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Deixei que ela fosse à frente e me conduzisse entre os caminhos. Descemos os degraus e instintivamente ela segurou a minha mão e fomos até o bar.

Sentamos uma de frente para outra. Ela me parecia bem mais calma agora, mas senti um certo desconforto.

- Dominick, por favor, prepare outro drinque para mim e um... – e voltou-se para mim.

- Um whisky com gelo... Obrigada.

Ela tinha um magnetismo excepcional. Eu não conseguia desviar os meus olhos dela. As mãos eram muito delicadas com unhas bem feitas. Fiquei imaginando com o que ela trabalhava.

De repente tudo escureceu. Apenas as luzes do bar e quatro outras devidamente colocadas no teto permaneceram acesas. Ela usava um anel de pedrinhas vermelhas no indicador da mão esquerda e no pescoço um lindo colar de ouro. Corei ao ver que ela me observava e sorri desviando o olhar.  Neste momento ela desabotoou o blazer e o colocou sobre a bancada. Usava uma blusa branca finíssima e muito transparente. Não havia mais nada debaixo dela. O decote de trás deixava boa parte das costas descobertas. Havia uma tatuagem, mas não consegui identificar o que era.

- Gosta daqui? – perguntou olhando nos meus olhos, depois desceu o olhar para o meu pescoço.

- Eu não conhecia! É um lugar maravilhoso. Gente bonita e educada. Sem dizer na decoração interna e externa do prédio. Excepcional!

- Hum você deve ser arquiteta... - piscou para mim. – Acertei?

- Isso mesmo. - sorri e baixei os olhos para o chão. - e você?

- Então.... - sorriu. Esse mundo é muito pequeno. Sou engenheira! - e verteu entre os lábios o último gole do líquido do copo.

- Mesmo? Que incrível!

- E também fui bailarina. Um casamento um tanto estranho não é?

- que interessante!

- já volto... Não saia daqui!

Olhei a minha volta e minha vista começava a me trair. Mais um copo de whisky e eu só voltaria para casa, de táxi ou nos braços de alguém e não gostava nem um pouco da segunda opção. Estava extasiada. Em toda minha vida eu nunca me senti tão solta e feliz como naquele momento. Lembrei-me da Mel. Imaginei onde ela estaria agora e o que estaria fazendo. Alguma coisa vibrava dentro de mim, eu queria ficar e ir até o final. Queria atravessar a noite, chegando em casa só ao amanhecer, como nos velhos tempos.

Luzes coloridas misturavam-se. Era tudo perfeito.

- Ei vamos dançar? - só os olhos sorriram e Ive estendeu a mão.

- Sim... - sorri de volta.

Parecíamos nos conhecer de longa data. Ela dançava com os braços estendidos para cima e os seios túmidos se revelavam sob a transparência da blusa. Não pude deixar de reparar e morder os lábios.  A pele parecia tão macia, tão alva, queria poder sentir o seu perfume ou até mesmo ousar um pouco mais e tocar. Sorria e nem imaginei que um dia poderia tê-la visto chorando como a vi. Girava nas postas dos dedos e dançava tão colada a mim que podia sentir o seu perfume. Eu realmente precisava para de beber! Começava a criar coisas na minha cabeça. Segurou-me pela cintura e giramos até o bar.

Ela fez um sinal e o barman já sabia o que ela estava pedindo. Ela era assídua ali com certeza e a sua alegria e ternura contagiavam-me.

- Quantos anos você tem Giulia? - perguntou, mas não olhava para mim.

- 26 e você – também quis saber.

- 27 - e pegou a bebida sobre a bancada. O que foi? - sorriu.

- Pensei que tivesse uns 24 ou 25.

- Beba um pouco. - estendeu a bebida azul. – Vamos experimente, é uma delicia!

- Não posso... Mesmo...! Você não vai querer que eu suba em cima de uma mesa e te mate de vergonha, vai?

- Ah, penso que você não faria isso. - ela sorriu. - Não para todos! – ela piscou provocando.

- Melhor não pagar para ver! – sorri ao sentir o rosto queimar.

- Eu te levo para casa. Desta vez eu te levo! - sorriu. - Por favor, se divirta!  E tudo bem se você subir em cima de uma mesa!

Sorrimos e voltamos para a pista. O tempo passou sem eu perceber. Já estava tão solta como ela... Os cabelos estavam revoltos, os olhos inebriados. Sorriso farto.

Estava completamente tonta quando voltei para o bar e sentei apoiando os dois cotovelos sobre o vidro da bancada.

- Algo para beber Srta?

- Uma água com gás e gelo, por favor.

E ele colocou um papel dobrado diante de mim.

- Para mim? – quis ter certeza.

- Sim Srta, sua água.

 Ive continuava na pista e dançava com um rapaz bem mais baixo que ela. Peguei o papel e abri: “você está maravilhosa”.

Olhei para os lados... impossível. Eu precisava sair dali. Precisava de ar puro e acenei para Ive.

- Você está bem? Sua pressão deve ter caído. Você está gelada!

- Muito tonta preciso de ar. - e minha visão começava a escurecer.

- Melhor te levar para casa. Vem!

E ela passou o braço pela minha cintura e saímos.

- Giulia... ei! Onde você mora? Vem te levo no meu carro... Eu...

- Dirija o meu... Está no estacionamento... O porsche. – a chave está aqui... - e olhei para a bolsa.

- Estevan busque o porsche! Onde está a chave... - disse procurando no interior da minha bolsa. – achei... aqui! Rápido!

- Já volto Srta Ive. - e correu.

- Se apóie em... Giulia olha para mim! Ei... não apague! – disse com a mão no meu rosto.

O perfume de Ive me embriagava ainda mais. Passei uma das mãos envolta de sua nuca. Tão suave e ternamente. Entreabri os meus lábios e pude sentir como sua respiração estava alterada. Ela me olhava com tanta doçura. Para os meus olhos, minha boca... Eu a puxei e cobri os seus lábios com os meus. Duas lágrimas rolaram pela minha face. Eu já não conseguia mais me sustentar. Lembro-me de ter entrado no carro e nada mais.

Fim do capítulo