Eu não estava acreditando no que acabamos de fazer. Ainda sentia toda uma adrenalina correndo por meu corpo. Charlotte ao meu lado, sorria e beijava o dorso de minha mão. O prefeito certamente piraria ao saber que o seu negócio sujo foi desmanchado.

 

DEUS!

 

      Charlotte estacionou o carro, destravando as portas e tirando seu cinto de segurança. Ela segurou minha face, beijando minha boca de uma forma que me deixou totalmente mole e desejosa de algo mais.

 

- Vem, meu amor... - ela sorriu e sob o seu feitiço, desci do carro. 

 

      Estávamos nas instalações da The Future. Era o único lugar que poderíamos abrigar as meninas. As vans que estavam sob os cuidados de Lari e Helena já se encontravam ali, assim como o carro de Afonso e Pietra. Entramos, indo para o segundo andar aonde havia sido montado um pequeno alojamento. 

 

- Obrigada! - Malu correu em minha direção, me pegando de surpresa com um abraço. - Muito obrigada mesmo...

 

- Vocês salvaram as nossas vidas... - uma outra menina falou. Helena e Larissa se aproximaram com um sorriso no rosto.

 

- Tô me sentindo em um filme do 007... - Lari estava empolgada. 

 

- Vocês foram ótimas... - Charlotte sorriu. 

 

- Meninas... Já que estamos todos aqui, queria que me ouvissem com atenção. - Afonso se pronunciou. Charlotte me abraçou de lado, colocando sua atenção no mais velho. - Queremos saber de onde vieram e se desejam voltar. 

 

- Mas senhor, não temos dinheiro pra isso... - uma menina com traços asiáticos lamentou. 

 

- Não se preocupem... - Charlotte iniciou. - Vamos ajuda-las a voltar pra casa. Vocês são livres agora, meninas...  Não precisam ter mais medo.

 

Elas se abraçaram entre si, algumas choravam de alegria. 

 

- Há uma cozinha nesse andar e deixamos comida pra vocês. O Kennedi irá ficar está noite pra fazer companhia a vocês. - Helena tomou a frente. - Qualquer coisa, peçam a ele e ele repassará a nós...

 

- Muito obrigada... - os agradecimentos vieram em coro.

 

Enxuguei algumas lágrimas que teimavam em cair.

 

- Fizemos um ótimo trabalho... - Pietra sorriu. - Você virou a minha super heroína, irmãzinha. Pelo que parece, tenho duas salvadoras agora.

 

- Fique longe de confusão, Pietra... Você tá livre agora. - minha poderosa a olhou séria. 

 

As duas se encararam por alguns segundos.

 

- Obrigada, irmã. - Pietra não tinha ironia na voz. - Sei que não mereço nada disso. Obrigada pelo voto de confiança.

 

- Você tem muitas pessoas pra contar agora, Pietra. - aquelas palavras vieram de Lari.

 

- Tô orgulhosa... - ela me encarou e sorriu.

 

 

 

      Helena e Larissa decidiram dormir na casa de Charlotte. Ao chegarmos, notei que a luz do quarto que minha mãe estava ocupando, encontrava-se acesa. Deixei as meninas na sala e subi para ver o que havia acontecido.

 

Ouvi alguém chorando.

 

- Mãe? - chamei assim que entrei.

 

- No banheiro, filha... - segui para lá. 

 

- Cris... - me agachei. Ele estava vomitando bastante.

 

- Já terminou, filho? Aliviou? - ele nos olhou e para a minha surpresa, sorriu.

 

- Sim, mamãe... Não se preocupem. - dava para ver o quanto ele se esforçava para parecer forte.

 

- Certeza? - ficamos de pé.

 

- Sim... Deixem de ser tão choronas. Me ajudem a voltar... 

 

Fizemos o que ele pediu.

 

- Cadê a Charlotte? - Cris se acomodou na cama.

 

- Tá lá embaixo... Você quer alguma coisa? - meu irmão virou para o lado.

 

- Só dormir... Amanhã quero acordar forte. - senti meu coração se apertar.

