Capitulo 7
Vestia uma blusa branca de rendas com um decote em V e uma calça chumbo de corte reto. Optei por deixar os cabelos soltos. Eu me sentia radiante.
Peguei a chave do carro, desliguei as luzes e dei uma última olhada no espelho. Meu quarto parecia catástrofe de tsunami, estava tudo fora de lugar.
Afivelava o cinto de segurança quando o celular tocou:
- Alô.
- Já está pronta? Estou com reservas para o Moinho Vermelho. Estou passando ai daqui a uns 20 a 28 minutos. Esteja maravilhosa.
Respirei fundo e soltei o freio de mão.
- Você está ai? Estamos combinados?
- Rui sinto muito, mas já estou de saída para um compromisso e sim, estou maravilhosa!
- Como assim? Com quem? Não saímos todos os finais de semana com os amigos?
- Depois conversamos estou atrasada. - e apertei o volante entre as mãos.
- Qual é o endereço... Posso ir?
- Não, não pode. Boa noite... Desligando.
- Não des...
Antes que ele voltasse a ligar dei partida no carro e pisei fundo no acelerador. A noite estava muito agradável. Seria perfeita! Minutos depois encostava ao lado prédio antigo. Sentia-me fazer parte de algo muito nostálgico ao olhar para a fachada daquele lugar. Enfiei as duas mãos nos bolsos e contemplei a dança elegante das luzes em tom amarelado. Na parte superior o tom de azul-anil dava algo de desconcertante ao resto da antiga estrutura do prédio. Era grandioso. Sai do carro e encostei-me à porta quando um rapaz aproximou-se.
- Boa noite Srta quer que estacione lá dentro? É só para clientes.
- Por favor. - e depositei as chaves na mão dele.
Lentamente entrei para o interior. Estava encantada. Fiquei em dúvidas de qual mesa sentar. Perto das janelas poderia observar a noite, as pessoas e o ir e vir dos carros. Era tudo muito lindo.
Os casais chegavam. Outros sozinhos com cigarros entre os dedos e sorrisos abertos. Os lugares junto do bar já estavam praticamente quase todos ocupados. Por onde toda essa gente estava entrando?
O cheiro do perfume me embriagava.
- Srta. a sua chave. Quer beber algo? - e de imediato levantou o dedo chamando um garçom. – fique a vontade. Bom divertimento! - e deu a volta encaminhando-se para a porta.
- Srta. Boa noite deseja pedir?
Um whisky com gelo, por favor.
- Somente?
- Sim, obrigada.
- Com licença.
Minutos depois o garçom trazia a minha bebida e não tive como não reparar. Curiosamente todos os garçons estavam tão elegantes, que passavam quase despercebidos a qualquer cliente, não fosse o guardanapo branco no braço e um avental de cor vinho, que cobria quase toda a frente até pouco abaixo dos joelhos. Eram altos e joviais com seus cabelos embebidos em gel. Vestiam calça preta e camisas brancas de manga comprida.
Todo ambiente era alegre, envolvente, encantador. Tomei um gole e levava o copo mais uma vez aos lábios, mas me detive no meio do caminho: eram duas garotas, tinham quase a mesma idade. Uma trajava um vestido azul decotado nas costas e a outra, um terninho e gravata. Tão femininas quanto eu. Eram lindas. Sorriam. Tinham corpos perfeitos. Cabelos longos. Uma loira, a outra morena. Entreolharam-se e tudo ficou tão sério. Corei ao ver tamanho desejo e sensualidade. Beijaram-se. Os corpos colados. Sentia arrepios na pele. A mão descia suavemente da cintura para as coxas e eu não sabia dizer ou descrever o que acontecia com o meu corpo. Estava sem fôlego. Não conseguia desviar o olhar das duas. As mãos se procuravam, os olhos se abriram e a loira cochichou alguma coisa para a outra. E afastaram-se.
Sorvi outro gole da bebida, tentei pensar em outra coisa, mas estava completamente excitada. Levantei e fui ao banheiro. Precisava fazer qualquer coisa para tirar a cena das duas se beijando da cabeça. Parecia uma adolescente que havia acabado de ser beijada por um rapaz do colegial.
