Capitulo 26 - Desaparecida
- Por que tem tantos carros na frente da sua casa? - Charlotte me olhou sorrindo.
- Hum... - foi apenas o que ela resmungou.
- Como assim "hum"? - minha Allen estacionou o carro, saindo e abrindo a porta para mim. - O quer dizer esse "hum"?
- Venha... - ela me estendeu a mão, com aquele jeito de me olhar. Charlotte quando me olhava daquela forma, fazia o meu corpo inteiro arrepiar e tinha o que quisesse de mim.
Ela saiu me conduzindo para a lateral de sua casa. Andamos os vários metros até finalmente alcançarmos a parte de trás.
- SURPRESA!
Levei minha mão a boca.
- Charlotte... - olhei para todos presentes, sentindo uma alegria enorme tomar conta de mim.
- Pra você, amor... - todos vieram em minha direção, me abraçando e desejando felicitações.
- Estão todos aqui... - sorri.
Lari colocou em minha cabeça um chapéu de aniversário.
- Espero que goste... - a ruiva beijou a minha testa. - Charlotte quem teve a ideia...
Minha poderosa me olhou sorrindo.
- Todos... Fomos todos. - ela frisou.
- Venha, filha... Tem muita comida e aquele docinho que você adora. - minha mãe me pegou pela mão e levou até a mesa.
Eles passaram a cantar "parabéns pra você", me fazendo ri com a última parte do “com quem será”. Estavam todos ali e eu me senti muito querida.
Olhei para o bolo e ele tinha uma pequena escultura minha.
- Faz um pedido... - Cris se colocou ao meu lado. Fechei meus olhos.
"Que toda essa felicidade não seja momentânea e que você possa estar me vendo de onde estiver, papai."
Assoprei as velas.
- Eeeeeeh...
Ganhei muitos presentes e agora estávamos sentados em uma roda, bebendo e conversando bobagens. Pietra parecia um pouco acanhada e deslocada, mas mesmo assim estava ali. Saí rapidamente da presença de todos para trocar de roupa e quando estava passando pela sala, ouvi a voz de Pietra.
- Pare de me ligar... - foi apenas o que pude ouvir. Ela estava próxima ao escritório de Charlotte, de costa para mim.
- Tá tudo bem? - a morena virou.
- Álvaro não para de me ligar. - franzi o cenho. - Posso falar com você um momento?
- Claro... Vamos entrar no escritório da Charlotte... - fui a frente.
- Eu só que te dar o seu presente... - Pietra tirou do bolso uma pequena caixa de veludo. - Espero que goste... Lembrei de você quando vi.
Peguei o objeto e abri.
- Uma pulseira com pingente de lua... - peguei a pequena e bonita joia. - Isso é o que? Um diamante?
- Desculpe se exagerei... - ela coçou a cabeça. – Eu achei a sua cara.
- Não... É lindo. - e era mesmo. - Me ajuda a colocar, patricinha cabeça de vento.
Pietra rosnou.
- Suburbana... - a mulher com cenho franzido me ajudou a pôr a peça dourada.
- Eu adorei... - a encarei. – Obrigada!
Pietra desviou o olhar para outro ponto.
- Pietra, você realmente está apaixonada por mim? - ela voltou a me encarar.
- Charlotte te contou então? - confirmei com um acenar de cabeça.
A morena foi até a mesa de Charlotte e sentou na beirada, cruzando os braços sobre o busto.
- Eu te amo, Luane... - ergui as sobrancelhas. - Esse sentimento, por mais que não seja reciproco e sei que jamais será, me faz querer ser uma boa pessoa. Todos os dias quando levanto, perceber que deixei de ser alguém sem coração, me deixa feliz. Eu nunca amei ninguém e não fazia ideia de como era, porém sei que o que sinto é verdadeiro... Deus... - ela riu. - Não acredito que estou mesmo falando isso pra alguém e menos ainda pra você. Logo você, Luane...
Pietra passou as mãos em seus cabelos.
- Como sabe que é real? - ela se aproximou de mim.
- Sei que é real, porque todas as vezes que te vejo com a Charlotte e você sorri pra ela, eu não sinto inveja ou dor. - ela segurou minhas mãos. - Eu sinto alegria por te ver bem... E em paz porque ela te vê exatamente do mesmo jeito que eu.