 

Fiquei olhando para ele, que logo adormeceu.

 

- Como foi, filha? - senti minha mãe colocar a mão sobre meu ombro. 

 

- Deu tudo certo, mamãe... - a olhei. - Logo estaremos livres de tudo isso.

 

- Graças a Deus... 

 

 

 

12 de outubro, sábado.

 

- A segunda parte deu certo... - Charlotte olhava para o tablet. - A boate foi fechada e vários empresários presos. - ela sorriu.

 

Estávamos tomando café da manhã. 

 

- Álvaro certamente ficará possesso... - Helena bebericava seu café. 

 

- E agora? - Larissa olhava para nós.

 

- Agora vamos fazer com que aquelas meninas voltem para casa. - falei, mirando meu suco. - O que elas passaram...

 

- Elas estão livres, meu amor... - Charlotte segurou minha mão. - Vamos terminar o café e depois iremos leva-las no aeroporto. Afonso avisou que a Pietra já comprou todas as passagens...

 

- Essa moça escolheu mesmo mudar... - minha mãe comentou. - Eu fico feliz com isso. Ainda podemos acreditar na humanidade.

 

- Graças a sua filha, dona Regina... - Charlotte desviou o olhar. - Luane tem o dom de mudar as pessoas sem muito esforço. - seu olhar caiu sobre mim.

 

- Minha irmã é uma mulher incrível. - senti minha face esquentar. 

 

- Helena e eu ficaremos aqui, com vocês... - Lari sorriu.

 

- Escute, filha... Eu não quero me intrometer na sua vida, mas acho que tá na hora da sua mãe saber que você e a Helena estão juntas... - as duas ficaram boquiabertas, fazendo Charlotte, Cris e eu dar risadas. 

 

- Então, a senhora já sabe... - era fofo ver Helena ficar vermelha. 

 

- Claudia e Julio também...

 

- Que? - Larissa levantou.

 

As risadas na mesa aumentaram.

 

- Filha, só não ver quem é cego. Eles estão esperando vocês dizerem algo. - Lari levou as mãos a cabeça.

 

- Vamos conversar com eles... - Helena sorriu, parecia aliviada. - É algo novo para nós duas...

 

- Amor é amor, filha... - minha mãe me fez olha-la. - Me sinto feliz por minha filha ter encontrado o amor ainda tão jovem... E pelo que vejo, é um amor pra toda vida.

 

      Charlotte me encarou, visivelmente sem jeito. Chegava a ser fofo ver aquela mulher toda dona de si ficar vermelha. Era algo que eu admirava o quão forte e sensível a Allen podia ser.

 

 

 

      Depois do café, Charlotte e eu fomos para o aeroporto encontrar Pietra e Afonso. Algumas meninas já haviam embarcado, enquanto outras ainda esperavam os seus voos. Ficamos algum tempo, até que finalmente a última se foi. 

 

Era o fim de seus pesadelos.

 

      Fomos para um restaurante e o clima não poderia ser mais engraçado. Charlotte e Pietra tentavam manter um diálogo, mas era visível a falta de assunto.

 

- Então você decidiu ficar... - Malu me olhou. 

 

- Sim... Eu não tenho muito o que fazer aonde nasci. - ela ficou pensativa. 

 

- Charlotte vai te levar pra trabalhar com ela. Poderá começar do zero. - Pietra franziu o cenho. - Aquela não é a sua ex, maninha? - olhei para a direção que a morena se referiu e Daniela atravessava o restaurante, vindo em nossa direção. 

 

- Quero falar com você, Charlotte. - ergui a sobrancelha. 

 

- Você não tem outra pessoa para perturbar, Daniela? - foi Pietra quem se pronunciou primeiro.

 

- O que faz aqui? Desde quando se dão bem? Até onde sei, vocês se odeiam...

 

- Daniela, não quero conversar com você. - a desagradável mulher se sentou sem ser convidada. 

 

- Não conheço você de algum lugar? - Malu arregalou os olhos.

 

- Saía, sua presença não é desejada. - Charlotte trincou o maxilar.

