Beatriz por stela_silva
Capitulo 6
Quanto tempo você espera por uma ligação? Um, dois, três anos? Confesso que cansei de contar.
Acho que agora é minha vez de narrar essa história. Bom, vamos começar do início, óbvio.
Então tá... Sou a filha mais nova e tenho um irmão mais velho chamado Sérgio. Meus pais são advogados de grande sucesso. Sim, eu sempre tive uma vida boa. A eterna menina rica.
Sempre fui uma garota bem animada. Cercada de amigos, nenhum pouco tímida, embora eu me achasse diferente de alguma maneira.
Eu tinha uns quatro anos quando conheci a Cecília. Não consigo esquecer daquela menininha de olhos azuis e cabelos acinzentados, toda tímida. Como eu sempre fui a mais falante me aproximei dela e assim nos tornamos melhores amigas por mais de dez anos.
Cecília e eu éramos muito parecidas em algumas coisas e completamente diferentes em outras. Ela era mais calada e eu mais falante. Dificilmente ela sorria, já eu... Parecia uma hiena louca. Ela era bastante calma e eu era e ainda sou um poço de estresse. Cecília era extremamente educada, apesar de ser muitas vezes fria. Pelo menos era isso que ela aparentava na frente das pessoas, mas a verdade era que só eu a conhecia tão bem. No fundo aquela menina era um doce, talvez ela só fosse comigo, pelo menos era isso que eu pensava naquele tempo.
A gente gostava de assistir séries e éramos viciadas em brigadeiro de panela. Melhores alunas em matemática, mas ela arrasava em todas as matérias, era muito inteligente, tipo a maior nerd de toda a escola e também a mais popular de todas as alunas e infelizmente era também a mais cobiçada entre os garotos. Nós duas gostávamos bastante de rock, e às vezes ela cantava em inglês... Pensa numa pessoa que ficava linda cantando, na verdade ela era naturalmente linda.
Foi por causa desse negócio de achá-la tão linda que eu acabei me lascando toda. Sabe aqueles momentos confusos? Então, tudo na minha cabeça estava uma confusão, eu era nova e não tinha muita consciência de nada. Tudo que eu sabia era que minha melhor amiga estava se tornando cada dia mais linda para mim. Eu convivi com isso por quase dois longos anos, esses sentimentos confusos. Até o dia que tudo ficou claro e eu me desesperei, sério... Eu fiquei bem louca nesse dia.
Cecília perdeu o BV dela, claramente que ela foi forçada pelas nossas colegas, pois ela nem pensava em ficar com garotos na época. Para mim... Nossa foi uma sensação horrível sabe... Ver a minha amiga aos beijos com um garoto, nunca me senti tão mal na vida. Foi nesse momento que eu percebi o que realmente eu sentia por ela, foi como um tapa na cara. Chorei bastante, chorei porque o que eu sentia jamais seria correspondido, a Cecília me enxergava apenas como uma irmã e saber disso doía bastante.
Guardei meus sentimentos apenas para mim. Nunca falei disso com ninguém. Às vezes eu me perdia olhando pra Cecília e então eu me tocava e tentava disfarçar.
Momento de adolescência, perdi meu BV para o Júnior, que era um carinha até legal. Cecília me perguntou se eu gostei, na verdade para mim era algo indiferente, não gostei e nem desgostei, foi apenas isso, não tinha muito para falar.
O tempo foi passando e eu apenas vendo a minha amiga ficar com outros garotos, para o meu alívio, nada durava muito tempo. Até que o Caio apareceu e ai tudo mudou.
Cecília mudou e eu não sabia o motivo, mas tinha certeza que não era pelo Caio, até porque ele não passava de um idiota de primeira.
Aceitei namorar com o Júnior apenas para ter alguém por perto. Ele era um garoto legal e me respeitava muito. Sei que agir mal, ok.
Fiquei um pouco mais longe da Cecília e isso me deixava muito mal, mas eu sabia que uma hora ia acabar acontecendo. Um dia fui visitá-la e então ela me contou que havia perdido a virgindade. Nossa, pensa na dor... Foi horrível. Não gosto nem de lembrar.
Depois disso, tudo ficou ainda mais estranho entre nós. Eu tentava me manter por perto e sei que apesar de tudo, ela também tentava se manter por perto. Percebi o quanto ela estava feliz e sorridente. Eu queria saber o motivo daquela felicidade. Ela terminou com o Caio e isso foi um alívio, mas ela permanecia feliz. Eu não perguntava nada. Talvez eu esperasse que um dia ela fosse me contar. Mas a verdade é que eu só soube do motivo da felicidade dela no dia que o Caio foi fazer um escândalo na frente do colégio. Fiquei tão perplexa que não conseguir correr atrás da Cecília. Todos no colégio ficaram sabendo que a minha amiga estava tendo um caso com a irmã do Caio, porque o filho de uma capivara fez questão de espalhar para todo o colégio, pior para ele, que além de corno, foi trocado por uma mulher.