Senti meu coração aquecer com a veracidade que via em seus olhos.
- Obrigada por aparecer em minha vida, Luane... - Pietra beijou minha testa e se afastou brevemente. - Eu não sabia que precisava ser resgatada até você salvar a minha vida aquele dia...
Ela chorava e eu enxuguei suas lágrimas.
- Você vai poder contar comigo sempre, patricinha cabeça de vento. - a abracei. - Sua irmã e eu estaremos sempre aqui. - Pietra me apertou forte.
- Obrigada... Lua. - sorri, me afastando e beijando sua bochecha.
- Obrigada por me contar... - ela sorriu também.
- Ora, ora... - ao ouvir aquela voz, me virei. - Traindo a Charlotte bem embaixo do teto dela.
- Saí daqui, garota... - quem havia convidado aquela mulher?
- Charlotte vai adorar saber disso...
- Vou adorar saber de que? – a morena entrou no escritório e olhou para Pietra e eu.
- Sua namorada estava se agarrando com essa tal ai. – Charlotte ergueu a sobrancelha.
- Isso não é verdade... – Pietra se aproximou de Sheron. – Não vai acreditar nessa qualquer, não é?
A morena mirou a irmã e eu também esperava por uma resposta.
- Elas estavam se agarrando e essa aqui se declarando. É esse tipo de pessoa que você quer pra sua vida, Charlotte? – encarei Sheron. – Nota-se que mesmo sendo uma vice presidente de uma empresa como a Allen, essa mulher é uma gentinha...
- Cala essa boca... – me aproximei dela. – Saia daqui! Não é assim que você vai conquistar a minha mulher, Sheron...
- Sua? Que tipo de pessoa é você? Estava agora há pouco aos amassos com essa aí... Se eu não chegasse, tenho certeza que ela teria dado pra tal Pietra bem aqui debaixo do seu teto, Charlotte. – meu sangue ferveu.
- Já disse pra calar essa boca... – trinquei meus dentes.
- Ou se não o que? – meu olho esquerdo tremeu.
- Vai calar por mal... – a peguei pelo braço.
- Me solta... Charlotte! – olhei para a minha Allen. – Vai ficar só olhando e não fazer nada?
- Sim... Vou ficar só olhando e não fazer nada. – sorri com a resposta da minha poderosa.
- Você vai cair fora... – saí puxando Sheron.
- Me solta, sua selvagem!
- Cala essa boca! Você não vai envenenar o meu relacionamento, sua cobra... – a empurrei porta a fora.
- Você não tem o direito de me expulsar daqui...
- O que está acontecendo? – Renata apareceu, seguida pelos outros.
- Essa garota, mamãe. Olha só o que ela fez. – a sonsa mostrou o braço para a mãe.
- Charlotte... – Renata olhou para ela.
- Desculpe, Renata... – ela se colocou ao meu lado. – Sua filha ofendeu a Luane...
- Sheron... O que você pensa que está fazendo? Já não havia pedido pra deixar a Charlotte em paz?
- Se ponha no seu lugar, Sheron. Você não se toca que a Charlotte e eu estamos juntas? – a loira me encarou com raiva. – Não há espaço pra você.
- Você não a merece... – eu ri.
- E você a merece? Faça-me o favor... Charlotte me ama e eu a amo. – segurei a mão da minha poderosa. – E se é dessa forma que você acha que vai conquista-la... Tá perdendo o seu tempo.
- Acho melhor você ir, Sheron... – Charlotte falou. – E peço que se mantenha longe.
- Amanhã mesmo você irá voltar pra casa, Sheron... Vá para o carro. – a loira olhou para nós e foi para o carro. – Me perdoem por tudo isso. Prometo que ela não voltará a incomodar. Espero que nada disso interfira em nossa sociedade.
- De forma alguma, Renata... São coisas pessoais. Não se preocupe. – Renata pareceu ficar sem graça e foi para o seu carro, dando partida em seguida.
- Mala... Vamos comer? Tô morrendo de fome. – Pietra entrou.
- Tá tudo bem, filha? - minha mãe segurou meu rosto.
- Tá sim, mamãe... Não se preocupe. Vamos voltar pra festa. - sorri.
- Te espero lá, filha... - ela beijou a minha bochecha e saiu, assim como os outros.
