Passados dois anos...
Capitulo 5
Dias atuais
A solidão me envolvia na penumbra do meu quarto. Passava das 18:00 e eu tinha que me arrumar para sair. Luzes brilhavam do lado de fora e o sol começava a se por majestoso no horizonte. Entreabri as cortinas transparentes para o lado e me vi refletida na vidraça da janela.
Sou uma mulher comum, não fosse a minha altura, olhos azuis-claros e cabelos ruivos abaixo da cintura. Como passar despercebida?
Vesti-me com a primeira roupa que peguei no guarda roupa. Não faço o tipo complicada para me arrumar. Dei uma olhada rápida diante do espelho: - como estou horrível! - disse baixinho.
Arrumei o cabelo em um rabo bem alto e peguei o meu estojo de maquiagem sobre a penteadeira. Não queria parecer uma patricinha, como boa parte da minha vida aparentei ser. Odeio rótulos. E era o que sempre lutei para não ser, mas quando se tem um bom emprego e ainda se ganha uma boa mesada, era impossível não passar essa impressão.
Nunca fui muito de ouvir ou prestar atenção no que os outros pensavam a meu respeito. Diziam que eu não tinha uma vida social apresentável e que eu era a garota mimada do papai. Que eu deveria arrumar um bom partido, um empresário bem rico, ter muitos filhos e ser feliz como todas as belas histórias terminam ou quase todas elas. Não, isso não combinava comigo!
Peguei as chaves sobre a mesinha de centro da sala e sai.
As primeiras estrelas começavam a despontar no céu. O sol se punha com elegância e mais um dia chegava ao seu fim.
As palmeiras dançavam suavemente no canteiro central e as flores coloridas, exalavam o seu perfume primaveril. De súbito o celular tocou e eu dei um comando de voz: atender!
- onde você está? - disse a voz masculina.
- estou a caminho Rui! – disse ligando a seta para virar na próxima esquina, à esquerda.
- está atrasada! Estamos todos te esperando! – a voz era de poucos amigos.
- desligando Rui! Não enche!
A vontade era contornar no primeiro desvio e voltar para o meu apartamento. Já não tinha mais idade para ter um marmanjo na minha cola para dizer ou não, o que eu deveria fazer da minha vida. Havia me acostumando a estar só. Sair sem dar satisfações, ir ao cinema e até mesmo a bailes elegantes com traje a rigor e sem companhia! Tudo era mal visto! E tudo piorava ainda mais quando se tratava da minha pessoa. - “O seu pai é um homem de sucesso, honrado e honesto!” Todos me jogavam na cara: - “porte-se como tal e seja boa filha!”
Eu era herdeira única de um homem bem sucedido durante toda uma vida. Como eu me orgulhava dele, mas nunca tive coragem de lhe dizer e nem o quanto o amava.
De repente um carro entrou na minha frente e quase bateu no meu. Por pura sorte ou coisa do destino, isso não aconteceu. Pisei fortemente no freio e parei a poucos centímetros de um poste. Minhas mãos tremiam sobre o volante e por instinto desci do carro e encostei-me na porta. O coração aos pulos. O sangue deixou de correr nas minhas veias por fração de segundos e senti que fosse desmaiar.
- moça você está bem? - uma mulher perguntou suavemente e me apoiou pela cintura.
Eu não conseguia dizer uma palavra e minha cabeça girou. Eu não conseguia me lembrar de mais nada.
A música estava tão alta que nada se ouvia ou falava ali. As pessoas dançavam de maneira desvairada. Tudo rolava solto. Eu tomava um drinque que não me lembro qual era e nem sentia mais o sabor. Beber para curtir a vida ou algo que para mim, já não fazia mais sentido. Hoje completo dezoito anos.
- Vamos embora mocinha! - disse abruptamente e em seguida me puxou pelo braço.
Eu não conseguia ficar de pé e boa parte do trajeto fui arrastada pela jaqueta jeans preta. Estava escuro e eu sentia fortes náuseas.
Rui era o capanga e puxa saco do meu pai. Como era chato!