- Garota o que está acontecendo aqui... - baixei os olhos para os meus seios túmidos. Apoiei as duas mãos sobre o lavabo, ficando ali por algum momento até me acalmar. Meu rosto ardia tanto quanto meu corpo. Olhei novamente no espelho e resolvi voltar para a mesa. As pessoas começavam a chegar em peso e não demorou muito para o burburinho de vozes e risadas preencherem o ambiente de descontração. Precisei contornar o lugar todo para chegar até onde estava sentada.
Olhei para o tampo de madeira e notei um papel dobrado duas vezes ao meio. Aquela era mesmo a minha mesa? Olhei para o lado pelo canto dos olhos e fui tomada de uma excitação ímpar. A minha curiosidade era tanta que abri o papel ali mesmo, de pé: “você é linda”. – Mel... - sussurrei baixinho. Não, não pode ser! – e olhei ao redor procurando por ela ou um rosto conhecido ali em volta. Não havia nada escrito atrás. Era só um pedaço de papel. Sai pela porta e olhei para os dois lados, nenhum Audi prata estava estacionado. Não era possível que algo assim voltaria acontecer comigo. Meu coração batia tão rápido, eu tinha tanta esperança que pudesse ser ela, mas ela não estava ali.
Pedi ao garçom uma água com gás e mais gelo.
- Outra dose por conta da casa para a Srta e a água que havia pedido.
- Mas moço...
- Qualquer coisa é só chamar. – e ele afastou-se.
- Mas... Espera.
Pensativa, olhei para a marca do meu batom na borda do copo. Lembrei do contorno dos lábios dela, do batom borrado depois de um beijo, do seu gosto. De como ela sorria quando lhe fazia cócegas. Da pele macia tocando na minha e de quando ela dormia abraçada a mim porque dizia estar mais segura.
- De novo não... – baixei os olhos afastando as lágrimas. – Não faz isso comigo...
Olhei para o visor do celular e não havia nenhuma mensagem, nem mesmo ligação perdida.
Sorrisos preenchiam o vazio que tomava conta dentro de mim. Estar ali me fazia esquecer, de quem realmente eu era.
- Garçom? - disse retirando o cartão de dentro da bolsa. – a conta, por favor?
- Mas já vai? Acabou de chegar!
- Vou ficar só mais um pouco.
- Só um momento! - disse sorrindo.
Voltou minutos depois com a maquininha na mão.
- Srta aqui está - e me entregou a comanda – tenha uma boa noite! Volte sempre! - e começou a limpar a mesa retirando os copos e colocando sobre a bandeja, deixando só o copo com whisky.
- Mas... Quanto ficou? - disse olhando outra vez para a comanda paga.
- Não deve nada Srta. Tenha uma boa noite. Sorriu e afastou-se.
- Espera! - corri atrás dele segurando pelo braço. Quem pagou?
Ele virou nos calcanhares olhou nos meus olhos e continuou:
- A pessoa não me autorizou a dizer, se me der licença.
Voltei para a mesa sem entender nada.
Estava perplexa. Virei o restante do whisky e levantei-me olhando mais uma vez por toda a volta. Nada. Fui para fora com a chave na mão e o bilhete dobrado na outra. Queria que um raio me caísse na cabeça. Queria que alguém me explicasse o que estava acontecendo. Meu coração saia pela boca de tanta ansiedade.
O manobrista que havia estacionado o meu carro quando cheguei já não estava mais ali. Era outro rapaz.
- Poderia pegar o meu carro, por favor? - disse entregando a chave.
- Qual Srta? – disse olhando para a chave e depois para mim. – Ah o...
- O porsche branco.
Acelerei.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 27/04/2020
Ciao cara.
Vc escreve de uma tal maneira que me transporta para o lugar, é bem intrigante e ao mesmo tempo envolvente. E como sair daqui? Não tem outra estrada , é só continuar desvendando essas duas .
Bacia Piccola.
Resposta do autor:
A intenção é essa rs
Bom saber que tenho cativado!
Beijo
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bicaf
Em: 27/04/2020
Olá, tudo bem? Comecei hoje a ler essa história, muito boa, nos prende. Já fiquei super fã, adorei. Tem dia para postar? Beijo
Resposta do autor:
Tudo bem e com você?
Fico feliz que esteja gostando. Tenho conseguido postar dia sim dia não.
Até breve!
Beijo
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