Quando eu conseguir me mexer do lugar. Fiquei morta de preocupada com ela. Tentei ligar muitas vezes até ela finalmente atender. Disse que tinha sido expulsa de casa, que a safada da Deborah, tinha dado uma de vítima, fiquei furiosa com aquela despacho de macumba da praga.
Enfim... A Cecília ficou dormindo no meu quarto por quase duas semana. Eu passava a noite admirando a beleza dela. A forma tranquila que ela dormia. Fiquei puta por te sido tão covarde, talvez se eu tivesse falado dos meus sentimentos... Talvez fosse eu no lugar da Deborah... E eu jamais iria magoá-la. Eu a amava muito. Chegava a sufocar, mas eu apenas vivi de “talvez”.
Para mim era uma felicidade chegar em casa e saber que iria encontrá-la em meu quarto. Passava a manhã toda desejando que as horas passassem rápido para eu finalmente poder vê-la novamente.
Cecília ainda era motivo de comentários maldosos no colégio.
-- Sempre soube que a Cecília era esquisita - Roberta comentou.
Estávamos no intervalo e Júnior estava ao meu lado.
-- Sim... Como pode... Ela olhava com tanto desprezo para os garotos - Graziela falou.
-- Pelo menos ela não apareceu mais no colégio... Imagina ter que conviver com essa criatura - Roberta fez cara de nojo.
-- Você não tem o direito de falar assim dela! - falei furiosa.
-- Nossa, Sarah! Como você ainda consegue defendê-la? - Roberta.
-- Ela sempre será a minha melhor amiga e não importa com quem ela fique! Isso desrespeito apenas a ela! – disse entre dentes.
-- Você iria acabar ficando com fama também... – o veneno escorria da boca daquela serpente.
-- Eu não me importo com que as pessoas pensam, Roberta! Eu me importo com minha melhor amiga, apenas isso!
Eu estava realmente furiosa. Acho que para evitar chamar a atenção, Roberta desistiu de discutir. Mas essa não foi a última discussão que eu tive para poder defendê-la, foram várias ao longo de quase um ano, até essa história cair no esquecimento.
Um dia eu estava voltando para a casa, quando eu enxerguei uma pessoa conhecida.
-- Sérgio para o carro! - falei ao meu irmão.
-- O que você vai fazer?
-- Apenas para o carro. Deixa que eu volto pra casa sozinha – falei decidida e já tirando o cinto de segurança.
Meu irmão deu de ombros e parou o carro. Desci e caminhei a passos largos em direção a rodinha de garotas.
-- Oi Deborah! - falei chamando a atenção de todas.
Deborah me encarou e sorriu.
-- Olá... - apertou os olhos e tentava lembrar meu nome.
-- Sarah - falei por fim.
-- Sim... Eu lembro de você – falou se aproximando.
-- Então sabe que sou amiga da Cecília, não é? – eu fazia um grande esforço para falar com aquela piranha.
-- Sim, eu sei... Você é bem interessante – disse me analisando da cabeça aos pés com um sorriso nojento.
-- Você acha? – fingir estar interessada.
-- Sim... Talvez a gente pudesse sair qualquer dia – falou na maior cara de pau.
Acabei sorrindo irônica.
-- Não entendo como alguém acreditou que você era a santa da história – falei realmente incrédula.
-- Sou uma ótima atriz – disse orgulhosa.
-- Você é uma vagabunda, isso sim! – gritei perdendo qualquer tipo de controle.
-- Tão bonitinha e tão estressada - Ela falou irônica.
-- Você ainda não viu nada! – fechei minhas mãos em punhos.
-- O que você está querendo, Sarah? Se não é ficar comigo – perguntou séria. A vadia tinha um ego altíssimo.
-- Só quero te dizer uma coisa - disse me aproximando lentamente.
-- Pois fale.
Não falei nada. Acertei um forte tapa na face da garota com toda a minha força, ela ficou tonta aproveitei para avançar em cima dela. Acertei muitos socos, que devem ter deixado o rostinho de piranha dela todo roxo. As amigas dela me afastaram. Deborah se levantou toda torta. Sua boca sagrando. Minha vontade era de quebrar cada osso do seu corpo.
-- Ficou louca, garota?! – gritou.
-- Isso não é nada perto do que você fez com a Cecília! Me soltem! – disse puxando meus braços.
As meninas me soltaram imediatamente.
-- Um dia você ainda vai pagar por tudo que fez a Cecília! - falei me afastando.
