Capitulo 14
Estava na minha sala pela manhã tomando um capuccino, quando a secretária bateu na porta:
- Srta seu pai quer lhe falar. – e saiu fechando em seguida.
Minutos depois estava na sala dele sentada na confortável cadeira de couro marrom.
- Giulia você fez um belo trabalho. Adoraram seu projeto e fecharam!
- Que maravilha! Quando iniciamos?
- Só assinar os papéis e você já pode entrar. Bom trabalho!
- Obrigada. É só isso?
- Saio de viagem. – disse olhando para o chão.
- Tranquilo e vai para onde? Quando?
- Hoje. Para Amsterdã. – e guardou uns papeis na gaveta.
- Posso ir com você? – disse em tom seco.
- Na próxima.
Só olhei para ele e sai.
Voltei para minha sala e sentei olhando para fora da janela. E quando foi a última vez que viajamos juntos? Ah o que importa? Olhei para o maço de cigarros sobre a mesa e guardei dentro da gaveta. Fumei por um tempo na adolescência só por saber que era “proibido”. Hoje de vez ou outra, quando a minha ansiedade e raiva estão mais afloradas. Deixava o maço à vista só para me afrontar e dizer: “Você é mais forte que isso, você consegue resistir a isso" Era quase 12h00min quando o celular tocou.
- Alô?
Era Ive ligando para saber se eu já havia almoçado ou não e é claro que eu aceitei. Aquela altura o juízo já não mais fazia parte do meu vocabulário. E toda a oportunidade que eu tinha para me divertir, sair e seja lá o que Deus quiser, eu estava dentro.
Passei o endereço para ela e desci para o lobby. Estava sentada no sofá a sua espera com uma revista na mão. No mesmo momento uma Victory The Freedom 106 estacionou e o condutor virou a chave desligando. Com cuidado retirou o capacete e colocou os óculos escuros. Baixei a revista e olhei duas vezes antes de sorrir. Era Ive. Ela desfez o coque no alto da cabeça e seus cabelos caíram em cascata sobre os ombros. Usava um jeans preto com uma blusa de mangas compridas e botas de couro até o joelho. Veio na direção da porta giratória e entrou.
- Boa tarde Srta. - Sorriu - vamos?
- Claro.
Deu-me um beijo na face e saímos.
- Pronta? - Ive perguntou girando a chave na ignição e ajeitando o cabelo dentro do capacete.
- Sim. - disse passando os braços por sua cintura.
Seguíamos para o litoral e não fazia idéia de onde ela poderia estar me levando. O céu apesar de encoberto fazia muito calor e estava muito claro. Minutos depois estacionamos diante de um pequeno prédio de tijolos a vista. Ficava diante do mar. Passamos por um longo corredor e subimos um lance de degraus.
Havia várias mesas no interior e sacada. Ela apontou para fora e fomos para lá. O lugar ela lindo. O mar quebrava nas pedras e formava tipo um imenso chafariz natural.
- Podemos sentar aqui? - perguntei sem tirar os olhos do horizonte.
- Claro! - disse entregando os dois capacetes para o maitre.
- Um espumante, por favor. - pediu Ive sem me olhar.
Ajeitei na cadeira colocando os óculos escuros.
- Gosta de frutos do mar?
- Adoro. - sorri.
E ela chamou o maitre.
- Srta?
- Ostras, por favor!
- Mais alguma coisa?
- Somente, por enquanto, obrigada.
E Ive entregou-lhe o cardápio.
Minutos depois o garçom arrumava o espumante no gelo, depositando duas taças na mesa.
- Ive...
- Sim? - disse enchendo as taças com o líquido borbulhante.
- Por que você me trata assim?
- Desculpe não quis... - ela olhou para o mar, depois para mim. Você tem sido... Como dizer, estou há pouco tempo aqui e você foi a única amizade... que... - gaguejou.
- Tudo bem Ive acho que entendi. – disse ao ver que a tinha deixado sem graça.
Levantei a taça e brindamos à nossa amizade.
Falamos de muitas coisas. Daquela tarde do acidente. Das noites no All In.
Saboreávamos as ostras. As melhores que já havia experimentado. Estava extasiada. A companhia dela era maravilhosa. A delicadeza com que pegava a taça e levava aos lábios mexia comigo. Os seus lábios nos meus. Parei a taça a uns centímetros da boca olhando para ela.
- O que foi Giulia? – disse olhando nos meus olhos.
- Ive! Desculpa! Aquela noite!
- O que foi? Qual noite? - ela disse em tom preocupado depositando sua taça sobre a mesa.
- Eu... Eu sinto muito! - e corri para fora do restaurante.
- Giulia espera! - disse tentando me alcançar. – Espera!
Desci as escadas e corri para a areia. Eu a havia beijado naquela noite!
