POV Beatriz.

Pela manhã fui falar com o Ricardo e ele me deu várias instruções. A melhor notícia de todas foi que eu finalmente poderia fazer faculdade. Fiquei emocionada, mas disfarcei na frente do meu ex “chefe”. Voltei para casa com um sorriso enorme no rosto. Manuela não estava, tinha viajado para se despedir dos pais. Fiquei a manhã toda arrumando os objetos em várias caixas, com todo o cuidado do mundo. Eu amava cada coisa que tinha em minha casa. Cansei, e eram quase onze horas da manhã. Fui procurar alguma coisa para comer e acabei por escolher uma maçã. Sentei no sofá e fiquei pensando em como seria minha vida daqui pra frente. Isso estava me deixando ansiosa. Peguei meu celular e passei a excluir todos os contatos dos meus antigos clientes. Estava livre e não queria mais saber daquela vida, em breve trocaria meu número também.

Estava distraída quando meus olhos ficaram presos naquele número tão conhecido e distante. Fiquei observando aquele nome doce... Sarah... Estava curiosa em saber tudo que aconteceu em sua vida, mas não me achava no direito de aparecer de repente... Depois de tantos anos. Será que Sarah havia casado com o Júnior? Será que ela ainda é esquentadinha?

Abri um sorriso, claro que ela ainda era estourada. Percebi apenas pelo jeito que ela falou com aquela mulher ridícula. Ela estava diferente... Mais madura... Bonita... Muito bonita. A Sarah sempre foi linda. Eu a considerava a mais linda do colégio, não entendo o que aquelas pessoas viam em mim.

Fiquei tão perdida em pensamentos que não percebi que havia ligado sem querer para minha ex melhor amiga. Meu coração só faltou sair pela boca. Merda! Fui tentar desligar, mas a ligação se encerrou, ela não atendeu. Fiquei aliviada e confesso que um pouquinho frustrada também. Deixei o celular no sofá e levantei passando as mãos pelos cabelos. Suspirei. Quando pensei em voltar a empacotar as coisas o celular começou a tocar. Meus olhos ficaram arregalados observando o nome no visor do celular. Sarah estava me ligando.

Fiquei paralisada escutando apenas a música tocando. Hesitante, peguei o celular e respirei fundo. Não tive coragem de atender. Não sabia o que falar. Acho que minha voz nem ao menos iria sair. Por sorte Sarah não voltou a insistir e eu agradeci. Depois de ficar vários minutos parada e olhando para o nada decidi voltar a guardar as minhas coisas. No outro dia nós iríamos mudar. Manuela chegou umas oito horas da noite. Estava com um lindo sorriso no rosto, mas logo percebeu que eu estava diferente.

-- O que aconteceu “C”? – perguntou sentando ao meu lado e segurando minha mão.

-- Não aconteceu nada – falei suspirando e encarando o teto.

-- Você é péssima mentirosa... Eu já te disse isso – Manu tinha um pequeno sorriso nos lábios.

Revirei os olhos bufando.

-- Só estou ansiosa.

-- É normal... Eu também estou – disse fazendo uma careta.

-- Acha que agora será tudo diferente – falei pensativa.

-- E eu espero que seja muito melhor!

-- Eu também espero, Manu – disse a encarando.

Manuela me abraçou e falou sobre seu dia com a família. Por sorte não perguntou mais nada. Arrumamos algumas coisas, na verdade eu arrumei né. Pedimos uma comida leve e ficamos conversando sobre a nossa nova vida.

No outro dia viajamos. Tudo tranquilo e normal. A cidade era bem maior que a que gente morava antes. Muito bonita. Já tinha viajado algumas vezes, inclusive para fora do país, mas nada que me deixasse encantada. Sei lá, sempre me sentir vazia, então meu humor era quase o mesmo sempre, tirando algumas exceções.

Minha nossa senhora da bagunça. Eram seis horas da tarde e tudo estava uma grande confusão. Manuela não ajudava, apenas servia para atrapalhar. Por sorte o apartamento era mobiliado, eu só queria dá um toque a mais nele. Peguei minhas malas e levei para o meu novo quarto que é muito maior que o antigo. Andei em direção a varanda e não conseguir deixar de ficar encantada com a vista... O mar era realmente muito lindo. Tenho certeza que meus olhos estavam ainda mais azuis. Não sei quanto tempo fiquei contemplando aquela maravilha, fechei os olhos apenas sentindo o vento em meu rosto, uma sensação de paz tomou conta de mim. Foi perfeito.

