Capitulo 21
Tínhamos passado mais um dia juntas. Depois do jantar sentamos no sofá, abraçadas.. Ive contou-me do seu passado. Do lugar onde viveram desde criança, ela e o irmão. Da escola de dança que ela se desfez depois da morte dos pais, mas já eram coisas que pertenciam ao passado. Éramos muito parecidas. O seu passado não era muito diferente do meu. Ive deitou a cabeça no meu colo e suspirou.
- O casarão do All In pertencia a sua família? – perguntei olhando para ela.
- Não. Adquirimos recentemente. Eu fiquei fascinada com aquele prédio e resolvemos reformá-lo e transformar no que é hoje. Tem muito que melhorar, mas está indo muito bem. Pessoal tem retornado. Temos tido um retorno bem positivo.
- Engraçado que eu nunca havia reparado nele. Fui tirar umas fotos e ele me chamou muito atenção.
Ive fechou os olhos e sorriu.
- Reparei em você desde a primeira vez. Lisa e Fabien se beijaram - sorriu. – Alguma coisa mexeu com você e eu quis muito te chamar para sair, conhecê-la melhor, mas imaginei que talvez a qualquer momento um cara passaria por aquela porta e sentaria ao seu lado, seguraria a sua mão, mas isso não aconteceu e eu tive alguma esperança de um dia poder me aproximar de você. Uma amizade talvez. Eu queria que você fizesse parte da minha vida. Imaginava você comigo ou conversando, sorrindo.
- Não acredito que tenha reparado nisso. - sorri. – Não sei dizer, mas eu nunca tinha sentido o que senti, um magnetismo que não conseguia desviar os olhos e me lembrei de alguém...
- Uma mulher? Então quer dizer que você já se relacionou com uma.
- Por pouco tempo, sim. E por infantilidade minha talvez, imaturidade, problemas na minha família, pedi que se afastasse. Eu não soube lhe dar com a pressão naquela época.
- Hum entendi, e isso foi há quanto tempo?
- Há uns dois anos, mais ou menos.
- Ainda pensa nela?
- Só queria saber se ela esta bem. Esteja onde estiver.
- Não tem mais contato então.
- Não.
Ive ficou pensativa.
- Ciúmes? – disse olhando para ela.
- Quem não teria com você ao lado? Uma mulher tão linda, feminina, como eu desejei você! Estar perto e sentir o perfume da sua pele. - ela mordeu os lábios e sorriu. – Foi então que escrevi o primeiro bilhete, mas tive medo de já estar acompanhada e de como reagiria ao saber que aqueles bilhetes eram meus, eu sendo uma mulher.
- Estou começando a entender e como me viu?
- Estava no escritório. A vi pelas câmeras de segurança. Eu nunca tinha te visto por ali, mas então você me parecia familiar, e me lembrei do acidente. Aquela moça era você.
- Eu não imaginava que você morasse tão perto. Foi onde tudo começou. – sorri ao lembrar-me do quanto estive perto de bater naquele poste.
- Foi muita coincidência. Pensei que nunca mais voltaria a vê-la. E talvez pelo destino, você foi até o bar.
- Eu jamais teria imaginado que aquele bilhete endereçado a mim fosse seu. Nunca me passaria pela cabeça Ive. - e beijei a sua mão.
- E como descobriu que eram meus?
- Eu havia guardado os dois primeiros. E depois você deixou aquele no escritório. Quando abri reconheci a letra e comparei com os outros. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo sem reação.
Ela sorriu corando.
- Será que já sentem a nossa falta? – disse abrindo um sorriso.
- Com certeza. – disse pensando no Rui. - Tem um cara que trabalha com meu pai. Parece um cão de guarda. O Rui.
- Mas já tiveram alguma coisa? Já se relacionaram?
Ajeite-me no sofá e vagueei num passado não muito distante.
- No começo pensei que era uma brincadeira do meu pai, mas sabe quando você sente que tem alguma coisa errada? Pensei que fosse acontecer algo entre nós, mas sempre foi uma relação estranha, abusiva, sei lá.
- Isso é realmente estranho.
- Ele entrou na minha vida repentinamente. – disse desviando os olhos dela.
E todas as lembranças daquele dia voltaram em minha mente.
- Depois que ele saiu daquele escritório, enchi o meu pai de perguntas e ele respondeu? Quase nenhuma.
- De onde ele veio?
- O meu pai disse que ele era filho de um amigo da minha mãe e que ficaria por um tempo. Uma semana, virou meses e esses meses, tornaram-se anos.
- Penso que não entendi, por que o seu pai faria isso?
- Disse que seria um favor para um amigo e nada mais.
- Um favor... – disse tentando ligar os fatos. Mas não era amigo da sua mãe? – disse olhando para mim.
- Ele tinha acabado de perder o pai e não tinha com quem ficar.
- Isso é muito estranho! – disse sorrindo.
- Parece conto de Sherlock Holmes, não? – sorri.
- Bem isso. Se você quiser podemos aprofundar nisso e ligar os pontos. Posso ajudá-la a descobrir e... desculpe Giulia – sorriu.
Ela sorriu não percebendo a dimensão da coisa. Não consegui dar continuidade àquela conversa. Tinha situações na minha vida que não faziam sentido. Eu não sabia dizer ou explicar certas coisas. Parece que todos olhavam com pena de mim. Nunca soube de minha mãe. Nem o passado do Rui. Ele vivia no meu pé com um ciúme incontido no olhar, vigiando meus passos. Eu costumava perder a noção do quanto beber em uma noite e sempre fui reprimida por ele. Era para ser o correto, mas não parecia, partindo dele e não do meu pai, mas eram ordens diretas vindas do velho no final das contas.
Lembro-me de uma vez ele ter bebido demais, isso foi logo no começo dele chegar, ele partiu para cima de mim com uma fúria descontrolada e segurou os meus punhos com tanta força até me fazer gritar por ajuda. Ele me empurrou contra a parede, pediu perdão e me beijou. Como ter contado isso para meu pai? Teria acredito em mim? Contaria hoje depois de tanto tempo? Para quê? Todo segredo morria comigo. Inclusive toda a verdade sobre o meu passado. Eu comecei a ter medo e pensei que todas as relações que eu tivesse poderiam ser assim. Mergulhei nos estudos como uma fuga, para me afastar das confusões e do Rui.
Ive brincava com uma mecha do cabelo e eu admirava a suavidade dos seios sob o tecido branco de sua blusa. – mordi os lábios.
- O que está pensando...? – ela disse sorrindo para mim.
- Em você... - acariciei o rosto delicado.
- Giulia... - Ele vai ser um grande problema. Imagina quando ele souber de nós.
- Nem quero pensar nisso agora. – disse com tremor na voz.
- Você pensa sempre em mim? – sorriu mudando de assunto.
- Boa parte do meu dia... – disse roçando os mamilos delicadamente.
- Hum... – mordeu os lábios soltando um gemido. – Isso mexe muito comigo.
O que está acontecendo com você Giulia? Eu começava a sentir por ela um desejo que não compreendia, ia além de todas as coisas que já havia passado. Até com a Mel. Estava relutando com aquele novo sentimento. Queria estar sempre na sua presença. Queria fazer parte da vida dela, como mulher, amante, esposa.
Fim do capítulo
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