 

- Você quer mais um escândalo, Daniela? - Pietra retirou de sua bolsa um documento. - De acordo com essa lista... Você era uma cliente muito presente naquela boate que fechou.

 

Daniela arregalou os olhos.

 

- Do que tá falando, Pietra? - a morena sorriu e eu conhecia muito bem aquele sorriso.

 

- Meu pai é dono da boate que fechou... Bem, tive acesso a lista de clientes e veja só. - ela colocou a folha de papel sobre a mesa. - Seu nome aparece como cliente vip há mais de um ano e meio.

 

- Isso é mentira... - Daniela ficou de pé.

 

- Então não vai se importar que eu mande para a redação da Allen, não é mesmo? - ficamos em silencio, vendo Pietra assumir o controle.

 

- O que você quer de mim? - Pietra sorriu vitoriosa.

 

- Que saía do estado e deixe a Charlotte e todos que a cercam em paz. - de repente, a admiração por Pietra só cresceu. - Se não o fizer em alguns dias, isso aqui vai pra revista...

 

- Você não seria capaz! Se o seu pai é dono como disse, acredito que você também seria prejudicada. - Pietra riu.

 

- Não tenho nada a perder, minha cara... Mas se acha que estou blefando, me teste. - a mulher estava visivelmente a ponto de avançar sobre Pietra. - Acho que farei um favor a humanidade... Deixe-a em paz e siga em frente. 

 

- Mas ela divulgou aquele vídeo, contratou uma mulher pra me seduzir e depois me expos. 

 

- Sobre isso... - Afonso tirou do bolso um pendrive. - Aqui está a verdadeira culpada. Charlotte me pediu pra investigar e não foi nada difícil. Você deveria rever suas companhias, senhorita Carvalho... 

 

A mulher pegou o objeto. 

 

- Espero que não volte... - Daniela olhou para Charlotte e depois para mim.

 

- Não voltarei...

 

Ela se afastou, indo para a saída.

 

- Caramba! Acho que vou ter que me acostumar. - Malu sorriu. - A vida de vocês é muito agitada. Acho que vou gostar de ficar... 

 

- Obrigada, Pietra... - Afonso e eu nos olhamos, para depois olhar para Charlotte. 

 

Pietra pareceu ficar sem jeito.

 

- Você é minha irmã e me ajudou mesmo sem eu merecer, Charlotte... Isso não foi nada. - meus olhos lagrimaram.

 

      Era maravilhoso ver as duas se aproximando. A vida de ambas sempre foi difícil e sem laços reais de afeto. Pedia em meus pensamentos que elas pudessem ser grandes amigas.

 

- Quem foi que divulgou o vídeo? - Charlotte perguntou o que eu também queria saber.

 

- Alessandra Ferreira... - fiquei perplexa.

 

- Por que ela faria algo assim? - perguntei.

 

- Achei que as duas tivessem um caso... - Charlotte segurou minha mão. - Bom, em todo caso... Vamos esquecer essas duas. É um problema a menos...

 

 

 

      Voltamos para casa, pois precisávamos de um merecido descanso. Fomos para a beira da piscina, pois o dia estava maravilhoso. Helena e Charlotte estavam na cozinha cortando petiscos, minha mãe e Cris na varanda, evitando o sol.

 

- Finalmente, as coisas vão se normalizar. - Lari sorriu.

 

- Ainda tem muita coisa pra fazer, mas precisamos acreditar que tudo vai dar certo. - olhei para o céu. 

 

- Sinto sua falta... - a encarei. - Estava pensado em algo...

 

- O que? - a ruiva deixou seu copo com suco na mesinha.

 

- Falei com os meus pais... Lembra daqueles planos que tínhamos de morar em um mesmo edifício? - franzi o cenho. - Podemos fazer... Estive pesquisando alguns apartamentos e encontrei dois endereços perfeitos e com preços acessíveis...

 

- Está disposta a deixar o nosso bairro? - Larissa me encarou.