- Você me excita quando fica mandona e bravinha... - Charlotte me envolveu pela cintura.
- Não acreditou no que aquela idiota disse, não é? - Charlotte beijou a ponta de meu nariz.
- Nem por um segundo... - ela sorriu. - Conheço a mulher que amo e sei do seu caráter, Luane. Sei que jamais faria nada disso...
- Você não existe, Charlotte Allen... - lhe dei um longo selinho.
- Existo, meu bem... - ela piscou. - Estou bem aqui... Tudo isso só pra você.
- Exibida... - ela sorriu e eu quis morar naquele sorriso.
- Deixem pra depois isso ai... Me ajudem, por favor. - Larissa apareceu do nada.
A ruiva nos fez segui-la até onde estava acontecendo a pequena festa. Ela nos levou onde todos estavam. Sentamos, esperando pelo que viria. Helena nos olhou rapidamente e sorriu. A morena parecia bem mais tranquila.
- Dona Claudia, seu Julio, sei que vocês já desconfiam da relação que Lari e eu temos. - Larissa foi até a amada, segurando sua mão. - Então queria apenas confirmar e pedir a vocês suas bênçãos.
Tia Claudia e tio Julio se olharam.
- Eu amo a filha de vocês... - Helena olhava diretamente para Lari. - Faz muito pouco tempo que estamos juntas, porém eu tenho certeza que quero ver essa mulher incrível todos os dias ao meu lado.
Charlotte me abraçou pela cintura.
- É algo novo, mãe, pai... - Lari sorria. - Mas jamais tive tanta certeza de algo em minha vida. Helena é uma mulher maravilhosa e eu quero estar ao lado dela sempre. Quero muito o apoio de vocês.
- Já tem, minha filha... - tio Julio ficou de pé, abraçando as duas. - Jamais seríamos contra. Olha como você tá feliz... Olha como essa moça tem um bom coração.
- Não seriamos contra nunca, Larissa. Amor é amor, minha filha e vemos que o sentimento de vocês é lindo e verdadeiro. Ganhei mais uma filha... Venham cá. - tia Claudia abraçou as duas, dando fim ao medo da rejeição.
Eu me senti muito feliz em ver a minha melhor amiga tão plena. Ela merecia aquilo e muito mais. Tudo o que estava acontecendo em nossas vidas, a realizações dos nossos sonhos, era tão perfeito que eu sentia um pouco de medo, porém resolvi chutar aquela sensação para longe e curtir o que a vida estava nos dando.
Lari se tornou vice presidente e estava radiante. Eu caminhava na mesma trilha, o que podia dar errado? Esperava que nada.
20 de dezembro de 2019, sexta-feira.
Há mais de um mês, Pietra havia entregado a investigadora Suzana o dossiê que Afonso havia feito sobre as fraudes e esquemas de corrupção de Álvaro e desde então, ele estava foragido e não deu notícias. Infelizmente, com a acusação, Pietra não pode prosseguir com os planos de se candidatar a prefeitura, pois seu nome estava obviamente associado ao pai.
Ela deixou o que queria de lado para fazer justiça e eu estava muito orgulhosa.
Aquele era o dia da nossa formatura e eu não podia estar mais feliz. A minha família estava na plateia, acompanhando aquele momento tão importante. Uma adrenalina forte corria por meu corpo e eu não conseguia parar de lagrimar.
Larissa estava ao meu lado, segundo minha mão.
O meu nome foi chamado e apenas alguns metros me separava do sonho profissional da minha vida. As minhas pernas tremiam e meu coração batia forte. O meu diploma foi entregue com honras.
- É isso aí, minha irmã! - pude ouvir Cris gritar e em seguida uma salva de palmas.
Eu me desmanchava em lágrimas.
A festa estava linda, as pessoas animadas com a conclusão de quatro anos de curso. A minha poderosa dançava colada a mim. Àquela altura, toda a cidade sabia que éramos namoradas. Lari estava com Helena, trocando caricias.
- Acabou! Você está livre! - Pietra falou um pouco mais alto por conta da música.
- Cadê a Malu? - perguntei.
- Foi comer... Aquela garota tem um poço sem fim no estômago. - as duas haviam se tornado grandes amigas.
- Vamos a um lugar mais calmo... Charlotte e eu temos uma surpresa pra você. - olhei para as duas. A minha poderosa sorriu misteriosa.