****
Entrei na sala do meu apartamento e deitei no sofá com as pernas sobre o encosto. Abracei a almofada fechando os olhos e senti a suavidez dos lábios de Ive nos meus. O seu perfume afagava a minha pele e num desejo que me apossavam os poros levei uma mão entre as pernas, acariciando.
- Não... - soquei o sofá. – Você estragou tudo Giulia! – disse olhando para o teto.
Levantei me servi de whisky, liguei o som e me encostei junto à janela da sala. O horizonte estava pincelado de um cinza escuro e sem dúvida a chuva não se demoraria a cair. A imagem de Ive não me saia da cabeça, nem o seu perfume da minha lembrança.
Meu quarto estava escuro e contornei a cama para entreabrir uma das cortinas. Virei o restante do liquido e voltei na sala para me servir de outra dose. Servi-me de duas.
Andava de um lado a outro feito bicho preso em uma jaula. Eu não sabia como consertar aquilo. Eu não tinha cara e nem coragem para olhar para ela. Agora ficou tudo tão nítido, tão claro, que conseguia sentir o gosto do beijo dela na minha boca. Meu Deus o que eu fiz! No mínimo pensaria como todo o resto, que eu não valia nada. Que eu era fraca com a bebida e... Não. Ive era diferente de todas as pessoas que eu havia conhecido depois da Mel. Beijei a garota do nada.
- Como assim sair beijando todas as garotas que visse pela frente! - murmurei. Muito feio dona Giulia. - sorri e virei o whisky. Fui para o quarto tirei a roupa e vesti um baby doll me atirando sobre a cama. Tentando raciocinar. Havia ligado para Monize mais cedo, mas ela estava enrolada com o trabalho e não teria como se encontrar comigo.
- Merda... – praguejei cobrindo o rosto com o travesseiro e o whisky começava a surtir efeito.
Sentia um entorpecimento suave no cérebro e era exatamente isso o que eu precisava: relaxar um pouco até dormir e tentar esquecer.
Acordei de súbito com um barulho na sala.
- Ismália... - sussurrei. – Estou na cama!
Mas disse tão baixo que não sei se ela teria chegado a ouvir.
Estava com os olhos fechados no breu, quando senti alguém sentar-se na beira da cama e tirar o travesseiro do meu rosto.
- Oi...
E abri os olhos aturdida.
- Rui!
E antes que eu conseguisse me levantar ele me segurou pelos pulsos.
- O que está fazendo? Me solta, está louco?
- Hum baby doll de renda...
- Nem se atreva!
E eu não tinha forças para me soltar.
- Calma ruiva, como você diz “vai ser coisa rápida”.
- Rui sai daqui!
E antes que eu gritasse me beijou.
Debatia-me debaixo dele, mas não conseguia me livrar de suas mãos.
- Não grite!
E eu desvencilhei uma mão e lhe dei um tapa.
- Sua...
E deitou-se em cima de mim, forçando outro beijo e sem que esperasse ouvi um barulho do meu lado e Rui caindo por cima de mim.
- A menina está bem? – disse Ismália com uma frigideira na mão.
- Sim, que idiota!
- Vou chamar a policia!
- Não! Não... ai – levei a mão na boca e vi sangue na ponta dos dedos.
- Menina, se eu não tivesse chegado o que ele poderia ter feito?
- Ele sempre foi assim, isso sempre aconteceu.
- Seu pai precisa saber.
- Por favor, não fale nada. Vou dar um jeito nisso.
- Vem deixa limpar seu rosto.
- Vou sair com o carro não quero estar aqui quando ele acordar.
- Melhor não menina. Ah trouxe as roupas como prometi.
- Muito obrigada!
Tomei um banho rápido, me vesti, deixando um bilhete sobre a cama para quando ele acordasse e que a partir daquele momento ele estava proibido de subir. Ordens expressas a todos os funcionários do prédio.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 03/05/2020
Boa noite de novo.
Esse capítulo me deixou com mais raiva ainda do Rui, mas tb da Giulia. Como assim ele sempre fez isso?
Baci piccola.
Resposta do autor:
Todo mundo com raiva dele e com razão! Rui sempre teve muita inveja da Giulia e sempre tentou conquista-la para tê-la mais perto, mas ela munca deu bola pra ele, razão de deixá-lo furioso. Mas ela sabe bem se defender.
Beijos!
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thays_
Em: 02/05/2020
Ela lembrou do beijo! Não acredito!! Não vejo a hora de ler o próximo! A Giulia devia era falar pro pai dela que o Rui fica abusando dela, devia ir na polícia, sei lá. Ô cada chato! Adorei o capítulo. Ps: adoro ostras!
Resposta do autor:
Dá até para ver a cara da Ive coitada, sem entender nada que estava acontecendo. rs
Então, esse cara é assim desde o começo, não tem o que fazer, mas ela vai arrumar um meio! Fico feliz que tenha gostado!
Ps: Coincidência, também adoro ostras!
Beijo Thays!
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