Eu teria batido muito mais nela se não fosse aquelas amigas dela me impedirem. Sentir minha mão doendo depois que a adrenalina passou. O bom foi que a Cecília cuidou de mim, ela era tão delicada, eu também aparentava ser delicada, mas eu estou longe de ser assim. As vezes eu sou agressiva, normal da minha personalidade.
Depois veio a parte difícil. Cecília decidiu partir. Fiquei arrasada, mas não poderia impedi-la. Ela prometeu me ligar, mas nunca aconteceu. Eu chorei tanto nesse dia e nos outros, foi muito difícil para mim. Foi horrível não ter notícias nenhuma. Até o dia que chegou o bilhete com o dinheiro e com um simples obrigada escrito, quase um ano depois. Percebi que a Cecília não queria mais fazer parte da minha vida, eu entendi o recado. Outra vez eu chorei, dessa vez bem menos. Então eu decidir seguir em frente e esquecer dela, da mesma forma que ela queria esquecer de mim.
Como os meus pais eu decidi seguir a carreira de direito. Fiz vestibular e passei em primeiro lugar, para mim uma felicidade, pois era o que eu realmente gostava. Meus pais estavam orgulhosos.
Estava com quase 18 anos quando conheci a Carla. Fazia tempo que tinha terminado com o Júnior, era uma relação sem qualquer futuro. Sempre gostei de entrar nessas lojas a procura de CDs bons, sou do tempo antigo, amo um CD. Estava concentrada olhando um CD do U2, quando sinto alguém próximo.
-- Gosta da banda?
Eu encarei a mulher a minha frente e putz. Sabe a mulher maravilha? Então, idêntica a ela, só parecia um pouco mais velha. Fiquei encantada e até gaguejei.
-- É... É... Sim - sorri tímida.
-- Eu também gosto muito deles - disse simpática.
Depois da Cecília eu nunca mais havia me encantado por nenhuma outra mulher. Obviamente que eu as achava bonitas, mas não passava disso. Mas com a Carla foi diferente, fiquei completamente encantada.
Conversamos por algum tempo e ela pediu meu número. Eu sabia que ela estava flertando comigo e eu me deixava levar.
Carla não teve dificuldade nenhuma em me conquistar. Quando eu vi, já estava completamente apaixonada. Ela era uma mulher bem madura, tinha 39 anos. Carla não tinha o costume de se envolver com meninas tão novas, mas disse que se encantou por mim. Namoramos por 2 anos e com ela eu perdi minha virgindade e fui plenamente feliz, pelo menos era o que eu achava. Decidi contar para os meus pais, no início foi difícil, mas eles acabaram aceitando e gostando de verdade da Carla. Quando eu tinha quase 20 anos nós decidimos casar. Foi uma felicidade enorme nesse dia. Estamos juntas até hoje com um pouco mais de um ano de casamento.
Eu esqueci de dizer, mas Carla era uma mulher poderosa. Diretora de uma grande empresa. Ela tinha dinheiro, mas eu nunca fui muito ligada nisso, até porque eu não precisava, também sou uma garota rica.
Apesar de ser feliz, eu nunca consegui esquecer a Cecília. Ficava preocupada, não sabia como ela estava vivendo. Ela era uma adolescente na última vez que a vi. Eu ficava horas olhando nossa foto no celular. Nunca falei dela para a Carla, mas meus pais comentaram uma vez e ela me perguntou, eu desconversei.
No fundo eu ainda nutria a esperança que uma dia ela me ligasse, que um dia ela me procurasse. Eu queria poder ajuda-la de alguma maneira. Eu gostava dela, afinal ela foi minha melhor amiga por muito tempo....
Estava deitada e mexia distraída no celular. Passava das noves e a Carla não chegava. Tinha uns dois meses que ela se atrasava e sempre inventava alguma desculpa. Ela acha que sou criança né, fala sério. Eu sentia o peso em minha cabeça, mas estava sem vontade para discutir. Eu tinha cansado. Sempre soube dos seus casos e eu pouco me importava, nunca fui de sentir ciúmes dela. Sei que ela ficava chateada com minha indiferença, mas eu não sou boa em fingir. Tentei me separar, mas ela implorava e eu acabava cedendo por puro comodismo. O meu encanto havia passado, mas eu ainda sentia um grande respeito por aquela mulher. Há meses que não rolava sex*, e eu confesso que não sentia falta.
Era quase dez da noite quando ela chegou.
-- Oi amor - falou sorrindo.
Ela fingia que tudo estava bem entre nós.
-- Oi Carla – falei desanimada.
-- Desculpa o atraso... Tive um imprevisto de última hora.
Sempre a mesma desculpa esfarrapada.
-- Hmm... Tá bom - falei tranquila.