- O que vocês estão aprontando? - ergui as sobrancelhas.
Há dias, Pietra insistiu em me ajudar a comprar o presente de formatura de Luane. Ela e eu estavamos bem mais próximas depois que as provas contra Álvaro foram dadas a polícia. Não estava totalmente tranquila, pois ele ainda estava por aí, porém sabia que era questão de tempo até o meu "pai" ser detido.
Por precaução, havia alguns homens monitorando a todos nós.
- Chegamos... - Pietra tapava os olhos de Luane.
- Não olha ainda, amor... - ajeitei o laço do carro. - Só mais um pouco...
- O que vocês estão aprontando? Me digam... Não vão fazer eu pegar em algum bicho, não é? - ela estava linda com aquele vestido verde esmeralda.
Aliás, ela ficava linda de qualquer forma e não era exagero.
- Agora você pode ver... - Pietra tirou suas mãos e a expressão de surpresa que a minha Lua fez me fez sorrir instantaneamente.
- Caramba... Isso é meu? - ela se aproximou do veículo.
- A Lari escolheu o modelo... Presente da Pietra e meu. - falei feliz por sua reação.
- Eu não acredito... É lindo! - Luane abriu a porta, entrando. - Vocês são...
De repente, um carro em alta velocidade entrou no estacionamento do salão de festas. O veículo parou próximo a nós e de lá saíram três homens armados com pistolas. Por instinto, me coloquei a frente de Pietra. Luane saiu do carro assustada, se colocando ao meu lado.
- Quanto tempo, garotas... - o vidro negro foi baixado, revelando o seu carona. - Entrem...
- Papai? - Pietra se colocou a minha frente.
- Entrem... Vamos. - os caras nos fizeram entrar. Estávamos sob a mira de suas armas. - Não tentem nenhuma gracinha...
- Vamos sair daqui... Anda! - Álvaro gritou e o veículo foi colocado em movimento.
- Papai...
- Cala essa boca... - ele olhou para trás. - Eu sei que foi você quem entregou as provas. Como pode?
- Você precisava ser detido, papai... Você estava traficando mulheres... - senti Luane segurar minha mão. - E colocou aquele maldito lugar em meu nome.
- Antes você não reclamava, não é mesmo? Foi só se juntar com essas... Principalmente você. - ele olhava com ira para Luane.
- Não faça essa bobagem... - tentei dizer algo, porém recebi uma pancada muito forte na cabeça e acabei ficando desacordada.
Acordei sentindo gosto de sangue na boca e a minha cabeça doía bastante. Os meus olhos encontraram dificuldades em se abrir, mas forcei até conseguir. Olhei para o meu lado e Pietra estava desacordada, com os braços e pernas amarrados. Me desesperei, olhando ao redor e naquele momento vi que Luane não estava em nenhuma parte.
Tentei me soltar, mas foi em vão.
"Deus... Deus... Cadê a Lua?"
- Então você acordou... - aquela voz me fez ter arrepios. Olhei para a porta e lá estava ele. - Procurando sua namoradinha? Bom, ela está vindo se despedir de você daqui a pouco. Tire a mordaça dela...
Álvaro ordenou a um homem com aparência séria e algumas cicatrizes no braço.
- Cadê a Luane? - ele sorriu.
Aonde estávamos? Em um barco? Quanto tempo?
- Ela vai virar comida de peixe e eu vou ter o prazer de te matar... - o meu coração batia forte e as minhas mãos tremiam.
"Deus, espero que Afonso já esteja ciente do que tá ocorrendo."
- Eu exijo vê-la, seu desgraçado... - Álvaro gargalhou.
- Você não exige nada, sua infeliz. Eu mando aqui... Baixe sua bola, pois não estamos na Allen.
- Pai? - olhei para o lado e Pietra acordava. - O que...
- Finalmente acordou... Venha participar da festa, minha linda filha ingrata. - alguém bateu na porta. - Entra!
- Aqui, chefe... A madame apagou. - meu coração foi a boca ao ver Luane toda ensanguentada e desmaiada.
- SEU DESGRAÇADO! SEU MONSTRO... - me joguei no chão, tentando chegar perto de Luane que foi jogada de uma forma bruta. - Meu amor... Fala comigo.