- Cara quem pensa que você é? Já não sou mais criança! Ainda não reparou? – e apertei os dois seios com as mãos, enquanto segurava o copo com a bebida entre os dentes. Apesar da pouca idade já tinha corpo de mulher e não mais de uma adolescente.
- Não brinque comigo! - ele esbravejou me segurando pela gola da jaqueta. - Vamos para casa agora mesmo!
- Quem disse?- e por mais uma vez tentei me por de pé, mas não consegui.
Mal acabei de falar e ele deu-me um tapa no rosto. O copo escapou da minha mão se estilhaçando em mil pedaços e eu vomitei.
- Pára Rui você está me machucando! Seu escroto!- e voltei a cair no chão.
Ele era o tipo de cara que aparentemente se vestia na moda e fazia qualquer coisa para se dar bem ou conseguir o que quisesse. Não me impressionava ser o braço direito do velho. Aquele cabelo espetado não fazia sucesso entre as mulheres apesar dos olhos castanhos. O sorriso era debochado e era cinco anos mais velho que eu. Nunca consegui saber o que se passava na cabeça desse infeliz.
- Rui já disse para me soltar!
- Pirralha, onde você deixou o carro! - e me arrastou para o meio da rua em meio a olhares curiosos.
Senti que me faltava os sentidos. Tudo ficou completamente escuro.
- Não, tire suas mãos de mim! Eu... O que aconteceu? - eu estava deitada no chão com a blusa toda aberta. O que me fez corar.
- Tudo bem calma! Você desmaiou.
Demorei quanto tempo ali? Eu não sabia dizer.
- Você perdeu os sentidos. Está tudo bem agora. - disse a outra mulher tranqüilizando.
- Preciso ir... - tentei me levantar escorando no carro.
- Tem certeza? Quer que eu a deixe em algum lugar... Depois busco o meu carro!
- Tenho sim... - disse não muito certa de que realmente estava bem.
Olhei para ela e agradeci. - sorri e entrei no carro. – obrigada, você foi muito gentil! – disse procurando pelo cinto.
- não foi nada...
E ela caminhou em direção do carro branco estacionado na esquina. Ao abrir a porta virou-se e piscou para mim.
Abotoei a camisa, dei partida no carro e sai lentamente. Estava muito envergonhada por ter causado um papelão na frente de todo mundo.
Já era noite. Rui me esperava do lado de fora do restaurante. Andava de um lado para outro e falava com alguém gesticulando com as mãos.
Estacionei o carro e desliguei os faróis. Respirei fundo abri a porta e sai.
- Você deve uma explicação! Seu pai está a sua procura! Por onde andou?
Passei por ele sem dizer qualquer palavra e entrei para dentro do restaurante. Dirigi-me à mesa que eles haviam reservado. Todos pareciam preocupados.
- Desculpem pelo atraso... eu... - puxei a cadeira e sentei.
Bem eu não tinha que dar explicações, muito menos satisfações a ninguém. Deixei que cada um usasse a sua imaginação. Eles eram bons nisso. Tudo fluiu bem como se nada tivesse acontecido e nos divertimos noite a dentro.
Rui me acompanhou até meu carro depois de todos já terem se despedido.
- Você me deixou preocupado. – parecia ter sinceridade na voz dele.
- Obrigada por se preocupar. Ah, adorei o seu perfume! – disse já entrando no carro e dando a partida.
- Mas.... Ei! Eu... Que perfume?
E o deixei falando sozinho. Sorri olhando pelo retrovisor e voltei a sentir o seu perfume. Intenso e amadeirado.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Brescia
Em: 26/04/2020
Oi de novo.
Que passagem de tempo foi essa? me perdi , mas vou continuar me achar.
Baci Piccola.
Resposta do autor:
Ciao! rs
Pensei muito se continuaria no passado ou no presente e escolhi optar pela segunda opção. Ao longo dos próximos capítulos vou desenrolando esse passado com a Mel. Esse começo vai parecer um pouco confuso mesmo, mas logo se desenrolará.
Acompanhe!
Beijo!
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