 

- Sim... Depois do que aconteceu com a sua casa, meus pais estão amedrontados e então eu sugeri que vendêssemos. - abri a boca de leve. - Olha...

 

Lari me mostrou algumas imagens dos apartamentos.

 

- Mas precisaríamos de um fiador... Ou não? - ela coçou a cabeça.

 

- Isso é verdade, mas podemos dar um jeito... O que acha? - sorri, amando a ideia. - Não quero ficar longe de você e da sua família... 

 

- Você é muito fofa, ruiva... - baguncei o seu cabelo.

 

- Oh... Isso é coisa de criança... 

 

- Mas você é uma criança, moranguinho... - me coloquei por cima da ruiva, fazendo cocegas onde sabia ser seus pontos fracos.

 

- Moranguinho? - Charlotte e Helena perguntaram.

 

- Aaah... Pronto! - Larissa colocou as mãos sobre a face.

 

- Que história é essa de moranguinho? - Helena sentou ao nosso lado. Saí de cima de Lari, abafando o riso e sentei nas coxas de Charlotte.

 

- Você me paga, Lua... - ela escondeu o rosto no pescoço de Helena. 

 

      Passei a narrar a história daquele apelido, deixando Larissa com a face avermelhada. A ruiva odiava o apelido dado pelos meninos da escola por contas dos seus fios vermelhos e chapéu que muito lembrava a personagem.

 

- Aaaah... Aqueles garotos eram uns idiotas. Eu nem pareço com ela. - Helena, Charlotte e eu nos olhamos.

 

- Parece sim! - dissemos juntas, para irritar a ruiva e caímos na gargalhada em seguida.

 

- Mereço... Até minha namorada contra mim...

 

A ruiva fez drama.

 

 

 

 

 

14 de outubro, segunda-feira.

 

- Bom dia... - entrei na sala de reuniões. 

 

- Bom dia... - a resposta veio em coro.

 

- Bom, os chamei aqui para acertarmos alguns detalhes sobre a Allen e a The Future. - coloquei minha mão sobre a coxa de Luane. A loira estava nervosa e sua perna não parava de balançar.

 

Ontem à noite, Helena, Larissa, Luane e eu nos reunimos. 

 

- Amanhã acontecerá a reunião com os acionistas da Allen e como o meu irmão recusou a presidência, meu pai... - olhei para James. - E eu decidimos adiar a posse.

 

Sheron, Renata, Manoel e minha mãe também estavam presentes.

 

- Renata, você disse que queria trabalhar diretamente na The Future como diretora da redação e não fazer parte da presidência. Sua escolha ainda se mantém de pé?

 

- Sim, Charlotte. A minha decisão continua a mesma. - ela sorriu e olhou para Larissa. 

 

- Charlotte... - James estava sentado ao meu lado e Joanne se mantinha distante. Sua face demonstrava total desagrado. - Sua mãe e eu estivemos conversando. Não desejo que saía da presidência da Allen. Você é a grande culpada pelo crescimento absurdo que a empresa teve nos últimos cinco anos... - ele sorriu. - Sou dono de quarenta e cinco por cento da Allen, sua mãe vinte e cinco e os acionistas somam trinta. - ele limpou a garganta. Aonde James queria chegar?

 

Me vi ansiosa.

 

- Passo a você oficialmente os meus quarenta e cinco por cento... - ele colocou uma pasta a minha frente. - Quero que fique na presidência. Aqui é o seu lugar... Oficialmente, você será dona da Allen...

 

      Engoli um nó que se formou em minha garganta.  Olhei para Luane, que cobriu minha mão com a sua. O que eu deveria fazer?

 

- Jamais dei o reconhecimento que você merece... A Allen é sua agora. Faça dela o que desejar... - Helena me enviou um olhar de "permissão".

 

Peguei a minha caneta e assinei o documento.

 

- Não farei parte deste circo... - minha mãe ficou de pé. - Vou embora...

 

- Já vai tarde, sogrinha... - Luane a encarou e as duas passaram a medir forças pelo olhar.

 

A loira estava sempre me surpreendendo. 

