Capitulo 13
Diferentemente dos outros dias contornei o prédio dando a volta no quarteirão. Liguei o pisca alerta e parei rente a outro carro, mas isso só foi possível porque o trânsito estava bem tranqüilo. Dei partida novamente e parei diante dele. All In. Era um nome bem peculiar. As letras eram douradas e iluminadas pela luz azul do andar de cima.
Sentei-me no primeiro piso como da primeira vez e na mesma mesa. A luz estava mais branda. Neste mesmo momento o celular tocou:
O nome de Ive apareceu no display. E atendi colocando no viva-voz.
- Olá! – disse olhando para fora da janela.
- Oi Giulia você já chegou?
- Sim respondi procurando por ela. Estou no primeiro andar.
- Que bom já me encontro com você.
E o garçom aproximou-se:
- Boa noite Srta o de sempre? - piscou o olho.
- Não - sorri. Uma água com gás e gelo, por favor.
- Fique a vontade. – sorriu.
Girava o anel no dedo quando Ive desceu as escadas e sorriu ao me ver.
- Como vai? - e olhou para o meu decote. Uau! – continuou.
Trocamos dois beijos e sentou-se de frente para mim.
- Sinto por ontem. Raramente isso acontece, não que na minha adolescência não tivesse acontecido com mais freqüência. Mas hoje dificilmente. Pior depois que fico com uma “amnésia alcoólica”. – sorri envergonhada, mas era pura verdade.
- Quer dizer que, não se lembra de nada?
- Nadinha, desculpa.
- Nada mesmo?
- Pouca coisa. Pasme, como uma adolescente quando bebe um porre pela primeira vez. - completei olhando para fora com um grande suspiro. As lembranças vêem aos poucos e assim vou encaixando como um quebra cabeças.
- Não se culpe, não foi nada demais. – sorriu com um brilho no olhar.
- Ive... Reparou que você está sempre nos meus piores momentos? – corei embaraçada.
- Então... Quase nos envolvemos em um acidente mais sério de carro. - sorriu e piscou para o garçom.
E por um momento ficamos em silêncio.
- Você acabou esquecendo isso. Achei que gostaria de ficar com ele.
E estendeu o bilhete da noite anterior.
- Obrigada. Abri e reli. – era a mesma letra do primeiro.
- Um admirador? - Ive quis saber.
- Parece-me que sim. Não faço idéia de quem possa ser.
Ive olhava para as minhas mãos.
- Você é casada?
- Não e você?
- Não sou.
E o garçom parou ao lado da mesa servindo Ive com uma bebida. A mesma da noite anterior.
Ela bebeu o primeiro gole e mordeu o lábio inferior.
- Ive aconteceu algo que não queira me dizer? – olhava para a mesa quando falei.
- Não... – sorriu. – Sério, não se preocupe.
- Não me esconda nada! Eu te falei que iria subir em cima de uma mesa se...
Ela sorriu outra vez.
- Estou pensando que...
- Que...
- Você deve ter muitos admiradores, não?
- Nem me fale às vezes é bem incomodo. Nem sempre dá para saber de cara quem está sendo sincero ou não, ou se realmente é só por interesse. Na maioria das vezes é só interesse mesmo.
- Vem deixa te mostrar algo. Levantou-se no mesmo instante estendendo a mão para mim.
Ive vestia um top branco, uma saia e jaqueta de couro preta. Os cabelos estavam soltos. Usava uma aliança na mão direita, ou seja, um anel de compromisso.
A pista de dança não estava tão tomada ainda. Subimos para o segundo andar. Havia uma cortina em veludo preto que só agora havia reparado.
- Sente-se aqui. - ela pediu afastando a cadeira.
Ive passou por detrás das cortinas e abriu, puxando-a para um dos cantos da parede. Qual foi a minha surpresa! Um piano de cauda todo branco surgiu a minha frente! Sorri quando ela piscou e sentou-se na banqueta. Levantou um braço e de imediato a música que estava tocando silenciou-se. As luzes se apagaram e um canhão foi direcionado para ela.
Suavemente ela dedilhava as teclas. As lágrimas subiram-me aos olhos. Tantas lembranças me vieram em mente. Por que ela fazia me sentir assim tão especial? Porque era exatamente assim que eu estava começando a me sentir em sua presença.
Sem que percebesse um garçom aproximou-se e sem dizer nada depositou um botão de rosa vermelho sobre a mesa e eu levei as mãos na boca e chorei.
- Que lindo... – sussurrei.
Quando Ive terminou todos aplaudiram e ela veio até mim sentando-se ao meu lado.
- Que coisa mais linda Ive! - disse olhando para ela com o olhar ainda úmido.
Ela então olhou para mim e sorriu timidamente.
- Há muito tempo eu não tocava, nem me recordo qual foi a última vez.
Ive era de poucas palavras, inteligente, agradável. Não sei por qual razão ela havia entrado em minha vida, mas como diz o ditado: que para tudo o que acontece, há sempre uma razão de ser.
- Com que freqüência vem aqui Ive?
- Desde a restauração. – sorriu. Gosto muito da essência desse lugar. – disse olhando ao redor.
- Então, deve conhecer o dono!
- Conheço sim... É meu irmão - sorriu
- Mesmo?! Sorri. - Está explicado.
- O rapaz que estava comigo no outro dia e você tem irmãos?
- Não.
- Mas tem um novo admirador.
- Parece-me que sim.
Segurava o botão vermelho e olhava para ela.
- Daria tudo para saber quem é – e desviei o olhar.
- Talvez ele se apresente em breve, mas tudo indica que essa pessoa esteja realmente muito interessada em você.
- E por que acha que sim?
E meu celular tocou.
Havia convidado Monize para ir naquela noite, mas ela acabou cancelando por motivos que eu não consegui entender e que conversaríamos no dia seguinte.
- Está tudo bem com a sua amiga?
- Acho que sim, veremos. – sorri.
- Vamos descer?
Ive foi à frente amarrando o cabelo em um rabo e desta vez pude ver com mais detalhes uma parte da tatuagem que ela tinha nas costas. Era a ponta de uma asa, mas ainda assim não dava para saber ao certo o que realmente era. Havia outra bem pequenina no antebraço que também não consegui decifrar e isso me despertava muita curiosidade. A pulseira que ela tinha no braço brilhava a cada movimento seu. Sorria a cada detalhe que eu descobria nela.
A noite estava maravilhosa. As horas voavam na companhia de Ive, mas como em todo sonho uma hora era preciso acordar.
Fim do capítulo
Espero que estejam a apreciar!
Beijos!
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