-- Final de semana tenho uma viagem a fazer, pensei se você não gostaria de ir comigo – disse começando a se despir.
-- Não sei... Eu preciso estudar – encarei o livro que estava lendo.
-- Poxa, Sarah... É só dois dias.
Eu queria me distrair um pouco, estava cansada da rotina.
-- Tudo bem, Carla.
Ela abriu um lindo sorriso e foi tomar banho. Ficamos conversando coisas do dia a dia até eu ir dormir. Nosso casamento era assim mesmo, uma coisa fria, mas eu acabei acostumando. Escutei Carla suspirar quando eu me virei para dormir. Ela tentou se aproximar, mas eu jamais permitiria que ela tocasse em mim, sabendo que ela dormia com qualquer uma e ela também sabia disso. Talvez estivesse na hora de eu pedir o divórcio e ela finalmente aceitar. Tudo estava ficando cansativo.
Carla saiu cedo para trabalhar e eu agradeci. Me arrumei e tomei café e corri para a faculdade. Renata esperava por mim.
-- E ai nerd, que cara é essa? - perguntou.
-- Nada... Só meu casamento que tá uma droga! – resmunguei.
Ela fez uma careta.
-- Você já deveria ter saído dessa... Sabe que se eu não tivesse quase um marido te convidaria para morar comigo.
-- O problema nem é esse... É a Carla... Toda vez que toco no assunto ela surta – suspirei.
-- Você precisa pensar em você mesma, Sarah!
-- Eu sei disso.
-- Sai dessa minha amiga - disse tocando em meu ombro.
Sorri.
-- Vou tentar – falei sem muita confiança.
-- Não tente... Faça!
Caminhos juntas em direção a sala e acabamos encontrando o João Pedro.
-- Oi Sarah...
-- Oi João... - tentei ser simpática.
-- Como está minha tia?
João Pedro era sobrinho da Carla.
-- Ela está ótima.
Um dos amigos dele o chamou. Era o idiota do Tiago que sempre me enchia a paciência. Nem perdi meu tempo perto deles. Renata riu da minha cara de nojo.
-- Você definitivamente não gosta de homens!
-- Não gosto mesmo!
-- Fez seu trabalho? - Ela mudou de assunto.
-- Claro né!
-- Então deixa eu ver pra comparar com o meu.
-- Não vale copiar - avisei.
-- Claro que não, sua louca! - disse rindo.
Carla não gostava que eu tivesse amigas, mas eu bati o pé. Ninguém mandava em mim e ela tinha muitas amigas e eu não falava nada. Foi uma briga, mas eu não cedi. Renata era a única amiga que eu tinha de verdade. Eu sabia que Carla morria de ciúme dela, mas ela se controlava. Eu não me afastaria da minha amiga por causa de capricho de mulher, além disso, ela sabe que entre eu e a Renata não rola nada, apenas uma boa amizade. E ela não tem o direito de falar nada, se eu quisesse trair, ela teria que ficar quieta, pois ela faz coisa bem pior.
Voltei para casa e agradeci quando Carla deixou recado dizendo que não dormiria em casa aquela noite. Tomei banho e jantei. Deitei na cama e fiquei pensando na vida. Fechei os olhos e lembrei da Cecília. Ela parecia tão perfeita, uma pena que eu estivesse tão enganada. Ela foi pior que qualquer outra pessoa em minha vida... Ela me abandonou. Apesar de tudo, eu queria vê-la novamente.
Fiquei observando a foto no celular e acabei pegando no sono sem querer.
Sonhei com ela... Na verdade, eu sempre sonhava com a Cecília. Ela era uma pessoa inesquecível. E eu esperaria por muito tempo a sua ligação. A esperança é a última que morre, não é?
Que fique claro nesse momento... Eu não a amo mais! Tudo passado! Estou falando sério! É isso aí...
Fim do capítulo
Alguém tinha alguma dúvida que era a Sarah? Kkk
Meninas se tiver algum erro, peço desculpas. Eu não estou relendo os capítulos para corrigi-los.
Beijos e até o próximo.
Comentar este capítulo:
menteincerta
Em: 19/05/2020
A intuição sapatônica dificilmente falha hahahaha
Sabia que a Sarah ia voltar. Só pra eu me situar, quantos anos as meninas tem atualmente?
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 02/05/2020
Como será que o caminho delas irá se cruzar novamente?
Curiosidade é meu nome
Mega ansiosa aqui.
Não consigo imaginar como isso irá ocorrer
Minha esposa está aqui me olhando e tentando decifrar minha cara de cara: "e agora o que vai acontecer?" Kkkk
Poderia rolar um extra hoje, hein Stela? Kkkkk live da Stela no Lettera kkkkk
Abraços fraternos procês aí🌻🥰😘â¤ï¸ðŸ˜‚
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]