 

- Você jamais será uma de nós, garotinha... - Joanne foi até a porta. - Jamais...

 

- Luane é muito melhor que nós, mamãe... Está acima de você de uma forma que nunca serás capaz de alcançar. - seu olhar fulminante caiu sobre mim. 

 

Ela deixou a sala e ainda pude ouvi-la gritar com alguém.

 

- Não liguem pra ela. Vamos resolver tudo aqui... - James colocou uma mão em meu ombro. - Filha...

 

- Obrigada... - agradeci sincera. - Bom, Helena e eu temos uma proposta para ambas as empresas... 

 

- Será decidido de forma democrática por todos aqui presente. - Helena completou.

 

- Diga, já estou ansiosa... - Renata sorriu.

 

- Eu aceito ficar na presidência da Allen e a Helena será a presidente da The Future. - a morena arregalou os olhos. - E terá como vice a Larissa Peres. - fiquei de pé. 

 

Aquilo foi decidido no último momento. Eu não esperava pela manifestação de James.

 

- Ela é uma brilhante publicitária e junto de Luane, realizaram um extenso e perfeito relatório sobre erros e acertos da Allen... - dei a cada um as ideias e correções feitas por Larissa e Luane. - Helena é uma empresária de extrema inteligência e peso no mundo empresarial. Premiada, aclamada e por muitas vezes chegou propostas para tira-la daqui. - sorri. - Acredito que essa dupla será implacável na presidência... E fará da The Future uma empresa de inigualável poder.

 

- Uau... Estou impressionada. - Renata olhava tudo com uma expressão de perplexidade. - Vocês são incríveis.

 

- Então, estamos todos de acordo sobre a escolha? - voltei a sentar.

 

- De minha parte, está mais que aprovado. - Manoel sorriu. - Essas mocinhas fizeram um relatório impecável e as ideias são ótimas, originais.

 

- Não é à toa que vocês conseguiram esse império. - Renata nos olhou. - Da minha parte também. 

 

Sorri, vendo o quanto Helena havia ficado emocionada.

 

- E quem será sua vice, Charlotte? - James perguntou.

 

- Luane Oliveira... - olhei para ela. - Esses dois talentos precisam ser nossos. - a loira tinha lágrimas nos olhos, mas tratou de disfarçar. - Então não vamos deixar escapar...

 

  

 

      A reunião chegou ao fim e parte dos problemas foram resolvidos. Voltei para a minha sala, acompanhada de Luane, Helena e Larissa. 

 

- Charlotte... - Helena me abraçou. - Obrigada... 

 

A abracei de volta.

 

- Pelo que? Você é mais que merecedora, Helena. - Larissa e Luane saíram discretamente de minha sala.

 

- Eu não esperava por isso... - ela me encarou.

 

- É onde você merece estar, Helena. Trabalhou muito... Amanhã, iremos começar um novo capitulo e é graças a você, minha amiga...

 

Ela sorriu.

 

- Vai sentir a minha falta, admita... - dessa vez quem sorriu foi eu.

 

- Não tenha dúvidas... 

 

 

 

      Ao sair para o almoço, encontramos Larissa e Luane na recepção. A loira veio até a mim, sorrindo de forma curiosa.

 

- Venha... - franzi o cenho.

 

Entramos no elevador e quando chegamos ao primeiro andar, fiquei surpresa.

 

- O que é isso? - Luane me olhou firmemente.

 

- Isso é o quanto você e Helena são queridas...

 

Todos os funcionários estavam presentes.

 

- Queríamos nos despedir de vocês, senhorita Allen... - Paola entregou um buque de flores para Helena e eu. - Somos muito gratos por tudo que fizeram por nós...

 

As palmas vieram em coro.

 

      Procurei pela mão de Luane, que apertou a minha com força. Helena, assim como eu, tinha lágrimas escorrendo pela face. Jamais imaginei nada parecido em toda a minha carreira e estada a frente da Allen.

 

- A Charlotte não deixará a presidência... - Helena enxugou a sua face. - Ela seguirá aqui, com vocês... 

 

- E a senhorita? -  a morena sorriu.