Manuela também ficou encantada pelo mar. A doidinha estava toda animada e sorridente. Arrumamos algumas coisas, na verdade eu arrumei. Pedimos uma comida leve e ficamos conversando. Decidir ir dormir cedo, pois amanhã iria falar com o reitor da faculdade. Ricardo disse que estava tudo certo, faria o segundo período de relações internacionais. Estava morrendo de ansiedade. Não conseguir dormir direito e saí cedo, Manuela ainda nem tinha acordado.

A faculdade era enorme. Muitos alunos, mesmo que fosse ainda cedo. Tive que esperar quase meia hora para poder falar com o reitor. O homem era um velho barrigudo que usava óculos de grau. Ele sorriu ao me ver e disse para eu sentar. Sentei e ele passou a falar sobre várias coisas, por fim, me deu as boas vindas e chamou algum aluno para me apresentar a faculdade. Fiquei esperando em silêncio. Observava meu celular, mas sabia que aquele homem barrigudo estava me encarando fixamente. Merda, eu não acredito que o Ricardo fez isso!

-- Você é uma das meninas do Ricardo? – perguntou interessado.

Respirei fundo tentando manter a calma e encarei aquele homem.

-- Não, senhor – falei seca.

Ele me analisava por completo.

-- Desculpe.... Eu pensei que fosse.

As desculpas dele não foram sinceras, dava para perceber, mas era melhor não falar nada. Ele iria falar mais alguma coisa, no entanto para a minha sorte alguém bateu na porta. O velho disse para a pessoa entrar.

-- Minha amada sobrinha – disse se levantando sorrindo.

-- Bom dia, tio Raul!

Espera! Meu coração acelerou. Eu conheço essa voz! Puta que pa...

-- Minha querida, eu quero que apresente toda a faculdade para nossa mais nova aluna, Beatriz... Beatriz venha aqui deixa eu te apresentar minha amada sobrinha, Sarah.

Puta merd*! Que desgraça! Não, não, NÃO!

Respirei fundo tentando manter a calma. Que porr* de mundo pequeno. Passei as mãos no rosto e levantei quase morrendo. Virei devagar e meus olhos pousaram naquele mar escuro que eram os olhos de Sarah.

Ela tinha um leve sorriso no rosto, que rapidamente foi desfeito e seus olhos se arregalaram assustados. Percebi que ela ficou ainda mais branca. Minha ex melhor amiga tinha alguns papéis em sua mão que ela deixou cair sem querer, devido ao choque em me ver. O barulho dos papéis no chão fizeram ela despertar. Sarah agachou-se para pegar os papéis, sendo ajudada pelo reitor. Estava visivelmente confusa. Levantaram-se.

Raul tinha um sorriso no rosto e puxou a minha ex amiga para perto de mim.

-- Beatriz... Essa é a Sarah, minha sobrinha. Ela conhece tudo na faculdade e vai te ajudar em algumas questões. Sei que é difícil para um aluno que entra no meio do ano. Tenho certeza que Sarah vai te ajudar na adaptação.

Respirei fundo e tentei sorrir. Falhei viu... Devo ter ficado apenas com a cara torta. Mas com muito esforço consegui falar alguma coisa.

-- Olá Sarah... Prazer – minha voz saiu quase normal. Ok, saiu uma droga toda tremida.

Ela me analisou por completo e apertou a minha mão que estava estendida.

-- Prazer – disse ainda confusa.

-- Sarah, por favor, leve a senhorita para conhecer seus novos colegas. Preciso resolver algumas coisas – disse apressado.

-- Claro, tio Raul.

Saímos em silêncio. Eu não conseguia falar nada e acho que ela muito menos. Sarah parecia aérea, caminhava pensativa. Percebi que precisava fazer alguma coisa. Respirei fundo. Não tinha planejado esse encontro, que louco. Segurei seu braço levemente. Eu tinha que falar alguma coisa.

-- Sarah... Podemos conversar? – disse a encarando.

Sarah ficou me olhando por alguns segundos, parecia hesitar, mas enfim, concordou. Caminhamos em silêncio por um imenso corredor. Sarah entrou em uma sala que parecia ser um laboratório e ela tinha a chave da porta. Ficamos em silêncio, ela encostou-se em uma mesa e ficou me encarando de braços cruzados. Fiquei nervosa, não sabia o que dizer. Estava envergonhada demais para encará-la. Sentia meu coração acelerado. Nossa, como era difícil essa situação.

Fim do capítulo