- Papai... O que você fez? - ouvi Pietra. - Não... Não...
- Esse é o preço por ter me traído, Pietra... - eu estava desesperada. - Agora vou eliminar todos os obstáculos da minha vida.
Ele mirou uma arma em minha direção. Foquei minha atenção no rosto da mulher que amo.
- PAPAI... NÃO FAZ ISSO! - Pietra gritou em desespero. Ouvi a arma sendo destravada.
- Tarde demais... - vi os olhos de Luane se abrirem.
- Char... Lotte...
- Já estou aqui e não vou voltar atrás. Peguem essa daqui e joguem no mar... AGORA!
- NÃO... NÃO FAZ ISSO! POR FAVOR... - eles pegaram Luane e a levaram.
- CALA ESSA BOCA... AGORA CHEGOU A SUA HORA...
- LUANE... MEU AMOR... LUANE!
- NÃO! PAPAI, PARA! DEIXA A LUANE... POR FAVOR. CHARLOTTE É SUA FILHA!
Álvaro arregalou os olhos, mas sem baixar a arma. Ele me olhou, buscando por confirmação, mas naquele momento eu só queria me soltar e ir até Luane. Nada mais me importava a não ser salva-la.
- Que história é essa? - era impossível soltar as cordas.
- Me solta... Por favor. Não faz isso com ela... - implorei outra vez. - Ela não tem culpa de nada.
- Charlotte é sua filha... Minha irmã. Não faz isso, papai... Por favor. - ele finalmente baixou a arma.
- Minha... Filha? Não... Isso não é possível.
- Chefe? Chefe? Há vários barcos com sirenes vindo em nossa direção... - um cara anunciou, me dando um fio de esperança. - Temos que sair daqui!
- Cadê a garota?
- Jogamos no mar, como o senhor pediu... - naquele momento, foi como se um soco houvesse me atingido.
A minha vista escureceu e eu ainda pude ouvir ao longe Pietra me chamar.
Quatro horas depois.
- Você quer água? - Helena me ofereceu uma garrafinha.
Apenas recusei com um gesto a gentileza. Pietra estava sentada ao meu lado e segurava a minha mão, totalmente muda. Parecia que eu não estava ali, pois não tinha controle sobre meu corpo. Queria chorar, gritar, mas nem ao menos conseguia me mover.
- Larissa e os meus sogros estão em sua casa. Eles vão ficar pra ajudar. - ela segurou o meu rosto. - Vão encontrá-la... - os olhos de Helena estavam vermelhos e inchados, mas mesmo assim ela tentava me passar confiança. - Tenha fé...
Quando eu acordei, a polícia estava em toda parte e Afonso me ajudava com as amarras. Eu ainda corri por todo o barco em busca de Luane, mas Pietra me segurou e disse que uma equipe procurava por ela assim que souberam que a jogaram na água. Parecia que eu estava em um pesadelo.
Álvaro não resistiu à prisão, se deixando ser levado. Enquanto o colocavam dentro de outro barco da polícia, seus olhos seguiram firmes sobre mim. Eu o odiava mais que tudo e desejava que o inferno viesse busca-lo.
Senti vontade de mata-lo.
- Charlotte? Charlotte? - olhei para Afonso. - Não vamos desistir até encontrá-la... Eu prometo, querida.
Somente naquele momento notei que chorava e soluçava. Pietra me puxou para os seus braços, apertando forte. Ela também chorava e o seu corpo tremia inteiro. Pensei no estado que dona Regina e Cris estariam.
Eu não estava lá para ampara-los.
Minha irmã e eu ficamos daquela forma por um longo tempo.
- Vamos pra casa... Eu levo você. - Helena cobriu meu ombro com um casaco.
- Pietra... - a morena me olhou. Os seus olhos estavam inchados. - Venha... Durma em minha casa.
- Está bem... - ela ficou de pé.
Saímos pelos fundos, pois na frente da delegacia estava repleto de repórteres. O carro estava silencioso, cada uma presa em seus pensamentos. Eu só pedia a Deus que pudesse acordar daquele pesadelo horrível.
"Por favor, meu Deus... Que ela esteja viva. Não a tire de mim, eu imploro..."
Chegar em casa foi doloroso, pois assim que entrei, dona Regina correu até a mim e me abraçou, chorando muito. Cristian estava encolhido no sofá, parecia estar dormindo agarrado a um urso que era de Luane.
