Capitulo 9
Estacionei na frente do bar. Estava tão empolgada que não conseguia esconder o sorriso no rosto. Meus olhos brilhavam e voltei a reparar com mais cuidado no 1° e 2°andares do prédio. Havia mesas de sinuca na parte superior e tudo era fechado por vidro. Penso que me surpreenderia a cada vez que voltasse ali. O chão era coberto por um carpete verde-oliva e a calçada por um piso creme antiderrapante.
Desci do carro e entreguei as chaves para o manobrista.
- Boa noite Srta. Surpresa boa em vê-la novamente!
- Obrigada! - sorri. Qual seu nome?
- Estevan Srta.
- Você é muito gentil.
- Obrigado, tenha uma noite agradável!
- Obrigada! Boa noite.
Entrei pela imensa porta feita de madeira e desta vez subi as escadas para o 1°andar. Quando acabei os últimos lances de degraus, parei e sorri me apoiando na parede. Eu não tinha palavras para descrever o bom gosto do profissional que havia decorado aquele lugar. Era esplêndido! De uma beleza e suavidade sem igual.
Havia um espelho que deveria medir uns três metros de altura por dois de largura que dividia o espaço em dois ambientes. Bem no centro havia um arranjo floral belíssimo e de uma fragrância do campo. E para finalizar dois castiçais, um de cada lado, dava um ar de romantismo e aconchego. Se a intenção era a de se sentir abraçado, era exatamente assim que eu me sentia. Como sempre, aproximei das janelas e como boa observadora que era me apoiei no parapeito olhando para o céu a procura de estrelas, mas ainda estava muito encoberto e a claridade das luzes também atrapalhava. Depois voltei para dentro e escolhi uma mesa com apenas dois lugares perto da parede, bem no canto. Dali eu teria uma vista privilegiada do lugar e das pessoas.
No canto oposto havia uma pequena bancada com apenas seis lugares onde o barman preparava os drinques. Havia um casal que vez ou outra se beijavam e uma mulher muito elegante.
Muitas mesas já estavam ocupadas e um garçom aproximou-se:
- Boa noite, algo para beber?
- Duas doses de vodka sem gelo, por favor.
- O cardápio Srta estendeu para mim e afastou-se.
Dei uma olhada rápida. Havia aperitivos, bebidas e sobremesas que agradaria a todos até mesmo o mais fino paladar.
Depositei o queixo sobre uma das mãos com o cotovelo na mesa. A música era envolvente como aquela noite. Lembrei-me das palavras do bilhete e me imaginei diante do espelho antes de sair. Escolhi um decote mais acentuado na parte da frente, o que mostrava parte dos seios e algumas sardas que normalmente não eram vistas. A saia era longa, justa, de um tecido leve e macio. Usei um lápis marrom e rímel que destacava ainda mais o azul dos meus olhos e o batom um vermelho intenso a dar contraste com o cabelo e pele.
- Será que você virá esta noite? - disse quase num sussurro. – olhando para aqueles que entravam. – Hoje você não me escapa Sr admirador secreto. – sorri. Virou a caça do gato ao rato.
Fiquei atenta a qualquer movimento incomum, mas era quase impossível ver alguma coisa com detalhes em meio a uma pista cheia de pessoas dançando e para piorar tinha uma luz sobre a minha mesa que me ofuscava a vista.
Reparei um olhar vindo na minha direção ou era coisa da minha cabeça? A mulher elegante que estava sentada no bar quando cheguei me olhava como se me conhecesse. Não me lembrava daquele rosto. Seria uma cliente, talvez?
Os cabelos eram negros, lisos, quase batiam na cintura. Vestia um terninho preto. Era bonita. Realmente não a reconhecia de lugar algum. Os pensamentos vagueavam e quando voltei a olhar mais uma vez naquela direção, ela já não estava mais lá.
O copo estava pela metade, mas ela não retornou.
Recostei na cadeira e fechei os olhos por um momento. A brisa era de chuva. Senti uma fragrância de cravo e canela, mas de onde viria esse perfume?
- Olá. - a voz era baixa e muito suave.
- Ah? - abri os olhos assustada por não ter notado qualquer aproximação.
- Desculpe não quis assustá-la - sorriu com timidez.
- Não...! Tudo bem! Eu estava distraída...
- Posso me sentar? – sorriu colocando a mão sobre a mesa.
- Claro, desculpe! - também sorri toda sem graça. – Fique à vontade.
