar alguém para vocês. Essa é a Giulia. Giulia, essa é Margot, Paige e Sofie, são minhas amigas da faculdade.

- Olá! – sorriu. – Ela fala muito de vocês.

E Margot, ficou me olhando com uma interrogação na testa. Eu não queria que Paige soubesse de que forma eu a conheci e pedi a Margot para inventar qualquer coisa, que depois eu conversaria com ela. Paige sentiu uma pontada de ciúmes ao olhar para ela, mas eu sabia que ela não levaria isso adiante.

- Sente-se – apontei a cadeira do meu lado.

- Como se conheceram? – Sofie perguntou com um sorriso.

E Margot respondeu por mim.

- Em um café!

E Giulia olhou para mim não entendendo nada.

- Você é linda! – disse Paige sem ressentimentos. Adorei seu cabelo!

Giulia apertava a minha mão. Parecia se divertir com aquilo.

- Quer beber algo? – acenei para o garçom.

- Whisky, por favor.

- Você é linda – sussurrei no seu ouvido.

O garçom voltou minutos depois com uma garrafa de Whisky, gelo e copos.

- Adoro docinhos... - e enchi a boca de brigadeiros. – Eu sei mãe! Modos!

E todas riram.

- Vem aqui... Giulia me chamou e olhei para ela.

O que eu não esperava é que ela fosse me beijar naquele exato momento, na frente de todas.

Segurou minha nuca e senti a sua língua na minha. Provando o sabor do beijo e do brigadeiro. Quando abri os olhos, Paige não estava mais sentada na mesa, nem Margot. Eu sabia o que viria depois, mas era algo que eu adiava dia, após dia, desde quando a conheci. Faltava-me coragem para dizer o que estava sentindo dentro do meu coração em relação à Giulia.

- Quer dançar? – olhei para ela.

- Sim.

- Vamos Sofie?

- Não, acho que bebi demais! – piscou para mim sacando o que acontecia.

Giulia me levou até ao meio e me abraçou pela cintura. Ela não tinha medo de me assumir ali, diante de todos os meus amigos e me parecia querer mostrar as suas verdadeiras intenções.

- O que você fez comigo? – sussurrei no seu ouvido.

- Diz você... – disse com um sorriso no olhar.

- Estou toda apaixonada... – e cobri os lábios dela com os meus.

Senti o seu corpo se comprimindo ao meu, seguido de um leve tremor, como se chorasse. Permanecemos abraçadas, dançando, até que as luzes se apagaram e o canhão voltou a me iluminar.

- Ai meus olhos... – sorri envergonhada.

E ouvi alguém dizer que era hora do bolo.

A luz se acendeu e todos se levantaram cantando os parabéns para mim. Giulia permanecia ao meu lado de mãos dadas. Margot e Sofie traziam um bolo repleto de velinhas, colocando sobre a mesa principal. Fiquei posicionada de frente para todos, atrás do bolo. Giulia sussurrou para que eu não me esquecesse de fazer um pedido ao final e afirmei com um sorriso para ela. E quando pararam de cantar puxei o ar e assoprei.

Insistiram tanto que eu cortasse o primeiro pedaço e me senti na festa do meu próprio casamento, virei para Giulia e entreguei para ela. Depois o garçom continuou cortando e servindo a todos. Voltamos para a mesa e eu pedi ao garçom que trouxesse mais salgadinhos. Sofie dançava com a Paige e nada parecia ter mudado para ela. Ela parecia realmente se divertir.

Segurava o embrulho da Giulia entre as mãos e sacudia para tentar adivinhar o que era, mas nada se mexia lá dentro.

- O que é?

- Só abrindo para ver.

Giulia sorriu bebendo um gole de whisky.

Rasguei o papel e abri a pequena caixa de veludo vermelho. Sorri ao ver o que tinha dentro. Uma pulseirinha de ouro com dois pingentes com iniciais pendurados:

Um M e um G.

Fim do capítulo