O meu coração mais uma vez sofreu um baque.
- Toma banho... - Larissa segurou o meu rosto.
A ruiva estava com a face avermelhada, denunciando o seu choro.
- Eu sinto muito... - não conseguia mirar em seus olhos.
- A culpa não é sua, filha... - dona Regina me encarou. - Não é...
Três dias depois...
23 de dezembro de 2019.
O natal estava próximo, mas não havia nenhum motivo para comemorar. Há três dias a procurávamos sem achar nem ao menos um vestígio. Mais uma vez eu estava ali, no barco com a equipe, procurando em todas as margens.
- Vamos encontrá-la... - a investigadora Suzana se colocou ao meu lado. - Mas esteja preparada, senhorita Allen.
Fechei meus olhos, sentindo algumas lágrimas escorrerem por meu rosto.
- Esteja preparada pra qualquer coisa... - o sorriso de Luane veio em minha mente.
- A outra equipe encontrou algo... - um dos policiais que compunha a equipe se aproximou.
No outro barco estava Pietra e Larissa.
- Vamos até lá... - sequei o meu rosto.
Os barcos se aproximaram e com a ajuda de uma pessoa da equipe, passei para a outra embarcação. Lari, que estava com os olhos cheios de lágrimas, segurava um sapato. Cheguei mais perto e tive certeza de que era dela.
- Deus...
- Reconhece, senhorita Allen? - Suzana me perguntou.
- Sim, é dela... - senti minhas pernas fracas. - É dela...
- CONTINUEM! SÓ VAMOS PARAR QUANDO O SOL SE PÔR! - Suzana gritou para a equipe.
Cheguei em casa totalmente esgotada e despedaçada. Entrei embaixo do chuveiro, abafando os meus gritos com minha mão. Helena veio a meu socorro, me abraçando e chorando junto comigo.
Estava doendo tanto.
- Não pode desistir... - ela me fez ficar de pé. - Vamos encontrar ela...
Helena me ajudou a tomar banho, me levando para o quarto. Ela foi tomar banho e voltaria em seguida para mais uma vez dormir ao meu lado. Sua presença era constante, assim como a de Larissa e Pietra.
Alguém bateu na porta.
- Entre... - Cristian entrou, parecendo acanhado. - Venha aqui... - ele fechou a porta e se sentou ao meu lado na cama. - Já é tarde... Deveria estar dormindo.
Cris pousou sua cabeça em meu ombro.
- Eu sonhei com ela e não consegui dormir... - fechei os meus olhos. - Eu sinto tanta saudade.
- Eu também... - um nó se formou em minha garganta. - E também sonho com ela todas as noites...
- Obrigada por cuidar da gente. - nos encaramos.
- É por minha culpa que... - Cristian colocou seu dedo sobre meus lábios.
- Não termina essa frase, Charlotte. - mesmo tão debilitado, ele tentava ser forte. - Você é culpa sua... Minha irmã te ama e a gente também. Sei que nossa dor é a mesma.
- Você é tão jovem, mas aparenta ter oitenta anos quando fala. - ele sorriu. Um sorriso triste, cheio de dor.
- Uma vez alguém me disse o mesmo... - seus olhos se desviaram dos meus. - Eu sei que ela vai voltar logo... Luane é forte. Minha irmã tem muita vontade de viver. Mesmo depois que o nosso pai morreu, ela não perdeu aquele brilho tão dela. Cuidou da mamãe e de mim. Eu sei que ela vai voltar...
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Cristian deitou em minhas coxas, segurando a minha mão. Aquele ato me encheu de esperança. Eu não iria desistir, não importava quanto tempo passasse. Eu sei que ela não desistiria de mim.
"Vou te encontrar, meu amor... Seja nessa vida ou em uma outra. Eu vou te achar e vamos ficar juntas."
Fim do capítulo
gente...
não me xinguem...
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lis
Em: 25/04/2020
kkkkkkkkkkkkkk olha outora que a vontade de te dar uns elogios é grande kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk mas sabemos que vc não fará uma maldade dessas né ai ai, quantas emoções num unico capitulo hein
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
eu imagino o quanto de elogio passou por essa mente kkkkkkkk
vamos acompanhar o próximo... daqui a pouco.
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