Encantadoramente ela estava agora diante de mim. A mesma mulher que há pouco estava sentada no bar. Estava com outro copo nas mãos, mas não identifiquei a bebida. Os olhos eram azuis, mas de um azul escuro. As sobrancelhas eram grossas. A boca pequena era de uma garota que não aparentava ter mais que 25 anos.
- Boa noite você está bem? - e olhou nos meus olhos.
- Sim... - e minha voz saiu tão trêmula que não consegui dizer mais nada.
- Desculpe deixe me apresentar! - o sorriso era meigo. - Meu nome é Ive e penso não se lembrar de mim.
- Realmente não... Desculpe... - disse não me recordando daquela feição.
- Poderia saber o seu?
- Giulia...
- Prazer moça. – e ela estendeu a mão para mim.
Eu estava sem reação. De onde eu a conhecia! De repente um filme passou pela minha cabeça e eu comecei a me lembrar.
- Você! O acidente! Meu Deus...
- Exato. Foi bem aqui, logo na esquina. Que bom vê-la e saber que está bem. - sorriu olhando dentro dos meus olhos.
- Desculpa você estava de cabelo preso e eu...
- Estava se recuperando de um desmaio e a sua vista estava embaralhando?
- Mais ou menos isso. - sorri
- Quase acertei você em cheio foi por pouco.
- Nossa! Eu avancei o sinal a culpa foi toda minha, eu poderia ter te machucado!
- Nós duas poderíamos, mas nada aconteceu... bem... - disse e levantou-se. Bom te rever!
- Obrigada por aquele dia.
Ela sorriu. E sem dizer mais nada, desapareceu em meio às pessoas.
- Por favor? - levantei o braço chamando o garçom.
- Sim Srta? – ele aproximou-se.
- Poderia trazer uma dose de whisky, por favor? Eu poderia sair dessa mesa ir para o andar de cima?
- Certamente, fique a vontade. Com licença.
O garçom voltou minutos depois com o whisky. Peguei a comanda e levantei abrindo passagem entre as pessoas, em direção da escada. Subi o lance de degraus e mais outra surpresa! Havia quatro mesas de sinuca e as luzes eram direcionadas para as mesmas. Também não era muito fácil ver o rosto das pessoas que ali estavam. Era um tanto dramático. Contornei pela direita e aproximei da mureta que batia na altura da minha cintura. Olhei para o horizonte de luzes que vinham de janelas dos prédios. Garoava e as gotículas escorriam pelo vidro, sem direção. Literalmente choravam por toda a extensão da cobertura. Havia dois postes de luz, mas propositadamente as luzes eram bem fracas deixando uma ambientação muito acolhedora. Do lado oposto havia dois sofás e banquetas com mesinhas retangulares. Dei mais um passo e me deparei novamente com a moça que acabara de conhecer. Estava abraçada a um rapaz e olhava para o infinito. Aproximei ainda mais e no momento que passava por eles notei que ela chorava. Ele afagava seus cabelos com muito carinho e cuidado. Hesitei e abri a boca para dizer algo, qualquer coisa que servisse de consolo, mas desisti. Girei o corpo retornando pelo mesmo caminho que havia feito. Recostei na mureta e observei. Segundos depois o rapaz que estava com ela se afastou e tomei coragem para ir em sua direção.
- Oi... Desculpe a intromissão, mas...
E dois fios brilharam pela face rolando até os lábios.
Fiquei sem saber como reagir e segurei uma de suas mãos entre as minhas.
- Tudo bem - pronunciou com dificuldade e olhando de relance para mim.
- Não sei o que se passa... - e nem precisava dizer. - Sei que mal nos conhecemos, mas...
Ela retirou a mão e deu as costas para mim encostando as mãos no vidro.
- É lindo não? - Desculpe eu...
- É sim. – e aproximei ficando ao seu lado. – Tudo bem...
Ela era tão alta quanto eu.
O silêncio só era quebrado por uma ou outra risada, que vinha de uma das mesas de sinuca.
- Quer beber algo, você me acompanha? - desta vez ela sorriu limpando as lágrimas.
- Claro. - disse.
E nos encaminhamos para a escada.
Fim do capítulo
Inspirada meninas! Segue mais um capítulo.
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 28/04/2020
Boa noite mocinha.
Está cada vez mais intrigante, a Giulia está procurando algo que perdeu há muito tempo e para quê?
Baci piccola.
Resposta do autor:
Boa noite!
Sim, perdeu algo muito valioso! A verdade! Que bom que esteja acompanhando.
Beijos
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