 

- Iniciarei uma nova jornada...

 

      A despedida de Helena da Allen foi emocionante e eu não fiquei imune. A morena recebeu inúmeros presentes. Aquele dia foi repleto de emoções, me dando a certeza que fiz a escolha certa em ficar na Allen.

 

As reviravoltas que a vida dá são impressionantes.

 

 

 

Terça, 15 de outubro de 2019.

 

      Aquele dia seria longo, porém muito especial. A minha loira teimosa estava fazendo aniversário, então decidi acordar um pouco antes e lhe fazer uma pequena surpresa. Dona Regina e Cris também me acompanharam.

 

Havia bolo, docinhos, balões e até chapéus.

 

- Ei, maninha? Acorda... - Cris beijou sua testa. - Acorda...

 

- O que houve? - ela despertou.

 

E todos os dias eu me apaixonava mais um pouco.

 

- Parabéns pra você... Nessa data querida... Muitas felicidades, muitos anos de vida. - Luane despertou por completo. 

 

- Não acredito... - ela levou as mãos a boca.

 

- Olha, filha... Seu preferido. - dona Regina se aproximou com o bolo de chocolate.

 

- Feliz aniversário, senhorita vice presidente... - lhe beijei a testa e entreguei o presente que havia comprado no dia anterior. - Espero que goste.

 

A loira abriu a pequena caixa de veludo.

 

- Nossa, filha... Que lindo. - Luane me encarou. 

 

- Amor, isso é lindo... - a peça delicada combinava perfeitamente com sua pele.

 

- Deixa que eu coloco... - peguei o cordão e o coloquei em seu pescoço, beijando sua nuca.

 

- Obrigada! - seus olhos se encheram de lágrimas. - Eu amo vocês...

 

 

 

      Aquele era o primeiro dia de Luane como vice e no mesmo momento ocorria a inauguração da The Future. A data não era coincidência, mas Luane jamais saberia. Quando chegamos na empresa, busquei a mão da loira, que me olhou surpresa.

 

- Tem certeza? - sorri.

 

Ela ainda achava que restava alguma dúvida em mim? 

 

- Mais que isso... - lhe beijei o rosto. - Tem algum problema pra você?

 

- Nenhum... Que fique bem claro a todos que sou toda sua. - a sua frase despertou em mim uma excitação poderosa e eu desejei estar a sós com ela.

 

- Só minha... - a vi morder o lábio. - Vamos, futura senhora Allen...

 

Luane riu.

 

- Vamos... Meu amor. 

 

Entramos na empresa sob os olhares curiosos, porém de silenciosos lábios.

 

- Bom dia... Bom dia. - Luane esbanjava simpatia e eu só podia lhe admirar mais. - Bom dia...

 

      A reunião com os acionistas foi um tanto satisfatória, não houve objecções. Joanne saiu da sala colocando fogo pelas ventas. James fez o pronunciamento de posse e se despediu em definitivo dos negócios. 

 

      A cara de alguns velhos me deixou com ainda mais satisfação. Era uma vingança pessoal que a vida tratou de executar e não eu. 

 

      Helena ligou e estava muito animada com a abertura de nossas portas. Eu sabia que não seria nada fácil, porém apostei todas as minhas fichas que sairíamos vencedoras dos obstáculos que certamente virão.

 

 

 

      Faltava pouco mais de uma hora para encerramos o expediente. Confesso, senti saudades de Helena e Larissa, mas eu sabia que elas estavam felizes por suas jornadas que foram iniciadas aquele dia.

 

Sorri, sentindo um vento fresco entrar pela janela.

 

- Charlotte? - Paola entrou em minha sala. - Acabei de falar com a sua sogra... Ela disse que está quase tudo pronto. 

 

- Obrigada, Paola. Você vai, não é mesmo? - ela sorriu.

 

- Claro... Adoro a Luane... - fiquei de pé. 

 

- Ela também gosta muito de você... - Paola se aproximou.

 

- É notável o quanto aquela mulher te faz bem, Charlotte. - ela tocou em meu ombro. - Você merece, chefinha...

