Deixei Paige em sua casa e acelerei para sair logo daquela estrada. Dava-me sempre arrepios! Que ninguém soubesse, mas eu morria de medo daquela escuridão toda. Liguei o radio para ver se melhorava, mas ainda mesmo assim era bem tenso.

- Graças a Deus... Luz divina dos postes! - sorri.

Entrei em casa, já fui tirando as roupas e entrando debaixo da ducha.

- Puta que pariu! – gritei com a água fria caindo no corpo, e ela só aqueceria daí a uns cinco minutos, mas eu tinha pressa. Enxuguei, vesti meu moletom e corri para a cozinha, eu tinha fome. Abri a geladeira e só tinha frutas que não precisariam ser fritas e nem cozidas. Separei banana, maça, mamão e laranja, colocando tudo dentro da centrífuga. Preparei um pão com geléia de framboesa, virando a vitamina no copo. Sentei na banqueta de madeira olhando o visor do celular.

- Ah Giulia, por que você não me liga? – virei um gole de vitamina na boca, mordendo o pão em seguida. Nesse momento recebi uma mensagem:

“Chegou bem?”

Era de Paige.

“Sim, estou comendo, não consegue dormir?” – enviei.

“Não, mas eu vou tentar, um beijo delicia!”

“Outro safada!” – sorri mordendo os lábios.

Paige era o tipo de mulher que eu gostava, sem frescuras, direta e quente, muito quente!

Lembro-me de quando a conheci, toda tímida, falava pouco. Foi difícil fazer amizade com ela. Nessa época eu já não levava boa fama. Os pais dela não gostavam de quando eu ia para casa deles fazer trabalho, que eu seria um mau caminho, que ela começaria a se drogar como eu, mas eu nunca usei drogas e isso passava longe nas minhas idéias. Faltava muito no colégio para ficar com as meninas do segundo ano. Todas eram mais velhas que eu. O tempo se passou e ela foi confiando mais em mim, viu que não tinha nada de mais em se aproximar. E hoje somos melhores amigas, ou melhor, parceiras. Depois veio Sofie e Margot. E nos tornamos inseparáveis e grandes amigas. Paige e eu ficamos mais intimas depois de uma bebedeira e eu acabei lhe roubando um beijo. Depois disso ela sempre quis mais. E eu dei tudo o que ela queria, eu nunca conseguia resistir à tentação e as provocações dela. Sempre terminávamos na cama.

Mastiguei outro pedaço de pão e selecionei o nome da Giulia no visor, queria muito ouvir a sua voz. Puts e ainda agora a pouco, falava com Paige por mensagens.

- Você não presta mesmo Mel... – murmurei.

Deixei o celular sobre a mesa e acabei o lanche. Afastei a cortina da janela e olhei para o céu, não tinha jeito de que iria chover. Lavei as louças, copos e tirei o lixo para fora. Depois fui para o banheiro, passei fio dental, escovei os dentes, estendi as toalhas e voltei para a cozinha. Peguei o celular apaguei todas as luzes e fui para o quarto deixando só na claridade de um abajur. Disquei o numero da Giulia e esperei. Nada, chamou, chamou e caiu na caixa.

- Você já está dormindo coisa linda? – sorri olhando para o celular.

E recebi um bip de alerta e abri:

“Posso ligar?” – era de Giulia.

“Sim” – respondi e meu coração disparou.

E o seu nome apareceu na tela. Atendi colocando no viva-voz:

- Boa noite moça.

- Oi, Mel. Como você está?

- Melhor agora – sorri.

- Desculpa não ter falado com você mais cedo, estava com umas visitas aqui em casa.

- Tranqüilo. Como foi o seu dia?

- Correu tudo bem, o que já é bom.

- E quando vou poder te ver novamente?

Ela demorou a responder.

- Podemos marcar um dia desses para você vir aqui no meu apartamento. Podemos fazer um churrasco ou algo do tipo.

- Quando? – sorri de nervoso.

- Ainda estou com seu robe, preciso anotar na minha agenda para não me esquecer de novo.

E ela mudou de assunto.

- Sem problemas, se você quiser até pode ficar com ele.

Ela sorriu.

- Passei o dia pensando em tudo que aconteceu entre a gente e até agora.

- Imagino que isso tudo te deixe muito confusa?

- Um pouco, foram muitas descobertas. Abriu-se um monte de possibilidades que eu não fazia idéia.

- Acho que estou muito empolgada, indo depressa demais. Tem que ser no seu tempo.

- Talvez tenha sido um pouco rápido demais mesmo. Não costumo me envolver dessa forma. Ainda mais com uma mulher.

Soubesse ela o quanto eu começava a ficar envolvida nisso.

- Você acredita em amor a primeira vista? – disse olhando para o teto.

- Pode acontecer com qualquer pessoa. Está deitada?

- Estou sim. Deixo-te curiosa?

- Sinceramente? Sim. Você me desperta certos sentimentos.

- Isso é ruim?

- Não, quer dizer...

- Eu entendo você. Estou aqui deitada e imaginando como deva estar vestida.

- Sério? – ela sorriu.

- Sim.

- E quer saber?

A voz dessa mulher me fazia contorcer na cama.

- Se eu quero? Nem me faça esse tipo de pergunta!

- Estou nua.

Ela disse antes mesmo que eu dissesse mais alguma coisa.

- Ai... - gemi mordendo os lábios e imaginando aquele corpo delicioso que eu já havia possuído.

- Hum. - disse e sorriu.

- Você gosta de me provocar né?

- É algo novo para mim.

- Giulia, deixa eu te ver amanhã, por favor! Você vai trabalhar o dia todo?

- Estou bem ocupada na parte da manhã. Penso em sair do escritório por volta das 14h00min.

- Penso estar liberada depois das 16h00min.

- Vou estar no meu apartamento se você quiser ir para lá.

E quis gritar depois de ouvir isso, mas me contive.

- Mel quantos anos você tem?

Fiquei sem saber o que dizer. Se eu dissesse será que ela se afastaria de mim?

- Pode dizer você já sabe a minha idade, mas não me disse a sua!

- Tenho 22 – disse quase num sussurro.

- Nunca fiquei com pessoas mais novas.

- Já ficou comigo. – sorri.

- É verdade.

- Qual o seu endereço?

- Assim que desligar te envio por mensagem.

- Está bem.

- Bom, vou dormir, tenha bons sonhos.

- Você também Giulia, até amanha!

- Até. Boa noite!

- Boa noite!

E o celular apitou.

“Rua das Acácias, 307, cobertura. Vou deixar avisado com o porteiro. Beijo”

- Cobertura... – disse baixinho.

Ela deve morar no céu. Anjos moram perto do céu.

Fim do capítulo