 

Levei minha mão até a dela.

 

- Obrigada, Paola... 

 

- Charlotte, o Max... - Luane parou na porta. - Desculpe... 

 

- Ei, chefinha... Cuida dessa mandona. - Paola brincou e se encaminhou para a porta. - Ela é meio ranzinza as vezes, mas é só você falar daquele jeito que ela se acalma...

 

- Pode deixar... Tenho essa onça sob meus domínios. - ergui a sobrancelha.

 

Paola saiu de minha sala rindo.

 

- Então você me tem sob seu domínio, hein? - ela sorriu. 

 

Luane se aproximou, envolvendo o meu pescoço.

 

- E não tenho? - os lábios carnudos passaram a se mover sob minha bochecha, até chegar em meu ouvido. - Diga que não...

 

- Ah... - senti sua língua quente encostar na ponta da minha orelha. - Isso é covardia...

 

- Covardia é isso... - ela pegou uma de minhas mãos e levou ao seu centro de prazer. - Sente como me deixa molhada...

 

- Droga... - mordi meu lábio. - Você me deixa doida.

 

 

 

 

 

I met you in the dark

 

 

 

You lit me up

 

 

 

You made me feel as though

 

 

 

I was enough

 

 

 

We danced the night away

 

 

 

We drank too much

 

 

 

I held your hair back when

 

 

 

You were throwing up

 

 

 

(Eu te conheci no escuro

 

 

 

Você me acendeu

 

 

 

Você me fez sentir como se

 

 

 

Eu fosse o suficiente

 

 

 

Nós dançamos a noite toda

 

 

 

Nós bebemos demais

 

 

 

Eu segurei seu cabelo para trás quando

 

 

 

Você estava vomitando)

 

(...)

 

 

 

Troquei de posição com ela, a fazendo ficar de costa para mim e com as mãos espalmadas sobre a mesa.

 

- Adoro quando me pega assim... - eu pude ver o seu sorriso cínico e aquilo me levou a loucura.

 

      Levantei sua saia até o quadril, segurando seu cabelo e no mesmo momento deslizei meus dedos em seu sex*.

 

- Aaah... Charlotte. - estimulei seu clit*ris, até senti-lo rígido.

 

Então a penetrei, iniciando um vai e vem lento.

 

- Mais forte... - sua voz saiu rouca.

 

- Assim... - aumentei o vai e vem, ouvindo seus gemidos aumentarem.

 

O meu corpo clamava por satisfação.

 

      Luane dizia coisas sem nexo e me fez ir ao limite da loucura quando gozou chamando por meu nome. Eu amava vê-la daquela forma; respiração forte e cabelos em desalinho.

 

Ela me mirou e buscou por meus lábios demoradamente. 

 

- Eu te amo tanto... - ela pousou sua face em meu pescoço, me abraçando pela cintura.

 

Nossos corações batiam afoitos.

 

- Eu te amo demais...

 

 

 

(...)

 

I'm gonna love you till

 

 

 

My lungs give out

 

 

 

I promise, till death we part

 

 

 

Like in our vows

 

 

 

So I wrote this song for you

 

 

 

Now everybody knows

 

 

 

That it's just you and me

 

 

 

Until we're grey and old

 

 

 

Just say you won't let go

 

 

 

Just say you won't let go

 

 

 

 

 

 

 

Just say you won't let go

 

 

 

Oh, just say you won't let go

 

 

 

 

 

(Eu vou te amar até

 

 

 

Meus pulmões desistirem

 

 

 

Eu prometo, até que a morte nos separe

 

 

 

Como em nossos votos

 

 

 

Então eu escrevi essa canção para você

 

 

 

Agora todo mundo sabe

 

 

 

Que somos só você e eu

 

 

 

Até ficarmos grisalhos e velhos

 

 

 

Apenas diga que você não vai embora

 

 

 

Apenas diga que você não vai embora

 

 

 

 

 

 

 

Apenas diga que você não vai embora

 

 

 

Oh, apenas diga que você não vai embora)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo